De novo? Sério m esm o? Era a décim a vez seguida que Wesley vencia desde que
eu havia chegado, um a hora antes. Eu esperava encontrar um a loira de pernas
com pridas saindo de seu quarto, m as, quando entrei, o cenário se m ostrava bem
diferente. Wesley estava j ogando Soulcalibur IV. Com o adoro ser punida, eu o
desafiei para um a partida.
Meu Deus, preciso encontrar alguma coisa em que sou m elhor do que ele!
E algum a coisa num personagem anim ado apanhando m uito fazia eu m e
sentir m elhor. Sem perceber, consegui apagar a conversa entre m inha m ãe e
m eu pai da cabeça. Tudo acabaria bem . Tinha de acabar bem . Eu só precisava
ser paciente e deixar as coisas acontecerem . Nesse m eio-tem po, tinha de acabar
com Wesley … ou pelo m enos tentar.
— Eu disse pra você, sou incrível em tudo o que faço — provocou ele,
largando o controle do PS3 no chão —, e isso inclui videogam es.
Assisti ao personagem de Wesley na tela fazendo um a dancinha da vitória.
— Não é j usto — m urm urei. — Sua espada é m aior do que a m inha.
— Minha espada é m aior do que a de todo m undo.
Joguei m eu controle na cabeça dele, m as claro que Wesley se abaixou e eu
errei o alvo. Droga.
— Pervertido!
— Ah, por favor. — Ele riu. — Você m e deu a piada pronta, Duff.
Franzi as sobrancelhas por alguns instantes, m as senti que a bronca que eu ia
dar escapava pelos dedos. Finalm ente, balancei a cabeça… e sorri.
— Você tem razão, facilitei as coisas pra você. Mas sabe o que dizem sobre
os garotos: quanto m ais falam , m enor é.
Dessa vez, quem franziu as sobrancelhas foi ele.
— Am bos sabem os que isso não é verdade. Já provei pra você diversas
vezes. — Ele sorriu e se inclinou na m inha direção, seus lábios próxim os à m inha
orelha. — Posso provar de novo se você quiser… e eu sei que você tam bém quer.
— Eu… eu não acredito que sej a necessário. — Adm inistrei a situação.
Agora seus lábios desciam até m inha nuca, fazendo faíscas percorrer m inha
coluna.
— Ah, é? — rosnou ele em resposta. — Acho que tenho de provar, sim .
Eu ri enquanto ele m e em purrava para o chão, um a de suas m ãos
percorrendo o espaço acim a do lado esquerdo do m eu quadril, onde sinto m ais
cócegas. Wesley tinha descoberto aquele ponto algum as sem anas antes, e eu
fiquei furiosa com igo m esm a por perm itir que ele usasse isso contra m im . Agora
ele podia m e fazer rir e m e contorcer quanto quisesse, e eu percebia com o ele se
divertia com toda aquela encenação. Babaca.
Seus dedos roçaram m eu ponto sensível no quadril enquanto sua boca se
m ovia do pescoço para m inha orelha. Com ecei a rir descontroladam ente e fiquei
totalm ente sem ar. Inj usto. Muito inj usto. Fiz m enção de escapar de seus braços,
m as Wesley se m oveu com rapidez, prendendo m inhas pernas nas dele, e
continuou fazendo cada vez m ais cócegas.
Quando estava prestes a desm aiar sem oxigênio, senti algo vibrar em m eu
bolso.
— Para! Para! — choram inguei, tentando em purrá-lo para longe. Wesley
m e soltou e se sentou ao m eu lado, eu recuperei o fôlego e tirei o telefone do
bolso. Esperava que fosse m inha m ãe m e dando notícias sobre o que tinha
acontecido entre ela e m eu pai — fazendo-m e lem brar de todas as m inhas
preocupações —, m as quando olhei para o núm ero que m e cham ava m eu
estôm ago deu outra reviravolta.
— Ai, droga! É a Casey. — Olhei para Wesley, ainda deitado no chão com
as m ãos atrás da cabeça. Sua cam iseta estava um pouco erguida, e eu podia ver
os ossos de seu quadril por baixo do tecido esverdeado. — Não diga nada! Ela
não pode saber que estou aqui! — Atendi e tentei falar da form a m ais suave
possível: — Alô?
— E aí? — O tom dela era agressivo. — O que foi que aconteceu com você?
Jess m e disse que nós três iríam os passar a noite j untas e você sim plesm ente não
aparece?
— Desculpa — falei. — Aconteceu um a coisa.
