Luis de Camoes Collected Poetical Works
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those other lovers who their hests obey’d;
yielding to Venus every Wind became
tranquil of semblance by new softness sway’d:
She promised, seen their loves her aidance claim,
in Love’s sweet wars her sempiternal aid;
and took their homage on her beauteous hands,
to bear, while sail the Ships, her dear commands.
92
Já a manhã clara dava nos outeiros
Por onde o Ganges murmurando soa,
Quando da celsa gávea os marinheiros
Enxergaram terra alta pela proa.
Já fora de tormenta, e dos primeiros
Mares, o temor vão do peito voa.
Disse alegre o piloto Melindano:
“Terra é de Calecu, se não me engano.
Now splendid Morning tipt the hills with red 92
whence rolls the Gange his sacred sounding tide,
when seamen percht upon the topmast head
Highlands far rising o’er the prows descried:
Now, ‘scaped the tempest and the first sea-dread,
fled from each bosom terrors vain, and cried
the Melindanian Pilot in delight,
“Calecut-land, if aught I see aright!”
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“Esta é por certo a terra que buscais
Da verdadeira Índia, que aparece;
E se do mundo mais não desejais,
Vosso trabalho longo aqui fenece.”
Sofrer aqui não pode o Gama mais,
De ledo em ver que a terra se conhece:
Os geolhos no chão, as mãos ao céu,
A mercê grande a Deus agradeceu.
“This is, pardie, the very Land of Inde, 93
what realms you seek behold! ahead appear;
and if no farther Earth ye long to find,
your long-drawn travail finds its limit here.”
No more the Gama could compose his mind
for joy to see that Inde is known and near;
wich knees on deck and hands to Heav’en upraised
the God who gave such gift of grace he praised:
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As graças a Deus dava, e razão tinha,
Que não somente a terra lhe mostrava,
Que com tanto temor buscando vinha,
Por quem tanto trabalho experimentava;
Mas via-se livrado tão asinha
Da morte, que no mar lhe aparelhava
O vento duro, fervido e medonho,
Como quem despertou de horrendo sonho.
Praise to his God he gave, and rightly gave, 94
for he not only to that Bourne was brought
wherefore such perils he and his did brave,
wherefore with toil and moil so sore he fought;
but more, because so barely ‘scaped the grave
when raging Ocean death for him had wrought
by the dure fervid Winds’ terrifick might,
he was like one who wakes from dream of fright.
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Por meio destes hórridos perigos,
Destes trabalhos graves e temores,
Alcançam os que são de fama amigos
As honras imortais e graus maiores:
Não encostados sempre nos antigos
Troncos nobres de seus antecessores;
Não nos leitos dourados, entre os finos
Animais de Moscóvia zebelinos;
Amid such fierce extremes of Fear and Pain, 95
such grievous labours, perils lacking name,
whoso fair Honour wooeth aye shall gain,
Man’s true nobility, immortal Fame:
Not those who ever lean on antient strain,
imping on noble trunk a barren claim,
not those reclining on the golden beds,
where Moscow’s Zebelin downy softness spreads:
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Não com os manjares novos e esquisitos,
Não com os passeios moles e ociosos,
Não com os vários deleites e infinitos,
Que afeminam os peitos generosos,
Não com os nunca vencidos apetitos
Que a Fortuna tem sempre tão mimosos,
Que não sofre a nenhum que o passo mude
Para alguma obra heróica de virtude;
Not with the novel viands exquisite, 96
not with the languid wanton promenade,
not with the pleasures varied infinite,
which gen’erous souls effeminate, degrade:
Not with the never-conquer’d appetite,
by Fortune pamper’d as by Fortune made,
that suffers none to change and seek the meed
of Valour, daring some heroick Deed:
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Mas com buscar com o seu forçoso braço
As honras, que ele chame próprias suas;
Vigiando, e vestindo o forjado aço,
Sofrendo tempestades e ondas cruas;
Vencendo os torpes frios no regaço
Do Sul e regiões de abrigo nuas;
Engolindo o corrupto mantimento,
Temperado com um árduo sofrimento;
But by the doughty arm and sword that chase 97
Honour which man may proudly hail his own;
in weary vigil, in the steely case,
‘mid wrathsome winds and bitter billows thrown,
suffering the frigid rigours in th’ embrace
of South, and regions lorn, and lere, and lone;
swall’owing the tainted rations’ scanty dole,
salted with toil of body, moil of soul:
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E com forçar o rosto, que se enfia,
A parecer seguro, ledo, inteiro,
Para o pelouro ardente, que assovia
E leva a perna ou braço ao companheiro.
