Duff

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Duff Page 3

by Kody Keplinger


  sim plesm ente m e deixar em paz. Sem m encionar que m inha pele ainda

  form igava nos pontos onde ele tinha m e tocado.

  A turm a de organização política avançada do sr. Chaucer tinha apenas nove

  alunos, e sete deles j á estavam na classe no m om ento em que entrei pela porta.

  O professor m e olhou feio através dos olhos sem icerrados, para deixar claro que

  o sinal soaria a qualquer m om ento. Estar atrasado era um delito grave na opinião

  do sr. Chaucer, e estar quase atrasado tam bém era, ainda que m enor. Mas não fui

  a últim a a aparecer, o que aj udou um pouco.

  Ocupei m eu lugar no fundo da sala e abri o caderno, pedindo a Deus que o

  sr. Chaucer não m e desse um a bronca enorm e pelo m eu quase atraso. Do j eito

  que estava nervosa, eram grandes as chances de que eu o xingasse. Mas ele não

  gritou com igo, o que poupou um bocado de dram a.

  O últim o aluno da turm a entrou exatam ente no m esm o instante em que o

  sinal soou.

  — Desculpe, sr. Chaucer. Eu estava pregando os cartazes da cerim ônia de

  inauguração da próxim a sem ana. O senhor ainda não com eçou a aula, com eçou?

  Meu coração pulou quando ergui os olhos e vi o garoto que tinha acabado de

  entrar.

  Tudo bem , não é segredo algum que odeio os adolescentes que nam oram no

  ensino m édio e vivem em estado delirante, falando sem parar sobre o quanto

  am am seus nam orados ou suas nam oradas. Adm ito honestam ente que odeio as

  garotas que dizem que am am alguém antes m esm o do prim eiro encontro. Não

  escondo m inha opinião: o am or leva anos — cinco ou dez, no m ínim o — para se

  desenvolver, e, para m im , relacionam entos do ensino m édio são totalm ente

  idiotas. Todo m undo sabia que eu pensava assim … Mas o que ninguém sabia é

  que eu era quase um a hipócrita.

  Bom , tudo bem , Casey e Jessica sabiam , m as elas não contavam .

  Toby Tucker. Se deixássem os de lado a trágica aliteração, Toby era perfeito

  em todos os sentidos. Não era um j ogador de futebol im erso em testosterona.

  Não era um hippie-m eigo-tocador-de-violão. Não escrevia poesia, nem usava

  lápis de olho. Claram ente Toby não poderia ser considerado um a beleza, m as isso

  era um a vantagem para m im , certo? Os esportistas, m em bros de bandas e

  garotos em o não olhavam duas vezes — com o Wesley tinha afirm ado com tanta

  gentileza — para um a Duff. Era m ais provável que eu tivesse um a chance com

  caras inteligentes, politicam ente ativos e, com o o Toby, de algum m odo

  socialm ente inadequados. Certo?

  Errado, errado, errado.

  Toby Tucker era o cara perfeito para m im . Infelizm ente, ele desconhecia

  esse fato. Isso se devia, em grande parte, à m inha incapacidade em form ar

  frases coerentes cada vez que ele se aproxim ava. Eram grandes as chances de

  Toby acreditar que eu era m uda ou algum a coisa do tipo. Ele j am ais m e olhou ou

  falou com igo, nem sequer pareceu reconhecer m inha existência no fundo da sala

  de aula. Para um a garota com um a bunda tão grande, eu m e sentia

  com pletam ente invisível.

  Mas eu percebi a presença de Toby. Notei seu antiquado, m as encantador,

  cabelo loiro cortado no estilo tigela e sua pele pálida, cor de m arfim . Notei seus

  olhos verdes escondidos sob as lentes de óculos ovais. Notei que ele usava um

  casaco que com binava com tudo, e notei a form a com ovente com o m ordia o

  lábio inferior enquanto pensava m uito em algum a coisa. Eu estava… bem , não

  apaixonada, m as certam ente gostando dele. Eu estava gostando bastante de Toby

  Tucker.

  — Ah, tudo bem … — m urm urou o sr. Chaucer. — Trate de ficar de olho no

  relógio am anhã, sr. Tucker.

  — Pode deixar, senhor.

  Toby se sentou na prim eira fila, ao lado de Jeanine McPhee. Com o um a

  stalker, prestei atenção na conversa deles, enquanto o sr. Chaucer escrevia os

  pontos principais da aula no quadro-negro. Não costum o m e com portar de form a

  tão esquisita, m as bem … gostar de alguém leva as pessoas a fazer um as coisas

  m alucas. Pelo m enos essa é a desculpa que se ouve por aí.

