Duff
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Acontece que, de um a form a estranha, a falta de reação de Toby m e
incom odou um pouco. Wesley com certeza teria feito algum a piada. Ele j á teria
notado m eus peitos, é claro, e aproveitaria a oportunidade para dizer algum a
coisa. Wesley teria rido tam bém . Ele não ignoraria a situação com o Toby.
Meu Deus! De todas as coisas, essa era j ustam ente a que não devia estar m e
incom odando.
— Sabem — disse Casey assim que conseguiu controlar as risadas —, foi
m uito legal da parte de vocês nos convidar. — Ela sorriu para m im , e eu sabia
que ela estava feliz de ter sido incluída. — Mas vocês percebem que isso vai
arruinar o encontro de vocês, né?
— Por quê? — perguntou Toby.
— Porque assim viram os velas da Bianca! — disse Jessica, um pouco m ais
feliz do que devia.
— Por isso, nosso trabalho é im pedir que vocês ultrapassem os lim ites —
disse Casey. — E ficarem os felizes em controlar vocês.
— Sim .
Toby e eu não precisávam os nos preocupar. No segundo em que entram os
no Nest m inhas am igas se j ogaram na pista de dança, balançando os cabelos e
sacudindo o quadril com o de hábito.
— Parece que são elas que devem ser controladas — disse Toby enquanto
seguíam os na direção de um a m esa vazia.
— Norm alm ente esse é o m eu trabalho — respondi.
— Você acha que elas sobrevivem se você tirar um a noite de folga?
— Verem os.
Ele sorriu para m im e tocou m eus brincos com a ponta dos dedos.
— Vai dem orar um a m eia hora para a banda com eçar a tocar — disse ele
enquanto acariciava m eu pescoço e m eus om bros. Aquele toque não m e
em polgou m uito. Se fosse Wesley fazendo o m esm o, deslizando os dedos pela
m inha pele, eu teria…
— Você quer que eu busque nossas bebidas antes que o bar fique m uito
lotado?
— É claro — falei, enquanto tentava expulsar Wesley da m inha cabeça. —
Eu quero um a Coca… um a Coca Light.
— Tudo bem — disse Toby. — Estarei de volta em um instante. — Ele m e
deu um beij o no rosto e saiu em direção ao bar.
Um a verdadeira m ultidão estava se acotovelando para passar pela porta de
entrada do Nest. O lugar lotava quando havia bandas ao vivo. Algum as garotas do
oitavo ano pegaram a m esa atrás de m im , gabando-se em voz alta sobre com o
pretendiam agir no ensino m édio para serem populares. Um calouro e seus
am igos passaram ao m eu lado com um a garrafa de cervej a m al escondida
dentro do casaco, e com o canto dos olhos vi a caloura que Jessica e eu tínham os
observado no j ogo de basquete algum as sem anas antes. Ela entrou de m ãos
dadas com um garoto bonitinho que eu não reconheci. Mesm o de longe, podia
ver seu sorriso. Ela estava linda, e eu soube que um a de suas am igas loiras
perfeitinhas havia sido forçada a fazer o papel de Duff em sua ausência. Então
ela e seu par desapareceram , deixando-m e com um sorriso inexplicável.
Eu não sabia que tipo de banda ia tocar, m as, levando em conta o núm ero de
garotos e garotas com cabelo roxo e piercing nos lábios que estavam entrando,
achei que devia ser um a banda em o.
Meu sorriso se apagou.
Ótim o. Garotos chorões tocando guitarras. É a m inha cara, certo?
Olhava em volta sem realm ente prestar atenção em nada quando ele
apareceu no m eio da m ultidão. De início, nem percebi. Ele estava conversando
com Harrison Carly le a cam inho do bar. Era fácil acom panhar seus m ovim entos.
Ele era alguns centím etros m ais alto que todos à sua volta, encarava a m ultidão
com m uito m ais confiança do que seus colegas, cam inhava por entre os outros
garotos com m uito m ais graça do que qualquer outro adolescente de sua idade, e
m eus olhos o seguiam sem a perm issão do m eu cérebro.
Na m etade do cam inho para o bar, Wesley se virou na m inha direção. Seus
olhos cinza ficaram presos aos m eus por alguns segundos. Merda. Olhei para
outro lugar, rezando para que não tivesse notado a m inha presença, m esm o sendo
óbvio que ele tinha.
— Fala sério — m urm urei, apertando m eu punho contra a parte de baixo da
m esa. — O cara está em todos os lugares!