Destarte, o peito um calo honroso cria,
Desprezador das honras e dinheiro,
Das honras e dinheiro, que a ventura
Forjou, e não virtude justa e dura.
The face enforcing when the cheek would pale 98
to wear assured aspect glad and fain;
and meet the red-hot balls, whose whistling hail
spreads comrades’ arms and legs on battle-plain.
Thus honour’d hardness shall the heart prevail,
to scoff at honours and vile gold disdain,
the gold, the honours often forged by Chance,
no Valour gained, no Virtue shall enhance.
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Destarte se esclarece o entendimento,
Que experiências fazem repousado,
E fica vendo, corno de alto assento,
O baixo trato humano embaraçado.
Este, onde tiver força o regimento
Direito, e não de afeitos ocupado,
Subirá (como deve) a ilustre mando,
Contra vontade sua, e não rogando.
Thus wax our mortal wits immortal bright 99
by long Experience led, Man’s truest guide;
and thus the soul shall see, from heavenly height,
the maze of human pettiness and pride:
Whoso shall rule his life by Reason-light which feeble
Passion ne’er hath power to hide,
shall rise (as rise he ought) to HONOUR true,
maugre his will that ne’er hath stoop’d to sue.
CANTO SÉTIMO — CANTO VII.
ARGUMENT OF THE SEVENTH CANTO.
ON the occasion of the famous Discovery of India, a notable and poetic Exhortation is addrest to the Princes of Christendom, arousing them to like Enterprizes: Description of the Reign of Malabar wherein lieth the Empire of Calecut, at whose Port the Armada anchoreth: Appeareth the Moor Monsayde who giveth information to the Gama and eke instructeth him concerning the natives of the land: The Catual, or Governor of Calecut, fareth to see the Fleet.
ANOTHER ARGUMENT.
Da fundo a frota a Calecut chegada;
Manda-se mensageiro ao Rei potente;
&
nbsp; Chega Moncaide a ver a Lusa armada,
E da Provincia informa largamente:
Faz Gama ao Samori sua embaixada;
He recebido bem da Indica gente:
Co’o Regedor o Mouro ao mar se torna,
Que de toldos e flammulas se adorna.
1
Já se viam chegados junto à terra,
Que desejada já de tantos fora,
Que entre as correntes Indicas se encerra,
E o Ganges, que no céu terreno mora.
Ora, sus, gente forte, que na guerra
Quereis levar a palma vencedora,
Já sois chegados, já tendes diante
A terra de riquezas abundante.
AND now th’ Armada near’d the Morning-land, 1
many so much desired to have seen,
Reigns by those Indie currents moated, and
by Gange who dwelleth in the sky terrene.
Up Braves! and at them, an your valiant hand,
to snatch victorious Palms determined bene
Here ends your warfare; here before you lies
the realm of riches and your rightful prize.
2
A vós, ó geração de Luso, digo,
Que tão pequena parte sois no inundo;
Não digo ainda no mundo, mas no amigo
Curral de quem governa o céu rotundo;
Vós, a quem não somente algum perigo
Estorva conquistar o povo imundo,
Mas nem cobiça, ou pouca obediência
Da Madre, que nos céus está em essência;
To you, O race from Lusus sprung! I say, 2
to whom such puny part of Earth is dole’d
nay, what say I of Earth, but of His sway
who ruleth all the rounded skies enfold?
