De serdes contra os vossos muito possantes.
Georgians, Armenians, Grecians, hapless Thrace 13
cry on your name to quell th’ unspeakable horde
that dooms parforce their darlings to embrace
Alcoran’s precepts (tax of blood abhor’d!):
Prove, when you punish you inhuman race,
the Sage’s spirit and the Soldier’s sword;
nor covet arr’ogant praise and vainest boast
of vaunting valour o’er a brother-host.
14
Mas entanto que cegos o sedentos
Andais de vosso sangue, ó gente insana!
Não faltarão Cristãos atrevimentos
Nesta pequena casa Lusitana:
De África tem marítimos assentos,
É na Ásia mais que todas soberana,
Na quarta parte nova os campos ara,
E se mais mundo houvera, lá chegara.
But while ye blindly thirst to drink the blood 14
of your own veins, Oh hapless Race insane!
never hath failed Christian hardihood
in this our little household Lusitane:
Her seats are set by Africk’s salty flood;
she holds in Asian realms the largest Reign;
She sows and ears o’er all the Fourth new-found;
and there would hasten had but Earth more ground.
15
E vejamos entanto que acontece
Aqueles tão famosos navegantes,
Depois que a branda Vénus enfraquece
O furor vão dos ventos repugnantes:
Depois que a larga terra lhe aparece,
Fim de suas porfias tão constantes,
E dar novo costume e novo Rei.
Meanwhile behold we what new chance befel 15
the seld-seen Voyagers who Fame would earn,
Since gentle Venus deigned the gale to quell,
and futile furies of fierce winds to spurn;
when they the large-spread Land’s appearance hail,
of stubborn obst’inate toil the bound and bourne,
and where the Saviour’s seed they wend to sow,
enthrone new lords, new lights, new laws bestow.
16
Tanto que à nova terra se chegaram,
Leves embarcações de pescadores
Acharam, que o caminho lhe mostraram
De Calecu, onde eram moradores.
Para lá logo as proas se inclinaram,
Porque esta era a cidade das melhores
Do Malabar melhor, onde vivia
O Rei que a terra toda possuía.
Soon as along the stranger-shores they lay, 16
a fragile fleet that fishing people bare
they found, and by such guidance learnt the way
to Calecut, whose denizens they were:
Thither inclined the Prores without delay;
for ’twas the City fairest ‘mid the fair
in land of Malabar and where abode
the King, whose orders all that Region owe’d.
17
Além do Indo jaz, e aquém do Gange,
Um terreno muito grande e assaz famoso,
Que pela parte Austral o mar abrange,
E para o Norte o Emódio cavernoso.
Jugo de Reis diversos o constrange
A várias leis: alguns o vicioso
Mahoma, alguns os ídolos adoram,
Alguns os animais, que entre eles morri.
Outside of Indus, inside Ganges, lies 17
a wide-spread country famed enough of yore;
northward the peaks of caved Emodus rise,
and southward Ocean doth confine the shore:
She bears the yoke of various sovranties
and various eke her creeds: While these adore
vicious Mafóma, those to stock and stone
bow down, and eke to brutes among them grown.
18
Lá bem no grande monte, que cortando
Tão larga terra, toda Ásia discorre,
Que nomes tão diversos vai tomando,
Segundo as regiões por onde corre,
As fontes saem, donde vêm manando
Os rios, cuja grã corrente morre
No mar Índico, e cercam todo o peso
Do terreno, fazendo-o Quersoneso.
There, deep i’ the mighty Range, that doth divide 18
the land, and cutteth Asian continent,
whose crests are known by names diversified,
of ev’ry country where its trend is bent;
outburst the fountains, which commingling glide
in pow’erful streams, that die when travel-spent
in Indie Ocean, and the arms of these
convert the country to a Chersonese:
19
Entro um e outro rio, em grande espaço,
Sai da larga terra uma loira ponta
Quase piramidal, que no regaço
Do mar com Ceilão ínsula confronta;
E junto donde nasce o largo braço
Gangético, o rumor antigo conta
Que os vizinhos, da terra moradores,
Do cheiro se mantêm das finas flores.
Twixt either river from this breadth of base 19
puts forth the spacious land a long thin horn,
quasi-pyramidal, which in th’ embrace
of Ocean lies with Isle Ceylon toforn:
And, near the source that shows the natal place
of Gange, if olden Fame of Truth be born,
the happy Peoples of th’ adjacent bowers,
feed on the fragrance of the finest flowers;
20
Mas agora de nomes e de usança
Novos e vários são os habitantes:
Os Delis, os Patanes, que em possança
De terra e gente, são mais abundantes;
Decanis, Oriás, que a esperança
Têm de sua salvação nas ressonantes
Águas do Gange, e a terra de Bengala
Fértil de sorte que outra não lhe iguala.
But now of many usance, mode and name 20
are all the tribes who have and hold the ground;
Pathans and Delhis urge the proudest claim
to land and numbers, for they most abound:
Deccanis, Orias, who both misclaim
salvation in the sounding flood is found
by Ganges rolled; and here the land Bengal
is rich in sort her wealth exceedeth all.
