Duff
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Revirei os olhos sem acreditar.
— É Coca Light!
— Que pode ser ainda m ais perigosa do que uísque! — Ele colocou m eu
copo em um balcão atrás do bar. — Chega. Você vai m e agradecer m ais tarde.
Enxaquecas induzidas por cafeína são um a droga, e eu sei com o vocês, garotas,
são. Quando você tiver dores de cabeça horríveis, vai colocar a culpa em m im .
— Ah, certo, tudo bem . — E daí se eu tivesse dores de cabeça e ficasse
insuportável? Eu j á era um a Duff, e o único cara que eu queria im pressionar
estava nam orando. Eu podia virar a pessoa m ais m al-hum orada do m undo, e
ainda assim a coisa não ficaria pior do que estava.
— Um m inutinho, Bianca. — Joe foi até a outra ponta do balcão, onde
Angela e sua m elhor am iga, Vikki, o esperavam para pedir suas bebidas.
Tam borilei os dedos no balcão de m adeira, m eus pensam entos andavam
bem longe da m úsica alta e das luzes estroboscópicas. Por que não tinha insistido
em ficar em casa com m eu pai? Por que não o obriguei a conversar com igo?
Não parava de pensar nele arrastando-se por aí, infeliz, sozinho…
Mas era assim que nós, os Piper, lidávam os com a tensão.
Sozinhos.
Por que tinha de ser assim ? Por que nenhum de nós conseguia se abrir? Por
que papai não podia sim plesm ente adm itir que ele e m am ãe estavam passando
por um a fase ruim ? E por que eu não conseguia confrontá-lo sobre isso?
— Olá, Duff.
Por que aquele im becil tinha de se sentar j usto ao m eu lado?
— Dê o fora, Wesley ! — rosnei, encarando m inha m ão que não parava de
se m exer.
— Não posso — disse ele. — Sabe com o é, Duff, não sou de desistir fácil. E
estou determ inado a ficar com um a das suas am igas. De preferência, com
aquela que tem uns peitos sensacionais.
— Então vá até lá e converse com ela — sugeri.
— Eu iria, m as Wesley Rush não vai atrás das garotas. Elas é que vão atrás
dele. — Ele sorriu para m im . — Mas tudo bem . Daqui a pouco sua am iga vai
estar aqui implorando para que eu durm a com ela. Conversar com você só vai
acelerar o processo. Até lá, concederei a incrível honra de m inha adorável
com panhia a você. E, para m inha sorte, não há um copo com bebida gelada em
suas m ãos esta noite. — Ele ia dar um a risada, m as parou de repente. Eu podia
sentir seus olhos sobre m im , m as não olhei de volta. — Você está bem ? Não
parece tão nervosinha quanto de costum e.
— Me deixe em paz, Wesley. Estou falando sério.
— O que há de errado?
— Se m anda.
A ansiedade acum ulada no m eu peito precisava de um a válvula de escape,
tinha de ser liberada de algum a form a. E não podia m ais esperar até que Casey e
eu fôssem os para a casa dela para conversarm os. Eu precisava desabafar
naquele momento. Mas não queria chorar, não na frente de m etade da escola, e
não havia a m enor possibilidade de eu contar o que estava acontecendo com igo a
Joe ou àquele palhaço sentado ao m eu lado. Além disso, eu ia acabar m e
m etendo em confusão se socasse a cara de alguém em busca de alívio. Não
conseguia pensar em m ais alternativas, m as sentia que ia explodir se não fizesse
algum a coisa, e rápido.
Mam ãe estava na Califórnia.
Papai estava por aí, afogando as m ágoas.
E eu era covarde dem ais para fazer algum a coisa a respeito.
— Tem algum a coisa incom odando você — insistiu Wesley. — Você está
com cara de quem vai cair no choro a qualquer instante. — Ele pôs a m ão em
m eu om bro e m e obrigou a olhar para ele. — Bianca?
Foi então que eu fiz um a coisa m uito idiota. Em m inha defesa, quero dizer
que eu estava sob um a inacreditável quantidade de estresse e vi um a chance de
liberá-lo.
Eu precisava de algum a coisa para m e distrair — qualquer coisa que m e
distanciasse do dram a que m eus pais estavam vivendo —, só por um tem pinho.
E, quando vislum brei um a chance, não parei para pensar que poderia m e
arrepender daquilo depois. Um a oportunidade se apresentou no banco do bar ao
lado do m eu e m e atirei nela. Literalm ente.
