O Grande Gatsby (Penguin)

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O Grande Gatsby (Penguin) Page 12

by F. Scott Fitzgerald


  — Escute aqui, meu velho — ele irrompeu de maneira imprevista —, qual é a sua opinião sobre mim, afinal?

  Um tanto coagido, recorri às evasivas generalizadas que a pergunta exigia.

  — Bem, vou lhe contar algo sobre a minha vida — ele interrompeu. — Não quero que você tenha uma ideia errada de mim a partir dessas histórias que ouve.

  Então ele estava por dentro das acusações bizarras que davam sabor às conversas em sua casa.

  — Por Deus, o que eu vou lhe contar é a mais pura verdade. — Sua mão direita ergueu-se repentinamente para pedir que o castigo divino o atestasse. — Sou filho de uma família rica do Meio-Oeste, todos já falecidos. Fui criado nos Estados Unidos, mas educado em Oxford porque foi lá que meus antepassados sempre estudaram. É uma tradição familiar.

  Ele me fitou com o canto do olho — e eu soube imediatamente por que Jordan Baker achara que ele estava mentindo. Gatsby acelerou as palavras “educado em Oxford”, ou mesmo as engoliu, sufocando-as, como se isso já lhe tivesse causado problemas no passado. Diante dessa hesitação, seu depoimento inteiro caiu por terra, e fiquei imaginando se não havia algo de estranho naquele sujeito, afinal de contas.

  — Que parte do Meio-Oeste? — perguntei casualmente.

  — San Francisco.

  — Ah.

  — Minha família inteira morreu e eu herdei uma fortuna.

  Seu tom de voz era solene, como se a lembrança da súbita extinção de um clã ainda o assombrasse. Por um momento, julguei que ele estivesse brincando, mas só de fitá-lo me convenci do contrário.

  — Depois disso, vivi como um jovem rajá em todas as capitais da Europa: Paris, Veneza, Roma. Colecionei joias, principalmente rubis, cacei animais de grande porte e pintei um pouco, tudo por prazer, na tentativa de esquecer uma coisa triste que me acontecera tempos antes.

  Com algum esforço, consegui conter uma risada incrédula. As próprias frases soavam tão gastas que não me evocavam imagem alguma, exceto a de um “personagem” de turbante que exalava serragem por todos os poros enquanto perseguia um tigre pelo Bois de Boulogne.

  — Então veio a guerra, meu velho. Foi um grande alívio e eu fiz o máximo possível para morrer, mas parecia ter uma vida enfeitiçada. Quando o conflito começou, aceitei o posto de primeiro-tenente. Na floresta de Argonne, assumi o comando dos poucos soldados que restaram no meu batalhão de artilharia e avancei tanto que se formou, de ambos os lados, um vácuo de oitocentos metros por onde a infantaria não conseguia penetrar. Permanecemos ali por dois dias e duas noites, cento e trinta homens com dezesseis metralhadoras Lewis e, quando a infantaria enfim chegou, encontraram a insígnia de três divisões alemãs entre as pilhas de mortos. Fui promovido a major e todos os governos aliados me condecoraram. Inclusive Montenegro, a pequena Montenegro, em pleno mar Adriático!

  Pequena Montenegro! Ele enfatizou essas palavras e assentiu com a cabeça — abrindo um sorriso. Aquele sorriso abarcava toda a história atribulada de Montenegro e se solidarizava com as bravas lutas do povo montenegrino. Apreciava sem restrições a cadeia de circunstâncias nacionais que propiciara esse tributo do pequeno e cálido coração nativo. Minha incredulidade agora se transformara em fascínio; era como folhear atabalhoadamente uma dúzia de revistas.

  Ele meteu a mão no bolso e me mostrou um pedaço de metal pendurado numa fita.

  — Esta é a de Montenegro.

  Para o meu espanto, a coisa tinha um ar de autenticidade. “Orderi di Danilo”, dizia a legenda circular: “Montenegro, Nicolas Rex”.3

  — Vire a medalha.

  — Major Jay Gatsby — eu li. — Pelo extraordinário heroísmo.

