Luis de Camoes Collected Poetical Works

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Luis de Camoes Collected Poetical Works Page 70

by Luis de Camoes


  arms, armour, ships, and men would send anew

  Mano’el, the King who rules the Realm sans peer;

  that to his yoke and law he would subdue

  the globed earth, and e’en the wat’ery sphere;

  himself was nothing but the dil’igent hand

  that pioneer’d the road to Orient-land.

  58

  Falar ao Rei gentio determina,

  Por que com seu despacho se tornasse,

  Que já sentia em tudo da malina

  Gente impedir-se quanto desejasse.

  O Rei, que da notícia falsa e indina

  Não era de espantar se se espantasse,

  Que tão crédulo era em seus agouros,

  E mais sendo afirmados pelos Mouros,

  The Gentoo Monarch forth he fares to find, 58

  that with dismissal he may wend his ways;

  seeing already how the Moor’s black mind

  would baulk his heart’s desire by long delays.

  The King, who if by tales of forged kind

  amazed were, ’twould not so much amaze,

  confiding fully in his Augurs’ troth,

  confirmed too by Moormen’s wordy froth:

  59

  Este temor lhe esfria o baixo peito.

  Por outra parte a força da cobiça,

  A quem por natureza está sujeito,

  Um desejo imortal lhe acende e atiça:

  Que bem vê que grandíssimo proveito

  Fará, se com verdade e com justiça

  O contrato fizer por longos anos,

  Que lhe comete o Rei dos Lusitanos.

  Feels Fear a-freezing his ignoble breast: 59

  Burneth on other hand a base desire,

  which ever held his spirit in arrest,

  flaming with Lucre-lust’s unquench’able Fire:

  The richest profit sees he manifest

  appear in future, if with truth entire,

  he make just contract and its consequent gain,

  for long years offered by our Lusian Reign.

  60

  Sobre isto, nos conselhos que tomava,

  Achava muito contrários pareceres;

  Que naqueles com quem se aconselhava

  Executa o dinheiro seus poderes.

  O grande Capitão chamar mandava,

  A quem chegado disse:— “Se quiseres

  Confessar-me a verdade limpa e nua,

  Perdão alcançarás da culpa tua.

  Hereon the councillors whom the King most prized 60

  different counsels and opinions dealt;

  for those whereby he wont to be advised

  money’s almighty magick might had felt.

  To call our valiant Captain he devised,

  and him when come thus spake:—” Now, an thou wilt

  here in my presence own the rude clean truth,

  thy felon actions still shall claim my ruth:

  61

  Fala do Samorim ao Gama

  “Eu sou bem informado que a embaixada

  Que de teu Rei me deste, que é fingida;

  Porque nem tu tens Rei, nem pátria amada,

  Mas vagabundo vás passando a vida;

  Que quem da Hespéria última alongada,

  Rei ou senhor de insânia desmedida,

  Há de vir cometer com naus e frotas

  Tão incertas viagens e remotas?

  “The message, say they and I understand, 61

  thy King hath sent me, is a falsehood vain;

  no King doth own thee, ownest thou no land,

  but leadest vaguing life upon the Main:

  Say! who from ultimate Hispanian strand,

  or King or Lord past hope of cure insane

  would send his navies or one ship to stray

  over such distant Ocean’s dubious way?

  62

  “E se de grandes Reinos poderosos

  O teu Rei tem a régia majestade,

  Que presentes me trazes valerosos,

  Sinais de tua incógnita verdade?

  Com peças e dons altos, sumptuosos,

  Se lia dos Reis altos a amizade;

  Que sinal nem penhor não é bastante

  As palavras dum vago navegante.

  “And if great wealthy kingdoms doth thy King 62

  sway, as thou say’est with kingly majesty,

  what rich rare presents do I see thee bring

  earnests of doubtful unknown verity?

  The splendid robe, the costly offering

  betwixt high King and King link amity:

  I hold no valid sign, no certain pledge,

  the pleas a vagrant seaman may allege.”

