Luis de Camoes Collected Poetical Works

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Luis de Camoes Collected Poetical Works Page 37

by Luis de Camoes


  some drink the brine, out-puffing it again.

  The crank canoes, wherein the vermin flee,

  are torn by smaller bombards’ fiery rain.

  Thuswise, in fine, the Portingalls chastise

  their vile, malicious, treach’erous enemies.

  93

  Tornam vitoriosos para a armada,

  Co’o despojo da guerra e rica presa,

  E vão a seu prazer fazer aguada,

  Sem achar resistência, nem defesa.

  Ficava a Maura gente magoada,

  No ódio antigo mais que nunca acesa;

  E vendo sem vingança tanto dano,

  Somente estriba no segundo engano.

  Now to the squadron, when the day was won, 93

  rich with their warlike spoils the Braves retire,

  and ship at leisure water all their own,

  none meet offence where none t’ offend desire.

  The Moors heart-broken vainly make their moan,

  old hatreds ‘flaming with renewed fire;

  and, hopeless to revenge such foul defeat,

  nourish the fairest hopes of fresh deceit.

  94

  Pazes cometer manda arrependido

  O Regedor daquela iníqua terra,

  Sem ser dos Lusitanos entendido,

  Que em figura de paz lhe manda guerra;

  Porque o piloto falso prometido,

  Que toda a má tenção no peito encerra,

  Para os guiar à morte lhe mandava,

  Como em sinal das pazes que tratava.

  To proffer truce repentant gives command 94

  the Moor who ruleth that iniqu’ous shore;

  nor do the Lusitanians understand

  that in fair guise of Peace he proffers War:

  For the false Pilot sent to show the land

  who ev’ry evil will embosom’d bore,

  only to guide them deathwards had been sent; —

  such was the signal of what peace was meant.

  95

  O Capitão, que já lhe então convinha

  Tornar a seu caminho acostumado,

  Que tempo concertado e ventos tinha

  Para ir buscar o Indo desejado,

  Recebendo o piloto, que lhe vinha,

  Foi dele alegremente agasalhado;

  E respondendo ao mensageiro a tento,

  As velas manda dar ao largo vento.

  The Capitayne who now once more incline’d 95

  on wonted way and ‘custom’d course to hie,

  fair weather favouring with propitious wind,

  and wend where India’s long-wisht regions lie;

  received the Helmsman for his ill design’d

  (who greeted was with joyous courtesy;)

  and, giv’en his answer to the messenger,

  in the free gale shakes out his sailing gear.

  96

  Desta arte despedida a forte armada,

  As ondas de Anfitrite dividia,

  Das filhas de Nereu acompanhada,

  Fiel, alegre e doce companhia.

  O Capitão, que não caía em nada

  Do enganoso ardil, que o Mouro urdia,

  Dele mui largamente se informava

  Da Índia toda, e costas que passava.

  Dismist by such device the gallant Fleet 96

  divideth Amphitrite’s wavy way;

  the Maids of Nereus troop its course to greet,

  faithful companions, debonnair and gay:

  The Captain, noways doubting the deceit

  planned by the Moorman to secure his prey,

  questions him largely, learning all he knows

  of general Inde and what each seaboard shows.

  97

  Mas o Mouro, instruído nos enganos

  Que o malévolo Baco lhe ensinara,

  De morte ou cativeiro novos danos,

  Antes que à Índia chegue, lhe prepara:

  Dando razões dos portos Indianos,

  Também tudo o que pede lhe declara,

  Que, havendo por verdade o que dizia,

  De nada a forte gente se temia.

  But the false Moorman, skilled in all the snares 97

  which baleful Bacchus taught for such emprize,

  new loss by death or prison-life prepares,

  ere India’s seaboard glad their straining eyes:

  The hythes of India dil’igent he declares,

  to frequent queries off ‘ring fit replies:

  For, holding faithful all their pilot said

  the gallant People were of nought afraid.

  98

  E diz-lhe mais, com o falso pensamento

  Com que Sinon os Frígios enganou:

  Que perto está uma ilha, cujo assento

  Povo antigo cristão sempre habitou.

