Luis de Camoes Collected Poetical Works

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Luis de Camoes Collected Poetical Works Page 68

by Luis de Camoes


  and turns the vanquisht Vanquisher again:

  Egas Moniz, the gallant vet’eran hight,

  is Knighthood’s mirror to each loyal knight.

  14

  “Vê-lo cá vai com os filhos a entregar-se,

  A corda ao colo, nu de seda e pano,

  Porque não quis o moço sujeitar-se,

  Como ele prometera, ao Castelhano.

  Fez com siso e promessas levantar-se

  O cerco, que já estava soberano;

  Os filhos e mulher obriga à pena:

  Para que o senhor salve, a si condena.

  “See’ him here self-yielded with his sons he goes, 14

  naked of silk and cloth with neck in cord,

  because the Youth to break the promise chose

  which to Castile he gave with plighted word:

  He lured by specious promises the foes

  to raise the siege when sovereign waged the sword:

  To life’s last pains he dooms his sons and wife

  and self-condemned saves his Liege’s life.

  15

  “Não fez o Cônsul tanto, que cercado

  Foi nas forças Caudinas, de ignorante,

  Quando a passar por baixo foi forçado

  Do Samnítico jugo triunfante.

  Este, pelo seu povo injuriado,

  A si se entrega só, firme e constante;

  Estoutro a si, e os filhos naturais,

  E a consorte sem culpa, que dói mais.

  “Less did the Consul whom the hosts surround 15

  when to the Caudine Forks he careless came,

  and there his head to bow and pass was bound

  ‘neath the triumphant Samnites’ yoke of shame:

  This, blamed at home, an inborn firmness found

  to yield him singly, true to constant aim;

  this other yieldeth self and innocent seed

  and wife, — more glorious and more grievous deed.

  16

  “Vês este que, saindo da cilada,

  Dá sobre o Rei que cerca a vila forte?

  Já o Rei tem preso e a vila descercada:

  Ilustre feito, digno de Mavorte!

  Vê-lo cá vai pintado nesta armada,

  No mar também aos Mouros dando a morto,

  Tomando-lhe as galés, levando a glória

  Da primeira marítima vitória.

  “See’st thou the Brave who, left his ambuscade, 16

  falls on the King besieging you tall town,

  the town unsieging and the King waylaid:

  Illustrious action Mars might call his own!

  See him, here wends he, limned in you Armade,

  till eke at sea the Moormen slain or flown

  lost all their galleys; while he claims the prize

  that heads our host of maritime victories:

  17

  “É, Dom Fuas Roupinho, que na terra

  E no mar resplandece juntamente,

  Com o fogo que acendeu junto da serra

  De Abila, nas galés da Maura gente.

  Olha como, em tão justa e santa guerra,

  De acabar pelejando está contente:

  Das mãos dos Mouros entra a feliz alma,

  Triunfando, nos céus, com justa palma.

  “Fuás Roupinho ’tis; o’er wave and land 17

  his name shall aye resplend with equal light,

  reflecting flames that lit his daring hand

  in Moorman galleys under Ab’yla’s height.

  See how at just and saintly War’s command

  happy he loses life in holy fight:

  Enters by Moorish hands the heavenly calm

  his Soul, triumphant with the well-won Palm.

  18

  “Não vês um ajuntamento, de estrangeiro

  Trajo, sair da grande armada nova,

  Que ajuda a combater o Rei primeiro

  Lisboa, de si dando santa prova?

  Olha Henrique, famoso cavaleiro,

  A palma que lhe nasce junto à cova.

  Por eles mostra Deus milagre visto:

  Germanos são os mártires de Cristo.

  “See’st not this Gathering in strange garb that came 18

  swarming from out you Navy new and brave,

  who holp our first of Kings the foe to tame

  and ‘leaguing Lisbon saintly proof they gave?

  Behold Henrique, Knight of peerless fame,

  and eke the Palm that grew beside his grave:

  Thro’ them His marvels God to man hath shown: —

  Germans be they the martyrs CHRIST shall own.

