Luis de Camoes Collected Poetical Works

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Luis de Camoes Collected Poetical Works Page 82

by Luis de Camoes


  Vês Pam, Patane, reinos, e a longura

  De Sião, que estes e outros mais sujeita;

  Olha o rio Menão, que se derrama

  Do grande lago que Chiamai se chama.

  “But on her Lands-end throned see Cingapur, 125

  where the wide sea-road shrinks to narrow way:

  Thence curves the coast to face the Cynosure,

  and lastly trends Auroraward its lay:

  See Pam, Patane, and in length obscure,

  Siam, that ruleth all with royal sway;

  behold Menam, who rolls his lordly tide

  from Source Chiamai called, Lake long and wide.

  126

  Vês neste grão terreno os diferentes

  Nomes de mil nações, nunca sabidas:

  Os Laos, em terra e número potentes;

  Avás, Bramás, por serras tão compridas;

  Vê nos remotos montes outras gentes,

  Que Gueos se chamam, de selvages vidas;

  Humana carne comem, mas a sua

  Pintam com ferro ardente, usança crua.

  “Thou see’st in spaces of such vast extent 126

  nations of thousand names and yet unnamed;

  Laos in land and people prepotent,

  was and Bramas for vast ranges famed.

  See how in distant wilds and wolds lie pent

  the self-styled Gueons, salvage folk untamed:

  Man’s flesh they eat: their own they paint and sear,

  branding with burning iron, — usage fere!

  127

  “Vês, passa por Camboja Mecom rio,

  Que capitão das águas se interpreta;

  Tantas recebe d’ outro só no Estio,

  Que alaga os campos largos e inquieta;

  Tem as enchentes quais o Nilo frio;

  A gente dele crê, como indiscreta,

  Que pena e glória têm, despois de morte,

  Os brutos animais de toda sorte.

  “See Mecom river fret Cambodia’s coast, 127

  his name by ‘Water-Captain’ men explain;

  in summer only when he swelleth most,

  he leaves his bed to flood and feed the Plain:

  As the frore Nyle he doth his freshets boast;

  his peoples hold the fond belief and vain,

  that pains and glories after death are ‘signed

  to brutes and soulless beasts of basest kind.

  128

  “Este receberá, plácido e brando,

  No seu regaço os Cantos que molhados

  Vêm do naufrágio triste e miserando,

  Dos procelosos baxos escapados,

  Das fomes, dos perigos grandes, quando

  Será o injusto mando executado

  Naquele cuja Lira sonorosa

  Será mais afamada que ditosa.

  “This Stream with gentle, bland repose shall greet 128

  in his embrace the Song, that swam to land

  from sad and piteous shipwreck dripping wet,

  ‘scaped from the reefs and rocks that fang the strand;

  from hunger-tortures and the perilous strait,

  what time went forth the dour unjust command

  on him, whose high sonorous lyre shall claim

  such want of Fortune and such wealth of Fame.

  129

  “Vês, corre a costa que Champá se chama,

  Cuja mata é do pau cheiroso ornada;

  Vês Cauchichina está, de escura fama,

  E de Ainão vê a incógnita enseada;

  Aqui o soberbo Império, que se afama

  Com terras e riqueza não cuidada,

  Da China corre, e ocupa o senhorio

  Desde o Trópico ardente ao Cinto frio.

  “Here courseth, see, the called Champa shore, 129

  with woods of od’orous wood ’tis deckt and dight:

  See Cauchichina still of note obscure,

  and of Ainam you undiscovered Bight:

  Here the proud Empire famed evermore

  for wide-spread lands and wealth and matchless might,

  of China runs, and boasts the whole her own

  ‘twixt torrid Cancer and the frigid Zone.

  130

  “Olha o muro e edifício nunca crido,

  Que entre um império e o outro se edifica,

  Certíssimo sinal, e conhecido,

  Da potência real, soberba e rica.

  Estes, o Rei que têm, não foi nacido

  Príncipe, nem dos pais aos filhos fica,

  Mas elegem aquele que é famoso

  Por cavaleiro, sábio e virtuoso.