  — Aqui tem outra coisa que eu sempre carrego. Uma lembrança dos tempos de Oxford. Foi tirada no Trinity Quad.c Esse homem à minha esquerda é hoje conde de Doncaster.

  Era uma fotografia de meia dúzia de rapazes de blazer reunidos sob uma arcada com uma porção de pináculos ao fundo. Lá estava Gatsby, parecendo um pouco (nem tanto) mais jovem, com um taco de críquete na mão.

  Então era tudo verdade. Pude vislumbrar as peles de tigre expostas em seu palazzo no Grande Canal; vi Gatsby abrindo um baú de rubis que serviam para confortar, com suas profundezas vermelhas, os tormentos de seu coração partido.

  — Vou lhe pedir um grande favor hoje — ele disse, guardando com satisfação seus suvenires no bolso —, então achei que você deveria saber algo a meu respeito. Não queria que pensasse que eu era um ninguém. Veja, sempre estive entre estranhos porque ando pelo mundo tentando esquecer as coisas tristes que me aconteceram. — Ele hesitou. — Você vai ficar sabendo hoje à tarde.

  — No almoço?

  — Não, depois. Acontece que eu fiquei sabendo que você vai levar a senhorita Baker para tomar um chá.

  — Quer dizer que você está apaixonado pela senhorita Baker?

  — Não, meu velho, não é isso. Mas a senhorita Baker consentiu gentilmente em lhe falar sobre esse assunto.

  Eu não tinha a mais vaga ideia do que era “esse assunto”, mas estava mais irritado do que interessado. Eu não havia convidado Jordan para o chá a fim de conversar sobre o sr. Jay Gatsby. Tinha certeza de que o favor seria algo absolutamente grandioso, e por um instante me arrependi de ter botado os pés naquele gramado superpovoado.

  Ele não me diria mais nenhuma palavra. Sua correção ia crescendo conforme nos aproximávamos da cidade. Passamos por Port Roosevelt,4 onde tivemos vislumbres de navios transatlânticos com faixas vermelhas, e aceleramos ao longo de um cortiço de paralelepípedos, ladeado por tabernas abarrotadas e escuras com aquele dourado opaco do começo do século. Então o vale das cinzas se abriu de ambos os lados e, enquanto passávamos, tive um vislumbre da sra. Wilson debruçada na bomba de gasolina com ofegante vitalidade.

  Com os para-choques abertos feito asas, lançamos luz em metade de Astoria — apenas metade, pois enquanto fazíamos o retorno entre as pilastras do elevado, ouvi o familiar “vrum-vrum-paf!” de uma moto e um policial frenético encostando em nosso carro.

  — Certo, meu velho — gritou Gatsby. Nós desaceleramos. Sacando um cartão branco da carteira, ele o abanou diante do homem.

  — Está tudo bem — concordou o policial, acenando com o quepe. — Da próxima vez, prometo reconhecê-lo, senhor Gatsby. Mil desculpas!

  — O que era isso? — eu perguntei. — A foto de Oxford?

  — Certa vez fiz um favor para o comissário, e desde então ele me manda todos os anos um cartão de Natal.

  Atravessamos a magnífica ponte, com a luz do sol através das vigas produzindo uma ondulação constante sobre os carros em movimento, enquanto a cidade se erguia para além do rio em pilhas brancas e torrões de açúcar, construída num puro desejo incorruptível. A partir da ponte Queensboro,d a cidade é sempre vista como pela primeira vez, em sua primeira e louca promessa de todos os mistérios e belezas do mundo.

  Um homem morto passou ao nosso lado num carro fúnebre atulhado de flores, seguido por duas carruagens com a cortina abaixada e outras conduções mais animadas que transportavam os amigos do morto. Eles nos olharam com os olhos trágicos e os finos lábios superiores típicos do Sudeste europeu, e fiquei feliz em saber que a visão do esplêndido automóvel de Gatsby fora agora incluída em seu passeio sombrio. Enquanto cruzávamos a ilha de Blackwell,e uma limusine nos ultrapassou, conduzida por um motorista branco e ocupada por três negros modernos, dois rapazes e uma moça. Soltei uma gargalhada alta quando suas órbitas amareladas se revolveram para nós, em esnobe rivalidade.

