Duff
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Casey, do outro lado da sala. — Ela provavelm ente vai ver a casa e o quarto dele,
tudo isso. Você acha que ela pode dizer um as coisas legais sobre m im se eu
pedir? Ela podia m e servir de interm ediária.
Nem m e preocupei em responder.
— As resenhas devem ser entregues daqui a um a sem ana, sem atraso! —
anunciou a sra. Perkins, por cim a do burburinho. — Então, trabalhem nisso este
fim de sem ana.
A cam painha soou, e a turm a inteira ficou de pé na m esm a hora. A sra.
Perkins, que era baixinha, fugiu da sala para evitar ser pisoteada pelos alunos que
corriam em direção à porta. Casey nos alcançou na hora em que entram os no
corredor.
— Isso é besteira — sibilou. — Um trabalho sobre nada? Não quero escolher
um tópico. Essa é a função dela! Qual o sentido desse trabalho se ela nem nos
deu um tem a pra escrever? É ridículo.
— Mas você vai poder estudar com Harrison, e…
— Por favor, Jess, não com ece com isso. — Casey ergueu os olhos. — Ele.
É. Gay. Não vai rolar nada, entendeu?
— Nunca se sabe! Então você não aceita ser m inha interm ediária?
— Encontro vocês no refeitório — falei, voltando-m e na direção do m eu
arm ário. — Preciso pegar algum as coisas antes.
— Está bem . — Casey pegou Jessica pelo pulso e arrastou-a para o outro
corredor. — A gente se encontra nas m áquinas de lanche, certo, B? Venha, Jess.
— E assim , elas m e deixaram sozinha no corredor lotado. Está bem , não
exatam ente lotado. A escola Ham ilton tinha som ente uns quatrocentos alunos ou
algo assim , m as, levando em conta os núm eros baixos, os corredores pareciam
bastante cheios nessa tarde. Ou talvez eu estivesse estressada e m e sentindo
claustrofóbica. De qualquer form a, m inhas am igas fugiram , e eu fiquei no m eio
das feras.
Saí dando cotoveladas para conseguir passar entre os caras m etidos a atletas
e os casais se beij ando — essas exibições de afeto em público são tão
desagradáveis — e fui para o departam ento de ciências. Dem orei só alguns
m inutos para chegar até o m eu arm ário, que, com o o resto daquela escola
pavorosa, era pintado de laranj a e azul. Girei a com binação do cadeado e abri a
porta. Atrás de m im , um grupo de líderes de torcida passou correndo, gritando:
“Vam os lá, Panthers! Panthers! Panthers!”.
Tinha acabado de pegar m eu casaco e m inha m ochila e estava quase
fechando a porta do arm ário quando ele apareceu. Sinceram ente, esperava que
aparecesse antes.
— Parece que som os parceiros, Duff.
Chutei a porta do arm ário um pouco forte dem ais.
— Infelizm ente sim .
Wesley sorriu, passando os dedos pelos cachos escuros enquanto se
encostava no arm ário ao lado do m eu.
— Então, na sua casa ou na m inha?
— O quê?
— Pra fazer o dever de casa neste fim de sem ana — disse ele, estreitando
os olhos. — Não com ece a ter ideias, Duff. Não estou perseguindo você. Estou
apenas sendo um bom aluno. Wesley Rush não tenta conquistar garotas. Elas…
— Tentam conquistar você. É, eu sei. — Vesti o casaco por cim a da
cam iseta. — Já que tem os de fazer isso, pensei que podíam os…
— Wesley ! — Um a m orena esguia que eu não reconheci (ela parecia estar
no prim eiro ano) j ogou-se em cim a dele bem diante dos m eus olhos. Fitou
Wesley com olhos enorm es e lânguidos. — Você vai dançar com igo no Baile de
Boas-Vindas hoj e à noite?
— Claro, Meghan — disse ele, passando a m ão nas costas dela. Ele era alto
o suficiente para olhar dentro da cam iseta dela sem problem as. Babaca tarado.
— Vou guardar um a dança pra você, certo?
— Mesm o?
— E eu m entiria?
— Ah, obrigada, Wesley ! — Ele se curvou, e ela lhe deu um beij o rápido no
rosto antes de sair correndo, sem olhar para m im nem um a vez.
Wesley voltou a atenção de novo para m im .
— O que é que você estava dizendo?
Entredentes, rosnei:
— Pensei que podíamos nos encontrar na minha casa.