— Bianca, você tem dito m uito isso nos últim os dias. Sem pre acontece
algum a coisa, ou você tem planos, ou…
De repente, senti a respiração de Wesley atingir m inha nuca. Ele havia se
levantado e vindo para trás de m im sem que eu percebesse. Seus braços
agarraram m inha cintura, seus dedos com eçaram a desabotoar m inha calça
j eans antes que eu pudesse im pedir.
— … Jess estava cheia de esperanças que nós três fizéssem os algo divertido
e…
Não conseguia m e concentrar em um a palavra que Casey dizia enquanto a
m ão de Wesley deslizava por dentro da cintura da m inha calça j eans, seus dedos
avançando cada vez m ais.
Não podia dizer um a palavra. Não podia m andá-lo parar, nem esboçar
qualquer reação. Se o fizesse, Casey perceberia que eu estava acom panhada.
Mas, m eu Deus, eu podia sentir m eu corpo se tornando um a bola de fogo. Ouvia
as risadas contidas de Wesley sobre m eu pescoço; ele sabia que estava m e
levando à loucura.
— … eu estou tentando entender o que diabos está acontecendo com você.
Mordi o lábio para im pedir um gem ido involuntário, as m ãos de Wesley
descendo para um ponto que fazia m eus j oelhos trem erem . Podia sentir o sorriso
irônico em seus lábios enquanto eles roçavam m inha orelha. Babaca. Ele estava
m e torturando. Eu não aguentaria por m uito m ais tem po.
— Bianca, você está aí?
Wesley m ordeu o lóbulo da m inha orelha enquanto abaixava m inha calça
j eans com sua m ão livre. A outra continuava m e causando arrepios.
— Casey, eu preciso desligar.
— O quê? B, o que está…
Desliguei o telefone e o j oguei no chão. Tirei os braços de Wesley e o
em purrei para o lado. Olhei-o com raiva, cara a cara. Ele estava adorando.
— Seu filho da…
— Ei! — disse ele, erguendo as m ãos em rendição. — Você m e m andou
não falar nada, m as não disse nada quanto a…
Peguei o controle do PS3 e apertei o botão que iniciava um a nova partida,
determ inada a dar um a lição nele. Eu j á havia acertado o personagem dele
várias vezes antes que Wesley sequer tivesse pegado o controle.
— E você diz que eu sou trapaceiro! — resm ungou enquanto bloqueava um
dos ataques de m inha gladiadora.
— Você m erece. — Apertei os botões de ataque com fúria.
Não im portava. Mesm o com toda a m inha reação dram ática, ele ainda
venceria. Que droga.
— Feliz Dia dos Nam orados, Duff. — Wesley se virou para m e parabenizar
ironicam ente, seus olhos cinzentos cheios de um triunfo orgulhoso.
Por que ele tinha de dizer aquilo? , m e perguntei enquanto m eus
pensam entos voltavam aos m eus pais. Será que m am ãe j á havia contado a
verdade a m eu pai? Será que estavam brigando? Chorando?
— Bianca.
Eu m e dei conta de que estava m ordendo m eu lábio com força dem ais
quando o gosto m etálico do sangue alcançou m inha língua. Pisquei para Wesley,
que m e fitava. Ele olhou para m eus olhos por alguns inst
antes, m as em vez de m e
perguntar o que estava acontecendo, se estava tudo bem com igo, apenas apanhou
o controle do PS3 e disse:
— Vam os lá, vou com calm a dessa vez.
Forcei um sorriso. Tudo se resolveria. Tinha de se resolver. — Não sej a
idiota — falei para Wesley. — Eu que vou acabar com você dessa vez. Deixei
você ganhar de propósito até agora.
Ele riu; sabia que era tudo um blefe.
— Vam os ver, então.
E com eçam os um a nova partida.
capítulo 15
Eu nunca tinha ouvido nada tão horrivelm ente alto na vida. Era com o se um a
bom ba tivesse explodido do lado do m eu ouvido… um a bom ba que pulsava no
ritm o de “Thriller”, de Michael Jackson. Com pletam ente grogue, m e virei na
cam a e peguei m eu celular, que vibrava na m esinha de cabeceira, olhando a
hora antes de atender.
Cinco horas da m anhã.
— Alô? — grunhi.
— Desculpe por acordar você, querida — disse m inha m ãe no telefone. —
Espero não ter acordado Casey tam bém .
— Hum . Está tudo bem . O que foi?
— Saí de casa há um as duas horas — explicou ela. — Seu pai e eu tivem os
um a longa conversa, m as… ele não está aceitando m uito bem a situação, Bianca.