  “Tudo pode acontecer agora que cruzamos esta ponte”, eu pensei, “tudo mesmo…”

  Mesmo Gatsby podia acontecer, sem que isso causasse nenhum espanto em particular.

  Meio-dia frenético. Em um arejado porão na rua 42, encontrei-me com Gatsby para almoçar. Ofuscado pela recém-saída claridade da rua, localizei-o vagamente na antessala, conversando com um desconhecido.

  — Senhor Carraway, este é meu amigo, o senhor Wolfshiem.

  Um judeu pequeno de nariz achatado ergueu sua enorme cabeça
e me olhou do alto de seus dois tufos de pelos que floresciam em suas narinas. Levei um instante para localizar seus minúsculos olhos à meia-luz.

  — …Então dei uma boa olhada nele — disse o sr. Wolfshiem, apertando-me firmemente a mão — e sabe o que fiz?

  — O quê? — perguntei com cortesia.

  Mas é claro que ele não se dirigia a mim, pois largou minha mão e cobriu Gatsby com seu nariz expressivo.

  — Dei o dinheiro a Katspaugh e falei: “Certo, Katspaugh, não lhe pague um centavo até ele calar a boca”. Ele calou a boca na hora.

  Gatsby nos tomou pelo braço, um de cada lado, e adentrou o restaurante, enquanto o sr. Wolfshiem engolia a continuação de uma nova frase e caía numa distração sonâmbula.

  — Uísque e soda? — ofereceu o maître.

  — É um belo restaurante — disse o sr. Wolfshiem, admirando as ninfas presbiterianas pintadas no teto. — Mas eu prefiro aquele no outro lado da rua!

  — Sim, uísque, por favor — assentiu Gatsby, e então ao sr. Wolfshiem: — Lá é muito quente.

  — Quente e pequeno, é verdade — disse o sr. Wolfshiem —, mas cheio de lembranças.

  — De que restaurante vocês estão falando? — perguntei.

  — Do velho Metropole.

  — Do velho Metropole — remoeu o sr. Wolfshiem melancolicamente. — Cheio de rostos mortos e enterrados. Cheio de amigos que partiram para sempre. Nunca vou me esquecer da noite em que atiraram em Rosy Rosenthal. Éramos seis à mesa, e Rosy havia comido e bebido a noite toda. Quando já era quase de manhã, o garçom veio com um olhar esquisito e disse que alguém queria falar com ele lá fora. “Certo”, disse Rosy, erguendo-se da cadeira, mas eu o puxei de volta. “Deixe aqueles sacanas virem até aqui, Rosy, se querem pegá-lo. Mas, por Deus, não ouse sair desta sala.” Já eram quatro da madrugada e, se erguêssemos as persianas, veríamos a luz do dia.

  — Ele saiu? — perguntei, com ingenuidade.

  — É claro que sim. — O nariz do sr. Wolfshiem me fulminou, indignado. — Ao chegar à porta, ele se virou para trás e disse: “Não deixem o garçom levar meu café!”. Então foi à calçada, onde o receberam com três tiros na barriga e fugiram.

  — Quatro deles foram para a cadeira elétrica — eu disse, lembrando-me do caso.

  — Cinco, com Becker. — Suas narinas se voltaram para mim com ar interessado. — Soube que você está procurando um licação nas necócios.f

  A justaposição desses dois comentários foi desconcertante. Gatsby respondeu em meu lugar:

  — Ah, não — ele exclamou —, não é este o homem.

  — Não? — o sr. Wolfshiem pareceu desapontado.

  — Este é só um amigo. Falei que conversaríamos sobre isso em outra ocasião.

  — Me desculpe — disse o sr. Wolfshiem. — Peguei o homem errado.