— Qual é o problem a com a m inha casa? — perguntou ele. — Você está
com m edo que sej a m al-assom brada, Duff?
— Claro que não. Só que prefiro estudar na m inha casa. Deus sabe que tipo
de doenças eu poderia pegar só de botar o pé dentro do seu quarto. — Sacudi a
cabeça. — Então, na m inha casa, certo? Am anhã à tarde, tipo às três. Ligue antes
de ir.
Não lhe dei chance de responder. Se Wesley tivesse algum problem a com
isso, eu faria o trabalho sozinha. Então, esquecendo de m e despedir de propósito,
fui em bora, passando direto pelos grupos de garotas que fofocavam e apertando
o passo em direção ao refeitório.
Encontrei Casey e Jessica esperando por m im perto das velhas m áquinas de
lanche.
— Não entendi, Case — dizia Jessica. Ela inseriu um dólar na única m áquina
que funcionava e esperou até o refrigerante cair na fenda lá em baixo. — Você
não precisa ficar e torcer durante o j ogo?
— Não. Eu disse às garotas que não conseguiria ir hoj e à noite, então um a
das substitutas, aquela bonitinha do prim eiro ano, vai ficar no m eu lugar. Passou o
ano todo querendo isso e tem talento, m as não tinha lugar pra ela até agora. As
m eninas ficarão bem sem m im .
Cheguei perto delas antes de Jessica m e notar.
— Pronto, Bianca chegou! Vam os dar o fora daqui! Uhuuu! Noite de
Pij am a das Garotas!
Casey revirou os olhos.
Jessica abriu a porta azul que dava para o estacionam ento, sorrindo de
orelha a orelha, e disse:
— Vocês são as m elhores. Tipo, as m elhores mesmo. Não sei o que faria
sem vocês.
— Choraria no travesseiro toda noite — disse Casey.
— Pensaria que suas outras am igas eram “as m elhores m esm o” — falei,
devolvendo o sorriso. Não ia deixar Wesley Rush m e botar para baixo de j eito
nenhum . De j eito nenhum ! Aquela era a noite da nossa Festa do Pij am a, e eu
não ia deixar um babaca com o ele m e ferrar. — Você não esqueceu a prom essa
do sorvete, esqueceu, Jessica?
— Não, eu lem brei. Baunilha e chocolate.
Atravessam os o estacionam ento e entram os no m eu carro. Im ediatam ente,
Jessica enrolou-se na m anta velha, e Casey, estrem ecendo, olhou para ela com
invej a enquanto colocava o cinto de segurança. Com um pisão rápido no
acelerador, voam os para fora do estacionam ento dos alunos e pegam os a
estrada, fugindo para longe da escola Ham ilton com o presos escapando das
celas… o que m ais ou m enos éram os.
— Não acredito que você não foi indicada para Rainha do Baile dessa vez,
Casey — disse Jessica do assento traseiro. — Tinha certeza que seria.
— Não. Fui eleita rainha no Baile de Boas-Vindas da equipe de futebol.
Existe um a regra que diz que as pessoas não podem vencer m ais de um a vez no
m esm o ano. Eu não podia ser indicada dessa vez. Vai ser Vikki ou Angela, tenho
certeza.
— Você acha que elas vão brigar se um a d
as duas ganhar? — Jessica
parecia preocupada.
— Duvido — disse Casey. — Angela não liga nem um pouco pra esse tipo
de coisa. Vikki é a com petitiva… m as eu realm ente estava anim ada pra ver a
tragédia desta noite. Eu disse a vocês que Vikki está pensando em sair com
Wesley Rush tam bém ?
— Não! — Jessica e eu gritam os j untas.
— É — disse Casey, acenando com a cabeça. — Acho que ela realm ente
está tentando fazer seu nam orado ficar com ciúm es ou algo assim . Ela está
ficando com aquele j ogador de futebol, está levando um garoto de outra escola
para o nosso baile e está dizendo pra todo m undo que espera ficar com Wesley.
Vikki diz que eles j á ficaram um a vez depois de um a festa, recentem ente — acho
que o nam orado ainda não sabe disso —, e está pensando em fazer isso de novo.
Disse que foi incrível.
— Ele foi pra cam a com ela? — engasgou Jessica.
— Ele vai pra cam a com todo m undo — retruquei, entrando com o carro na
rua 5. — Se ela tiver um a vagina, ele vai fazer sexo com ela.
— Eca! Bianca! — gritou Jessica. — Não diga a… palavra com V.