21
O Reino de Cambaia belicoso
(Dizem que foi de Poro, Rei potente)
O Reino de Narsinga, poderoso
Mais de ouro e pedras que de forte gente.
Aqui se enxerga lá do mar undoso
Um monte alto, que corre longamente,
Servindo ao Malabar de forte muro,
Com que do Canará vive seguro.
The sovranty of bellicose Cambay, 21
(men say ’twas puissant Porus’ olden reign);
Narsinga’s Kingdom, with her rich display
of gold and gems but poor in martial vein:
Here seen yonside where wavy waters play
a range of mountains skirts the murmuring Main,
serving the Malabar for mighty mure,
who thus from him of Canara dwells secure.
22
Da terra os naturais lhe chamam Gate,
Do pé do qual pequena quantidade
Se estende uma fralda estreita, que combate
Do mar a natural ferocidade.
Aqui de outras cidades, sem debate,
Calecu tem a ilustre dignidade
De cabeça de Império rica e bela:
Samorim se intitula o senhor dela.
The country-people call this range the Ghaut, 22
and from its foot-hills scanty breadth there be
whose seaward-sloping coast-plain long hath fought
‘gainst Ocean’s natural ferocity:
Here o’er her neighbour Cities, sans a doubt,
Calecut claimeth highest dignity,
crown of the kingdom fair and flourishing:
Here he entitled “Samorim” is King.
23
Chegada a frota ao rico senhorio,
Um Português mandado logo parte
A fazer sabedor o Rei gentio
Da vinda sua a tão remota parte.
Entrando o mensageiro pelo rio,
Que ali nas ondas entra, a não vista arte,
A cor, o gesto estranho, o trajo novo
Fez concorrer a vê-lo todo o povo.
Arrived the Squadron off that wealthy land, 23
she sent a Portingall to make report,
so mote the Gentoo monarch understand
who hath arrived in his distant port:
A stream the Herald struck which, leaving land
entereth Ocean; and his novel sort,
his hue, his strange attire, his stranger-ways
made all the lieges gather round to gaze.
24
Entre a gente que a vê-lo concorria,
Se chega um Mahometa, que nascido
Fora na região da Berberia,
Lá onde fora Anteu obedecido:
Ou pela vizinhança já teria
O Reino Lusitano conhecido,
Ou foi já assinalado de seu ferro:
Fortuna o trouxe a tão loiro desterro.
Amid the swarming rout that thronged to view, 24
cometh a Moslem, who was born and bred
in distant Barb’ary ‘mid her barbarous crew,
there, where in antient day Antaeus sway’d:
Right well the Lusitanian realm he knew,
or by the scanty distance thither led,
or ‘signed by the Sword and Fortune’s brand,
to long-drawn exile in a foreign land.
25
Em vendo o mensageiro, com jocundo
Rosto, como quem sabe a língua Hispana,
Lhe disse: “Quem te trouxe a estoutro mundo,
Tão longe da tua pátria Lusitana?”
— “Abrindo, lhe responde, o mar profundo,
Por onde nunca veio gente humana,
Vimos buscar do Indo a grão corrente,
Por onde a Lei divina se acrescente.”
With jocund mien our Messenger to sound, 25
for-that he speaketh well the speech of Spain,
he thus:—” Who brought thee to this new world’s bound,
far from thy Fatherland, the Lusitan?”
“Op’ening,” respondeth he, “the seas profound
which never opened the race of man;
for Indus’ mighty flood we hither bore,
to win for Holy Faith one triumph more.”
26
Espantado ficou da grã viagem
O Mouro, que Monçaide se chamava,
Ouvindo as opressões que na passagem
Do mar, o Lusitano lhe contava:
Mas vendo enfim que a f orça da mensagem
Só para o Rei da terra relevava,
Lhe diz que estava f ora da cidade,
Mas de caminho pouca quantidade.
By the long voyage sore astonied stood 26
the Moor Monsayde, thus his name was known;
when told the Lusian how the terr’ible flood
had all the temper of a tyrant shown:
But, as that errand’s drift, he understood,
concern’d the Ruler of the Land alone,
he tells the stranger how the Monarch lay
outside the city at a little way:
27
E que, entanto que a nova lhe chegasse
De sua estranha vinda, se queria,
Na sua pobre casa repousasse,
E do manjar da terra comeria,
E depois que se um pouco recreasse,
Com ele para a armada tornaria,
Que alegria não pode ser tamanha,
Que achar gente vizinha em terra estranha.
And that while travelled to the royal ear 27
news of that advent strange, if judged he meet,
repairing to his humble dwelling near,
‘twere well refreshment of the land to eat;
whence by short rest restored and good cheer,
the twain together might regain the Fleet;
for life has nothing like the joy and glee
wherewith near neighbours meet in far countrie.
28
O Português aceita de vontade
O que o ledo Monçaide lhe oferece;
Como se longa fora já a amizade,
Com ele come, e bebe, e lhe obedece.
Ambos se tornam logo da cidade
Para a frota, que o Mouro bem conhece;
Sobem à capitania; e toda a gente
Monçaide recebeu benignamente.