  19

  “Um Sacerdote vê brandindo a espada

  Contra Arronches, que toma, por vingança

  De Leiria, que de antes foi tomada

  Por quem por Mafamede enresta a lança:

  É Teotónio, Prior. Mas vê cercada

  Santarém, e verás a segurança

  Da figura nos muros, que primeira

  Subindo, ergueu das Quinis a bandeira.

  “Behold a Churchman brandishing his skeyne 19

  against Arronches which he takes, the chance

  of Lei’ria’venging lately tane

  by men who couch for Mafamed the lance.

  ’Tis Theotonio, Prior. See again

  besieged Sant’arem, and shalt see the glance

  assured that figures on the mure and first

  wave o’er the walls the Quinal Banner durst:

  20

  “Vê-lo cá, donde Sancho desbarata

  Os Mouros de Vandália em fera guerra;

  Os inimigos rompendo, o alferes mata

  E o Hispálico pendão derriba em terra:

  Mem Moniz é, que em si o valor retrata,

  Que o sepulcro do pai com os ossos cerra,

  Digno destas bandeiras, pois sem falta

  A contrária derriba e a sua exalta.

  “See here he hies, where low our Sancho layeth 20

  the Vandal Moor who in fierce fight atones;

  pierceth th’ opponent host, his Antient slayeth,

  and trails th’ Hispalic pendon o’er the stones:

  Mem Moniz he, who in his life portrayeth

  the valour buried with his Father’s bones;

  digne of these Banners, since his force ne’er failed

  to raise his own, to rout whate’er assailed.

  21

  “Olha aquele que desce pela lança?

  Com as duas cabeças dos vigias,

  Onde a cilada esconde, com que alcança

  A cidade por manhas e ousadias.

  Ela por armas toma a semelhança

  Do cavaleiro, que as cabeças frias

  Na mão levava (feito nunca feito!)

  Giraldo Sem-pavor é o forte peito.

  “Behold that other, sliding down his spear, — 21

  bearing two head of sentinels he slew, —

  better to hide his ambush; now appear

  his Braves whose might and sleight the town o’erthrew:

  And now her ‘scutcheon shows the Cavalier

  proper who holds in hand the couped two

  cold ghastly heads. A deed ne’er done indeed!

  Giraldo Sem-pavor the stout name read.

  22

  “Não vês um Castelhano, que agravado

  De Afonso nono rei, pelo ódio antigo

  Dos de Lara, com os Mouros é deitado,

  De Portugal fazendo-se inimigo?

  Abrantes vila toma, acompanhado

  Dos duros infiéis que traz consigo.

  Mas vê que um Português com pouca gente

  O desbarata e o prende ousadamente.

  “See’st not a Spaniard who, dissatisfied 22

  with our ninth King Afonso, by old hate

  of Lara moved, with the Moor abide

  in friendship hostile to our Port’ugal state?

  Abrantes town he takes accompanied

  by the hard Infidel, his Moorish mate:

  But see a Portingall with
pow’er so spare

  rout him, and stoutly lead him prisoner:

  23

  “Martim Lopes se chama o cavaleiro,

  Que destes levar pode a palma e o louro.

  Mas olha um Eclesiástico guerreiro,

  Que em lança de aço torna o Bago de ouro.

  Vê-lo entre os duvidosos tão inteiro

  Em não negar batalha ao bravo Mouro;

  Olha o sinal no céu que lhe aparece,

  Com que nos poucos seus o esforço cresce.

  “Martim Lopes the Knight by name is known 23

  who from the traitors palms and laurels took.

  But here behold the Bishop Mil’itant shown,

  who changed for steely Lance his golden Crook:

  See him, ‘mid faithless faithful found alone,

  fight to refuse refusing, shake and shock

  the cruel Moorman: See in shining skies

  the sign whereby his few he multiplies.

  24

  “Vós? vão os Reis de Córdova e Sevilha

  Rotos, com os outros dois, e não de espaço.

  Rotos? mas antes mortos, maravilha

  Feita de Deus, que não de humano braço.

  Vês? já a vila de Alcáçare se humilha,

  Sem lhe valer defesa, ou muro de aço,

  A Dom Mateus, o Bispo de Lisboa,

  Que a coroa da palma ali coroa.