— Vagina, vagina, vagina — disse Casey sem rodeios. — Supere, Jess. Você
tem um a. Você pode cham á-la pelo nom e.
As bochechas de Jessica ficaram da cor de tom ates.
— Não é preciso falar disso. É grosseiro e… íntim o dem ais.
Casey ignorou-a e m e disse:
— Ele pode ser um pegador, m as é incrivelm ente sexy. Até você precisa
adm itir isso, B. Aposto que ele é fantástico na cam a. Quer dizer, você ficou com
ele. Wesley foi incrível? Você consegue m esm o culpar Vikki por querer sair com
ele?
— Você ficou com Wesley ? — grasnou Jessica, engasgando-se com a
própria excitação. — O quê? Quando? Por que não m e contou?
Olhei irritada para Casey.
— Ela está sem graça — explicou Casey, aj eitando a parte de trás do seu
cabelo curto. — O que é um a bobagem , porque aposto que ela adorou beij á-lo.
— Não adorei — disse.
— Ele beij a bem ? — perguntou Jessica. — Me conta, m e conta, m e conta!
Eu quero m uito saber.
— Bem , j á que é pra contar, beij a, sim . Mas isso não faz com que sej a
m enos noj ento.
— Mas — interrom peu Casey —, com sua experiência, responda à m inha
últim a pergunta. Você pode m esm o culpar Vikki por querer sair com ele?
— Não preciso. — Liguei a seta do carro. — Ela vai se culpar sozinha
quando tiver um a doença venérea… ou quando o nam orado dela descobrir. O
que vier prim eiro.
— E é exatam ente por isso que eu queria ir ao baile — suspirou Casey. —
Poderíam os assistir a tudo em prim eira m ão… com o se fosse um episódio de
Gossip Girl passado em Ham ilton. O nam orado da Vikki ficaria furioso e arm aria
um a vingança enquanto sua nam orada infiel dorm e com o cara m ais sexy da
escola, e Bianca, escondendo seu am or secreto por Wesley, sofreria e faria de
conta que o odiava, em silêncio, ansiando pelo seu beij o supersexy e quente de
novo.
Meu queixo caiu.
— Eu nunca ansiaria por nada desse tipo!
Jessica deu um a gargalhada abafada no assento traseiro, puxando o rabo de
cavalo por cim a da boca para esconder o riso quando olhei para ela pelo
retrovisor.
— Bom , enfim ... — suspirou Casey. — Estou certa de que ouvirei tudo sobre
a tragédia na segunda-feira.
— Ou am anhã, se a história for suficientem ente boa — disse Jessica. —
Angela e Jeanine nunca conseguem guardar fofocas. Se o escândalo for m uito
grande, você sabe que elas vão nos ligar e contar o que perdem os. Tenho certeza
que vão. — Sorriu. — Espero que deem m uitos detalhes. Não acredito que estou
perdendo o últim o Baile de Boas-Vindas.
— Pelo m enos não está perdendo sozinha, Jess.
Alguns instantes depois de parar na rua Holbrooke, entrei na garagem da
casa dos Gaither. Arrancando as chaves da ignição, proclam ei:
— Está oficialm ente iniciada a nossa Noite de Pij am a das Garotas!
— Uhuuu! — Jessica pulou do assento traseiro e praticam ente dançou até a
varanda da casa. Ela abriu a porta, e Casey e eu a seguim os, balançando a
cabeça, divertidas.
Tirei m eu casaco e pendurei-o no cabide logo atrás da porta. Jessica m orava
em um a casa que m ais parecia um closet — lim pa, arrum ada, sapatos ficavam
na porta da frente… desse tipo. Os pais dela eram superm aníacos com
arrum ação. Casey fez a m esm a coisa e disse:
— Eu queria que a m inha m ãe conseguisse deixar a casa arrum ada assim .
Ou ela podia pelo m enos contratar um a faxineira ou algo do tipo. Nossa casa
parece um depósito.
A m inha tam bém não era tão bacana. Ela nunca tinha sido m uito exigente
com a lim peza, e m eu pai só acreditava em um a lim peza anual, na prim avera.
Além das roupas, dos pratos e de um a faxina leve de vez em quando (que era
habitualm ente feita por m im ), não eram feitas m uitas tarefas dom ésticas no lar
dos Piper.
— A que horas seus pais chegam , Jessica? — perguntei.
— Minha m ãe chega às cinco e m eia, e m eu pai chega um pouco depois das
seis. — Ela estava nos esperando no pé da escada, pronta para correr para o
quarto assim que nos j untássem os a ela. — Mas m eu pai com eçou a atender um
paciente novo hoj e, então pode ser que chegue um pouco m ais tarde.
