Luis de Camoes Collected Poetical Works

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Luis de Camoes Collected Poetical Works Page 76

by Luis de Camoes


  Caminho da virtude alto e fragoso,

  Mas no fim doce, alegre e deleitoso:

  These Immortalities, — in young world feigned 90

  by men who cherisht toils of noble aim,

  there on Olympus’ star-lit heights, attained

  on inclyt wings that soar to deathless Fame,

  whose Deeds of Derring-do the guerdon gained,

  by dint of endless toil and moil we name

  the Path of Virtue, stony, steep t’ ascend,

  but joyous-glad, delicious-sweet at end:

  91

  Não eram senão prémios que reparte

  Por feitos imortais e soberanos

  O mundo com os varões, que esforço e arte

  Divinos os fizeram, sendo humanos.

  Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte,

  Eneias e Quirino, e os dois Tebanos,

  Ceres, Palas e Juno, com Diana,

  Todos foram de fraca carne humana.

  Were nought but prizes brother-men impart 91

  in change for Feats immortal, sovereign,

  to that baronial Host, whose Arm and Art

  made to be Gods that had been only men:

  Jupiter, Phoebus, Mercury, and Mart,

  AEneas, Rom’ulus, and the Theban twain,

  Ceres, Diana, Juno, Pallas, were

  but human flesh to human weakness heir.

  92

  Mas a Fama, trombeta de obras tais,

  Lhe deu no mundo nomes tão estranhos

  De Deuses, Semideuses imortais,

  Indígetes, Heróicos e de Magnos.

  Por isso, ó vós que as famas estimais,

  Se quiserdes no mundo ser tamanhos,

  Despertai já do sono do ócio ignavo,

  Que o ânimo de livre faz escravo.

  Yet Fame, that trumpet of Man’s high emprize, 92

  on Earth bestowed them names of strange estate,

  Godheads, and deathless Semi-deities,

  Indigetes and Heroes, “Grand” and “Great.”

  Wherefore, oh, ye! who Fame’s fair guerdon prize,

  if in the World with these ye lief would mate,

  awake from Slumber, shake off Sloth ignave

  that sinks Man’s freeborn soul to soul of slave.

  93

  E ponde na cobiça um freio duro,

  E na ambição também, que indignamente

  Tomais mil vezes, e no torpe e escuro

  Vício da tirania infame e urgente;

  Porque essas honras vãs, esse ouro puro

  Verdadeiro valor não dão à gente:

  Melhor é, merecê-los sem os ter,

  Que possuí-los sem os merecer.

  And bridle Av’arice-sin with iron bit, 93

  rein that Ambition which o’er-reigns your race

  in thousand fashions, and the base conceit

  of vicious Tyr’anny breeding vile disgrace:

  Such tinkling honours, gold so counterfeit,

  to true and honest worth ne’er raised the base:

  Better to merit and the meed to miss,

  than, lacking merit, every meed possess.

  94

  Ou dai na paz as leis iguais, constantes,

  Que aos grandes não dêem o dos pequenos;

  Ou vos vesti nas armas rutilantes,

  Contra a lei dos inimigos Sarracenos:

  Fareis os Reinos grandes e possantes,

  E todos tereis mais, o nenhum menos;

  Possuireis riquezas merecidas,

  Com as honras, que ilustram tanto as vidas.

  Or give us Peace, and Laws impartial deal, 94

  that baulk the rich from plundering poorer men;

  or cloak your forms in coats of flashing steel,

  and crush the law of hostile Saracen:

  Thus shall your valour raise the Commonweal

  all gaining ampler, none a smaller gain;

  deserved rights shall to you be rife

  with Honours, alt-relief of human life.

  95

  E fareis claro o Rei, que tanto amais,

  Agora com os conselhos bem cuidados,

  Agora com as espadas, que imortais

  Vos farão, como os vossos já passados;

  Impossibilidades não façais,

  Que quem quis sempre pôde; e numerados

  Sereis entre os Heróis esclarecidos,

  E nesta Ilha de Vénus recebidos.

  Thus shall ye serve the King ye love so dear 95

  now with your proffer’d counsels sagely bold

  then by the Sword, that shall your names uprear

  to dizzy heights where trod your sires of old:

  To ‘tempt impossibilities forbear;

  who wills aye finds a way; and thus enrol’d,

  your names shall rival this heroick band,

  and gain fair greeting in Dame Venus’ land.

