Luis de Camoes Collected Poetical Works

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Luis de Camoes Collected Poetical Works Page 48

by Luis de Camoes


  the Granadil, that in the shortest space

  an utter ruin of his host was wrought;

  ne fence, ne steely plate our strokes could face:

  With such triumphant Victory cheaply bought

  unsatisfied, the Strong Arm flies apace,

  and timely aids Castilia’s toiling pow’er,

  still mixt in doubtful conflict with the Moor.

  115

  “Já se ia o Sol ardente recolhendo

  Para a casa de Tethys, e inclinado

  Para o Ponente, o Véspero trazendo,

  Estava o claro dia memorado,

  Quando o poder do Mauro grande e horrendo

  Foi pelos fortes Reis desbaratado,

  Com tanta mortandade, que a memória

  Nunca no mundo viu tão grã vitória.

  “Now brightly burning Sol had housed his wain 115

  in Thetis’ bower, and his slanting ray

  sank westward, bearing Hesper in his train,

  to close that rare and most memorious day:

  When of the Moors those valiant Sovrans twain

  the dense and dreadful squadrons swept away,

  with such fell slaughter as ne’er told of Man

  the page of Story since the world began.

  116

  “Não matou a quarta parte o forte Mário

  Dos que morreram neste vencimento,

  Quando as águas co’o sangue do adversário

  Fez beber ao exército sedento;

  Nem o Peno asperíssimo contrário

  Do Romano poder, de nascimento,

  Quando tantos matou da ilustro Roma,

  Que alqueires três de anéis dos mortos toma.

  “Ne’er could strong Marius e’en the quarter show, 116

  of lives here victim’d by victorious Fate;

  when to the river, red with gory glow,

  he sent his thirsty Braves their drouth to sate:

  Ne yet the Carthaginian, asp’erous foe

  to Roman pow’er and cradled in her hate,

  when slain so many Knights of noble Rome,

  of their gold rings he sent three bushels home.

  117

  “E se tu tantas almas só pudeste

  Mandar ao Reino escuro de Cocito,

  Quando a santa Cidade desfizeste

  Do povo pertinaz no antigo rito:

  Permissão e vingança foi celeste,

  E não força de braço, ó nobre Tito,

  Que assim dos Vates foi profetizado,

  E depois por Jesu certificado.

  “And if sole thou so many souls to flit 117

  couldst force, and seek Cocytus’ reign of night,

  when thou the Holy City didst acquit

  of the base Judean, firm in olden rite;

  ’twas that Jehovah’s vengeance thus saw fit,

  O noble Titus! not thine arm of might;

  for thus inspired men had prophesied,

  and thus by JESU’S lips ’twas certified.

  118

  “Passada esta tão próspera vitória,

  Tornando Afonso à Lusitana terra,

  A se lograr da paz com tanta glória

  Quanta soube ganhar na dura guerra,

  O caso triste, e dino da memória,

  Que do sepulcro os homens desenterra,

  Aconteceu da mísera e mesquinha

  Que depois de ser morta foi Rainha.

  “Accomplished his act of arms victorious, 118

  home to his Lusian realm Afonso sped,

  to gain from Peace-tide triumphs great and glorious,

  as those he gained in wars and battles dread;

  when the sad chance, on History’s page memorious,

  which can unsepulchre the sheeted dead,

  befel that ill-starr’d miserable Dame

  who, foully slain, a throned Queen became.

  119

  “Tu só, tu, puro Amor, com força crua,

  Que os corações humanos tanto obriga,

  Deste causa à molesta morte sua,

  Como se fora pérfida inimiga.

  Se dizem, fero Amor, que a sede tua

  Nem com lágrimas tristes se mitiga,

  É porque queres, áspero e tirano,

  Tuas aras banhar em sangue humano.

  “Thou, only thou, pure Love, whose cruel might 119

  obligeth human hearts to weal and woe,

  thou, only thou, didst wreak such foul despight,

  as though she were some foul perfidious foe.