Eu sabia que ia ser assim . Bem , de qualquer form a, estou dirigindo por aí desde
então, tentando pensar no que fazer a seguir. Decidi ir para um hotel em Oak Hill
por alguns dias, para poder passar m ais tem po com você, e no fim de sem ana
vou com eçar a levar m inha m udança para o Tennessee. Seu avô precisa de
alguém para cuidar dele. Vai ser um bom lugar para eu m e instalar. Você não
acha?
— Claro — m urm urei.
— Desculpe — disse m inha m ãe. — Eu devia ter deixado pra contar isso
tudo a você m ais tarde. Volte a dorm ir. Ligue pra m im quando sair da escola,
para saber em que hotel estou. Talvez a gente possa ver um film e hoj e à noite.
— Boa ideia. Tchau, m ãe.
— Tchau, querida.
Recoloquei m eu celular na m esinha de cabeceira e m e espreguicei,
abafando um bocej o. Essa cam a, com seu colchão m acio e lençóis caros, era
confortável dem ais. Nunca senti tanta dificuldade em acordar de m anhã, porém
consegui pôr os pés no chão, afinal.
— Pra onde você vai? — perguntou Wesley com um a voz sem iadorm ecida.
— Pra casa. — Vesti o j eans. — Preciso tom ar banho e m e arrum ar pra
escola.
Ele se apoiou no cotovelo para m e olhar. O cabelo dele estava todo
despenteado, com cachos castanhos caindo sobre seus olhos e m eio erguido na
parte de trás.
— Você pode tom ar banho aqui — ofereceu. — Eu até posso m e j untar a
você, se der sorte.
— Não, obrigada. — Peguei m eu casaco no chão e j oguei-o sobre os
om bros. — Será que vou acordar seus pais se sair pela porta da frente?
— Seria difícil, j á que eles não estão aqui.
— Não voltaram pra casa ontem à noite?
— Não vão voltar até o final da sem ana — respondeu Wesley. — E só Deus
sabe quanto tem po vão ficar. Um dia. Talvez dois.
Agora que estava pensando nisso, m e dei conta de que nunca vira outro
carro na entrada daquela quase-m ansão. Wesley sem pre parecia ser o único
m orador da casa quando eu o visitava, o que acontecia m uito frequentem ente por
aqueles dias.
— Onde eles estão?
— Não m e lem bro. — Ele deu de om bros e deitou de costas novam ente. —
Viagem de trabalho. Férias no Caribe. Nunca consigo acom panhar.
— E sua irm ã?
— Am y fica na casa da m inha avó quando m eus pais estão fora da cidade
— respondeu ele. — Ou sej a, praticam ente, o tem po todo.
Voltei devagar para a cam a.
— Então… — perguntei em voz baixa, sentando na beira do colchão — por
que você não fica lá tam bém ? Im agino que sua irm ã gostaria de tê-lo por perto.
— É possível — concordou Wesley. — Minha avó, no entanto, é outra
história. Ela m e detesta. Não aprova m eu… — ele desenhou aspas com os dedos
— estilo de vida. Aparentem ente, sou um a desgraça para o sobrenom e Rush e
m eu pai devia ter vergonha de m im . — A risada dele era vazia e ácida. —
Porque ele e m inha m ãe são um padrão de perfeição, sabe?
— Com o é que sua avó sabe do seu, hã… estilo de vida?
— Ela ouve as fofocas das am igas. As velhas bruxas escutam as netas
falando de m im … — E quem poderia reprová-las? — e depois contam pra
m inha avó o que sabem . Ela poderia até gostar de m im se eu tivesse um a
nam orada séria por um tem po, m as um a parte de m im não quer lhe dar essa
satisfação. Eu não deveria ter de m udar m eu estilo de vida só pra agradar a ela
ou a qualquer outra pessoa.
— Entendo o que você quer dizer.
E entendia m esm o. Porque tinha pensado a m esm a coisa um m ilhão de
vezes ao longo dos anos. Recentem ente, até a respeito dele. Seria fácil m udar a
opinião de Wesley sobre m im , sair com outras pessoas ou colocar outra garota no
m eu círculo de am igas — com o aquela caloura do tim e de basquete — para
evitar ser um a Duff. Mas por que eu deveria fazer algum a coisa apenas para
m udar o que ele ou qualquer outra pessoa pensava de m im ? Eu não deveria.
Nem ele.