You, whom ne dangers dure ne dire dismay
from conqu’ering brutal Heathenesse withhold,
but eke no greed of gain may wean from love
of Mother-essence throned the Heavens above.
3
Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,
Que o fraco poder vosso não pesais;
Vós, que à custa de vossas várias mortes
A lei da vida eterna dilatais:
Assim do céu deitadas são as sortes,
Que vós, por muito poucos que sejais,
Muito façais na santa Cristandade:
Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildade!
Ye, Portingalls! as forceful as ye’re few, 3
who e’er disdain to weigh your weakly weight;
ye, who at cost of various deaths be true
the Laws of Life Eternal to dilate:
Cast by the heav’enly lots your lot ye drew,
however poor or mean your mundane state,
great deeds for Holy Christendom to show:
So high, O CHRIST! exaltest Thou the low!
4
Vede-los Alemães, soberbo gado,
Que por tão largos campos se apascenta,
Do sucessor de Pedro, rebelado,
Novo pastor, e nova seita inventa:
Vede-lo em feias guerras ocupado,
Que ainda com o cego error se não contenta,
Não contra o soberbíssimo Otomano,
Mas por sair do jugo soberano.
See them, those Germans, stiff-neckt, herd-like horde 4
who browse the pastures of such wide extent,
to him rebellious who hath Peter’s ward,
choose a new Shepherd, a new Sect invent:
See them absorbed in ugly wars abhor’d
(nor yet with blinded errant ways content!)
fight, not the haught tyrannick Othoman,
but th’ apostolick yoke they fain unspan.
5
Vede-lo duro Inglês, que se nomeia
Rei da velha e santíssima cidade,
Que o torpe Ismaelita senhoreia,
(Quem viu honra tão longe da verdade?)
Entre as Boreais neves se recreia,
Nova maneira faz de Cristandade:
Para os de Cristo tem a espada nua,
Não por tomar a terra que era sua.
See the hard Englander proclaim his right 5
of that old Sacred City King to be,
where reigns and rules the base-born Ishmaelite
(Honour of Truth so nude who e’er did see!);
‘mid Boreal snows he taketh sad delight
to mould new mode of old Christianity:
For those of CHRIST he bares the ready brand,
not to rethrone Lord CHRIST in Holy Land.
6
Guarda-lhe por entanto um falso Rei
A cidade Hierosólima terrestre,
Enquanto ele não guarda a santa lei
Da cidade Hierosólima celeste.
Pois de ti, Galo indigno, que direi?
Que o nome Cristianíssimo quiseste,
Não para defendê-lo, nem guardá-lo,
Mas para ser contra ele, e derrubá-lo!
Holds for himself meanwhile a faithless Roy, 6
Jerusalem City, the terrestrial;
who holds not holy law, but dares defy
Jerusalem City, the celestial.
Then what of thee, vile Gaul! what need say I?
who wouldst thy vaunting self “Most Christian.” call,
not that such title wouldest ward and guard,
but that the name thro’ thee be smircht and mar’d!
7
Achas que tens direito em senhorios
De Cristãos, sendo o teu tão largo e tanto,
E não contra o Cinífio e Nilo, rios
Inimigos do antigo nome santo?
Ali se hão de provar da espada os fios
Em quem quer reprovar da Igreja o canto.
De Carlos, de Luís, o nome e a terra
Herdaste, e as causas não da justa guerra?
Thy claim to conquer Christian lands beseems 7
one who so much and such fair land doth claim?
why seek not Cinyps and the Nilus, streams
which ever hate that antique Holy Name?
There should they feel of steel the hard extremes,
who would the Church’s truthful song defame:
Of Charles, of Louis, name thou didst inherit
and lands; — why not of justest wars the merit?