The Portingall, accepting not ingrate 28
what glad Monsayde for his guest deviseth;
as though their friendship were of olden date,
eats, drinks, and does whate’er the host adviseth:
Now from the City wend they, making straight
towards the Squadron which the Moor agniseth;
and scale the Flagship’s flank, where all the crew
with kindly glances Moor Monsaydé view.
29
O Capitão o abraça em cabo ledo,
Ouvindo clara a língua de Castela;
Junto de si o assenta, e pronto e quedo,
Pela terra pergunta, e cousas dela.
Qual se ajuntava em Ródope o arvoredo,
Só por ouvir o amante da donzela
Eurídice, tocando a lira de ouro,
Tal a gente se ajunta a ouvir o Mouro.
Embraceth him our Chief, whom hugely please 29
the well-remembered accents of Castile;
seateth him near, and asketh him at ease
anent the land and folk therein that dwell.
Even as flockt on Rhodopé the trees,
to hear the Lover of the Damosel
Eurydice, his lyre of gold resound,
the Folk to hearken flockt the Moor around.
30
Ele começa: “Ó gente, que a natura
Vizinha fez de meu paterno ninho,
Que destino tão grande ou que ventura
Vos trouxe a cometerdes tal caminho?
Não é sem causa, não, oculta e escura,
Vir do longínquo Tejo e ignoto Minho,
Por mares nunca doutro lenho arados,
A Reinos tão remotos e apartados.
Then he: “O Nation! who by Nature’s hand 30
was ‘stablished neighbour to my natal nide,
what mighty Chance, what Destiny’s command
upon such voyage drave you far and wide?
Not causeless, no; though darkly, deeply plan’d
from unknown Minho, distant Tagus-tide,
your course o’er Oceans aye by keel unplow’d
to Reigns such distance and such dangers shroud.
31
“Deus por certo vos traz, porque pretende
Algum serviço seu por vós obrado;
Por isso só vos guia, e vos defende
Dos inimigos, do mar, do vento irado.
Sabei que estais na Índia, onde se estende
Diverso povo, rico e prosperado
De ouro luzente e fina pedraria,
Cheiro suave, ardente especiaria.
“God bringeth you, pardie! for He intendeth 31
some special service which your works await:
For this alone He guideth and defendeth
from en’emies, Ocean and the winds’ wild hate.
Know, that ye look on Inde wherein extendeth
a world of nations, rich and fortunate
in lucent gold, and gems of princely price,
and odorif’erous fumes and biting spice.
32
“Esta província, cujo porto agora
r /> Tomado tendes, Malabar se chama:
Do culto antigo os ídolos adora,
Que cá por estas partes se derrama:
De diversos Reis é, mas dum só
Noutro tempo, segundo a antiga fama;
Saramá Perimal foi derradeiro
Rei, que este Reino teve unido e inteiro.
“This Province, in whose Port your ships have tane 32
refuge, the Malabar by name is known;
its antique rite adoreth idols vain,
Idol-religion being broadest sown:
Of divers Kings it is; but ’twas the Reign,
as olden legend saith, of only one,
hight the last King was Sarma Perimal,
who ‘neath one sceptre held the Kingdom all.
33
“Porém, como a esta terra então viessem
De lá do seio Arábico outras gentes,
Que o culto Mahomético trouxessem,
No qual me instituíram meus parentes,
Sucedeu que pregando convertessem
O Perimal: de sábios e eloquentes,
Fazem-lhe a lei tomar com fervor tanto,
Que pressupôs de nela morrer santo.
“But as this region there and then was sought 33
by other races from the Arab Bight,
who Mahometic worship with them brought, —
the same my parents planted in my sprite, —
it hapt their wisdom and their pray’ers so wrought
upon the Perimal; and lit such light
that to the Faith convert with fervour high,
he only hoped a Saint in it to die.
34
“Naus arma, e nelas mete curioso
Mercadoria, que ofereça rica,
Para ir nelas a ser religioso,
Onde o profeta jaz, que a Lei publica;
Antes que parta, o Reino poderoso
Com os seus reparte, porque não lhe fica
Herdeiro próprio, faz os mais aceitos
Ricos de pobres, livres de sujeitos.
“He mans his ships and loads with merchandise 34
and many an offering curious, rare and rich,
and there religious life to lead he hies
where lies our Prophet who our Law did preach:
But ere abandon’d home, his satrapies,
that lacked lawful heir, he parts to each
and all he loved: Hence his intimates he
from want made wealthy, and from serfdom free.
35
“A um Cochim, e a outro Cananor,
A qual Chalé, a qual a ilha da Pimenta,
A qual Coulão, a qual dá Cranganor,
E os mais, a quem o mais serve e contenta,
Um só moço, a quem tinha muito amor,
Depois que tudo deu, se lhe apresenta:
Para este Calecu somente fica,
Cidade já por trato nobre e rica.
“To this Cochim, to that falls Cananor, 35
one hath Chale, another th’ Isle Piment,
a third Coulam, a fourth takes Cranganor,
Luis de Camoes Collected Poetical Works Page 64