  “See, fly the Kings of Cord’oba and Sevile 24

  routed, with other twain in shortest tale:

  Routed! nay, rather, ruined. Miracle

  God-wrought, not worked by arm of mortal frail!

  See Alcacer low bend her haughty will;

  ne tow’ers of flesh, ne walls of steel avail

  ‘gainst Lisbon’s Bishop, Dom Mathéus: See!

  crowned with the palmy crown there standeth he.

  25

  “Olha um Mestre que desce de Castela,

  Português de nação, como conquista

  A terra dos Algarves, e já nela

  Não acha quem por armas lhe resista;

  Com manha, esforço, e com benigna estrela,

  Vilas, castelos toma à escala vista.

  Vês Tavila tomada aos moradores,

  Em vingança dos sete caçadores!

  “Behold a Master of Castilian line, 25

  a Portingall by right of birth, o’errun

  Algarves Kingdom till she shows no sign

  of men-at-arms his force hath not undone:

  By guile, and might and main, and star benign

  towns, castles, cities, all are stormed and won.

  Soon ‘spite her townsmen Tavila-town he breaks,

  and for the Se’ven slain Hunters vengeance takes.

  26

  “Vês? com bélica astúcia ao Mouro ganha

  Silves, que ele ganhou com força ingente:

  É Dom Paio Correia, cuja manha

  E grande esforço faz inveja à gente.

  Mas não passes os três que em França e Espanha

  Se fazem conhecer perpetuamente

  Em desafios, justas e torneios,

  Nelas deixando públicos troféus.

  “See him with bellic arts from Moormen gain 26

  Sylves, they gained with enormous host:

  Paio Correa ’tis, whose might and main

  and cunning purpose men aye envy most.

  Nor pass the fighting three in France and Spain

  who won a name that never shall be lost

  for tournay, challenges and joustings gay;

  winning of publick trophies proud display:

  27

  “Vê-los, com o nome vêm de aventureiros

  A Castela, onde o preço sós levaram

  Dos jogos de Belona verdadeiros,

  Que com dano de alguns se exercitaram.

  Vê mortos os soberbos cavaleiros,

  Que o principal dos três desafiaram,

  Que Gonçalo Ribeiro se nomeia,

  Que pode não temer a lei Leteia.

  “See’st them? how clept ‘Adventurers,’ they came 27

  Castileward, whence alone the prize and pride

  they bore, the winnings of Bellona’s game

  as to their loss all found a fall who tried:

  See them strike down the Knights of proudest fame

  who of the three the principal defied,

  ’tis Gongalo Ribeiro, name so brave

  hath nought to fear from Lethe’s whelmy wave.

  28

  “Atenta num, que a fama tanto estende,

  Que de nenhum passado se contenta;

  Que a pátria, que de um fraco fio pende,

  Sobre seus duros ombros a sustenta.

  Não no vês tinto de ira, que reprende

  A vil desconfiança inerte e lenta

  Do povo, e faz que tome o doce freio

  De Rei seu natural, e não de alheio?

  “To one attend, whose Fame so far extendeth, 28

  that with no fame of old she rests content,

  who, when his country on a thread dependeth

  lends stalwart shoulders to the burthen bent;

  See’st not how anger-flusht he reprehendeth

  the cowed throng’s suspicions cold and lent;

  and makes the wretches hail the gentle rein

  of home-born King, not foreign Suzerain?

  29

  “Olha: por seu conselho e ousadia

  De Deus guiada só, e de santa estrela,

  Só pode o que impossível parecia:

  Vencer o povo ingente de Castela.

  Vês, por indústria, esforço e valentia,

  Outro estrago e vitória clara e bela,

  Na gente, assim feroz como infinita,

  Que entre o Tarteso e Goadiana habita?

  “See him, with daring and advice replete 29

  God-guarded only and by Holy Star,

  make possible th’ impossible, and defeat

  one-handed, proud Castilia’s pow’er of war.

  See how by valour aided, might and wit,

  in second slaughter vict’ory similar

  he gains o’er those who, fierce as infinite, dwell

  betwixt Tartessus and Guadiana’s vale?

