Luis de Camoes Collected Poetical Works

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Luis de Camoes Collected Poetical Works Page 78

by Luis de Camoes


  E rudos paus tostados sós farão

  O que arcos e pelouros não fizeram.

  Ocultos os juízos de Deus são;

  As gentes vãs, que não nos entenderam,

  Chamam-lhe fado mau, fortuna escura,

  Sendo só providência de Deus pura.

  “There salvage Caffres shall have pow’er to do 38

  what ne’er could do the pow’er of dext’erous foe;

  and the rude fire-charred club and staff subdue

  whom ne’er subdued ball nor artful bow.

  Forsooth His judgments hide from human view!

  Vain fools who vainly judge what none may know,

  call a misfortune, term a fate malign,

  what is but Prov’idence pure, all-wise, divine.

  Then waxt the woeful wail a sorer strain, 38a

  “Oh, God, what vision in the further days!

  That fair young Prince of Gaul’s imperial vein,

  so knightly valiant, fain of fame and praise:

  I see him fighting, stricken, fallen, slain,

  pierced in front by Cafire assegais: —

  Blush, Albion! blush, when Britons dare to flee

  and leave such Prince such obscure doom to dree!”

  39

  “Mas oh, que luz tamanha que abrir sinto

  (Dizia a Ninfa, e a voz alevantava)

  Lá no mar de Melinde, em sangue tinto

  Das cidades de Lamo, de Oja e Brava,

  Pelo Cunha também, que nunca extinto

  Será seu nome em todo o mar que lava

  As ilhas do Austro, e praias que se chamam

  De São Lourenço, e em todo o Sul se afamam!

  “But, oh! what lustrous Light illumes mine eyes,” 39

  resumed the Nymph, as rose again her tone,

  “there where Melinde’s blood-dyed Ocean lies

  from Lamo, Oja, Brava-town, o’erthrown

  by hand of Cunha, such a deed ne’er dies,

  o’er farthest seas his name shall aye be known

  that lave those Austral Islands, and the shore

  Saint Lawrence hight and ring the wide world o’er.

  40

  “Esta luz é do fogo e das luzentes

  Armas com que Albuquerque irá amansando

  De Ormuz os Párseos, por seu mal valentes,

  Que refusam o jugo honroso e brando.

  Ali verão as setas estridentes

  Reciprocar-se, a ponta no ar virando

  Contra quem as tirou; que Deus peleja

  Por quem estende a fé da Madre Igreja.

  “This Light is glance and glare of lucent arm 40

  wherewith your Albuquerque’s hand shall tame

  the Hormuz Parsi’s heart which be his harm,

  refusing gentle rule as yoke of shame.

  There shall he see of shafts the strident swarm,

  in air revolving with recurved aim

  upon his archer, for our God shall aid,

  who holy faith of Mother Church would spread.”

  41

  “Ali do sal os montes não defendem

  De corrupção os corpos no combate,

  Que mortos pela praia e mar se estendem

  De Gerum, de Mazcate e Calaiate;

  Até que à força só de braço aprendem

  A abaxar a cerviz, onde se lhe ate

  Obrigação de dar o reino inico

  Das perlas de Barém tributo rico.

  “There the Salt Mountains never shall defend 41

  corruption from remains of men that met

  War’s doom, and o’er the seas and shores extend

  of Gerum Isle, Maskat and Calayat:

  Till by pure force of arms they learn to bend

  the subject neck, and pay the scot of Fate:

  Compulsion sore this wicked Reign shall vex

  and tithe of pearl that Barem’s oyster decks.

  42

  “Que gloriosas palmas tecer vejo

  Com que Vitória a fronte lhe coroa,

  Quando, sem sombra vã de medo ou pejo,

  Toma a ilha ilustríssima de Goa!

  Despois, obedecendo ao duro ensejo,

  A deixa, e ocasião espera boa

  Com que a torne a tomar, que esforço e arte

  Vencerão a Fortuna e o próprio Marte.

  “What wreaths of glorious Palms I see them weave 42

  wherewith by Victory’s hand his head is crown’d;

  when he sans shade of fear or shame shall reave

  illustrious Goa’s Island world-renown’d.