  — Com o foi seu fim de sem ana, Toby ? — perguntou Jea- nine, que estava

  sem pre com o nariz entupido. — Algum program a em ocionante?

  — Foi bom — disse Toby. — Meu pai levou Nina e eu para fora do estado.

  Fom os visitar a Universidade Southern Illinois. Foi bem divertido.

  — Nina é a sua irm ã? — perguntou Jeanine.

  — Não. É a m inha nam orada. Ela estuda na escola Oak Hill. Nunca falei

  dela? Bom , fom os aceitos lá, então quisem os dar um a olhada. Estou visitando

  outras universidades, m as estam os j untos há um ano e m eio e querem os ir para o

  m esm o lugar para evitar o problem a do nam oro a distância.

  — Que am or! — exclam ou Jeanine. — Eu, na verdade, estou pensando em

  fazer apenas alguns cursos na FCOH antes de decidir para qual universidade ir.

  Minha pele não estava m ais form igando, m as agora m eu estôm ago dava

  cam balhotas idiotas. Pensei que ia vom itar, e precisei lutar contra o im pulso de

  sair correndo da sala de aula com a m ão na boca. Por fim , acabei vencendo a

  batalha para m anter o m eu café da m anhã no lugar devido, m as ainda m e sentia

  péssim a.

  Toby tinha um a nam orada? Já fazia um ano e m eio? Ai m eu Deus! Com o

  nunca soube disso? E eles iam para a universidade juntos? Isso significava que ele

  era um desses rom ânticos estúpidos e cafonas de quem eu vivia zom bando?

  Esperava m uito m ais de Toby Tucker. Esperava que ele fosse tão cético quanto

  eu sobre a natureza do am or adolescente. Esperava que encarasse a universidade

  com o um a decisão m uito im portante, e não com o algum a coisa a ser escolhida

  de com um acordo com o nam orado ou a nam orada. Esperava que ele fosse…

  bem , esperto!

  Mas de qualquer forma, ele jamais namoraria com você, sussurrou um a

  vozinha dentro da m inha cabeça, aflitivam ente parecida com a voz de Wesley

  Rush. Você é a Duff, lembra? A namorada dele é provavelmente mais magra do

  que você e tem peitos grandes.

  Ainda nem era a hora do alm oço, e eu j á queria pular de um precipício. Ah,

  tá, tudo bem , sou m eio que chegada a um dram a. Mas, definitivam ente, queria

  voltar para casa e ir para a cam a. Queria esquecer que Toby tinha nam orada.

  Queria lim par a sensação das m ãos de Wesley em m inha pele. Mas queria, m ais

  do que tudo, apagar a palavra Duff da m inha m ente.

  Ah, sim , e as coisas conseguiram piorar nesse dia.

  Lá pelas seis da tarde, o cara do telej ornal com eçou a falar de um a

  tem pestade de neve que aconteceria “no com eço da m anhã”. Acho que o

  Conselho Escolar teve pena de nós, j á que não tínham os enfrentado nenhum dia

  de neve até então, porque suspendeu as aulas do dia seguinte antes m esm o de a

  tem pestade chegar. Por isso, Casey m e ligou às sete e m eia da noite e insistiu

  para irm os ao Nest, j á que não teríam os de levantar cedo no dia seguinte.

  — Não sei, não, Casey — falei. — E se as ruas estiverem ruins? — Eu

  adm ito. Estava procurando qualquer razão que servisse com o desculpa para não

  ir. Meu di
a tinha sido bem ruim até ali. Não sabia se conseguiria suportar m ais

  algum as horas naquele lugar infernal.

  — B, a tem pestade não deve chegar antes de, tipo, três da m anhã por aí.

  Desde que estej am os em casa até essa hora, vai ficar tudo bem .

  — Tenho um m onte de lição de casa.

  — Mas você não precisa entregar nada até quarta-feira. Pode fazer

  am anhã, pode passar o dia todo fazendo lição se quiser.

  Eu dei um suspiro.

  — Você e a Jessica não conseguem outra carona? Realm ente não estou a

  fim . Foi um dia péssim o, Casey.

  Eu sem pre podia contar com Casey se adiantando ao m enor sinal de

  problem as.

  — O que houve? — perguntou. — Você está bem ? Você não parecia m uito

  bem no alm oço. É algum a coisa sobre a sua m ãe?

  — Casey …

  — Conte o que aconteceu.

  — Nada — garanti. — Mas hoj e o dia foi um a droga, entende? Não

  aconteceu nada im portante ou coisa assim . Só não estou com paciência para ir

  para a farra com vocês esta noite.