  CANTO DÉCIMO — CANTO X.

  ARGUMENT OF THE TENTH CANTO.

  TETHYS inviteth the Navigators: The Siren’s prophetick Song, wherein she toucheth upon the principal achievements and conquests of the Portugueze Viceroys, the Governors, and the Captains in India until the days of D. Joam de Castro: Tethys with Da Gama ascendeth a Mount, whence she showeth him the Spheres, terrestrial and celestial: Description of the Globe, especially of Asia and Africa: The Navigators quit the Island; and, pursuing their Voyage, happily reach Lisbon.

  ANOTHER ARGUMENT.

  As mesas de vivificos manjares,

  Com as Nymphas os Lusos valerosos,

  Ouvem de seus vindouros singulares

  Facanhas, em accentos numerosos:

  Mostra-lhes Tethys tudo quanto os mares,

  E quanto os ceos rodeam luminosos,

  A pegueno volume reduzido,

  E torna a frota ao Tejo tao querido.

  1

  Mas já o claro amador da Larisséia

  Adúltera inclinava os animais

  Lá pera o grande lago que rodeia

  Temistitão, nos fins Ocidentais;

  O grande ardor do Sol Favónio enfreia

  Co sopro que nos tanques naturais

  Encrespa a água serena e despertava

  Os lírios e jasmins, que a calma agrava,

  Now had the glowing Amourist, who won 1

  fair faithless Larissaea’s love, incline’d

  his steeds where lies, girt by the great Lagoon

  Temistitam, the western world behind:

  Favonius’ breath the brenning of the Sun

  cooleth, and o’er the nat’ural tanks his wind

  crisps the sea-mirror, and awakes the Lily

  slumb’ering with Jasmin through the noontide stilly:

  2

  Quando as fermosas Ninfas, cos amantes

  Pela mão, já conformes e contentes,

  Subiam pera os paços radiantes

  E de metais ornados reluzentes,

  Mandados da Rainha, que abundantes

  Mesas d’altos manjares excelentes

  Lhe tinha aparelhados, que a fraqueza

  Restaurem da cansada natureza.

  When the fair Nymphs, who each her lover led, 2

  hand linkt in hand, conforming and content,

  trooped where the radiant Pleasaunce reared its head

  all gay with gold and metals lucident;

  when bade the Queen that tables there be spread

  with varied viands chosen, excellent

  for loved and loving vigour to restore,

  the pow’ers which Love from weary nature bore.

  3

  Ali, em cadeiras ricas, cristalinas,

  Se assentam dous e dous, amante e dama;

  Noutras, à cabeceira, d’ouro finas,

  Está co a bela Deusa o claro Gama.

  De iguarias suaves e divinas,

  A quem não chega a Egípcia antiga fama,

  Se acumulam os pratos de fulvo ouro,

  Trazidos lá do Atlântico tesouro.

  There on the radiant thron
es, rich, chrystalline, 3

  sit the blithe couples, cavalier and dame;

  while on the golden dais in state recline

  the lovely Goddess, Gama loved by Fame:

  Delicious dainties, delicate, divine,

  that antique Egypt’s lux’ury sink to shame,

  heap the huge chargers of the tawny gold

  from far Atlantis-treas’ury hither roll’d.

  4

  Os vinhos odoríferos, que acima

  Estão não só do Itálico Falerno

  Mas da Ambrósia, que Jove tanto estima

  Com todo o ajuntamento sempiterno,

  Nos vasos, onde em vão trabalha a lima,

  Crespas escumas erguem, que no interno

  Coração movem súbita alegria,

  Saltando co a mistura d’água fria.

  The wines of fragrant scent not sole excel 4

  Falernus’ vintage, proud Italia’s boast,

  but e’en th’ Ambrosia Jove esteems so well

  and eke esteems his sempiternal Host;

  in cups where steely file may not prevail,

  they spume crisp foam that glads man’s innermost

  bosom, and warms his heart with sudden glow;

  and with ice-water temper’d, leap and flow.