  See, forced by Need’s hard law his prize to leave,

  he seeks new favouring chance; and, soon as found,

  the taken he retakes; such Arm and Art

  shall conquer Fortune and the self of Mart.

  43

  “Eis já sobr’ela torna e vai rompendo

  Por muros, fogo, lanças e pelouros,

  Abrindo com a espada o espesso e horrendo

  Esquadrão de Gentios e de Mouros.

  Irão soldados ínclitos fazendo

  Mais que liões famélicos e touros,

  Na luz que sempre celebrada e dina

  Será da Egípcia Santa Caterina.

  “Lo! he returns and bursts what dares oppose, 43

  thro’ bullet, lance-plump, steel, fire, strongest hold;

  breaks with his brand the squadded host of foes,

  the serried Moor, the Gentoo manifold.

  His inclyt sold’iery more of fury shows

  than rampant Bulls, or Lyons hunger-bold,

  that Day for ever celebrate and digne

  of Egypt’s Martyr-maid, Saint Catherine.

  44

  “Nem tu menos fugir poderás deste,

  Posto que rica e posto que assentada

  Lá no grémio da Aurora, onde naceste,

  Opulenta Malaca nomeada.

  As setas venenosas que fizeste,

  Os crises com que já te vejo armada,

  Malaios namorados, Jaus valentes,

  Todos farás ao Luso obedientes.”

  “Nor shalt thou ‘scape the fate to fall his prize 44

  albeit so wealthy, and so strong thy site

  there on Aurora’s bosom, whence thy rise,

  thou Home of Opulence, Malacca hight!

  The poysoned arrows which thine art supplies

  the Krises thirsting, as I see, for fight,

  th’ enamoured Malay-men, the Javan braves,

  all of the Lusian shall become the slaves.”

  45

  Mais estanças cantara esta Sirena

  Em louvor do ilustríssimo Albuquerque,

  Mas alembrou-lhe üa ira que o condena,

  Posto que a fama sua o mundo cerque.

  O grande Capitão, que o fado ordena

  Que com trabalhos glória eterna merque,

  Mais há-de ser um brando companheiro

  Pera os seus, que juiz cruel e inteiro.

  She had more stanzas sung in Siren-strain, 45

  lauding her Albuquerque’s high renown,

  when she recalled the pass’ionate deed, the stain

  on his white fame that o’er the world hath shone.

  The mighty Captain whom the Fates ordain

  to view his toils win Glory’s lasting Crown,

  should ever ‘prove him kind and loved compeer

  of his own men, not cruel judge severe.

  46

  Mas em tempo que fomes e asperezas,

  Doenças, frechas e trovões ardentes,

  A sazão e o lugar, fazem cruezas

  Nos soldados a tudo obedientes,

  Parece de selváticas brutezas,

  De peitos inumanos e insolentes,

  Dar extremo suplício pela culpa

  Que a fraca humanidade e Amor desculpa.

  In days of hunger and of dire distress, 46

  sickness, bolts, arrows, thunder, lightning-glint,

  when the sore seasons and sad sites oppressr />
  his soldiers, rendering services sans stint;

  it seemeth salvage act of wild excess,

  of heart inhuman, bosom insolent,

  to make last penalty of Laws atone

  for sins our frailty and our love condone.

  47

  Não será a culpa abominoso incesto

  Nem violento estupro em virgem pura,

  Nem menos adultério desonesto,

  Mas cüa escrava vil, lasciva e escura.

  Se o peito, ou de cioso, ou de modesto,

  Ou de usado a crueza fera e dura,

  Cos seus üa ira insana não refreia,

  Põe na fama alva noda negra e feia.

  Abominable incest shall not be 47

  his sin, nor ruffian rape of virgin pure,

  not e’en dishonour of adultery,

  but lapse with wanton slave-girl, vile, obscure:

  If urged by jealous sting, or modesty,

  or used to cruelty and harshness dour,

  Man from his men mad anger curbeth not,

  his Fame’s white shield shall bear black ugly blot.

  48

  Viu Alexandre Apeles namorado

  Da sua Campaspe, e deu-lha alegremente,

  Não sendo seu soldado exprimentado,

  Nem vendo-se num cerco duro e urgente.