  Houve um m om ento de silêncio do outro lado da linha. Finalm ente, Casey

  disse:

  — Bianca, você sabe que pode contar qualquer coisa pra m im , né? Sabe que

  pode conversar com igo se precisar. Não fique guardando as coisas pra você. Isso

  não é saudável.

  — Casey, estou be…

  — Você está bem — ela m e interrom peu. — Certo, sei disso. Só estou

  dizendo que, se tiver um problem a, estou aqui pra aj udar.

  — Eu sei — m urm urei. E m e senti culpada por deixá-la aflita com algo tão

  estúpido. Eu tinha o péssim o hábito de esconder as m inhas em oções, e Casey

  sabia disso m uito bem . Ela sem pre estava tentando cuidar de m im . Sem pre

  tentando fazer com que eu com partilhasse m eus sentim entos para que depois eles

  não explodissem na m inha cara. Aquela introm issão podia ser bem irritante, m as

  saber que alguém se preocupava com igo… bem , era bacana. Não podia m e

  irritar de verdade com isso. — Eu sei, Casey. Mas estou bem . É só que… hoj e eu

  descobri que Toby tem nam orada e fiquei m eio desanim ada. Só isso.

  — Ah, B — m urm urou ela. — Que droga! Sinto m uito. Talvez, se você vier

  com a gente esta noite, Jessica e eu conseguim os anim ar você. Sabe, com duas

  bolas de sorvete e tudo o m ais.

  Dei um a risadinha.

  — Obrigada, m esm o assim , não. Acho que vou ficar em casa esta noite.

  Desliguei o telefone e fui para o andar de baixo, onde encontrei m eu pai

  usando o telefone sem fio na cozinha. Eu o ouvi antes m esm o de vê-lo. Ele estava

  gritando. Fiquei parada na porta, achando que ele m e veria e im ediatam ente

  falaria m ais baixo. Pensei que algum atendente de telem arketing estivesse

  levando um a bronca de Mike Piper, m as aí m eu nom e foi citado.

  — Pense na Bianca e no que você está fazendo com sua filha! — Os gritos

  de m eu pai, im agino que de raiva, soavam m ais com o um a súplica. — Isso não

  faz bem para um a garota de dezessete anos. Ela precisa de você em casa, Gina.

  Nós precisam os de você aqui.

  Escapuli para a sala de estar, surpresa em vê-lo falar assim com m am ãe.

  Para ser sincera, não sabia com o deveria m e sentir a respeito das coisas que ele

  dissera. Quer dizer, claro que sentia falta da m inha m ãe. Se ela estivesse sem pre

  em casa, a vida seria m uito legal, m as àquela altura j á estávam os acostum ados a

  ficar sem ela.

  Minha m ãe era palestrante m otivacional. Quando eu era pequena, ela

  escreveu um livro de autoaj uda, inspiracional, desses que ensinam você a

  fortalecer sua autoestim a. Não tinha vendido m uito bem , m as ela recebia

  convites para falar em universidades, grupos de apoio e form aturas por todo o

  país. E, com o o livro não era um cam peão de vendas, as palestras dela não eram

  tão caras.

  Durante um tem po, m inha m ãe aceitou apenas palestras na região. Das que

  podia fazer e voltar para casa dirigindo, assim que term inasse de ensinar as

  pessoas a se am arem . Mas depois da m orte da m inha avó, quando eu tinha doze

  anos, m am ãe ficou m eio deprim ida. E m eu pai veio com a ideia de ela tirar

  um as férias. Queria que ela desse um a escapadela por um as duas sem anas.

  Quando m am ãe voltou, contou sobre os lugares que tinha visto e as pessoas

  que tinha conhecido. Acho que talvez tenha sido isso que instigou sua m ania de

  viaj ar. Porque, depois de suas prim eiras férias, m inha m ãe com eçou a agendar

  palestras em todo canto. No Colorado e em New Ham pshire. Eram verdadeiras

  turnês de palestras m otivacionais.

  Só que a turnê em que estava agora tinha sido a m ais longa. Ela estava longe

  de casa havia quase dois m eses, e eu nem sabia m ais por onde ela andava.

  Obviam ente era por isso que o m eu pai estava tão irritado. Porque ela estava

  ausente havia m uito, m uito tem po.

  — Droga, Gina! Quando você vai deixar de se com portar com o um a

  criança e voltar pra casa? Quando você volta para nós… para ficar? — A form a

  com o m eu pai hesitou para pedir aquilo quase m e fez chorar. — Gina… —

  m urm urou ele. — Gina, nós am am os você. Bianca e eu sentim os sua falta e

  querem os que volte.