  O Capitão, que a tudo estava a tento,

  Tanto com estas novas se alegrou,

  Que com dádivas grandes lhe rogava,

  Que o leve à terra onde esta gente estava.

  And eke he telleth, with that false intent, 98

  whereby fell Sinon baulked the Phrygian race

  of a near-lying isle, that aye had lent

  to Christian dwellers safest dwelling-place.

  Our Chief, of tidings fain, gave due attent

  of ear so gladly to these words of grace,

  that with the richest gifts he bade the Guide

  lead him to regions where such men abide.

  99

  O mesmo o falso Mouro determina,

  Que o seguro Cristão lhe manda e pede;

  Que a ilha é possuída da malina

  Gente que segue o torpe Mahamede.

  Aqui o engano e morte lhe imagina,

  Porque em poder e forças muito excede

  A Moçambique esta ilha, que se chama

  Quíloa, mui conhecida pela fama.

  E’en so that losel Moorman had designed, 99

  as the confiding Christian begged and bade;

  knowing his islet was of old assigned

  to the malignant sons of Mafamed:

  Here he foresees deceit with death combined,

  for — that in pow’r and force the place outweigh’d

  weaker Mozambic; and that islet’s name

  is Quiloa bruited by the blast of Fame.

  100

  Para lá se inclinava a leda frota;

  Mas a Deusa em Citere celebrada,

  Vendo como deixava a certa rota

  Por ir buscar a morte não cuidada,

  Não consente que em terra tão remota

  Se perca a gente dela tanto amada.

  E com ventos contrários a desvia

  Donde o piloto falso a leva e guia.

  Thither th’ exulting Squadron lief would steer: 100

  but the fair god Cythéra loves to greet,

  seeing its certain courses changed to near

  the coasts where Doom of Death awaits defeat,

  nills that the people, loved with love so dear,

  such dreadful fates on shore so distant meet;

  and, raising adverse gales, she drives them wide

  from the foul goal where guides that felon guide.

  101

  Mas o malvado Mouro, não podendo

  Tal determinação levar avante,

  Outra maldade iníqua cometendo,

  Ainda em seu propósito constante,

  Lhe diz que, pois as águas discorrendo

  Os levaram por força por diante,

  Que outra ilha tem perto, cuja gente

  Eram Cristãos com Mouros juntamente.

  Now when the caitiff Moor could not but know 101

  that in this matter useless was his guile,

  seeking to deal another dev’ilish blow,

  and still persistent in his purpose vile,

  he urgeth, since the winds’ and currents’ flow

  had borne them on parforce full many a mile,

  they near another island, and its race

  Christian and Moor hold
common dwelling-place.

  102

  Também nestas palavras lhe mentia,

  Como por regimento enfim levava,

  Que aqui gente de Cristo não havia,

  Mas a que a Mahamede celebrava.

  O Capitão, que em tudo o Mouro cria,

  Virando as velas, a ilha demandava;

  Mas, não querendo a Deusa guardadora,

  Não entra pela barra, e surge fora.

  Here too with every word the liar lied, 102

  as by his reg’iment he in fine was bound;

  for none who CHRIST adore could there abide,

  only the hounds who worship false Mahound.

  The Captain trustful to his Moorish guide,

  veering the sails was making for the Sound:

  But, as his guardian Goddess leave denieth,

  he shuns the river-bar, and outside lieth.

  103

  Estava a ilha à terra tão chegada,

  Que um estreito pequeno a dividia;

  Uma cidade nela situada,

  Que na fronte do mar aparecia,

  De nobres edifícios fabricada,

  Como por fora ao longe descobria,

  Regida por um Rei de antiga idade:

  Mombaça é o nome da ilha e da cidade.

  So near that Islet lay along the land, 103

  nought save a narrow channel stood atween;

  and rose a City throned on the strand,

  which from the margent of the seas was seen;

  fair-built with lordly buildings tall and grand,

  as from its offing showed all its sheen:

  Here ruled a monarch for long years high famed;

  Islet and City are Mombasah named.