  Sentiu Ciro que andava já abrasado

  Araspas, de Panteia, em fogo ardente,

  Que ele tomara em guarda, e prometia

  Que nenhum mau desejo o venceria;

  Learnt Alexander that Apelles loved 48

  and his Campaspe gave with glad consent,

  though was the Painter not his Soldier proved,

  nor in hard urgent siege his force was pent.

  Felt Cyrus, eke, Panthe’a deeply moved

  Araspas, by the fire of Passion brent,

  though he had tane her charge, and pledged his oath

  dishonest love should never break his troth:

  49

  Mas, vendo o ilustre Persa que vencido

  Fora de Amor, que, enfim, não tem defensa,

  Levemente o perdoa, e foi servido

  Dele num caso grande, em recompensa.

  Per força, de Judita foi marido

  O férreo Balduíno; mas dispensa

  Carlos, pai dela, posto em causas grandes,

  Que viva e povoador seja de Frandes.

  But see’ing the noble Persian ‘slaved and sway’d 49

  by pow’er of Passion, sans in fine defence,

  he gives light pardon, and thus gained his aid in gravest case, the fittest recompense.

  Himself perforce the mate of Judith made

  Baldwin hight “Bras-de-fer,” but his offence

  her father, Charles, for troublous times condone’d,

  and gave him life the Flanders’ reign to found.

  50

  Mas, prosseguindo a Ninfa o longo canto,

  De Soares cantava, que as bandeiras

  Faria tremular e pôr espanto

  Pelas roxas Arábicas ribeiras:

  — “Medina abominábil teme tanto,

  Quanto Meca e Gidá, co as derradeiras

  Praias de Abássia; Barborá se teme

  Do mal de que o empório Zeila geme.

  Again the Lyre its soul of musick sheds, 50

  and sings the Nymph how shall Soares fly

  air-windowing flags whose terror far o’erspreads

  the ruddy coasted lands of Araby:

  Th’ abominable town, Medina, dreads

  as Meca dreads and Gida, and where lie

  Abassia’s ultime shores: while Barbora fears

  the fate that floodeth Zeyla-mart with tears.

  51

  “A nobre ilha também de Taprobana,

  Já pelo nome antigo tão famosa

  Quanto agora soberba e soberana

  Pela cortiça cálida, cheirosa,

  Dela dará tributo à Lusitana

  Bandeira, quando, excelsa e gloriosa,

  Vencendo se erguerá na torre erguida,

  Em Columbo, dos próprios tão temida.

  “And, eke, the noble Island Taproban, 51

  whose ancient name ne’er fail’d to give her note,

  as still she reigns superb and sovereign

  by boon of fragrant tree-bark, biting-hot:

  Toll of her treasure to the Lusitan

  ensign shall pay, when proud and high shall float

  your breezy banners from the lofty tower,

  and all Columbo fear your castled power.

  52

  “Também Sequeira, as ondas Eritreias

  Dividindo, abrirá novo caminho

  Pera ti, grande Império, que te arreias

  De seres de Candace e Sabá ninho.

  Maçuá, com cisternas de água cheias

  Verá, e o porto Arquico, ali vizinho;

  E fará descobir remotas Ilhas,

  Que dão ao mundo novas maravilhas.

  “Sequeira, too, far sailing for the shore, 52

  of Erythras, new way shall open wide

  to thee, Great Empire! who canst vaunt of yore

  to be Candace’s and the Sheban’s nide:

  Masua that hoards in tanks her watery store,

  he shall behold by Port Arquico’s side;

  and send explorers to each distant isle,

  till novel wonder all the world beguile.

  53

  “Virá despois Meneses, cujo ferro

  Mais na Africa, que cá, terá provado;

  Castigará de Ormuz soberba o erro,

  Com lhe fazer tributo dar dobrado.

  Também tu, Gama, em pago do desterro

  Em que estás e serás inda tornado,

  Cos títulos de Conde e d’honras nobres

  Virás mandar a terra que descobres.

  “Succeeds Meneze; less enfamed his sword 53

  shall be in Asia than in Africk-land:

  he shall chastise high Hormuz’ erring horde

  and twofold tribute claim with conq’uering hand.

  Thou also, Gama! shalt have rich reward

  for ban of exile, when to high command

  entitled, ‘County’ thou shalt be restored

  to the fair region this thy Feat explored.