O sr. Gaither era terapeuta. Mais de um a vez, Casey tinha am eaçado
perguntar a ele se m e atenderia de graça. Para ver se m e aj udava a lidar com
m inhas “questões”. Não que eu tivesse questões. Mas Casey dizia que m eu
cinism o era resultado de algum conflito interno. Eu dizia que era só m inha
inteligência. E Jessica… bem , Jessica não dizia nada. Mesm o que a gente só
falasse disso de brincadeira, ela ficava sem pre um pouco sem j eito quando o
assunto surgia. Com todo o blá-blá-blá psicanalítico que devia ouvir do pai, ela
provavelm ente pensava mesmo que m inha negatividade constante era parte de
um conflito interno.
Jessica odiava negatividade. Odiava tanto, que na verdade nem dizia que
odiava. Seria negativo dem ais.
— Vam os, vam os! Vocês ainda não estão prontas?
— Vam os com eçar a festa! — berrou Casey, correndo pela escada e
passando por Jessica.
Jessica ria com o um a m aluca enquanto tentava alcançar Casey, m as eu
dem orei um pouco m ais, seguindo-as pela escada em ritm o norm al. Quando
cheguei ao andar de cim a, consegui ouvir m inhas am igas rindo e conversando no
quarto no final do corredor, m as não segui as vozes. Algo atraiu m inha atenção
prim eiro.
A porta do prim eiro quarto, o da esquerda, estava bem aberta. Minha m ente
m e disse para passar direto, m as m eus pés não ouviram . Parei na porta aberta,
querendo que m eus olhos desviassem . Meu corpo apenas não queria cooperar.
Um a cam a im pecavelm ente arrum ada com um edredom azul-m arinho
gasto. Pôsteres de super-heróis cobrindo as paredes. Um a luz negra em cim a da
ca
beceira. O quarto estava quase exatam ente com o eu m e recordava dele,
apenas não havia roupas suj as no chão. O arm ário aberto parecia vazio, e o
calendário de Hom em -Aranha, que ficava acim a da m esa do com putador, tinha
sido retirado. Mas o quarto ainda parecia aconchegante, com o se ele ainda
estivesse ali. Com o se eu ainda tivesse catorze anos.
— Jake, não estou entendendo. Quem era essa garota?
— Ninguém. Não se preocupe com isso. Ela não significa nada pra mim.
— Mas…
— Shhh… Não é nada importante.
— Amo você, Jake. Não minta pra mim, está bem?
— Não faria isso.
— Promete?
— Claro. Você acha mesmo que eu iria machucar você, Bi…
— Bianca! Onde diabos você se m eteu?
A voz de Casey m e sobressaltou. Rapidam ente, saí do quarto e fechei a
porta, sabendo que não conseguiria passar por ela toda vez que precisasse ir ao
banheiro naquela noite.
— Estou indo! — Consegui m anter o tom norm al da m inha voz. — Meu
Deus! Sej am pacientes um a vez na vida!
Depois, com um sorriso forçado, fui ver um film e com m inhas am igas.
capítulo 7
Depois de pensar nisso por um tem po, decidi que havia m uitos benefícios em ser
um a Duff.
Benefício 1: não é preciso se preocupar com cabelo ou m aquiagem .
Benefício 2: não há pressão para ser descolada — não é para você que estão
olhando.
Benefício 3: sem problem as com garotos.
Pensei no benefício 3 quando estávam os assistindo a Desejo e reparação no
quarto de Jessica. No film e, a coitada da Keira Knightley tem que passar por
toda aquela tragédia com Jam es McAvoy, m as, se não fosse atraente, ele nunca
teria olhado para ela. Seu coração não partiria. Afinal, todo m undo sabe que a
conversa do “é m elhor ter am ado e perdido…” é baboseira.
Essa teoria se aplica a vários film es tam bém . Im agine. Se Kate Winslet
fosse um a Duff, Leonardo DiCaprio não teria corrido atrás dela em Titanic, e isso
teria poupado a todos um rio de lágrim as. Se Nicole Kidm an fosse feia em Cold
Mountain, não precisaria se preocupar com Jude Law quando ele foi para a
guerra. E a lista é infinita.
Observava m inhas am igas sofrendo por causa de garotos o tem po todo.
Habitualm ente, as relações acabavam com elas chorando (Jessica) ou gritando