Duff
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dentes:
— Por que estam os indo em bora tão cedo? B, são só, tipo, nove e pouquinho
da noite.
Jessica, em burrada no banco de trás, enrolou-se em um a m anta antiga,
com o se estivesse em um casulo. (O aquecim ento do m eu carro era um lixo,
raram ente funcionava, então eu deixava algum as m antas no banco de trás.)
— Eu discuti com um a pessoa — expliquei, enfiando a chave na ignição
com m ais força do que o necessário. — Atirei m inha Coca-Cola na cara dele, e
não quis ficar por ali esperando a resposta.
— Com quem ? — perguntou Casey.
Eu estava com m edo dessa pergunta, porque sabia a reação que as m eninas
teriam .
— Wesley Rush.
Dois suspiros sonhadores foram a única resposta que recebi.
— Ah, fala sério — reclam ei. — Wesley é um babaca. Eu não suporto ele.
Dorm e com qualquer coisa que se m exa e guarda o cérebro dentro da calça, o
que significa que tudo ali é m inúsculo.
— Duvido m uito — disse Casey, suspirando m ais um a vez. — Meu Deus, B,
só você pra encontrar algum a coisa errada em Wesley Rush.
Eu a encarei com irritação quando virei a cabeça para dar ré no
estacionam ento.
— Ele é um im becil.
— Isso não é verdade — retrucou Jessica. — Jeanine contou que ele falou
com ela recentem ente, em um a festa em que estava com a Vikki e a Angela.
Disse que Wesley se aproxim ou e se sentou ao lado dela e que foi bastante gentil.
Aquilo fazia sentido. Jeanine, sem som bra de dúvida, era a Duff quando
estava com Angela e Vikki. Eu m e perguntei qual delas foi em bora com Wesley
naquela noite.
— Ele tem charm e — acrescentou Casey. — Você só está se com portando
com o a Pequena Miss Cética, com o sem pre. — Ela m e deu um sorriso gentil do
outro lado da cabine. — Mas o que diabos ele fez pra fazer você j ogar sua Coca-
Cola nele? — Agora ela parecia preocupada. Até que enfim . — Ele disse algum a
coisa errada pra você, B?
— Não — respondi, m entindo. — Não foi nada. Ele só m e tirou do sério.
Duff.
A palavra piscava em m inha m ente quando acelerei pela rua 5. Não
consegui contar às m inhas am igas sobre o novo e m aravilhoso xingam ento que
acabara de ser incorporado ao m eu vocabulário, m as, quando vi m eu reflexo no
espelho retrovisor, a fala de Wesley de que eu era a acom panhante (ou m elhor, a
seguidora) pouco atraente e indesej ável parecia correta. O corpo perfeito, em
am pulheta, e os olhos castanhos e doces de Jessica. A pele perfeita e as longas
pernas de Casey. Eu não poderia m e com parar a nenhum a delas.
— Bom , então digo que devem os ir a outra festa, j á que ainda é tão cedo. —
sugeriu Casey. — Soube de um a em Oak Hill. Alguns universitários estão em
casa para as férias de Natal e decidiram fazer um a farrinha. Angela m e falou
dela hoj e de m anhã. O que vocês acham , vam os?
— Sim ! — Jessica se aprum ou debaixo da m anta. — Claro que devem os ir!
Nas festas universitárias há garotos universitários. Isso não seria legal, Bianca?
Dei um suspiro.
— Não. Pra ser sincera, não.
— Ah, pelo am or de Deus. — Casey se inclinou na m inha direção e sacudiu
m eu braço. — Dessa vez não vam os dançar, tudo bem ? E Jess e eu prom etem os
m anter todos os garotos lindos longe de você, j á que evidentem ente você os
odeia. — Ela sorriu, tentando m e fazer ficar de bom hum or.
— Não odeio os garotos lindos — falei. — Só aquele. — Depois de um
instante, suspirei e peguei um retorno, para seguir pela rua principal. — Tudo
bem , vam os. Mas vocês duas m e devem um sorvete. Duas bolas.
— Fechado.
capítulo 2
Não há nada m ais tranquilizador do que a paz de um sábado à noite — ou um a
m adrugada do dom ingo. Os roncos abafados de papai ecoavam pelo corredor,
m as o resto da casa parecia bem quieto quando entrei rastej ando, algum a hora
depois da um a da m anhã. Ou talvez eu tivesse ficado surda com o volum e da
m úsica na festa de Oak Hill. Sinceram ente, a ideia de perder a audição não m e
incom odava m uito. Se isso significasse que nunca m ais ouviria techno de novo,
tudo bem por m im .