  “Behold you wondrous and incred’ible Wall, 130

  this and that other Region built to part;

  most certain symbol this which shows to all,

  Imperial Puissance proud in arm and art:

  These their born Princes to the throne ne’er call,

  Nor Son succeedeth Sire in subject heart;

  the prop’erest man as Monarch they devise,

  Some Knight for virtue famed, brave and wise.

  131

  “Inda outra muita terra se te esconde

  Até que venha o tempo de mostrar-se;

  Mas não deixes no mar as Ilhas onde

  A Natureza quis mais afamar-se:

  Esta, meia escondida, que responde

  De longe à China, donde vem buscar-se,

  É Japão, onde nace a prata fina,

  Que ilustrada será co a Lei divina.

  Parforce hide other vasty lands from thee 131

  until what time no land remain unfound:

  But leave thou not those Islands of the Sea,

  where Nature rises to Fame’s highest round:

  This Realm half-shadowed, China’s empery

  afar reflecting, whither ships are bound,

  is the Japan, whose virgin silver mine

  shall shine still sheen’ier with the Law Divine.

  132

  “Olha cá pelos mares do Oriente

  Ás infinitas Ilhas espalhadas:

  Vê Tidore e Ternate, co fervente

  Cume, que lança as flamas ondeadas.

  As árvores verás do cravo ardente,

  Co sangue Português inda compradas.

  Aqui há as áureas aves, que não decem

  Nunca à terra e só mortas aparecem.

  “Here see o’er Oriental seas bespread 132

  infinite island-groups and alwhere strewed:

  Tidore, Ternate view, whose burning head

  lanceth the wavy flame and fiery flood:

  There see the groves the biting clove-bud shed,

  bought with the price of Portughueze’s blood;

  here dwell the golden fowls, whose home is air

  and never earthward save in death may fare.

  133

  “Olha de Banda as Ilhas, que se esmaltam

  Da vária cor que pinta o roxo fruto;

  Às aves variadas, que ali saltam,

  Da verde noz tomando seu tributo.

  Olha também Bornéu, onde não faltam

  Lágrimas no licor coalhado e enxuto

  Das árvores, que cânfora é chamado,

  Com que da Ilha o nome é celebrado.

  “See Banda’s Islets, which enamelled glow 133

  various painted by the rosy fruits;

  variegate birds, that flit from bough to bough,

  take tithe and tribute of the greeny nuts:

  See Borneo’s sea-girt shore where ever flow

  the perfumed liquor’s thick and curded gouts,

  the tears of forest-trees men ‘Camphor’ clepe,

  wherefore that Island crop of Fame shall reap.

  134

  “Ali também Timor, que o lenho manda

  Sândalo, salutífero e cheiroso;

  Olha a Sunda, tão larga que üa banda

  Esconde pera o Sul dificultoso;

  A gente do Sertão, que as terras anda,

  Um rio diz que tem miraculoso,

 
Que, por onde ele só, sem outro, vai,

  Converte em pedra o pau que nele cai.

  “Timor thence further sendeth forth her store 134

  of fragrant Saunders, wood medicinal:

  See Sunda’s Isle, so stretch her farther shore

  that hideth Auster’s regions of appall:

  The wand’ering men who inner wilds explore,

  tell of a stream whose marvels never pall;

  for, where its lone and single current floweth,

  dead wood that in it falls a live stone groweth.

  135

  “Vê naquela que o tempo tornou Ilha,

  Que também flamas trémulas vapora,

  A fonte que óleo mana, e a maravilha

  Do cheiroso licor que o tronco chora,

  — Cheiroso, mais que quanto estila a filha

  De Ciniras na Arábia, onde ela mora;

  E vê que, tendo quanto as outras têm,

  Branda seda e fino ouro dá também.

  “Behold you land, made island of the sea 135

  by Time, whose trembling flame in vapour swelleth,

  see Petroil-fountain, and the prodigy

  of od’orous juice the weeping tree distilleth;

  sweeter than scent-tears shed in Araby

  by Cin’yras’ daughter, where for aye she dwelleth;

  and see, how holding all that others hold,

  soft silk she hoardeth and the nugget-gold.