  63

  “Se porventura vindes desterrados,

  Como já foram homens de alta sorte,

  Em meu Reino sereis agasalhados,

  Que toda a terra é pátria para o forte;

  Ou se piratas sois ao mar usados,

  Dizei-mo sem temor de infâmia ou morte,

  Que por se sustentar em toda idade,

  Tudo faz a vital necessidade.”

  “If as hath hapt to many a high-born Brave, 63

  perchance in exile be your lot to roam,

  my land shall lend you refuge and shall save;

  for ev’ery country is the strong man’s home:

  If ye be Pyrats housed upon the wave,

  own it me, fear nor infamy nor doom;

  for in all ages life to save must be

  the primal law of life’s necessity.”

  64

  Isto assim dito, o Gama, que já tinha

  Suspeitas das insídias que ordenava

  O Mallomético ódio, donde vinha

  Aquilo que tão mal o Rei cuidava,

  Com uma alta confiança, que convinha,

  Com que seguro crédito alcançava,

  Que Vénus Acidália lhe influía,

  Tais palavras do sábio peito abria:

  He thus: The Gama, who divin’d the game 64

  perfidious, with a cunning treason play’d

  by jealous Mahometick hearts, whence came

  the foul suspicions which the King misled:

  With high-soul’d confidence, as did beseem,

  commanding credence which he merited,

  bowing to Venus Acidalia’s hest

  proffered this answer from his prudent breast: —

  65

  “Se os antigos delitos, que a malícia

  Humana cometeu na prisca idade,

  Não causaram que o vaso da niquícia,

  Açoute tão cruel da Cristandade,

  Viera pôr perpétua inimicícia

  Na geração de Adão, coa falsidade,

  Ó poderoso Rei da torpe seita,

  Não conceberas tu tão má suspeita.

  “If man’s original Sin in hoary Time, 65

  whereby sore fall became our hapless fate,

  had never caused the cup of deadly crime, —

  that cruel scourge of every Christian state, —

  with enmity to brim in every clime

  for Adam’s sons with falsity innate

  (O King sublime!) of that foul turpid sect,

  ne’er hadst thou held me of such deed suspect.

  66

  “Mas porque nenhum grande bem se alcança

  Sem grandes opressões, e em todo o feito

  Segue o temor os passos da esperança,

  Que em suor vive sempre de seu peito,

  Me mostras tu tão pouca confiança

  Desta minha verdade, sem respeito

  Das razões em contrário que acharias

  Se não cresses a quem não crer devias.

  “But, sithence nought is won or good or high 66

  sans stumbling-blocks, and sees each nobler deed

  on fair Hope’s footstep Fear aye following nigh,

  which on its bosom-sweat delights to feed;

  meseems thou deignest little to rely

  on this my very truth, nor takest heed


  of other reasons, which regard thou must

  didst thou not trust to men unworthy trust.

  67

  “Porque, se eu de rapinas só vivesse,

  Undívago, ou da pátria desterrado,

  Como crês que tão longe me viesse

  Buscar assento incógnito e apartado?

  Por que esperanças, ou por que interesse

  Viria experimentando o mar irado,

  Os Antarcticos frios, e os ardores

  Que sofrem do Carneiro os moradores?

  “For, an I be a Robber rapine-fed, 67

  undivagous, far banisht from mine own,

  how can I, thinkest thou, so far have sped

  to seek these seats unseen, these realms unknown?

  By what false Hope, what love of profit led

  should I ‘mid angry seas my lot have thrown,

  Antarctick rigours and the fires of air,

  which they who dwell beneath the Ram must bear?

  68

  “Se com grandes presentes de alta estima

  O crédito me pedes do que digo,

  Eu não vim mais que a achar o estranho clima

  Onde a natura pôs teu Reino antigo.

  Mas, se a Fortuna tanto me sublima

  Que eu torne à minha pátria e Reino amigo,

  Então verás o dom soberbo e rico,

  Com que minha tornada certifico.