Eu beij ei Wesley Rush.
Em um segundo, a m ão dele estava sobre m eu om bro, e ele m e encarava
com seus olhos cinzentos, e um instante depois m inha boca estava na dele. Meus
lábios estavam ávidos por toda aquela em oção reprim ida, e Wesley parecia
tenso, seu corpo congelado em estado de choque, m as isso não durou m uito. Em
um piscar de olhos, Wesley com partilhou de m eu gesto im pensado, suas m ãos
voando na direção do m eu quadril e m e puxando para ele. Parecia um a batalha
entre nossas bocas. Minhas m ãos o agarraram pelo cabelo encaracolado,
puxando-o m ais forte do que era necessário, e os dedos dele estavam cravados
na m inha cintura.
Funcionou m elhor do que socar alguém na cara. Não apenas m e aj udou a
liberar um a pressão agonizante, com o, definitivam ente, acabou m e distraindo.
Quero dizer, é difícil pensar em seu pai quando você está se agarrando com
alguém .
E por m ais perturbador que possa soar, Wesley beij ava muito bem . Ele se
inclinou na m inha direção, e eu o puxei com tanta força que ele quase caiu do
banquinho do bar. Naquele m om ento, nenhum a proxim idade entre nós era o
suficiente. Nossos assentos separados por poucos centím etros pareciam estar a
quilôm etros de distância.
Todos os m eus pensam entos evaporaram , e eu m e tornei alguém que só
estava ali para viver o m om ento. Minhas em oções desapareceram . Nada existia,
apenas nossos corpos e nossos lábios beligerantes estavam no centro de tudo. Um
alívio! Foi m aravilhoso não pensar em coisa algum a.
Nada! Nada… até que Wesley estragou tudo.
A m ão dele com eçou a se deslocar, subindo da m inha cintura para as
costelas e, de lá, direto para o m eu peito. A consciência voltou, e de repente
lem brei exatam ente quem eu estava beij ando. Afastei m inhas m ãos do cabelo
dele e o em purrei o m ais forte que pude. Raiva… um a raiva intensa e
efervescente tom ou conta de m im , substituindo a preocupação e a ansiedade que
eu sentia um m inuto antes. Ele baixou as m ãos, deslocando-as para os m eus
j oelhos, enquanto se afastava. Wesley parecia surpreso, m as bem alegrinho
tam bém .
— Uau, Duff, isso foi…
Dei um tapa em sua cara. Bati nele com tanta força que a palm a da m inha
m ão ficou form igando.
Wesley tirou a m ão de m eu j oelho e a colocou no próprio rosto.
— Ei! Por que diabos você fez isso?
— Seu babaca! — gritei.
Pulei do m eu banco e disparei na direção da pista de dança. Não queria
adm itir, m as estava m ais brava com igo do que com ele.
capítulo 4
A cam a queen-size de Casey era inacreditavelm ente quentinha. Os travesseiros
eram m acios, e, por m im , afundaria na m aciez daquele colchão e ficaria ali para
sem pre. Mas eu não conseguia dorm ir. Virei para lá e para cá do m eu lado,
tentando não perturbar Casey. Contei carneirinhos. Tentei aque
la m entalização
em que você vai relaxando cada parte do corpo, com eçando pelo dedão do pé.
Tentei até m e lem brar das aulas de organização política avançada.
Mas nada m e aj udava a pegar no sono.
Eu estava entrando de novo em um estado de ansiedade, m as dessa vez não
tinha nada a ver com o que acontecia em m inha casa. O que m e afligia no
casam ento dos m eus pais, eu tinha conseguido arrancar do m eu peito depois que
Casey e eu deixam os Jessica na casa dela m ais cedo naquela noite.
— Estou ficando preocupada com m eu pai — falei. Esperei Jessica sair do
carro para dizer isso. Sabia que ela não ia entender. Jessica vinha de um a fam ília
feliz e bem aj ustada, com pai e m ãe m orando j untos. Casey, por outro lado, j á
tinha assistido ao casam ento dos seus pais ruir. — Ele é tão sem noção. Quer
dizer, não é óbvio que o relacionam ento deles não está funcionando? Eles não
deveriam só ir em frente com essa droga de divórcio e resolver tudo?
— Não diz isso, B — disse Casey. — É sério, você não devia nem pensar
desse j eito.
Dei de om bros.