  Thy burning thirst, fierce Love, they say aright,

  may not be quencht by saddest tears that flow;

  nay, more, thy sprite of harsh tyrannick mood

  would see thine altars bathed with human blood.

  120

  “Estavas, linda Inês, posta em sossego,

  De teus anos colhendo doce fruto,

  Naquele engano da alma, ledo e cego,

  Que a fortuna não deixa durar muito,

  Nos saudosos campos do Mondego,

  De teus fermosos olhos nunca enxuto,

  Aos montes ensinando e às ervinhas

  O nome que no peito escrito tinhas.

  “He placed thee, fair Ignez! in soft retreat, 120

  culling the first-fruits of thy sweet young years,

  in that delicious Dream, that dear Deceit,

  whose long endurance Fortune hates and fears:

  Hard by Mondego’s yearned-for meads thy seat,

  where linger, flowing still, those lovely tears,

  until each hill-born tree and shrub confest

  the name of Him deep writ within thy breast.

  121

  “Do teu Príncipe ali te respondiam

  As lembranças que na alma lhe moravam,

  Que sempre ante seus olhos te traziam,

  Quando dos teus fermosos se apartavam:

  De noite em doces sonhos, que mentiam,

  De dia em pensamentos, que voavam.

  E quanto enfim cuidava, e quanto via,

  Eram tudo memórias de alegria.

  “There, in thy Prince awoke responsive-wise 121

  dear thoughts of thee which soul-deep ever lay;

  which brought thy beauteous form before his eyes,

  whene’er those eyne of thine were far away:

  Night fled in falsest, sweetest phantasies,

  in fleeting, flying reveries sped the Day;

  and all, in fine, he saw or cared to see

  were memories of his love, his joys, his thee.

  122

  “De outras belas senhoras e Princesas

  Os desejados tálamos enjeita,

  Que tudo enfim, tu, puro amor, despreza,

  Quando um gesto suave te sujeita.

  Vendo estas namoradas estranhezas

  O velho pai sesudo, que respeita

  O murmurar do povo, e a fantasia

  Do filho, que casar-se não queria,

  “Of many a dainty dame and damosel 122

  the coveted nuptial couches he rejecteth;

  for nought can e’er, pure Love! thy care dispel,

  when one enchanting shape thy heart subjecteth.

  These whims of passion to despair compel

  the Sire, whose old man’s wisdom aye respecteth,

  his subjects murmuring at his son’s delay

  to bless the nation with a bridal day.

  123

  “Tirar Inês ao mundo determina,

  Por lhe tirar o filho que tem preso,

  Crendo co’o sangue só da morte indina

  Matar do firme amor o fogo aceso.

  Que furor consentiu que a espada fina,

  Que pôde sustentar o grande peso

  Do furor Mauro, fosse alevantada

  Contra uma fraca dama delicada?

  “To wrench Ignez from life he doth design, 123

  better his captured son from her to wrench;

  deeming that only blood of death indign

  the living lowe of su
ch true Love can quench.

  What Fury willed it that the steel so fine,

  which from the mighty weight would never flinch

  of the dread Moorman, should be drawn in hate

  to work that hapless delicate Ladye’s fate?

  124

  “Traziam-na os horríficos algozes

  Ante o Rei, já movido a piedade:

  Mas o povo, com falsas e ferozes

  Razões, à morte crua o persuade.

  Ela com tristes o piedosas vozes,

  Saídas só da mágoa, e saudade

  Do seu Príncipe, e filhos que deixava,

  Que mais que a própria morte a magoava,

  “The horr’ible Hangmen hurried her before 124

  the King, now moved to spare her innocence;

  but still her cruel murther urged the more,

  the People swayed by fierce and false pretence.