  5

  Mil práticas alegres se tocavam;

  Risos doces, sutis e argutos ditos,

  Que entre um e outro manjar se ale vantavam,

  Despertando os alegres apetitos;

  Músicos instrumentos não faltavam

  (Quais, no profundo Reino, os nus espritos

  Fizeram descansar da eterna pena)

  Cüa voz düa angélica Sirena.

  Told were a thousand tales of joy and mirth; 5

  sweet smiles met subtle sayings warm with wit

  which to this courses and that gave double worth,

  and sharpened edge to blunted appetite:

  Nor of the Harp harmonious was there dearth,

  (which in profoundest Pit the naked Sprite

  awhile can respite from eternal pain),

  sweeten’d by Siren-voice of Angel-strain.

  6

  Cantava a bela Ninfa, e cos acentos,

  Que pelos altos paços vão soando,

  Em consonância igual, os instumentos

  Suaves vêm a um tempo conformando.

  Um súbito silêncio enfreia os ventos

  E faz ir docemente murmurando

  As águas, e nas casas naturais

  Adormecer os brutos animais.

  Thus sang that Nymph, the fairest of her kind, — 6

  her descant ech’oing down the halls sublime, —

  with consonance of instrument combine’d

  and all conforming to one tone and time:

  A sudden silence husheth every Wind,

  and makes the Wavelet plash with softer chime,

  while salvage animals in nat’ural lair

  to slumber charmed, a dreamy musick hear.

  7

  Com doce voz está subindo ao Céu

  Altos varões que estão por vir ao mundo,

  Cujas claras Ideias viu Proteu

  Num globo vão, diáfano, rotundo,

  Que Júpiter em dom lho concedeu

  Em sonhos, e despois no Reino fundo,

  Vaticinando, o disse, e na memória

  Recolheu logo a Ninfa a clara história.

  Her voice of silver raiseth to the skies 7

  the coming race of Barons high renown’d,

  whose prototypes were shown to Proteus’ eyes

  within the hollow Sphere’s diaph’anous round; Jove’s goodly present and the choicest prize

  giv’en him in vision. To the Realm profound

  the tale prophetick told he, and the Maid

  in Mem’ory’s depths the glorious hist’ory laid.

  8

  Matéria é de coturno, e não de soco,

  A que a Ninfa aprendeu no imenso lago;

  Qual Iopas não soube, ou Demodoco,

  Entre os Feaces um, outro em Cartago.

  Aqui, minha Calíope, te invoco

  Neste trabalho extremo, por que em pago

  Me tornes do que escrevo, e em vão pretendo,

  O gosto de escrever, que vou perdendo.

  Subject of buskin ’tis, and not for sock, 8

  what in that vasty Lake the Nymph made known,

  things from Iopas hid and Demodoque;

  Phoeacian this, and that of Carthage-town.

  Thee, my Calliope! I now invoke

  in this mine extreme labour, thou alone

  canst for my writing to my sprite restore

  the gust of writing, which I ‘joy no more.

  9

  Vão os anos descendo, e já do Estio

  Há pouco que passar até o Outono;

  A Fortuna me faz o engenho frio,

  Do qual já não me jacto nem me abono;

  Os desgostos me vão levando ao rio

  Do negro esquecimento e eterno sono.

  Mas tu me dá que cumpra, ó grão rainha

  Das Musas, co que quero à nação minha!

  My years glide downwards, and my Summer’s pride 9

  mergeth in Autumn, passing, ah! how soon;

  Fortune my Genius chills, and loves to chide

  my Poet-soul no more my boast and boon:

  Hopes long deferred bear me to the tide

  of black Oblivion, and eternal Swoon:

  But deign to grant me thou, the Muses’ Queen,

  to praise my People with my proper strain!

  10

  Cantava a bela Deusa que viriam

  Do Tejo, pelo mar que o Gama abrira,

  Armadas que as ribeiras venceriam

  Por onde o Oceano Índico suspira;

  E que os Gentios Reis que não dariam

  A cerviz sua ao jugo, o ferro e ira

  Provariam do braço duro e forte,

  Até render-se a ele ou logo à morte.