  54

  “Mas aquela fatal necessidade

  De quem ninguém se exime dos humanos,

  Ilustrado co a Régia dignidade,

  Te tirará do mundo e seus enganos.

  Outro Meneses logo, cuja idade

  É maior na prudência que nos anos,

  Governará; e fará o ditoso Henrique

  Que perpétua memória dele fique.

  “But soon that fatal Debt all flesh must pay, 54

  wherefrom our Nature no exception knows,

  while deckt with proudest Royalty’s array,

  from Life shall reave thee and Life’s toils and woes:

  Other Menezes cometh sans delay,

  who few of years but much of prudence shows

  in rule; right happy this Henrique’s lot

  by human story ne’er to be forgot.

  55

  “Não vencerá somente os Malabares,

  Destruindo Panane com Coulete,

  Cometendo as bombardas, que, nos ares,

  Se vingam só do peito que as comete;

  Mas com virtudes, certo, singulares,

  Vence os imigos d’alma todos sete;

  De cobiça triunfa e incontinência,

  Que em tal idade é suma de excelência.

  “Conquer he shall not only Malabar, 55

  destroy Panane and Coulete waste,

  hurling the bombards, which through hurtled air

  deal horrid havock on th’ opposing breast;

  but, dower’d with virtues truly singular,

  he deals to seven-fold Spirit-foes his hest:

  Covetise with Incontinence he shall spurn, —

  the highest conquest in the years that burn.


  56

  “Mas, despois que as Estrelas o chamarem,

  Sucederás, ó forte Mascarenhas;

  E, se injustos o mando te tomarem,

  Prometo-te que fama eterna tenhas.

  Pera teus inimigos confessarem

  Teu valor alto, o fado quer que venhas

  A mandar, mais de palmas coroado,

  Que de fortuna justa acompanhado.

  “Him, when his presence shall the stars invite 56

  O Mascarenhas brave! thou shalt succeed;

  and if injurious men shall rob thy right

  eternal Fame I promise for thy meed!

  That ev’ry hostile tongue confess thy might

  and lofty valour, Fate for thee decreed

  for more of Palm-wreaths shall thy glory crown,

  than the Good Fortune due to thy renown.

  57

  “No reino de Bintão, que tantos danos

  Terá a Malaca muito tempo feitos,

  Num só dia as injúrias de mil anos

  Vingarás, co valor de ilustres peitos.

  Trabalhos e perigos inumanos,

  Abrolhos férreos mil, passos estreitos,

  Tranqueiras, baluartes, lanças, setas:

  Tudo fico que rompas e sometas.

  “Where Bintam’s reign her baleful head uprears, 57

  Malaca humbling with her harmful hate,

  in one short day the thousand tyrannous years

  with bravest bosoms shalt avenge and ‘bate:

  Inhuman travails, perils without peers,

  a thousand iron reefs, and dangerous strait,

  stockade and bulwark, lances, arr’owy sleet,

  all shalt thou break, I swear, all shalt submit.

  58

  “Mas na Índia, cobiça e ambição,

  Que claramente põem aberto o rosto

  Contra Deus e Justiça, te farão

  Vitupério nenhum, mas só desgosto.

  Quem faz injúria vil e sem razão,

  Com forças e poder em que está posto,

  Não vence; que a vitória verdadeira

  É saber ter justiça nua e inteira.

  “But Inde’s Ambition, and her Lucre-lust, 58

  for ever flaunting bold and brazen face

  in front of God and Justice, shall disgust

  thy heart, but do thine honour no disgrace.

  Who works vile inj’ury with unreas’oning trust

  in force, and footing lent by rank and place,

  conquereth nothing, the true Conq’ueror he

  who dares do naked Justice fair and free.

  59

  “Mas, contudo, não nego que Sampaio

  Será, no esforço, ilustre e assinalado,

  Mostrando-se no mar um fero raio,

  Que de inimigos mil verá coalhado.

  Em Bacanor fará cruel ensaio

  No Malabar, pera que, amedrontado,

  Despois a ser vencido dele venha

  Cutiale, com quanta armada tenha.

  “Yet to Sampaio will I not gainsay 59

  a noble valour shown by shrewdest blows,

 

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