  136

  “Olha, em Ceilão, que o monte se alevanta

  Tanto que as nuvens passa ou a vista engana;

  Os naturais o têm por cousa santa,

  Pola pedra onde está a pegada humana.

  Nas ilhas de Maldiva nace a pranta

  No profundo das águas, soberana,

  Cujo pomo contra o veneno urgente

  É tido por antídoto excelente.

  “See in Ceylon that Peak so stark, so gaunt, 136

  shooting high o’er the clouds or mocking sight:

  The native peoples hold it sacrosanct

  for the famed Stone where print of foot is pight:

  O’er lone Maldivia’s islets grows the plant,

  beneath profoundest seas, of sov’ereign might;

  whose pome of ev’ry Theriack is confest

  by cunning leech of antidotes the best.

  137

  “Verás defronte estar do Roxo Estreito

  Socotorá, co amaro aloé famosa;

  Outras ilhas, no mar também sujeito

  A vós, na costa de África arenosa,

  Onde sai do cheiro mais perfeito

  A massa, ao mundo oculta e preciosa.

  De São Lourenço vê a Ilha afamada,

  Que Madagáscar é dalguns chamada.

  “Eke shalt thou see toforn the Red Sea strait 137

  Socotra, famed for Aloe’s bitter growth:

  I subject other sea-girt Isles to ‘wait

  your steps where sandy Africk seaboard show’th;

  and yieldeth floating mass rare, odorate,

  but whence it cometh none of mortals know’th:

  Of Sam Lourengo see you famous Isle,

  which certain travellers Madagascar style.

  138

  “Eis aqui as novas partes do Oriente

  Que vós outros agora ao mundo dais,

  Abrindo a porta ao vasto mar patente,

  Que com tão forte peito navegais.

  Mas é também razão que, no Ponente,

  Dum Lusitano um feito inda vejais,

  Que, de seu Rei mostrando-se agravado,

  Caminho há-de fazer nunca cuidado.

  “Here distant Orient’s new-found climates see, 138

  climes on the world by this your Feat bestowed

  that opened Ocean-portals patent-free,

  whose vasty plain with doughty hearts you plowed.

  But in the Ponent als a reason be,

  a Lusian’s noble exploit be avowed,

  who being greatly by his King aggrieved,

  shall force a passage Fancy ne’er conceived.

  139

  “Vedes a grande terra que contina

  Vai de Calisto ao seu contrário Pólo,

  Que soberba a fará a luzente mina

  Do metal que a cor tem do louro Apolo.

  Castela, vossa amiga, será dina

  De lançar-lhe o colar ao rudo colo.

  Varias províncias tem de várias gentes,

  Em ritos e costumes, diferentes.

  “See you huge Region whose continuous lines 139

  course from Callisto to the contr’ary Pole;

  superb shall’t be by boast of lucent mines

  whose veins Apollo’s golden tincture stole.

  Castile, your ally, worthily designs

  to make its barb’arous neck her yoke to thole:

  In varied regions bide its various tribes,

  with different rites which different use prescribes.

  140

  “Mas cá onde mais se alarga, ali tereis

  Parte também, co pau vermelho nota;

  De Santa Cruz o nome lhe poreis;

  Descobri-la-á a primeira vossa frota.

  Ao longo desta costa, que tereis,

  Irá buscando a parte mais remota

  O Magalhães, no feito, com verdade,

  Português, porém não na lealdade.

  “But here where Earth spreads wider, ye shall claim 140

  realms by the ruddy Dye-wood made renown’d:

  These of the ‘ Sacred Cross’ shall win the name:

  By your first Navy shall that world be found.

  Along this seaboard, which your arm shall tame,

  shall wend him seeking Earth’s extremest bound

  Magellan who, good sooth, by birth shall be

  a Portughueze in all save loyalty.

  141

  “Dês que passar a via mais que meia

  Que ao Antártico Pólo vai da Linha,

  Düa estatura quási giganteia

  Homens verá, da terra ali vizinha;

  E mais avante o Estreito que se arreia

  Co nome dele agora, o qual caminha

  Pera outro mar e terra que fica onde

  Com suas frias asas o Austro a esconde.

