the lesser circles in its lines confin’d;
this Sphere, whose flood of clearest radiance flows
blinding man’s vision and his vulgar mind
is hight th’ Empyrean: Here the Blest repose,
here perfect Spirits bliss eternal find,
ineffable joys which He alone may ken
Who hath no likeness in the World of Men.
82
“Aqui, só verdadeiros, gloriosos
Divos estão, porque eu, Saturno e Jano,
Júpiter, Juno, fomos fabulosos,
Fingidos de mortal e cego engano.
Só pera fazer versos deleitosos
Servimos; e, se mais o trato humano
Nos pode dar, é só que o nome nosso
Nestas estrelas pôs o engenho vosso.
“Only to this Imperial Sphere belong 82
the Gods of Truth; for Saturn, Janus, I,
Jove and his Juno are a fabled throng,
a mortal figment, a blind phantasy:
Only to deck the Poet’s sprightly song
we served; and, if more humanity
we gained of man, ’twas that his wit hath given
our names and natures to the stars of Heaven:
83
“E também, porque a santa Providência,
Que em Júpiter aqui se representa,
Por espíritos mil que têm prudência
Governa o Mundo todo que sustenta
(Ensina-lo a profética ciência,
Em muitos dos exemplos que apresenta);
Os que são bons, guiando, favorecem,
Os maus, em quanto podem, nos empecem;
“And, eke, because that Holy Providence, — 83
the Jupiter of mythologick strain, —
by thousand Spirits wise in perfect sense,
ruleth all mundane things it doth sustain.
Prophetick Science doth this Truth dispense,
a Truth so many instances maintain:
Sprites that be good aye guide and favour man,
the bad his course impede whene’er they can.
84
“Quer logo aqui a pintura que varia
Agora deleitando, ora ensinando,
Dar-lhe nomes que a antiga Poesia
A seus Deuses já dera, fabulando;
Que os Anjos de celeste companhia
Deuses o sacro verso está chamando,
Nem nega que esse nome preminente
Também aos maus se dá, mas falsamente.
“Here willed Picture, lief with change to play 84
pleasing and teaching, mixing gay and grave,
to give them titles which your olden lay
to fabled Gods in poet-fables gave:
For even th’ Angels of th’ eternal day
as Gods enrolled were in sacred stave;
which e’en denies not such exalted name
sometimes to sinner though with falsest claim.
85
“Enfim que o Sumo Deus, que por segundas
Causas obra no Mundo, tudo manda.
E tornando a contar-te das profundas
Obras da Mão Divina veneranda,
Debaxo deste círculo onde as mundas
Almas divinas gozam, que não anda,
Outro corre, tão leve e tão ligeiro
Que não se enxerga: é o Móbile primeiro.
“In fine the God Supreme who works His will 85
by second worldly causes, all commands:
Return we now the works profound to tell
of His divine and venerated Hands.
Beneath this circle, where all blissful dwell
pure godly Sprites, which fixt for ever stands,
another rolleth, and so swift none see
its course: This is the Primum Mobile’:
86
“Com este rapto e grande movimento
Vão todos os que dentro tem no seio;
Por obra deste, o Sol, andando a tento,
O dia e noite faz, com curso alheio.
Debaxo deste leve, anda outro lento,
Tão lento e sojugado a duro freio,
Que enquanto Febo, de luz nunca escasso,
Duzentos cursos faz, dá ele um passo.
“And with its rapt and rapid whirl it drags 86
all lesser spherelets which its womb containeth:
By work of this the Sun who never flags
with alien courses Day and Night sustaineth:
‘Neath this swift orb another orb slow lags,
so slow, so hard a curb its ardour reineth,
while Phoebus makes, with ever splendid face,
two hundred rounds, this moves a single pace.
87
“Olha estoutro debaxo, que esmaltado
De corpos lisos anda e radiantes,
Que também nele tem curso ordenado
E nos seus axes correm cintilantes.