— Quem está em todos os lugares? — perguntou Toby, sentando-se na
m inha frente e em purrando o copo em m inha direção.
— Ninguém . — Dei um gole em m inha Coca Light e tentei não fazer um a
cara estranha. A falta de açúcar deixou um gosto ruim em m inha boca. Engoli e
perguntei: — Qual o nom e da banda que vai tocar hoj e?
— Lágrim as Negras — respondeu ele.
O.k. Pra m im , soava com o o nom e de um a droga de m úsica em o.
— Legal.
— Eu nunca ouvi a m úsica deles — adm itiu Toby, passando um a das m ãos
sobre seus cabelos loiros em corte tigelinha. — Mas um pessoal m e disse que são
realm ente bons. Fora que são a única banda da cidade de Ham ilton. Todos os
outros que tocam aqui vêm de Oak Hill.
— Legal.
Me sentindo desconfortável, m e aj eitei na cadeira. Consciente de que
Wesley devia estar com os olhos em m im . A form a com o ele m e observava era
insana, e eu esperava que Toby não percebesse o quanto estava m e contorcendo.
Ele provavelm ente pensaria que eu precisava ir ao banheiro ou qualquer coisa
assim .
— Eu term inei O morro dos ventos uivantes — falei, tentando
desesperadam ente com eçar um a nova conversa que pudesse afastar Wesley de
m eus pensam entos. Dem orou um m inuto para eu perceber que provavelm ente
esse não era o assunto ideal.
— Você gostou? — perguntou Toby.
— Bem , m e fez pensar em m uitas coisas. — Eu podia ter dado um tapa em
m inha própria cara naquele instante. Não era culpa daquela porcaria de livro eu
ter surtado? Por que fui falar nele? Era m uito tarde para m udar de assunto. Toby
estava m uito anim ado em poder falar do livro com igo.
— Eu sei, sem pre m e perguntei o que levou Em ily Brontë a criar
personagens tão desagradáveis. Quero dizer, durante o livro inteiro, eu só
conseguia pensar que tanto Heathcliff quanto Linton eram uns canalhas, e
Cathy …
Brinquei com m eu canudinho sem prestar m uita atenção no que ele dizia.
Todas as vezes que Toby falava Heathcliff, m eus olhos autom aticam ente
buscavam Wesley por cim a de seu om bro. Com o sem pre, ele estava lindo,
usando j eans e um a cam iseta branca j usta por baixo de sua j aqueta de couro
preta ligeiram ente larga. Estava de costas para o bar e com os cotovelos apoiados
no balcão. Sozinho. Sem garota algum a se j ogando em cim a dele. Pelo am or de
Deus, até m esm o Harrison havia desaparecido. Joe era a única pessoa próxim a o
suficiente com quem ele podia conversar, m as parecia estar m uito ocupado com
um bando de adolescentes góticos e sedentos.
Os olhos de Wesley estavam fixos em m im . De onde eu estava, ficava
difícil perceber com qual expressão m e encarava, m as ele não desviou o olhar
nem por um segundo. Sim , aquilo estava m e dando nos nervos, porém eu sabia
que m e sentiria desapont
ada, até m esm o ferida, se ele desviasse os olhos. Eu
conferia de vez em quando para ver se ainda estava sendo observada.
— Bianca?
Assustada, olhei para Toby novam ente.
— Hein?
— Você está bem ? — perguntou ele.
Meus dedos estavam brincando com o pingente em form a de B sem que eu
m esm a percebesse o m ovim ento. Im ediatam ente afastei a m ão da correntinha.
— Estou bem .
— Casey m e avisou que quando você diz isso quer dizer que algum a coisa
vai m al — disse ele.
Trinquei os dentes e lancei um olhar feio para m inha suposta am iga no m eio
da pista de dança. Ela acabava de ser adicionada à lista de pessoas que eu iria
socar m uito em breve.
— E acredito que ela estej a certa — m urm urou Toby.
— O quê?
— Bianca, você acha que não estou percebendo o que está acontecendo? —
Ele olhou por cim a do próprio om bro em direção a Wesley e, quando olhou de
novo para m im , fez um m ovim ento afirm ativo com a cabeça. — Ele está
olhando diretam ente para você desde que entram os aqui.
— Ah… está?