Tranquei a porta atrás de m im e atravessei a sala escura e vazia. Vi o
cartão-postal sobre a m esa de centro, enviado sabe-se lá de qual cidade m am ãe
estava agora, m as nem m e dei ao trabalho de lê-lo. Ele ainda estaria ali pela
m anhã, e eu estava m orta de cansaço, então m e arrastei escada acim a até o m eu
quarto.
Reprim indo um bocej o, pendurei o casaco nas costas da m inha cadeira e
m e j oguei na cam a. A enxaqueca com eçou a incom odar m enos quando tirei
m eu All Star e chutei-o para o outro lado do quarto. Eu estava com pletam ente
exausta, m as m eu TOC gritava m eu nom e. A pilha de roupas lim pas no chão,
j unto ao pé da cam a, precisava ser dobrada antes que eu pudesse finalm ente
dorm ir.
Com cuidado, peguei cada peça de roupa e a dobrei com um a precisão
em baraçosa. Em seguida, fiz pilhas separadas para cam isas, j eans e roupa
íntim a. Por algum m otivo, o ato de dobrar a roupa am assada m e acalm ava.
Enquanto fazia aquelas pilhas perfeitas, m inha m ente ficou m ais clara, m eu
corpo relaxou, e a irritação que eu sentia, depois de um a noite de m úsica alta,
repleta de babacas ricos que só pensavam em sexo, dim inuiu. A cada peça
dobrada em sua pilha, eu ia renascendo.
Depois que term inei de dobrar tudo, m e levantei deixando as pilhas
separadas no chão. Tirei o suéter e o j eans, que fediam a um a noitada sufocante,
e os j oguei no cesto de roupas suj as no canto do m eu quarto. O banho podia
esperar até am anhã de m anhã. Estava m uito cansada para enfrentar o chuveiro.
Antes de m e enfiar debaixo dos lençóis, dei um a boa espiada no espelho de
corpo inteiro na parede do quarto. Exam inei m eu reflexo com novos olhos, sob
um novo ponto de vista. Cabelo castanho-averm elhado incontrolavelm ente
cacheado.
Nariz
com prido.
Coxas
grandes.
Peitos
pequenos.
Sim .
Definitivam ente um corpo de Duff. Com o eu não tinha notado?
Quer dizer, nunca m e achei particularm ente atraente, e não era difícil notar
que Casey e Jessica, loiras e m agras, eram belíssim as, m as m esm o assim … ser
m eu o papel da am iga feia daquela dupla de garotas incríveis nunca tinha
passado pela m inha cabeça. Graças a Wesley Rush, agora eu podia encarar essa
realidade.
Às vezes, a ignorância é um a bênção.
Puxei o cobertor até a altura do queixo, escondendo m eu corpo nu da análise
do espelho. Wesley era a prova viva de que a beleza é um a característica
superficial, então por que suas palavras m e afetaram tanto? Eu era inteligente.
Era um a pessoa bacana. Então, por que m e im portar se alguém m e considerava
um a Duff? Se fosse atraente, eu teria de aguentar suj eitos com o Wesley dando
em cima de mim. Credo! Por esse lado, ser um a Duff tinha lá suas vanta
gens, não
tinha? Ser pouco atraente não era assim tão horroroso.
Maldito Wesley Rush! Não conseguia aceitar que ele tinha feito com que eu
m e preocupasse com um a coisa idiota, sem sentido e fútil.
Fechei os olhos. Não pensaria nisso am anhã. Não pensaria nessa palhaçada
de Duff nunca mais.
O dom ingo foi fantástico: agradável, tranquilo, um a delícia do com eço ao fim .
Óbvio, as coisas costum avam ser bem calm as quando a m inha m ãe não estava
em casa. Quando ela estava, o lugar era m ais barulhento. Sem pre tinha m úsica
ou risadas ou algum a bagunça acontecendo. Mas parecia que ela ficava em casa
pouco m ais de alguns m eses seguidos e, no m om ento em que saía, o silêncio
retornava. Com o eu, m eu pai não era lá um a pessoa m uito sociável. Ele
costum ava ficar enfiado no trabalho ou assistindo à televisão. E isso significava
que a casa da fam ília Piper era bem silenciosa.
E, na m anhã seguinte a um a noitada barulhenta e infernal, um a casa
tranquila era o m ais próxim o que eu poderia chegar do céu.
Mas a segunda-feira foi um a droga.