Bem vês como se veste e faz ornado
Co largo Cinto d, ouro, que estelantes
Animais doze traz afigurados,
Apousentos de Febo limitados.
“Lower this other view, enamel’d gay 87
with burnisht figures gleaming radiant bright;
which in it too hold constant ordered way,
orbs on their axes scintillant empight:
Thou seest well ’tis dight with brave array
of broad and golden Zone, the Zodiac hight,
wherein twelve starry forms of an’imals shine,
that Phoebus’ mansions limit and define.
88
“Olha por outras partes a pintura
Que as Estrelas fulgentes vão fazendo:
Olha a Carreta, atenta a Cinosura,
Andrómeda e seu pai, e o Drago horrendo;
Vê de Cassiopeia a fermosura
E do Orionte o gesto turbulento;
Olha o Cisne morrendo que suspira,
A Lebre e os Cães, a Nau e a doce Lira.
“Behold in other parts the portraiture, 88
limned by the Stars that sparkling glances shed:
Behold the Wain, attend the Cynosure,
and, with her fierce Worm-father, Andromed:
See Cassiopeia’s beauty lovely pure,
with turbulent Orion’s gesture dread:
Behold the Swan that doth in song expire,
the Hare and Hounds, the Ship and dulcet Lyre.
89
“Debaxo deste grande Firmamento,
Vês o céu de Saturno, Deus antigo;
Júpiter logo faz o movimento,
E Marte abaxo, bélico inimigo;
O claro Olho do céu, no quarto assento,
E Vénus, que os amores traz consigo;
Mercúrio, de eloquência soberana;
Com três rostos, debaxo vai Diana.
“Beneath this firmamental canopy 89
thou seest Saturn’s sky, that Godhead old:
With faster flight doth Jove below him fly,
and Mars yet lower, bellick planet bold:
In the fourth seat shines Heaven’s radiant eye;
then Venus leadeth all her Loves enrol’d;
Mercury wends with eloquence divine;
and ‘neath him Dian showeth faces trine.
90
“Em todos estes orbes, diferente
Curso verás, nuns grave e noutros leve;
Ora fogem do Centro longamente,
Ora da Terra estão caminho breve,
Bem como quis o Padre omnipotente,
Que o fogo fez e o ar, o vento e neve,
Os quais verás que jazem mais a dentro
E tem co Mar a Terra por seu centro.
In all these orbits motion different 90
shalt see; in these ’tis swift, in those ’tis slow;
now fly they farthest from the firmament,
then sweep they nearest earth that lurks below;
even so willed the Sire Omnipotent,
who made the Fire and Air, the Wi
nd and Snow:
These lie more inward, as thou shalt be shown,
and Earth with Ocean for their centre own.
91
“Neste centro, pousada dos humanos,
Que não somente, ousados, se contentam
De sofrerem da terra firme os danos,
Mas inda o mar instábil exprimentam,
Verás as várias partes, que os insanos
Mares dividem, onde se apousentam
Várias nações que mandam vários Reis,
Vários costumes seus e várias leis.
“Within this centre, Inn of humankind, 91
whose reckless spirits not alone defy
sufferings and ills to stable Earth confine’d,
but e’en the Sea’s fierce instability;
thou shalt see various Continents define’d
by blindly raging tides, where parted lie
the various Realms which various monarchs sway,
whose varied Customs varied laws obey.
92
“Vês Europa Cristã, mais alta e clara
Que as outras em polícia e fortaleza.
Vês África, dos bens do mundo avara,
Inculta e toda cheia de bruteza;
Co Cabo que até’aqui se vos negara,
Que assentou pera o Austro a Natureza.
Olha essa terra toda, que se habita
Dessa gente sem Lei, quási infinita.