— Consigo ver o reflexo dele naqueles espelhos ali. E você está olhando de
volta para ele — disse Toby. — E não é um a coisa que com eçou hoj e. Eu j á
percebi a form a com o ele encara você na escola. Nos corredores. Ele gosta de
você, né?
— Eu não sei, acho que sim . — Meu Deus, que m om ento constrangedor...
Continuei a brincar com o canudinho, acom panhando as pequenas ondas de
bolhas que apareciam na superfície de m inha Coca-Cola. Eu não podia olhar nos
olhos de Toby.
— Eu nem preciso adivinhar — disse ele. — Está tão óbvio! A m aneira
com o olha para ele m e faz achar que você está apaixonada tam bém .
— Não! — falei, soltando o canudinho e encarando Toby. — Não! Não!
Não! Eu não estou apaixonada por ele, o.k.?
Toby olhou para m im com um sorrisinho nos lábios.
— Mas você tem sentim entos por ele.
Eu não percebi nenhum sinal de dor em seus olhos, apenas um toque de
interesse. Isso m e deu forças para responder:
— Sim , acredito que sim .
— Então vá até ele.
Sem conseguir m e controlar, revirei m eus olhos. Foi algo autom ático.
— Meu Deus, Toby ! — falei. — Isso parece um a péssim a fala de um film e
ruim .
Toby deu de om bros.
— Talvez, m as estou falando sério, Bianca. Se você sente algo por ele, devia
ir lá agora.
— Mas e…?
— Não se preocupe com igo — continuou ele. — Se você está a fim do
Wesley, deveria estar com ele agora. Nam orar com igo não vai fazer seus
sentim entos desaparecerem … E eu devia saber disso. Definitivam ente, não se
preocupe com igo, Bianca. A verdade é que estou na m esm a situação que você.
Eu só não queria adm itir.
— Com o?
Agora Toby era quem estava encarando sua bebida, parecendo
constrangido, em purrando os óculos de volta para o lugar.
— Eu ainda não superei a Nina.
— Nina, sua ex?
Ele assentiu.
— Nós term inam os há um m ês, m as ainda penso m uito nela. Adoro você,
então pensei que, se saíssem os j untos, talvez conseguisse esquecê-la. E por um
m om ento consegui m esm o, m as então…
— Bem , então você devia ligar pra ela — sugeri. — Em vez de ficar sentado
aqui, fazendo beicinho, devia ligar pra ela e contar tudo o que sente. Hoj e.
Ele m e encarou novam ente.
— Você não está brava? Não se sente usada?
— Eu seria um a grande hipócrita, principalm ente levando em consideração
que eu tam bém estava usando você. Mesm o que não fosse m inha intenção. — Eu
m e levantei e m e equilibrei nos saltos altos. — E, para sua inform ação, se a Nina
não aceitar você de volta, ela é um a burra. Acho que você é provavelm ente um
dos caras m ais doces e educados que j á conheci. Minha paixonite por você durou
anos. Eu realm ente queria que você fosse o cara certo pra m im .
— Obrigado — disse Toby. — E se Wesley partir seu coração, prom eto que
vou… Eu ia dizer dar um chute nele, m as am bos sabem os que isso é fisicam ente
im possível. — Ele olhou para seus braços finos. — Então vou escrever um a carta
com palavras bem fortes para ele.
— Então é isso. — Respirei fundo e dei um beij o no rosto de Toby. — Muito
obrigada, m esm o.
Ele m e deu um últim o sorriso perfeito, um sorriso do qual eu m e lem braria
para o resto de m inha vida. E disse:
— Você está radiante. Anda logo, vai lá!
— Certo. Vej o você na aula, Toby.
— Adeus, Bianca.
Respirei fundo de novo, tentando m e acalm ar, e fixei m eus olhos nos de
Wesley. Então, com um sorriso leve no rosto, com ecei a abrir cam inho por entre
a m ultidão, deixando para trás o cara m ais legal do m undo. A j á fam iliar m úsica
techno havia parado de tocar, e todos na pista estavam se apertando à espera da
banda que subiria ao palco. Tive de fazer zigue-zague entre os corpos que se
recusavam a se m over, ninguém era educado o suficiente para m e dar passagem
por um segundo.
Visualizei Casey no m eio da m ultidão — sua cabeça loira m ais alta do que a
de todos, exceto pelo j ogador de basquete ao lado dela, um garoto em quem , eu
sabia, ela estava de olho havia sem anas; ela não ia gostar da m inha decisão. Para
Casey, era culpa de Wesley de eu tê-la negligenciado. Ela ficaria chateada
com igo. Ela poderia até ficar brava. Poderia pensar que eu a estava deixando
para trás de novo. Eu ia precisar provar que ela estava errada. Provar que Toby,
que ela sim plesm ente adorava, não era o cara certo para m im .