  “And when his courses pass the midway place 141

  which from the Pole Antarctick parts the Line,

  he shall behold an all but Giant race

  holding the countries which therewith confine:

  Still onwards lie the Straits that aye shall grace

  his name, which sea with sea through land conjoin;

  a sea and land where horrid Auster bideth,

  and ‘neath his frozen wings their measure hideth.

  142

  “Até’aqui Portugueses concedido

  Vos é saberdes os futuros feitos

  Que, pelo mar que já deixais sabido,

  Virão fazer barões de fortes peitos.

  Agora, pois que tendes aprendido

  Trabalhos que vos façam ser aceitos

  As eternas esposas e fermosas,

  Que coroas vos tecem gloriosas,

  “Thus far, O Portingalls! to you was given 142

  the feats of future ages now to know;

  how o’er those Oceans which your keels have riven

  great-hearted Barons grandest deeds shall do:

  And hence, since all with mighty toils have striven,

  toils by whose Fame your favour aye shall grow

  with your eternal Spouses debonnair,

  who shall weave glorious crowns for you to wear:

  143

  “Podeis-vos embarcar, que tendes vento

  E mar tranquilo, pera a pátria amada.”

  Assi lhe disse; e logo movimento

  Fazem da Ilha alegre e namorada.

  Levam refresco e nobre mantimento;

  Levam a companhia desejada

  Das Ninfas, que hão-de ter eternamente,

  Por mais tempo que o Sol o m
undo aquente.

  “Ye can embark, for favouring blows the Wind 143

  and to your well-loved home the seas be clear.”

  Thus spake the Goddess, and the Braves incline’d

  from the glad Island of sweet Love to steer.

  They bear refreshment of the noblest kind,

  they bear the longed-for Comp’any, each his Fere,

  the Nymph that ever shall in heart abide,

  long as the sunshine warmeth land and tide.

  144

  Assi foram cortando o mar sereno,

  Com vento sempre manso e nunca irado,

  Até que houveram vista do terreno

  Em que naceram, sempre desejado.

  Entraram pela foz do Tejo ameno,

  E à sua pátria e Rei temido e amado

  O prémio e glória dão por que mandou,

  E com títulos novos se ilustrou.

  So fared they, cutting through the Main serene 144

  with favouring breezes that ne’er blew in ire,

  till they had sighted that familiar scene

  their Fatherland, and ever fond desire.

  They past the Tagus-mouth, our stream amene,

  and gave their Country and their dread loved Sire,

  who willed their voyage, glory and renown

  and added lustrous titles to his crown.

  145

  Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho

  Destemperada e a voz enrouquecida,

  E não do canto, mas de ver que venho

  Cantar a gente surda e endurecida.

  O favor com que mais se acende o engenho

  Não no dá a pátria, não, que está metida

  No gosto da cobiça e na rudeza

  Düa austera, apagada e vil tristeza.

  No more, my Muse! no more, for now my Lyre 145

  untuned lies, and hoarse my voice of Song;

  not that of singing tire I, but I tire

  singing for surd and horny-hearted throng.

  Favours which Poet-fancy mostly fire

  our Land gives not, ah, no! ’tis plunged too long

  in lust of lucre, whelmed in rudest folly

  of vile, austere and vulgar melancholy.

  146

  E não sei por que influxo de Destino

  Não tem um ledo orgulho e geral gosto,

  Que os ânimos levanta de contino

  A ter pera trabalhos ledo o rosto.

  Por isso vós, ó Rei, que por divino

  Conselho estais no régio sólio posto,

  Olhai que sois (e vede as outras gentes)

  Senhor só de vassalos excelentes.

  Nor ken I wherefore, by what Fate indign 146

  she ‘joys ne genial pride, ne gen’eral taste,

  which strengthen mortal spirit and incline

  to face all travail with a happy haste.

  Wherefore, O King! thou whom the Will Divine

  hath on the kingly throne for purpose place’d

  look that thou be (and see the realms of Earth)

  sole Lord of vassals peerless in their worth!

 

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