— Tudo vai se resolver — continuou ela, esticando o braço para apertar
m inha m ão enquanto seguíam os na direção de sua casa. A neve ainda não tinha
com eçado a cair, m as eu podia ver nuvens flutuando, escondendo as estrelas no
céu escuro acim a de nós. — Ela vai voltar para casa, eles vão conversar e fazer
sexo pra se reconciliar e…
— Meu Deus! Que noj o, Casey !
— ... e tudo vai voltar ao norm al. — Ela fez um a pausa quando enfiei o
carro na garagem de sua casa. — E, enquanto isso não acontece, estou aqui. Se
quiser conversar, você sabe que estou sem pre pronta.
— É, eu sei.
Era o m esm o discurso “Deixe tudo com a Casey ” que eu ouvia nos últim os
doze anos, sem pre que qualquer problem a, por m enor que fosse, aparecia na
m inha vida. Não que eu precisasse disso naquela noite — não m esm o.
Sinceram ente, nem estava m ais tão preocupada com m eu pai desde que tinha
saído do Nest. Eu tinha m e livrado de todo o estresse naquele beij o com Wesley.
E, agora, era isso que m e im pedia de dorm ir. Não consegui parar de pensar
no que tinha feito no Nest. Minha pele coçava. Meus lábios pareciam esquisitos.
Além disso, não im portava quantas vezes eu tivesse escovado os dentes no
banheiro de Casey (depois de m eia hora, ela bateu na porta para se certificar de
que estava tudo bem ), o gosto noj ento daquele idiota pegador ainda estava na
m inha boca. Ugh! Mas a pior parte era saber que eu é que tinha feito aquilo
com igo.
Eu beij ei Wesley. Sim , ele m e acariciou, m as o que eu podia esperar?
Wesley Rush não tinha exatam ente a reputação de um cavalheiro. Ele podia ter
sido um idiota, m as eu sabia que a responsabilidade daquela situação era m inha.
E saber disso não m e fez m e sentir m uito bem .
— Casey — sussurrei. Certo, acordá-la às três da m adruga não era um a
coisa bacana de fazer, m as era ela quem estava sem pre m e dizendo para
com partilhar ou desabafar, ou sei lá eu o quê. Então, tecnicam ente, a culpa era
toda dela. — Ei, Casey ?
— Hum ?
— Você está acordada?
— A-hã.
— Se eu lhe contar um a coisa, você j ura não dizer a ninguém ? — perguntei.
— E você prom ete não surtar?
— Claro, B — m urm urou ela. — O que foi?
— Eu beij ei alguém esta noite — falei.
— Bom pra você. Agora volte a dorm ir.
Respirei fundo.
— Foi Wesley … Wesley Rush.
Casey sentou-se retinha na cam a.
— Com o é?! — Ela balançou a cabeça e afastou o sono esfregando os olhos
castanhos arregalados. — Tudo bem , agora estou acordada. — Ela se virou para
m im , seu cabelo loiro curto eriçado e apontando para todas as direções possíveis.
Deus, com o é que ela conseguia mesmo assim parecer bonita? — Ai m eu Deus!
O que aconteceu? Pensei que você odiasse o cara.
— E odeio m esm o. Vou odiá-lo pra sem pre. Foi apenas um estúpido,
im aturo e im pensado m om ento de… estupidez. — Eu m e sentei e abracei os
j oelhos. — Me sinto suj a.
— Bem , ser m alvada pode ser divertido.
— Casey.
— Desculpe, B, m as eu não vej o qual é o problem a — adm itiu ela. — Ele é
um gato. É rico. E provavelm ente beij a superbem . Não beij a? Quero dizer, ele
tem aqueles lábios que m e fazem pensar em …
— Casey ! — Coloquei as m ãos sobre m inhas orelhas. — Pare com isso!
Não sinto orgulho do que fiz. Eu estava chateada e apenas… Ai, m eu Deus, não
acredito que fiz um a coisa dessas. Isso faz de m im um a vadia?
— Beij ar Wesley ? Dificilm ente.
— O que eu faço agora, Casey ?
— Beij a Wesley novam ente?
Olhei feio para Casey antes de cair de novo em m eu travesseiro. E rolei
para ficar longe dela.
— Esquece. Eu não devia m esm o ter contado pra você.
— Ah, B, não fique assim — disse ela. — Sinto m uito, m as acho que você
deve ver o lado positivo pela prim eira vez em sua vida. Quer dizer, você não tem
um nam orado desde… — A voz dela foi m orrendo. Nós duas sabíam os o nom e
que ela quase disse, afinal de contas. — De qualquer form a, j á é tem po de você
agir um pouco. Você nunca fala com cara nenhum além de Joe, e ele é velho
dem ais pra você. E, agora que sabem os que Toby está fora do m ercado, qual é o
problem a de nam orar Wesley ? Isso vai m atar você?