  Um suculento picadinho chegou à mesa e o sr. Wolfshiem, esquecido da atmosfera nostálgica do velho Metropole, passou a comer com sensibilidade feroz. Enquanto isso, seus olhos percorriam lentamente o salão — ele completou o círculo virando-se para inspecionar as pessoas bem atrás de nós. Não fosse a minha presença, acho que se abaixaria para dar uma olhada debaixo da nossa própria mesa.

  — Ouça, meu velho — disse Gatsby, reclinando-se em minha direção —, me desculpe por tê-lo aborrecido esta manhã, no carro.

  Ele abriu aquele sorriso de novo, mas dessa vez tentei resistir.

  — Não gosto de mistérios — respondi — e não entendo por que você não chega honestamente e me diz o que quer. Por que precisa passar pela senhorita Baker?

  — Ah, não é nada proibido — ele me garantiu. — A senhorita Baker é uma grande atleta, você sabe, e nunca faria nada de errado.

  De repente ele consultou o relógio, levantou-se de um salto e disparou pelo salão, deixando-me à mesa com o sr. Wolfshiem.

  — Ele foi telefonar — disse o sr. Wolfshiem, seguindo-o com os olhos. — É um bom sujeito, não? Bonito de se ver e um perfeito cavalheiro.

  — É.

  — É um homem de Oggsford.

  — Ah.

  — Ele estudou em Oggsford, na Inglaterra. Você conhece a universidade de Oggsford?

  — Já ouvi falar.

  — É uma das mais famosas do mundo.

  — Você conhece Gatsby há muito tempo? — perguntei.

  — Há muitos anos — ele respondeu com ar satisfeito. — Tive o prazer de conhecê-lo logo após a guerra. Percebi que estava diante de um homem de fina estirpe depois de conversarmos por uma hora. Eu disse a mim mesmo: “É o tipo de homem que todos gostariam de levar para casa e apresentar à mãe e à irmã”. — Ele fez uma pausa. — Vejo que está olhando para as minhas abotoaduras.

  Eu não estava olhando para elas, mas passei a fazê-lo. Eram lascas de marfim estranhamente familiares.

  — São feitas dos mais finos espécimes de molares humanos — ele me informou.

  — Ora! — eu as examinei. — É uma ideia muito interessante.

  — É. — Ele escondeu os punhos por baixo do casaco. — De fato, Gatsby é muito cuidadoso com as mulheres. Não ousaria sequer olhar para a esposa de um amigo.

  Assim que o protagonista dessa confiança instintiva retornou à mesa e sentou-se, o sr. Wolfshiem bebeu seu café de uma vez e levantou-se.

  — Adorei o almoço — ele disse —, e agora irei deixá-los, meus jovens, antes que eu comece a abusar da hospitalidade de vocês.

  — Não seja tolo — disse Gatsby, sem sombra de entusiasmo. O sr. Wolfshiem ergueu a mão numa espécie de bênção.

  — Você é muito educado, mas pertence a outra geração — ele anunciou de forma solene. — Fiquem aqui conversando sobre seus esportes, suas namoradas e… — ele supriu o substantivo com outro aceno. — Quanto a mim, tenho cinquenta anos de idade e não irei importuná-los mais com a minha presença.

  Quando ele terminou de cumprimentar Gatsby e virou-se para ir embora, seu trágico nariz estava trêmulo. Fiquei imaginando se havia dito algo que o ofendera.

  — Às vezes ele fica sentimental — explicou Gatsby. — Hoje é um desses dias. Trata-se de uma figura singular de Nova York, um cidadão da Broadway.

  — Mas, afinal, ele é ator?

  — Não.

  — Dentista?

  — Meyer Wolfshiem?5 Não, é um apostador. — Gatsby hesitou e então acrescentou, calculadamente: — Foi ele quem fraudou a World’s Series de 1919.6

  — Fraudou a World’s Series? — repeti.

  Aquela informação me deixou abalado. Eu me lembrava, é claro, de que a World’s Series fora fraudada em 1919, mas, se alguma vez cheguei a pensar no assunto, considerava-o algo que simplesmente acontecera, resultado de alguma inevitável cadeia de eventos. Nunca me ocorreu que um só homem poderia ludibriar a fé de cinquenta milhões de pessoas — com a obstinação de um ladrão explodindo um cofre.