  104

  E sendo a ela o Capitão chegado,

  Estranhamente ledo, porque espera

  De poder ver o povo batizado,

  Como o falso piloto lhe dissera,

  Eis vêm batéis da terra com recado

  Do Rei, que já sabia a gente que era:

  Que Baco muito de antes o avisara,

  Na forma doutro Mouro, que tomara.

  And when the Captain made that happy shore, 104

  with strangest joyaunce, in the hope to view

  baptized peoples, and to greet once more

  dear Christian men, as sware his guide untrue;

  lo! boats come bearing, the blue waters o’er

  their King’s good greeting who the stranger knew:

  For long had Bacchus of th’ event advised,

  in other Moorman’s shape and form disguised.

  105

  O recado que trazem é de amigos,

  Mas debaixo o veneno vem coberto;

  Que os pensamentos eram de inimigos,

  Segundo foi o engano descoberto.

  Ó grandes e gravíssimos perigos!

  Ó caminho de vida nunca certo:

  Que aonde a gente põe sua esperança,

  Tenha a vida tão pouca segurança!

  Friendly the message which the foemen brought, 105

  beneath whose surface covered venom lay;

  for deadly hostile was their ev’ry thought

  and soon the hidden fraud uncover’d they.

  Oh dreadful dangers with destruction fraught!

  Oh line of life-tide, never certain way!

  where’er his dearest hope poor mortal hoardeth,

  such scant security life e’er affordeth.

  106

  No mar tanta tormenta, e tanto dano,

  Tantas vezes a morte apercebida!

  Na terra tanta guerra, tanto engano,

  Tanta necessidade avorrecida!

  Onde pode acolher-se um fraco humano,

  Onde terá segura a curta vida,

  Que não se arme, e se indigne o Céu sereno

  Contra um bicho da terra tão pequeno?

  By sea such tempests, such sore injury, 106

  with Death so often showing near and sure!

  By land such warfare, such foul treachery,

  so much of curst necessities t’ endure!

  Ah! where shall weary man take sanctuary,

  where live his little span of life secure?

  and ‘scape of Heav’n serene th’ indignant storms

  that launch their thunders at us earthen worms?

  CANTO SEGUNDO — CANTO II.

  ARGUMENT OF THE SECOND CANTO.

  INSTIGATED by the Demon, the King of Mombasah aimeth at destroying the Navigators: He plotteth treason against them under the fiction of friendship: Venus appeareth to Jupiter, and intercedeth for the Portugueze: He promiseth her to favour them and prophetically relateth some feats which they shall perform in the East: Mercury discloseth himself to the Gama in a dream, and warneth him to shun the dangers of Mombasah: They weigh anchor and reach Melinde, whose King receiveth the Captain with favour and hospitality.

  ANOTHER ARGUMENT.

  Dar El Rei de Mombasa o Jim prepara

  Ao Gama illustre, com mortal engano:

  Desce Venus ao mar, a frota empara,

  E a fallar sobe ao Padre soberano:

  Jove os casos futuros Ihe declara:

  Apparece Mercurio ao Lusitano:

  Chega a frota a Melinde, e o Rei potente

  Em seu porto a recebe alegremente.

  1

  Já neste tempo o lúcido Planeta,

  Que as horas vai do dia distinguindo,

  Chegava à desejada e lenta meta,

  A luz celeste às gentes encobrindo,

  E da casa marítima secreta

  Lhe estava o Deus Noturno a porta abrindo,

  Quando as infidas gentes se chegaram

  As naus, que pouco havia que ancoraram.

  ‘TWAS now the period when the Planet bright, 1

  whose race distinguished the hours of day,

  did at his longed-for, tardy goal alight,

  veiling from human eyne his heav’enly ray;

  and of his Ocean-home, deep hid from sight,

  the God of Night-tide oped the portal-way;

  when the false crafty folk came flocking round

  the ships, whose anchors scarce had bit the ground,

  2

  Dentre eles um, que traz encomendado

  O mortífero engano, assim dizia:

  “Capitão valeroso, que cortado

  Tens de Neptuno o reino e salsa via,

  O Rei que manda esta ilha, alvoroçado

  Da vinda tua, tem tanta alegria,

  Que não deseja mais que agasalhar-te,

  Ver-te, e do necessário reformar-te.