— Eu não estou nam orando ele! — guinchei. — Wesley Rush não nam ora,
ele transa… com qualquer um a, se você quer saber. Eu só o beij ei, e foi um a
coisa estúpida… estúpida, estúpida, estúpida! Foi um grande erro.
Casey se deitou de novo, aninhando-se do lado dela na cam a.
— Sabe, eu tinha certeza de que você não resistiria ao charm e dele pra
sem pre.
— O quê? — falei, virando para encará-la. — Estou resistindo m uito bem ,
obrigada. E quer saber de um a coisa? Não há nada pra resistir. Acho esse cara
repulsivo. Esta noite foi apenas um lapso de j ulgam ento, e isso nunca vai
acontecer de novo.
— Nunca diga nunca, B.
Ela estava roncando segundos depois.
Resm unguei sozinha por alguns m inutos, em seguida caí no sono
am aldiçoando tanto Casey quanto Wesley. Estranham ente, isso foi reconfortante.
Papai tinha acabado de chegar de seu trabalho na Tech Plus, um a im itação local
da Fnac, quando entrei pela porta na tarde seguinte, sacudindo a neve fresca do
m eu cabelo. A tem pestade não tinha sido tão grande quanto o hom em do tem po
previra, m as ainda caíam algum as raj adas de neve lá fora.
Contudo, o sol estava brilhando, então a neve recém -caída que cobria o chão
j á estaria derretida à noite. Tirei m eu casaco e olhei para papai, que estava no
sofá folheando o Hamilton Journal e segurando, com a m ão esquerda, um a
caneca de café quente.
Ele ergueu os olhos quando m e ouviu entrando.
— Ei, Abelhinha — disse, colocando sua caneca de
café sobre a m esa de
centro. — Você se divertiu com Casey e Jessica?
— Sim — respondi. — Com o foi o trabalho?
— Cansativo. — Ele deu um suspiro. — Você sabe quantas pessoas nesta
cidade com praram laptops para o Natal? Tenho certeza de que não sabe, então
vou lhe contar que foram m uitas. Você sabe quantos desses laptops estão com
problem as?
— Muitos? — chutei.
— Bingo. — Papai balançou a cabeça e dobrou o j ornal. — Se você não tem
dinheiro pra gastar com um bom laptop, por que com prar um ? Apenas guarde
seu dinheiro e com pre um m elhor m ais tarde. Se não fizer isso, só vai j ogar
dinheiro fora com os consertos. Lem bre-se disso, Abelhinha. Se eu ensinar
algum a coisa pra você nessa vida, vai ser isso.
— Certo, papai.
De repente, m e senti com o um a idiota. Com o pude ficar tão aflita na noite
passada? Quer dizer, estava claro que m am ãe e papai estavam com problem as,
m as isso provavelm ente passaria, com o Casey disse. Ele não estava deprim ido
ou triste, nem m esm o próxim o de tocar em um a gota de álcool de novo.
Ainda assim , eu sabia que a últim a ausência de m am ãe estava sendo dura
para ele. Então percebi que deveria tornar as coisas m ais fáceis para papai. Sabia
que ele provavelm ente estava se sentindo um pouco sozinho nos últim os dias e
achei que, em parte, a culpa tam bém era m inha.
— Quer ver TV? — perguntei. — Não tenho m uito dever de casa pra
am anhã, então posso deixar pra m ais tarde.
— Parece um a boa — respondeu m eu pai. Ele pegou o controle rem oto da
televisão de cim a da m esa de apoio. — Há um a reprise de um episódio antigo de
Perry Mason passando bem agora.
Fiz um a careta.
— Hum … tudo bem .
— Estou brincando, Abelhinha — Ele riu, zapeando pelos canais. — Não
faria isso com você. Vej am os… Ah, vej a, há um a m aratona de Caras & Caretas
passando no TV Land. Você am ava essa série quando era pequena. Assistíam os
às reprises quando você tinha quatro anos.
— Eu m e lem bro disso. — Sentei do seu lado, no sofá. — Eu lhe disse que
seria um a j ovem republicana porque achava o Michael J. Fox bonitinho.
Papai resm ungou e aj eitou seus óculos de aros grossos.
— Isso não aconteceu. Minha Abelhinha é um a liberal agora. — Ele passou