  She with her pleadings pitiful and sore,

  that told her sorrows and her care immense

  for her Prince-spouse and babes, whom more to leave

  than her own death the mother’s heart did grieve:

  “And heav’en wards to the clear and chryst’alline skies,

  125

  “Para o Céu cristalino alevantando

  Com lágrimas os olhos piedosos,

  Os olhos, porque as mãos lhe estava atando

  Um dos duros ministros rigorosos;

  E depois nos meninos atentando,

  Que tão queridos tinha, e tão mimosos,

  Cuja orfandade como mãe temia,

  Para o avô cruel assim dizia:

  raising her eyne with piteous tears bestained; 125

  her eyne, because her hands with cruel ties

  one of the wicked Ministers constrained:

  And gazing on her babes in wistful guise,

  whose pretty forms she loved with love unfeigned,

  whose orphan’d lot the Mother filled with dread,

  unto their cruel grandsire thus she said, —

  126

  — “Se já nas brutas feras, cuja mente

  Natura fez cruel de nascimento,

  E nas aves agrestes, que somente

  Nas rapinas aéreas têm o intento,

  Com pequenas crianças viu a gente

  Terem tão piedoso sentimento,

  Como coa mãe de Nino já mostraram,

  E colos irmãos que Roma edificaram;

  “‘ If the brute-creatures, which from natal day 126

  on cruel ways by Nature’s will were bent;

  or feral birds whose only thought is prey,

  upon aerial rapine all intent;

  if men such salvage be’ings have seen display

  to little children loving sentiment,

  e’en as to Ninus’ mother did befall,

  and to the twain who rear’d the Roman wall:

  127

  —”Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito

  (Se de humano é matar uma donzela

  Fraca e sem força, só por ter sujeito

  O coração a quem soube vencê-la)

  A estas criancinhas tem respeito,

  Pois o não tens à morte escura dela;

  Mova-te a piedade sua e minha,

  Pois te não move a culpa que não tinha.

  “‘ O thou, who bear’st of man the gest and breast, 127

  (an it be manlike thus to

  draw the sword

  on a weak girl, because her love imprest

  his heart, who took her heart and love in ward);

  respect for these her babes preserve, at least!

  since it may not her obscure death retard:

  Moved be thy pitying soul for them and me,

  although my faultless fault unmoved thou see!

  128

  — “E se, vencendo a Maura resistência,

  A morte sabes dar com fogo e ferro,

  Sabe também dar vicia com clemência

  A quem para perdê-la não fez erro.

  Mas se to assim merece esta inocência,

  Põe-me em perpétuo e mísero desterro,

  Na Cítia f ria, ou lá na Líbia ardente,

  Onde em lágrimas viva eternamente.

  “‘ And if thou know’est to deal in direful fight 128

  the doom of brand and blade to Moorish host,

  know also thou to deal of life the light

  to one who ne’er deserved her life be lost:

  But an thou wouldst mine inn’ocence thus requite,

  place me for aye on sad exiled coast,

  in Scythian sleet, on seething Libyan shore,

  with life-long tears to linger evermore.

  129

  “Põe-me onde se use toda a feridade,

  Entre leões e tigres, e verei

  Se neles achar posso a piedade

  Que entre peitos humanos não achei:

  Ali com o amor intrínseco e vontade

  Naquele por quem morro, criarei

  Estas relíquias suas que aqui viste,

  Que refrigério sejam da mãe triste.” —

  “‘Place me where beasts with fiercest rage abound, — 129

  Lyons and Tygers, — there, ah! let me find

  if in their hearts of flint be pity found,

  denied to me by heart of humankind,

  there with intrinsic love and will so fond

  for him whose love is death, there will I tend

  these tender pledges whom thou see’st; and so

  shall the sad mother cool her burning woe.’

  130

  — Morte de Inês de Castro

  “Queria perdoar-lhe o Rei benino,

  Movido das palavras que o magoam;

  Mas o pertinaz povo, e seu destino

  (Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.

  Arrancam das espadas de aço fino

  Os que por bom tal feito ali apregoam.

  Contra uma dama, ó peitos carniceiros,

  Feros vos amostrais, e cavaleiros?

  “Inclined to pardon her the King benign, 130

  moved by this sad lament to melting mood;

  but the rude People and Fate’s dure design

  (that willed it thus) refused the pardon sued:

  They draw their swords of steely temper fine,

  they who proclaim as just such deed of blood:

  Against a ladye, caitiff, felon wights!

  how showed ye here, brute beasts or noble knights?