Todas as segundas-feiras são um a droga, claro, m as aquela segunda-feira
realmente foi horrenda. Com eçou logo cedo, quando Jessica apareceu na aula de
espanhol com o rosto m arcado por lágrim as e m áscara para cílios.
— Jessica, o que foi? — perguntei. — O que aconteceu? Está tudo bem ?
Eu adm ito; sem pre fiquei m aluca nas poucas vezes em que Jessica chegava
à sala de aula parecendo estar m enos do que incrivelm ente feliz. Quero dizer,
Jessica estava sem pre saltitante, sem pre dando risadinhas. Por isso, quando ela
chegou com um ar tão deprim ido, fiquei apavorada.
Jessica sacudiu a cabeça tristem ente e desabou em sua carteira.
— Tudo bem , m as eu… eu não posso ir ao Baile de Boas-Vindas! — Mais
lágrim as brotaram em seus grandes olhos cor de chocolate. — Minha m ãe m e
proibiu!
Era isso? Ela m e deu esse susto por causa daquela bobagem de Baile de
Boas-Vindas?
— Por que sua m ãe proibiu? — perguntei, ainda na tentativa de ser
sim pática.
— Estou de castigo. — Jessica deu um a fungadela. — Ela viu m eu boletim
no m eu quarto hoj e cedo, descobriu que fui reprovada em quím ica e teve um
ataque! É m uito, m uito inj usto! O Baile de Boas-Vindas da equipe de basquete é,
tipo, m eu baile favorito do ano… depois do Baile de Form atura e do Baile de
Boas-Vindas Sadie Hawkins, em que as m eninas tiram os m eninos pra dançar…
Ah, e do Baile de Boas-Vindas da equipe de futebol.
Baixei o rosto e olhei para ela fazendo graça.
— Uau, você tem quantos bailes favoritos?
Jessica não respondeu. Nem riu.
— Sinto m uito, Jessica. Sei que deve ser terrível pra você… Mas eu tam bém
não vou. — Não m encionei que considerava bailes escolares um processo
degradante, ou que eram um desperdício enorm e de tem po e dinheiro. Jessica j á
conhecia m inha opinião sobre o assunto, e não achei que falar de novo sobre isso
faria com que ela se sentisse m elhor. Mas eu estava bem feliz em saber que não
seria a única garota a perder a festa.
— E se fizéssem os assim : vou pra sua casa e assistim os film es a noite toda.
Você acha que sua m ãe deixaria?
Jessica concordou e enxugou os olhos com a m anga da blusa.
— Sim — disse ela. — Minha m ãe gosta de você. Acha que você é um a boa
influência pra m im . Ela vai deixar. Obrigada, Bianca. Podem os assistir a Desejo
e reparação outra vez? Ou j á está cansada desse film e?
Sim , eu estava m uito cansada dos rom ances bobocas pelos quais a Jessica
desm aiava, m as podia aguentar. Sorri para ela.
— Nunca m e canso do Jam es McAvoy. Podem os assistir a Amor e inocência
se você quiser. Farem os um a sessão dupla.
Ela sorriu — até que enfim — no m esm o instante em que a professora foi
para a frente da sala e com eçou a ordenar obsessivam ente os lápis sobre a m esa,
antes de fazer a cham ada. Jessica deu um a olhada na professora m agricela.
Quando olhou de volta para m im , novas lágrim as brilharam em seus olhos
castanho-escuros.
— Sabe o que é pior, Bianca? — sussurrou. — Eu ia convidar Harrison para
ir com igo. Agora, tenho de esperar até o Baile de Form atura pra cham á-lo.
Em respeito ao estado frágil em que Jess se encontrava, decidi não lem brá-
la de que Harrison não se interessaria por causa dos peitos dela, digam os assim …
os grandes peitos dela. Em vez disso, eu disse:
— Eu sei. Sinto m uito, Jessica.
Assim que aquela pequena crise foi superada, a aula de espanhol correu
tranquila. As lágrim as da Jessica secaram , e quando o sinal tocou ela estava rindo
feito um a boba enquanto Angela, um a de nossas am igas, contava sobre seu novo
nam orado. Descobri que tinha conseguido um A na m inha últim a prueba de
vocabulario. Além disso, entendi com o conj ugar verbos regulares no presente do
subj untivo. Realm ente estava de m uito bom hum or quando Jessica, Angela e eu
deixam os a sala de aula.
— E ele trabalha no cam pus — tagarelava Angela enquanto abríam os
cam inho para atravessar o corredor lotado.
— Onde ele estuda? — perguntei.