  Sang the fair Goddess how the wide Seas o’er 10

  from Tagus bank, whence Gama cut his path,

  shall sail strong Navies, conq’uering ev’ry shore

  where Indie Ocean sucks his mighty breath:

  How all the Kings, who Gentoo gods adore,

  and dare our yoke reject shall rue the wrath

  of hard and hardy Arms, with steel and lowe,

  till low to Gama or to Death they bow:

  11

  Cantava dum que tem nos Malabares

  Do sumo sacerdócio a dignidade,

  Que, só por não quebrar cos singulares

  Barões os nós que dera d’amizade,

  Sofrerá suas cidades e lugares,

  Com ferro, incêndios, ira e crueldade,

  Ver destruir do Samorim potente,

  Que tais ódios terá co a nova gente.

  Of one she chaunted that in Malabar 11

  held of the Priesthood highest dignity,

  who, lest be loosen’d with the singular

  Barons the knot of love and amity,

  shall see his towns, his cities in the war

  with fire and sword, and wrath and cruelty

  undone, which potent Samorim shall wage:

  Against the stranger such shall be his rage.

  12

  E canta como lá se embarcaria

  Em Belém o remédio deste dano,

  Sem saber o que em si ao mar traria,

  O grão Pacheco, Aquiles Lusitano.

  O peso sentirão, quando entraria,

  O curvo lenho e o férvido Oceano,

  Quando mais n’água os troncos que gemerem

  Contra sua natureza se meterem.

  And eke she singeth how shall join the Fleet 12

  in Belem moor’d, to ‘bate this deadly bane,

  when of his burthen nought could Ocean weet,

  our great Pacheco,’Achilles Lusitan:

  Lo! as he ent’ereth all his weight shall greet

  the c
urved timber and the fervid Main,

  as in the waters every keel that groaneth

  sits deeper swimming than its nature owneth.

  13

  Mas, já chegado aos fins Orientais

  E deixado em ajuda do gentio Rei de

  Cochim, com poucos naturais,

  Nos braços do salgado e curvo rio

  Desbaratará os Naires infernais

  No passo Cambalão, tornando frio

  D’espanto o ardor imenso do Oriente,

  Que verá tanto obrar tão pouca gente.

  But hardly landed on those Orient ends, 13

  and, leaving with the royal Unbeliever

  of Cochim-realm, some native troops where bends

  its salty branches Cochim’s snakey river;

  the Nayrs’ infernal bands he breaks and rends,

  in the Pass Cambalam, whereat shall shiver

  with freezing fear the Orient’s fiery glow,

  seeing so few so many men o’erthrow.

  14

  Chamará o Samorim mais gente nova;

  Virão Reis [de] Bipur e de Tanor,

  Das serras de Narsinga, que alta prova

  Estarão prometendo a seu senhor;

  Fará que todo o Naire, enfim, se mova

  Que entre Calecu jaz e Cananor,

  D’ambas as Leis imigas pera a guerra:

  Mouros por mar, Gentios pola terra.

  The Samorim shall summon fresh allies; 14

  Kings hurry’ing come from Bipur and Tanor,

  and where Narsinga’s serried crests arise

  vowing high valour to their Grand Seignior:

  Lo! at his bidding every Nayr-man hies,

  that dwells ‘twixt Calecut and Cananor,

  two hostile peoples linkt at War’s demand,

  by sea the Moormen come, Gentoos by land.

  15

  E todos outra vez desbaratando,

  Por terra e mar, o grão Pacheco ousado,

  A grande multidão que irá matando

  A todo o Malabar terá admirado.

  Cometerá outra vez, não dilatando,

  O Gentio os combates, apressado,

  Injuriando os seus, fazendo votos

  Em vão aos Deuses vãos, surdos e imotos.

  Again shall scatter all their strong array 15

  Pacheco grandly bold on shore and Main;

  the mighty Meiny he shall crush and slay,

  and be the Marvel of the Mal’abar plain:

  Again shall dare the Pagan sans delay

  to offer battle for his bitter bane;

  taunting his Host and offering vainest vows

  his deaf, and dumb, and heedless Gods to ‘rouse.

  16

  Já não defenderá somente os passos,

  Mas queimar-lhe-á lugares, templos, casas;

  Aceso de ira, o Cão, não vendo lassos

  Aqueles que as cidades fazem rasas,

  Fará que os seus, de vida pouco escassos,

  Cometam o Pacheco, que tem asas,

  Por dous passos num tempo; mas voando

 

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