  — E como é que ele fez isso? — perguntei após um minuto.

  — Ele apenas viu a oportunidade.

  — Por que não foi preso?

  — Ninguém consegue apanhá-lo, meu velho. É um sujeito esperto.

  Insisti em pagar a conta. Quando o garçom veio me trazer o troco, reconheci Tom Buchanan em meio ao salão abarrotado.

  — Venha comigo um minuto — eu disse —, preciso cumprimentar um amigo.

  Assim que nos viu, Tom ergueu-se num salto e deu meia dúzia de passos em nossa direção.

  — Por onde você andou? — ele protestou vivamente. — Daisy está furiosa por não ter telefonado.

  — Este é o senhor Gatsby, senhor Buchanan.

  Eles deram um breve aperto de mãos, e Gatsby deixou transparecer um olhar estranhamente tenso e constrangido.

  — Mas enfim, como vai? — perguntou Tom. — Por que resolveu vir tão longe só para comer?

  — Eu estava almoçando com o senhor Gatsby.

  Voltei-me em direção ao sr. Gatsby, mas ele não estava mais lá.

  Foi num dia de outubro de 1917…

  (contou Jordan mais tarde, sentada aprumadamente
no salão de chá do Plaza Hotel)

  …eu estava indo de um lugar para o outro, caminhando tanto pela calçada quanto pela grama. Dava preferência à grama pois usava uns sapatos ingleses com cravos de borracha na sola que viviam grudando no chão liso. Eu também vestia uma saia xadrez nova que levantava ligeiramente com o vento e, sempre que isso acontecia, as bandeiras vermelhas, brancas e azuis diante de todas as casas se retesavam e faziam um tut-tut-tut-tut em desaprovação.

  A bandeira mais ampla de todas e o gramado mais extenso eram os da casa de Daisy Fay. Tinha apenas dezoito anos, dois a mais do que eu, e era de longe a garota mais popular de Louisville. Costumava vestir-se de branco e tinha um pequeno conversível da mesma cor. O telefone tocava o dia todo, e os excitados oficiais de Camp Taylor7 viviam solicitando o privilégio de monopolizá-la naquela noite. “Nem que seja por uma hora!”

  Naquela manhã, ao me aproximar da casa de Daisy, vi que o conversível branco se encontrava fora da garagem, e ela estava sentada nele com um tenente que eu nunca havia visto. Estavam tão entretidos entre si que não me viram até que eu chegasse a menos de dois metros de distância. “Olá, Jordan”, ela disse de repente. “Por favor, venha cá.”

  Senti-me lisonjeada por ela querer falar comigo, pois, de todas as garotas mais velhas, era Daisy quem eu mais admirava. Ela perguntou se eu estava indo para a Cruz Vermelha fazer curativos. Eu estava. Nesse caso, será que eu poderia avisar que hoje ela não iria? Enquanto Daisy falava, o oficial olhava para ela do jeito que todas as mocinhas gostariam de ser olhadas algum dia, e por me parecer tão romântico é que me lembro desse incidente até hoje. Seu nome era Jay Gatsby, e não tornei a vê-lo nos quatro anos seguintes. Mesmo ao encontrá-lo em Long Island, não notei que era o mesmo homem.

  Isso foi em 1917. No ano seguinte, eu mesma arrumei uns namorados e comecei a disputar campeonatos, de modo que já não via Daisy com tanta frequência. Ela costumava sair com uma turma um pouco mais velha, isso quando saía com alguém. Havia uma história louca circulando a seu respeito: dizia-se que, numa noite de inverno, a mãe a encontrara fazendo as malas para ir a Nova York despedir-se de um soldado que estava indo para a guerra. Ela foi naturalmente proibida de ir, mas passou várias semanas sem falar com os pais. Depois disso, nunca mais saiu com soldados, apenas com alguns rapazes da cidade, míopes e de pés chatos, que não conseguiram entrar no Exército.

 

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