  30

  “Mas não vês quase já desbaratado

  O poder Lusitano, pela ausência

  Do Capitão devoto, que, apartado

  Orando invoca a suma e trina Essência?

  Vê-lo com pressa já dos seus achado,

  Que lhe dizem que falta resistência

  Contra poder tamanho, e que viesse,

  Por que consigo esforço aos fracos desse?

  “See’st not already all but overthrown 30

  our Lusitanian pow’er, when left his line

  the Capitayne devout, who wends alone

  t’ invoke that Essence, the Most Highest Trine?

  Now see him summoned hast’ily by his own,

  who plead that Fortune must parforce incline

  to whelming force, and pray his presence cheer

  the soldiers, and enforce their feeble fear.

  31

  “Mas olha com que santa confiança,

  — Que inda não era tempo, — respondia,

  Como quem tinha em Deus a seguraria

  Da vitória que logo lhe daria.

  Assim Pompílio, ouvindo que a possança

  Dos inimigos a terra lhe corria,

  A quem lhe a dura nova estava dando,

  -”Pois eu, responde, estou sacrificando.” —

  “Yet see the careless holy confidence, 31

  wherewith ‘’Tis not yet time,’ he answered;

  as one in God reposing trust immense

  of human vict’ory won by heav’enly aid:

  E’en so Pompilius, hearing the offence

  of en’emies urging o’er his land the raid,

  to him who brought the heavy news replies,

  ‘ But I, you see, am offering sacrifice!’

  32
>
  “Se quem com tanto esforço em Deus se atreve,

  Ouvir quiseres como se nomeia,

  Português Cipião chamar-se deve;

  Mas mais de Dom Nuno Alvares se arreia:

  Ditosa pátria que tal filho teve!

  Mas antes pai, que enquanto o Sol rodeia

  Este globo de Ceres e Netuno,

  Sempre suspirará por tal aluno.

  “If one whose Brave’ry rests his God upon, 32

  perchance thou wouldest know how named and known,

  ‘ Portugal’s Scipio ‘ is the name he won,

  but ‘ Nuno Alvares’ claims more renown.

  Happy the Land that bare her such a son!

  or, rather sire: For long as Suns look down

  on Earth where Ceres and joint Neptune reign

  for such a Scion she shall sigh in vain.

  33

  “Na mesma guerra vê que presas ganha

  Estoutro Capitão de pouca gente;

  Comendadores vence e o gado apanha,

  Que levavam roubado ousadamente.

  Outra vez vê que a lança em sangue banha

  Destes, só por livrar com o amor ardente

  O preso amigo, preso por leal:

  Pêro Rodrigues é do Landroal.

  “In the same Warfare see what prizes gaineth 33

  this other Captain of a slender band;

  driving commanders he the drove regaineth

  which they had lifted with audacious hand:

  See how the lance again in gore he staineth

  only to free, at Friendship’s firm command,

  his thralled friend whom Honour made a thrall: —

  Pero Rodrigues ’tis of Landroal.

  34

  “Olha este desleal o como paga

  O perjúrio que fez e vil engano:

  Gil Fernandes é de Elvas quem o estraga,

  E faz vir a passar o último dano:

  De Xerez rouba o campo, e quase alaga

  Com o sangue de seus donos Castelhano.

  Mas olha Rui Pereira, que com o rosto

  Faz escudo às galés, diante posto.

  “Look on this Treachetour and how he payeth 34

  his caitiff trick’ery and his perj’ury fell;

  Gil Fernandes of Elvas ’tis that slayeth

  the wretch, and sends him to his proper Hell:

  Harrying Xeres-plain the crops he layeth

  with floods of blood that raineth proud Castile:

  But see how Ruy Pereira’s face and front

  enshield the galleys, bearing battle-brunt.

  35

  “Olha que dezessete Lusitanos,

  Neste outeiro subidos se defendem,

  Fortes, de quatrocentos Castelhanos,

  Que em derredor, pelos tomar, se estendem;

  Porém logo sentiram, com seus danos,

  Que não só se defendem, mas ofendem:

  Digno feito de ser no mundo eterno,

  Grande no tempo antigo e no moderno.

  “See you sev’enteen to Lusus who belong 35

  upon this hillock standing, life defend

 

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