— Na Faculdade Com unitária de Oak Hill. — Ela pareceu um pouco
envergonhada e, no m esm o instante, acrescentou: — Ele vai tirar um diplom a lá,
antes de ir pra algum a universidade. E a FCOH não é um a faculdade ruim nem
nada disso.
— Eu tam bém vou estudar lá — disse Jessica. — Não quero m e m udar pra
m uito longe de casa.
Jessica e eu éram os o oposto um a da outra, e isso às vezes era m eio
engraçado. Você sem pre poderia saber o que um a de nós ia fazer escolhendo o
contrário do que a outra tinha feito. Eu queria era dar o fora da Ham ilton o m ais
rápido possível. Term inada a form atura, no instante seguinte eu iria a Nova York
para cursar a universidade.
Mas a ideia de viver tão longe de Jessica — não vê-la saltitante por aí todos
os dias nem ouvi-la m atraqueando sobre bailes e m eninos gay s — subitam ente
m e assustou. Eu não sabia m uito bem com o lidar com isso. Jessica e Casey eram
um a espécie de ponto de equilíbrio para m im . Não tinha certeza de que
encontraria m ais alguém disposto a aturar o m eu cinism o quando fosse em bora
da cidade.
— Precisam os ir pra aula de quím ica, Jess — disse Angela, enquanto
soprava sua franj a com prida e escura para longe dos olhos. — Você sabe com o o
sr. Rollins fica quando a gente se atrasa.
Elas dispararam na direção do departam ento de ciência, e eu desci o
corredor para a aula de organização política avançada. Minha m ente divagava
por outros lugares, por um futuro sem m inhas m elhores am igas para m e m anter
nos eixos. Nunca tinha pensado nisso, e, agora que pensava, a ideia toda m e
deixava m uito nervosa. Sabia que elas ririam de m im por isso, m as eu teria de
encontrar um a form a de m e m anter em contato com elas o tem po todo.
Acho que m eus olhos se desligaram do m eu cérebro, porque quando voltei
a
m im , estava esbarrando em Wesley Rush.
Meu bom hum or acabou ali.
Cam baleei, e todos os m eus livros e cadernos acabaram no chão. Wesley
m e segurou pelos om bros, suas m ãos grandes m e contiveram antes que eu
tivesse a chance de tropeçar em m eus próprios pés e seguir m eu m aterial.
— Ei, cuidado — disse ele, m antendo-m e de pé.
Nós estávam os muito perto um do outro. Tive a sensação de que insetos
rastej avam sob m inha pele, espalhando-se por onde as m ãos dele m e tocavam .
Estrem eci de desgosto, m as ele interpretou m al m inha reação.
— Ei, Duff, calm a aí — disse ele, baixando o rosto para m e encarar com
um sorriso arrogante. Wesley era m esm o m uito alto; tinha m e esquecido disso,
naquela noite sentada ao lado dele no Nest. Ele era um dos únicos garotos da
nossa escola m ais alto do que Casey — tinha pelo m enos 1,88 m etro, trinta
centím etros a m ais do que eu. — Deixo você de pernas bam bas, é isso?
— Até parece. — Eu m e esprem i para longe dele, sabendo m uito bem que
tinha falado com o Alicia Silverstone em As patricinhas de Beverly Hills, m as não
m e im portei com isso. De j oelhos no chão, com ecei a j untar m eus livros, e para
m eu im enso desprazer Wesley fez a m esm a coisa. Ele estava fazendo seu papel
de cara bacana, claro. Aposto que esperava que algum a líder de torcida bem
linda, com o Casey, passasse por ali bem naquele m om ento e pensasse que ele
estava sendo um cavalheiro. Que noj ento. Sem pre tentando se dar bem .
— Espanhol, é? — perguntou ele, lendo m eus papéis enquanto os j untava. —
Você consegue falar algum a coisa legal?
— El tono de tu voz hace que quiera estrangularme. — Eu m e levantei e
esperei que Wesley m e desse os papéis que tinha recolhido.
— Isso parece bem sexy — disse ele, levantando-se e m e entregando a
pilha de deveres de espanhol que tinha j untado. — O que você acabou de dizer?
— O tom da sua voz faz com que eu queira me estrangular.
— Hum , que m enina m alvada.
Sem dizer m ais nada, arranquei os papéis de suas m ãos, enfiei-os dentro de
um dos m eus livros e m e afastei, saindo em disparada na direção da sala de aula.
Precisava m anter a m aior distância possível entre aquele babaca m ulherengo e
eu. Duff? Jura? Ora, ele sabia m eu nom e! O idiota egocêntrico não podia