“See high, haught Europe that adores the Rood, 92
for pow’er and polity o’er all renown’d:
See Africk grudging ev’ery worldly good,
you rough, incult and monster-haunted ground;
whose Stormy Cape till now your search withstood,
by Nature ‘stablished as her Austral bound:
Behold this quarter where the Blackmoors dwell
sans-loys, sans-foys, whose numbers none can tell.
93
“Vê do Benomotapa o grande império,
De selvática gente, negra e nua,
Onde Gonçalo morte e vitupério
Padecerá, pola Fé santa sua.
Nace por este incógnito Hemispério
O metal por que mais a gente sua.
Vê que do lago donde se derrama
O Nilo, também vindo está Cuama.
“Behold the Ben’omotapa’s puissant reign 93
of salvage Negros, nude and noisome race,
where shall for Holy Faith be foully slain
martyr’d Gongalo, suffering sore disgrace:
This hidden Hemisphere to golden vein
gives birth, which man must win by sweat of face
See from you Lake, whence Nilus rolls his tide,
how springs Cuama from the farther side.
94
“Olha as casas dos negros, como estão
Sem portas, confiados, em seus ninhos,
Na justiça real e defensão
E na fidelidade dos vizinhos;
Olha deles a bruta multidão,
Qual bando espesso e negro de estorninhos,
Combaterá em Sofala a fortaleza, Que
defenderá Nhaia com destreza.
“Behold those Blackmoors and their huts that stand 94
sans doors, each castled in his natal nest,
they trust of Royal Justice the command,
and in the candour of the neighbour’s breast:
Behold how furious flies the bestial band
like flock of dingy stares thick packt and prest;
to fight Sofala’s fortress they pretend
which dext’erous Nhaia’s arm and wits defend:
95
“Olha lá as alagoas donde o Nilo
Nace, que não souberam os antigos;
Vê-lo rega, gerando o crocodilo,
Os povos Abassis, de Crista amigos;
Olha como sem muros (novo estilo)
Se defendem milhor dos inimigos;
Vê Méroe, que ilha foi de antiga fama,
Que ora dos naturais Nobá se chama.
“See there the Lakes that cradle Father Nyle 95
whose ultime sources men of old ne’er knew:
See how he waters, ‘gend’ering cockadrille,
Abassia-lond whose sons to CHRIST be true:
Behold how bare of bulwarks (novel style)
they show a better front against the foe:
See Meroe-island whilom known to fame,
which now the wild inhabitants Noba name.
95 a. Not in Camoens.
“And see you twain from Britain’s foggy shore
set forth dark Africk’s jungle-plain to span;
thy furthest fount, O Nilus! they explore,
and where Zaire springs to seek the Main:
The Veil of Isis hides thy land no more,
whose ways wide open to the world are lain:
They deem, vain fools! to win fair HONOUR’S prize: —
This exiled lives, and that untimely dies.
96
“Nesta remota terra um filho teu
Nas armas contra os Turcos será claro;
Há-de ser Dom Cristóvão o nome seu;
Mas contra o fim fatal não há reparo.
Vê cá a costa do mar, onde te deu
Melinde hospício gasalhoso e caro;
O Rapto rio nota, que o romance
Da terra chama Obi; entra em Quilmance.
“On distant Africk hills a son of thee 96
in Turkish wars shall win the fame of Brave;
hight Dom Christovam shall the hero be,
but flesh from destined Death no skill shall save.
Here view the Coast where shelter from the sea
and glad relief to thee Melinde gave:
Note how you Rhaptus stream, whose wide expanse
natives call Obi, ent’ereth in Quilmance.
97
“O Cabo vê já Arómata chamado,
E agora Guardafú, dos moradores,
Onde começa a boca do afamado
Mar Roxo, que do fundo toma as cores;
Este como limite está lançado
Que divide Asia de Africa; e as milhores
Povoações que a parte Africa tem
Maçuá são, Arquico e Suaquém.