  “If thou demand that gifts of high degree 68

  must the good credit of my words maintain,

  I came but stranger climes and skies to see

  where Nature chose to set thine antient reign:

  But if my Fortune grant such good to me

  home to return and Fatherland regain,

  By rich and splendid presents thou shalt learn

  the ‘assured tidings of my glad return.

  69

  “Se te parece inopinado feito,

  Que Rei da última Hespéria a ti me mande,

  O coração sublime, o régio peito,

  Nenhum caso possível tem por grande.

  Bem parece que o nobre e grã conceito

  Do Lusitano espírito demande

  Maior crédito, e fé de mais alteza,

  Que creia dele tanta fortaleza.

  “If this my visit Chance inop’inate seem, 69

  that King should send from far Hesperian strand,

  know that you noble heart and bosom deem

  no geste, no possible feat too great and grand.

  Well seems it fitting, that the thought supreme

  of Lusian spirit should at least command

  larger belief and faith of loft’ier flight,

  and hold it boundless in its height and might.

  70

  “Sabe que há muitos anos que os antigos

  Reis nossos firmemente propuseram

  De vencer os trabalhos e perigos,

  Que sempre às grandes coisas se opuseram;

  E, descobrindo os mares inimigos

  Do quieto descanso, pretenderam

  De saber que fim tinham, e onde estavam

  As derradeiras praias que lavavam.

  “Know that long ages passed, since our old 70

  Kings with a settled purpose ‘gan propose

  to conquer toils and travails manifold,

  which aye to noble plans their pow’er oppose.

  They oped hostile seas that fain withhold

  from mortal man the boon of soft repose;

  they willed to trace their bounds, to track their shore, —

  the farthest margent where their billows roar.

  71

  “Conceito digno foi do ramo claro

  Do venturoso Rei, que arou primeiro

  O mar, por ir deitar do ninho caro

  O morador de Abila derradeiro.

  Este, por sua indústria e engenho raro,

  Num madeiro ajuntando outro madeiro,

  Descobrir pôde a parte, que faz clara

  De Argos, da Hidra a luz, da Lebre e da Ara.

  “Conceit right worthy of his branch so blest 71

  that venturous King, who plowed in primal rank

  the waves and drave from out his well-loved nest

  the last possessor of Mount Ab’yla’s flank:

  He by rare Genius, toils that never rest,

  unto one plank conjoining other plank,

  disclosed the parts, where shine in clearest air

  Argo with Hydra, Arawith the Hare.

  72

  “Crescendo com os sucessos bons primeiros

  No peito as ousadias, descobriram

  Pouco e pouco caminhos estrangeiros,

  Que uns, sucedendo aos outros, prosseguiram.

  De África os moradores derradeiros

  Austrais, que nunca as sete flamas viram,

  Foram vistos de nós, atrás deixando

  Quantos estão os Trópicos queimando.

  “These early seeds abundant harvest bore, 72

  and waxt our bosoms braver till we came

  little by little stranger paths t’ explore,

  developing each an antecedent aim:

  The latest dwellers on the Blackmoor shore

  Austral, whose eyne ne’er saw the Sev’enfold Flame,

  were seen by us when left behind in turn

  whatever peoples ‘neath the Tropick burn.

  73

  “Assim com firme peito, e com tamanho

  Propósito, vencemos a Fortuna,

  Até que nós no teu terreno estranho

  Viemos pôr a última coluna.

  Rompendo a força do líquido estanho,

  Da tempestade horrífica e importuna,

  A ti chegamos, de quem só queremos

  Sinal, que ao nosso Rei de ti levemos.

  “Thus with firm bosom, fixt resolve to win, 73

  we vanquisht Fortune and we snatcht the prize,

  till harbour’d this thy new-found kingdom in

  we taught the crowning Column here to rise:

  Cleaving perforce clean through the liquid tin,

  horrible Tempests’ importunities,

  to thee we come, and only pray from thee

  some sign and signal which our King shall see.