8
Pois que direi daqueles que em delícias,
Que o vil ócio no mundo traz consigo,
Gastam as vidas, logram as divícias,
Esquecidos de seu valor antigo?
Nascem da tirania inimicícias,
Que o povo forte tem de si inimigo:
Contigo, Itália, falo, já submersa
Em Vícios mil, e de ti mesma adversa.
What shall I say of those who ‘mid delights, 8
which vilest Idlesse bare for manhood’s bane,
spend life and love to waste the gold that blights,
and clean forget their antient valiant strain?
Tyrannick hest to hostile act incites,
which virile races view as foulest stain:
To thee I speak, O It’aly! sunk by curse
of thousand sins, who dost thyself adverse.
9
Ó míseros Cristãos, pela ventura,
Sois os dentes de Cadmo desparzidos,
Que uns aos outros se dão a morte dura,
Sendo todos de um ventre produzidos?
Não vedes a divina sepultura
Possuída de cães, que sempre unidos
Vos vêm tomar a vossa antiga terra,
Fazendo-se famosos pela guerra?
Ah, wretched Christians, who such cross incur, 9
be you perchance the teeth by Cadmus sown,
that waste of brother-blood ye thus prefer
when all by self-same mother-womb are grown?
How durst you see you Holy Sepulture
owned by the bandogs who such feuds disown,
who come to hold
and have your antient ground,
their warlike prowess making them renown’d?
10
Vedes que têm por uso e por decreto,
Do qual são tão inteiros observantes,
Ajuntarem o exército inquieto
Contra os povos que são de Cristo amantes;
Entre vós nunca deixa a fera Aleto
De semear cizânias repugnantes:
Olhai se estais seguros de perigos,
Que eles e vós sois vossos inimigos.
Ye know ’tis now their usance and decree, 10
whereof they are observantists entire,
to levy restless hosts of Heathenry,
and harm the hearts that dear CHRIST’S love desire:
While fierce Alecto ‘mid your chivalry
for ever soweth tares of wrath and ire:
Look! an your eyes to risks like these ye close,
how they and you to you be deadliest foes.
11
Se cobiça de grandes senhorios
Vos faz ir conquistar terras alheias,
Não vedes que Pactolo e Hermo, rios,
Ambos volvem auríferas areias?
Em Lídia, Assíria, lavram de ouro os fios;
África esconde em si luzentes veias;
Mova-vos já sequer riqueza tanta,
Pois mover-vos não pode a Casa Santa.
If lust of lucre and of lordship led 11
your course to conquer far and foreign lands,
see you not Hermus and Pactolus shed
adown their fertile valleys aureate sands?
Assyria, Lydia, spin the golden thread,
lurk veins of sheeny ore in Africk strand:
Let these rich treasures sluggish sprites arouse
since rouse you not the rights of Holy House.
12
Aquelas invenções feras e novas
De instrumentos mortais da artilharia,
Já devem de fazer as duras provas
Nos muros de Bizâncio e de Turquia.
Fazei que torne lá às silvestres covas
Dos Cáspios montes, e da Cítia fria
A Turca geração, que multiplica
Na polícia da vossa Europa rica.
Those fierce projectiles, of our days the work, 12
murtherous engines, dire artilleries,
against Byzantine walls, where dwells the Turk,
should long before have belcht their batteries.
Oh, hurl it back in forest-caves to lurk
where Caspian crests and steppes of Scythia freeze,
that Turkish ogre-prog’eny multiplied
by op’ulent Europe’s policy and pride.
13
Gregos, Traces, Arménios, Georgianos,
Bradando-vos estão que o povo bruto
Lhe obriga os caros filhos aos profanos
Preceptos do Alcorão (duro tributo!)
Em castigar os feitos inumanos
Vos gloriai de peito forte e astuto,
E não queirais louvores arrogantes