“The Cape which Antients ‘ Aromatic’ clepe 97
behold, yclept by Moderns Guardafú;
where opes the Red Sea mouth, so wide and deep,
the Sea whose ruddy bed lends blushing hue:
This as a bourne was far thrust out to keep
Asia distinct from Africk, and a few
of the best markets Negro seaboards claim
Arquico are, Masua and Suanquem.
98
“Vês o extremo Suez, que antigamente
Dizem que foi dos Héroas a cidade
(Outros dizem que Arsínoe), e ao presente
Tem das frotas do Egipto a potestade.
Olha as águas nas quais abriu patente
Estrada o grão Mousés na antiga idade.
Ásia começa aqui, que se apresenta
Em terras grande, em reinos opulenta.
“View extreme Suez where, old Annals say, 98
once stood the city hight Hero’opolis;
by some Arsin’oe called, and in our day
she holdeth Egypt’s fleets and argosies:
Behold the watery depths, where clove his way
Moses the mighty in past centuries:
Asia beginneth here her huge extent
in regions, kingdoms, empires opulent.
99
“Olha o monte Sinai, que se ennobrece
Co sepulcro de Santa Caterina;
Olha Toro e Gidá, que lhe falece
Água das fontes, doce e cristalina;
Olha as portas do Estreito, que fenece
No reino da seca Ádem, que confina
Com a serra d’Arzira, pedra viva,
Onde chuva dos céus se não deriva.
“See Sinai mountain, w
ith her boast and pride 99
the silver bier of saintly Catherine:
See Toro-port and Gida, scant supplied
with fountain-water soft and crystalline:
Behold the Straits which end the southern side
of arid Aden-realms, that here confine
with tall Arziran range, nude stone and live,
whence soft sweet rains of Heaven ne’er derive.
100
“Olha as Arábias três, que tanta terra
Tomam, todas da gente vaga e baça,
Donde vêm os cavalos pera a guerra,
Ligeiros e feroces, de alta raça;
Olha a costa que corrre, até que cera
Outro Estreito de Pérsia, e faz a traça
O Cabo que co nome se apelida
Da cidade Fartaque, ali sabida.
“See threefold Ar’aby, covering so much ground, 100
where tawny peoples vague o’er vasty space;
whence come the Rabytes, best for battle found,
light-limbed, high-fettled, noble-blooded race.
Behold the coast that trends to bind and bound
you other Persian Strait, where sight can trace
the Headland proud the potent name to own
of Fartak-city, erst to Fame well-known.
101
“Olha Dófar, insigne porque manda
O mais cheiroso incenso pera as aras;
Mas atenta: já cá destoutra banda
De Roçalgate, e praias sempre avaras,
Começa o reino Ormuz, que todo se anda
Pelas ribeiras que inda serão claras
Quando as galés do Turco e fera armada
Virem de Castelbranco nua a espada.
“Behold insign Dofar that doth command 101
for Christian altars sweetest incense-store:
But note, beginning now on further band
of Rosalgate’s ever greedy shore,
you Hormuz Kingdom strown along the strand,
whose fame for riches still shall higher soar
when the Turk’s galleys, and his fierce Armade
see Castel-Branco bare his deadly blade.
102
“Olha o Cabo Asaboro, que chamado
Agora é Moçandão, dos navegantes;
Por aqui entra o lago que é fechado
De Arábia e Pérsias terras abundantes.
Atenta a ilha Barém, que o fundo ornado
Tem das suas perlas ricas, e imitantes
A cor da Aurora; e vê na água salgada
Ter o Tígris e Eufrates üa entrada.
“Behold of Asabón the Head, now hight 102
Mosandam, by the men who plough the Main:
Here lies the Gulf whose long and lake-like Bight
parts Araby from fertile Persia’s plain.
Attend you Barem Isle, with depths bedight
by the rich pearly shell whose blushes feign
Auroran tints; and view in Ocean brine
Euphrate and Tygre in one bed conjoin.
103
Luis de Camoes Collected Poetical Works Page 80