  Eu m e esprem i contra a parede que m e separava de m eu pai, m ordendo o

  lábio. Deus, aquilo estava ficando patético. Quero dizer, por que eles

  sim plesm ente não pediam o divórcio? Eu era a única que enxergava que as

  coisas não iam bem ? Por que continuavam casados se m am ãe estava sem pre

  indo em bora?

  — Gina… — disse papai, e pareceu que ele ia cair no choro a qualquer

  instante. Então o ouvi desligar o telefone. A conversa tinha acabado.

  Dei a ele alguns m inutos antes de entrar na cozinha.

  — Oi, papai. Tudo bem ?

  — Sim — respondeu ele. Deus, ele m entia m uito m al. — Ah, está tudo bem ,

  Abelhinha. Acabo de falar com a m am ãe e… ela m andou dizer que am a você.

  — Onde ela está agora?

  — Ah… em Orange County — disse ele. — Visitando a sua tia Leah

  enquanto dá palestras em um a escola de ensino m édio de lá. Bacana, né? Você

  pode dizer aos seus am igos que a sua m ãe está lá em O. C. Você gosta dessa

  série, não?

  — Sim — concordei. — Bem , gostava… m as foi cancelada há alguns anos.

  — Ah, bem … parece que estou atrasado, Abelhinha. — Segui o olhar dele

  para o balcão, onde ele tinha deixado as chaves do carro. Ele notou e desviou o

  olhar no m esm o m om ento, antes que eu pudesse dizer algum a coisa. — Quais

  são seus planos pra hoj e à noite? — perguntou m eu pai.

  — Bom , eu poderia fazer algum a coisa, m as… — Lim pei a garganta, sem

  saber com o continuar. Papai e eu não estávam os realm ente acostum ados a

  conversar. — Eu poderia ficar em casa tam bém . Quer que eu fique e, tipo,

  assista televisão com você ou algum a coisa assim ?

  — Ah, não, Abelhinha — disse ele com um sorriso nada convincente. — Vá,

  divirta-se com as suas am igas. Até porque acho que hoj e vou dorm ir bem cedo.

  Olhei dentro dos olhos dele, esperando que m udasse de opinião. Meu
pai

  sem pre ficava m uito triste depois das brigas com m am ãe. Eu estava preocupada

  com ele, m as não sabia m uito bem com o dizer isso.

  E, lá no fundo, eu tinha m edo. Era bobagem , na verdade, m as não conseguia

  apenas esquecer. Meu pai era um alcoólatra em recuperação. Quero dizer, ele

  tinha parado de beber antes de eu nascer e não tinha bebido sequer um a gota

  desde então… m as às vezes, quando as brigas com a m inha m ãe ficavam feias,

  eu realm ente m e assustava. Tinha m edo de que ele pegasse o carro e fosse direto

  para a loj a de bebidas ou qualquer coisa desse tipo. Eu disse que era bobagem ,

  m as era um m edo do qual não conseguia m e livrar.

  Papai interrom peu nosso contato visual, parecia desconfortável. Deu as

  costas para m im e foi até a pia lavar o prato no qual tinha com ido espaguete. Eu

  queria ir até lá, tirar o prato da m ão dele — sua desculpa patética para evitar

  um a conversa — e j ogá-lo no chão. Queria lhe dizer que toda essa história com a

  m am ãe era estupidez. Queria que ele percebesse que enorm e perda de tem po

  eram todas essas brigas e discussões idiotas, que ele só precisava adm itir que as

  coisas não iam bem .

  Mas, é claro, não podia fazer isso. Tudo o que consegui dizer foi:

  — Pai…

  Ele m e encarou, balançando a cabeça, com um pano úm ido na m ão.

  — Saia daqui, vá se divertir — disse ele. — Falo sério, quero que vá. Só se é

  j ovem um a vez.

  Não tinha com o discutir. Aquela era a m aneira sutil de m eu pai m e inform ar

  que ele queria ficar sozinho.

  — Tudo bem … — respondi. — Se você tem certeza… Vou telefonar pra

  Casey.

  Subi a escada para o m eu quarto. Apanhei m eu celular em cim a da côm oda

  e cham ei o núm ero de Casey. Depois de dois toques, ela atendeu.

  — Oi, Casey. Mudei de ideia sobre irm os ao Nest… E… você acha que

  estaria tudo bem se eu dorm isse na sua casa esta noite? Conto tudo m ais tarde,

  m as… é que não quero ficar em casa hoj e.

  Dobrei novam ente as roupas lim pas do chão antes de sair, m as isso não m e

  aj udou tanto quanto costum ava aj udar.

  capítulo 3

  — Mais um a, Joe. — Deslizei m eu copo vazio pelo balcão na direção do

  bartender, que o apanhou sem dificuldade.

  — Sem chance, Bianca.

 

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