Quando estava a três m etros do bar, um som alto saiu dos alto-falantes, m as
não era a m úsica em o que eu estava esperando. Em vez disso, levei um
trem endo susto com o som de m icrofonia. Fiquei tão apavorada que dei um
pequeno sobressalto, o que não seria nenhum problem a com sapatos baixos.
Acontece que m eus pés, quando atingi o chão, escorregaram e eu perdi
com pletam ente o equilíbrio. Antes que eu pudesse m e aprum ar, torci um dos
tornozelos, o que m e fez voar — o rosto prim eiro, naturalm ente — em direção ao
chão. Maravilhoso. Perfeito!
Não pude deixar de gem er de dor por causa do m eu tornozelo torcido.
— Ai, ai, aaaaai! Meu Deus, com o odeio esses sapatos!
— Então por que diabos você usa essa droga?
Minha pele se arrepiou com o toque das duas m ãos que m e ergueram pelos
om bros e tentaram m e aj udar a ficar de pé. Percebendo que eu não conseguia
m e equilibrar, Wesley pôs seu braço por baixo dos m eus, segurou m inha cintura
e m e aj udou a chegar até o bar.
— Você está bem ? — perguntou, m e aj udando a sentar. Eu podia dizer pelo
seu sorriso que ele estava enfrentando um a guerra interna para não dar um a
gargalhada.
— Sim — m urm urei, m e perm itindo um sorriso. Não m e sentia m ais tão
envergonhada. Não com Wesley. Se fosse com qualquer
outra pessoa eu teria
corrido — ou m e arrastado — para fora do clube, m as com Wesley tudo estava
bem . Podíam os rir disso j untos.
O sorriso se perdeu, e o rosto dele ficou sério. Ele m e encarou por um longo
m om ento. Seu silêncio estava m e levando à loucura quando ele finalm ente abriu
a boca.
— Bianca, eu…
— Bianca! Meu Deus! — Jessica se m aterializou ao m eu lado, suas
bochechas rosadas de tanta em polgação. Atrás dela, a banda com eçava a tocar
(ou a tentar tocar) a versão em o de um a m úsica de Johnny Cash. O som estava
m uito alto, m as de algum a form a Jessica conseguia fazer sua voz prevalecer. —
Bianca, eu finalm ente a encontrei! Você viu? Harrison e eu estávam os dançando
j untos. Acho que ele vai m e convidar pra form atura! Isso não seria m aravilhoso?
— Que ótim o pra você, Jessica.
— Preciso contar à Angela! — Foi então que ela viu Wesley. Um sorriso que
eu conhecia m uito bem apareceu no rosto dela. — Vej o vocês m ais tarde. — E,
com um salto, seu rabo de cavalo se perdeu na m ultidão.
Wesley observou Jessica se afastando e depois disse:
— Ela sabe que o Harrison gosta de garotos, né?
— Deixe que ela m antenha a esperança — respondi, sorrindo para m im
m esm a.
Ele voltou sua atenção para m im .
— Sim . Esperança pode ser um a coisa boa. Bianca, eu… — Ele deu um
sorriso sarcástico. — Eu sabia que você iria se entregar, m ais cedo ou m ais tarde.
— Ele pôs a m ão sobre m eu j oelho e com eçou a subir lentam ente pela m inha
coxa. — Você está prestes a adm itir que m e am a, né?
Dei um tapa em sua m ão e interrom pi seus avanços.
— Prim eira coisa — falei —, saiba que não am o você. Am o m inha fam ília,
talvez Casey e Jessica. Am or rom ântico leva anos pra acontecer. Portanto, eu
não am o você. Mas vou adm itir, ando pensando dem ais em você e
definitivam ente tenho sentim entos por você… sentim entos que não o ódio da
m aior parte do tem po. É possível que, no futuro, eu venha a… am ar você. —
Hesitei, um pouco assustada com as palavras que saíam da m inha boca. — Mas
ainda quero m atar você na m aior parte do tem po.
A ironia no sorriso de Wesley desapareceu, pois agora ele era genuíno.
— Cara, com o eu senti sua falta. — Ele se inclinou para m e beij ar, eu