  74

  “Esta é a verdade, Rei; que não faria

  Por tão incerto bem, tão fraco prémio,

  Qual, não sendo isto assim, esperar podia,

  Tão longo, tão fingido e vão proêmio;

  Mas antes descansar me deixaria

  No nunca descansado e fero grêmio

  Da madre Tethys, qual pirata inico,

  Dos trabalhos alheios feito rico.

  “This, King, be truth: Nor deem that I would make, — 74

  for such uncertain good, such petty gain,

  which, b’eing my words untrue, mote be the stake, —

  such long proemium forged, false and vain.

  Liefer would I my rest unending take

  on the fierce restless bosom of the Main

  by mother Thetis rockt, a Pyrat dour

  who makes his wealth by making others poor.

  75

  “Assim que, ó Rei, se minha grã verdade

  Tens por qual é, sincera e não dobrada,

  Ajunta-me ao despacho brevidade,

  Não me impeças o gosto da tornada.

  E, se ainda te parece falsidade,

  Cuida bem na razão que está provada,

  Que com claro juízo pode ver-se,

  Que fácil é a verdade de entender-se.”

  “If then, Oh King! this honest truth of mine 75

  thou take for what it is, one-fold, sincere,

  aid us, to our despatch thy heart incline

  and gust of glad return to mar forbear.

  But an my tale appear some feigned design,

  heed thou my pleadings proved so fair and clear,

  as seen by Judgment-lights that never fail,

  for Truth is strong and Truth shall aye prevail.”
/>   76

  A tento estava o Rei na segurança

  Com que provava o Gama o que dizia;

  Concebe dele certa confiança,

  Crédito firme em quanto proferia.

  Pondera das palavras a abastança,

  Julga na autoridade grão valia,

  Começa de julgar por enganados

  Os Catuais corruptos, mal julgados.

  Th’ attentive Monarch felt assured content 76

  when thus Da Gama proved his discourse:

  Conceives in him reliance confident,

  and the firm trust that lent his language force:

  He weighs of every word the full intent

  pond’ering the pleading from such trusty source;

  and ‘gins to hold as men by self deceived

  those caitiff Cat’uals who had bribes received.

  77

  Juntamente a cobiça do proveito,

  Que espera do contrato Lusitano,

  O faz obedecer e ter respeito

  Com o Capitão, e não com o Mauro engano.

  Enfim ao Gama manda que direito

  As naus se vá, e, seguro de algum dano,

  Possa a terra mandar qualquer fazenda,

  Que pela especiaria troque e venda.

  Jointly his lucre-lust claims firm effect, 77

  which Lusian contract shall he hopes ensure;

  Hope bids him listen, and far more affect

  the Captain’s honour than the crafty Moor;

  In fine he biddeth Gama hie direct

  aboard, and thence from hurt and harm secure

  the fittest stuffs for traffick shoreward send

  against his spicey stores to truck or vend.

  78

  Que mande da fazenda, enfim, lhe manda,

  Que nos Reinos Gangéticos faleça;

  Se alguma traz idónea lá da banda

  Donde a terra se acaba e o mar começa.

  Já da real presença veneranda

  Se parte o Capitão, para onde peça

  Ao Catual, que dele tinha cargo,

  Embarcação, que a sua está de largo.

  The stuffs to send, in fine, he gives command, 78

  which in Gangetick realms the rarest be

  if aught of value brought he from the land,

  where ends the shore and where begins the sea.

  Now from the Royal presence venerand

  the Captain seeks the port to make his plea

  before the Cat’ual honored with his charge,

  for loan of boat as his were all at large.

  79

  Embarcação que o leve às naus lhe pede;

  Mas o mau Regedor, que novos laços

  Lhe maquinava, nada lhe concede,

  Interpondo tardanças e embaraços.

  Com ele parte ao cais, por que o arrede

  Longe quanto puder dos régios paços,

  Onde, sem que seu Rei tenha notícia,

  Faça o que lhe ensinar sua malícia.

  For boat whereby to board his ship he pleadeth: 79

  Yet the bad Regent plotting novel snare

 

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