  131

  “Qual contra a linda moça Policena,

  Consolação extrema da mãe velha,

  Porque a sombra de Aquiles a condena,

  Co’o ferro o duro Pirro se aparelha;

  Mas ela os olhos com que o ar serena

  (Bem como paciente e mansa ovelha)

  Na mísera mãe postos, que endoudece,

  Ao duro sacrifício se oferece:

  “Thus on Polyxena, that beauteous maid, 131

  last solace of her mother’s age and care,

  when doom’d to die by fierce Achilles’ shade,

  the cruel Pyrrhus hasted brand to bare:

  But she (a patient lamb by death waylaid),

  with the calm glances which serene the air,

  casts on her mother, mad with grief, her eyes

  and silent waits that awesome sacrifice.

  132

  “Tais contra Inês os brutos matadores

  No colo de alabastro, que sustinha

  As obras com que Amor matou de amores

  Aquele que depois a fez Rainha;

  As espadas banhando, e as brancas flores,

  Que ela dos olhos seus regadas tinha,

  Se encarniçavam, férvidos e irosos,

  No futuro castigo não cuidosos.

  “Thus dealt with fair Ignez the murth’erous crew, 132

  in th’ alabastrine neck that did sustain

  the charms whereby could Love the love subdue

  of him, who crown’d her after death his
Queen;

  bathing their blades; the flow’ers of snowy hue,

  which often water’ed by her eyne had been,

  are blood-dyed; and they burn with blinding hate,

  reckless of tortures stor’d for them by Fate.

  133

  “Bem puderas, ó Sol, da vista destes

  Teus raios apartar aquele dia,

  Como da seva mesa de Tiestes,

  Quando os filhos por mão de Atreu comia.

  Vós, ó côncavos vales, que pudestes

  A voz extrema ouvir da boca fria,

  O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,

  Por muito grande espaço repetisses!

  “Well mightest shorn of rays, O Sun! appear 133

  to fiends like these on day so dark and dire;

  as when Thyestes ate the meats that were

  his seed, whom Atreus slew to spite their sire.

  And you, O hollow Valleys! doomed to hear

  her latest cry from stiffening lips expire, —

  her Pedro’s name, — did catch that mournful sound,

  whose echoes bore it far and far around!

  134

  “Assim como a bonina, que cortada

  Antes do tempo foi, cândida e bela,

  Sendo das mãos lascivas maltratada

  Da menina que a trouxe na capela,

  O cheiro traz perdido e a cor murchada:

  Tal está morta a pálida donzela,

  Secas do rosto as rosas, e perdida

  A branca e viva cor, coa doce vida.

  “E’en as a Daisy sheen, that hath been shorn 134

  in time untimely, floret fresh and fair,

  and by untender hand of maiden torn

  to deck the chaplet for her wreathed hair;

  gone is its odour and its colours mourn;

  so pale and faded lay that Ladye there;

  dried are the roses of her cheek, and fled

  the white live colour, with her dear life dead.

  135

  “As filhas do Mondego a morte escura

  Longo tempo chorando memoraram,

  E, por memória eterna, em fonte pura

  As lágrimas choradas transformaram;

  O nome lhe puseram, que inda dura,

  Dos amores de Inês que ali passaram.

  Vede que fresca fonte rega as flores,

  Que lágrimas são a água, e o nome amores.

  “Mondego’s daughter-Nymphs the death obscure 135

  wept many a year, with wails of woe exceeding;

  and for long mem’ry changed to fountain pure,

  the floods of grief their eyes were ever feeding:

  The name they gave it, which doth still endure,

  revived Ignez, whose murthered love lies bleeding,

  see you fresh fountain flowing ‘mid the flowers,

  tears are its waters, and its name “Amores!”

  136

  “Não correu muito tempo que a vingança

  Não visse Pedro das mortais feridas,

  Que, em tomando do Reino a governança,

 

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