De algum a form a, no entanto, a situação dele parecia diferente. Olhei em
volta do quarto, sentindo-m e estúpida por querer com parar aquilo com a questão
Duff. Depois, sem fazer de propósito, perguntei:
— Mas você não se sente solitário? Nesta casa grande, sozinho...
Ai, m eu Deus. Será que eu estava m esm o sentindo pena de Wesley ? Wesley,
o pegador? O ricaço Wesley ? Wesley, o babaca? De todas as em oções que j á
tinha sentido por ele, com paixão nunca havia sido um a delas. Que m erda estava
acontecendo?
Mas se havia algo pelo que eu sentia em patia, era o dram a fam iliar. Então
parecia que Wesley e eu tínham os algo em com um . Droga.
— Você esquece que eu raram ente estou sozinho. — Ele se sentou e m e
olhou com um sorrisinho. Mas não m e encarou. — Você não é a única que m e
acha irresistível, Duff. Norm alm ente tenho um fluxo contínuo de convidadas
atraentes.
Mordi o lábio, sem ter certeza se devia dizer o que m e passava pela cabeça.
Acabei decidindo que era m elhor dizer de um a vez. Não faria m al nenhum ,
afinal.
— Escute, Wesley, pode parecer esquisito vindo de m im , j á que detesto você
e tal, m as você pode se abrir com igo se quiser. — Parecia algo vindo de um
film e rom ântico de quinta categoria. Ótim o. — Quer dizer, despej ei todas as
m inhas baboseiras sobre Jake em você, então se quiser fazer o m esm o… bom ,
por m im tudo bem .
O sorrisinho desapareceu por um instante.
— Vou lem brar disso. — Depois ele lim pou a garganta e acrescentou, seco:
— Você não disse que precisava ir pra casa? Não vai querer chegar atrasada na
escola.
— Certo.
Com ecei a levantar, m as a m ão quente dele envolveu m eu puls
o. Virei e o vi
olhando para m im . Ele se inclinou e encostou os lábios nos m eus. Antes m esm o
que eu m e desse conta do que estava acontecendo, ele se afastou e sussurrou:
— Obrigado, Bianca.
— Ahn… tudo bem .
Não sabia o que pensar daquilo. Todas as outras vezes que Wesley e eu
tínham os nos beij ado, tinha sido um enfrentam ento im petuoso e belicoso. Um a
introdução ao sexo. Ele nunca tinha m e beij ado daquele j eito suave e sem
desespero, e aquilo m eio que m e assustou.
Mas não tive tem po de pensar nisso enquanto corria escada abaixo e pelo
vestíbulo. Quando entrei no carro, precisei acelerar — o que eu realm ente,
realm ente, detesto fazer — até m inha casa, e m esm o assim não cheguei lá antes
das seis. Só m e restava um a hora e m eia para tom ar um a ducha, m e vestir e
verificar com o estava m eu pai. Que j eito fantástico de com eçar o dia.
Melhor ainda era o fato de que dava para ver que as luzes da sala de estar
estavam acesas quando estacionei na entrada. Não era bom sinal. Meu pai
sem pre — sempre — desligava todas as luzes antes de ir para a cam a. Fazia isso
com o um ritual. Tê-las deixado acesas era definitivam ente um m au agouro.
Ouvi o ronco assim que entrei na ponta dos pés e, im ediatam ente, entendi
que ele tinha com prado m ais cervej a. Mesm o antes de ver as garrafas na
m esinha de centro e seu vulto inconsciente no sofá, eu j á sabia.
Ele ficara com pletam ente bêbado e apagara na sala.
Com ecei a m e m exer, m as parei. Por m ais que eu quisesse, não tinha tem po
para arrum ar a bagunça do m eu pai. Precisava subir. Precisava ir para a escola.
E, enquanto m e esgueirava até o m eu quarto, convenci-m e de que tudo iria ficar
bem . Ele estava apenas chocado, tudo ficaria bem , e esse… episódio passaria
sem m ais incidentes. Não podia culpar o cara por alguns copos de cervej a a
m ais, considerando a bom ba que m inha m ãe j ogara nele, né?
Tom ei um banho rápido e sequei m eu cabelo com o secador (o que sem pre
dem ora um século; sério, talvez eu devesse logo cortar o cabelo curtinho com o
Casey, em vez de perder m eu tem po) antes de vestir roupas lim pas. Depois de
escovar os dentes, desci de novo e fui até a cozinha pegar biscoitinhos recheados
para com er no cam inho. Em seguida saí pela porta da frente.
Quando afinal consegui chegar à escola, o estacionam ento dos alunos estava
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