  ‘Mid them a villain, who had undertane 2

  the task of deadly damage, spake aloud: —

  “O val’orous Captain, who hast cut the reign

  of Neptune, and his salty plain hast plow’d,

  the King who governeth this island, fain

  to greet thy coming, is so pleased and proud,

  he wisheth nothing save to be thy host,

  to see thee, and supply what need ye most.

  3

  “E porque está em extremo desejoso

  De te ver, como cousa nomeada,

  Te roga que, de nada receoso,

  Entres a barra, tu com toda armada:

  E porque do caminho trabalhoso

  Trarás a gente débil e cansada,

  Diz que na terra podes reformá-la,

  Que a natureza obriga a desejá-la.

  “And, as he burneth, with extreme desire, 3

  so famed a pers’onage to behold and greet,

  he prays suspicion may no fear inspire;

  but cross the bar-line, thou and all thy Fleet;

  And, sith by voyage long men greatly tire,

  thy gallant crew by travel-toil is beat,

  he bids thee welcome to refit on land

  as, certes, Nature must such rest command.

  4

  “E se buscando vás mercadoria

  Que produze o aurífero Levante,

  Cane
la, cravo, ardente especiaria,

  Ou droga salutífera e prestante;

  Ou se queres luzente pedraria,

  O rubi fino, o rígido diamante,

  Daqui levarás tudo tão sobejo

  Com que faças o fim a teu desejo.”

  “And if thou wendest seeking merchandise 4

  got in the golden womb of the Levant,

  Cinnamon, cloves, and biting spiceries,

  health-dealing drug, or rare and excellent plant;

  or, if thou lust for sparkling stones of price,

  the Ruby fine, the rigid Diamant,

  hence shall thou bear such full, abundant store,

  that e’en thy Fancy shall affect no more.”

  5

  Ao mensageiro o Capitão responde

  As palavras do Rei agradecendo:

  E diz que, porque o Sol no mar se esconde,

  Não entra para dentro, obedecendo;

  Porém que, como a luz mostrar por onde

  Vá sem perigo a frota, não temendo,

  Cumprirá sem receio seu mandado,

  Que a mais por tal senhor está obrigado.

  Unto the Herald straight our Chief replieth, 5

  grateful acknowledging the Royal hest;

  and saith, that seeing Sol now seawards hieth

  he may not enter as becomes a guest:

  But, when returning light shall show where lieth

  the way sans danger, with a fearless breast,

  the Royal orders he will list fulfil,

  a Lord so gracious hath claim higher still.

  6

  Pergunta-lhe depois, se estão na terra

  Cristãos, como o piloto lhe dizia;

  O mensageiro astuto, que não erra,

  Lhe diz, que a mais da gente em Cristo cria.

  Desta sorte do peito lhe desterra

  Toda a suspeita e cauta fantasia;

  Por onde o Capitão seguramente

  Se fia da infiel e falsa gente.

  He questions further, an the land contain 6

  christened Peoples, as the Pilot sware:

  The cunning Herald who ne’er speaks in vain

  voucheth that Christian men dwell mostly there.

  Thus doth he banish from our Captain’s brain

  the cautious phantasies of doubt and fear:

  Wherefore the Gama straightways ‘gan to place

  Faith in that faithless unbeliever-race.

  7

  E de alguns que trazia condenados

  Por culpas e por feitos vergonhosos,

  Por que pudessem ser aventurados

  Em casos desta sorte duvidosos,

  Manda dous mais sagazes, ensaiados,

  Por que notem dos Mouros enganosos

  A cidade e poder, e por que vejam

  Os Cristãos, que só tanto ver desejam.

  And, as condemned felons he had brought, 7

  convict of mortal crime and shameful deed,

  who might in sim’ilar cases danger-fraught

  be ventured where the common weal had need;

 

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