que tinha partido m eu coração.
Corri para a sala de aula bem quando o segundo sinal tocou. Sabia que os
olhos do sr. Chaucer m e fuzilavam , porém não m e incom odei com isso. Ocupei
m eu lugar perto do fundo da sala, tentando desesperadam ente m e concentrar em
outra coisa.
Mas nem m esm o o com entário irônico de Toby Tucker sobre o poder
legislativo ou a parte de trás de sua cabeça adoravelm ente fora de m oda podia
desviar m eus pensam entos de Jake e sua futura esposa.
Eu m al ouvi um a palavra que o sr. Chaucer disse durante a aula, e, quando o
sinal tocou, m inha página de anotações, que deveria estar cheia de detalhes do
curso, consistia em apenas duas frases curtas e quase ilegíveis. Meu Deus, eu
seria reprovada nessa m atéria se m erdas desse tipo continuassem acontecendo.
Tanto dram a! Se eu fosse um a rica esnobe de Manhattan, podia ser um a
personagem de Gossip Girl. (Não que eu assista àquele seriado podre… com
frequência… até onde m inhas am igas sabem …) Por que a m inha vida não podia
ser um seriado? Mas, bem , até o elenco de Friends era problem ático.
Andei sem rum o pelo refeitório, e encontrei Casey e Jessica esperando por
m im em nossa m esa. Com o sem pre, Angela, Jeanine e a prim a de Jeanine, Vikki,
nos fizeram com panhia. Angela estava ocupada m ostrando a todas seus novos
tênis Vans, então m eu tédio passou despercebido quando m e j oguei na m inha
cadeira.
— Fofo — com entou Casey, sorrindo para os calçados. — Quem te deu?
— Meu pai — respondeu Angela, levantando a ponta de seu tênis roxo. —
Ele e m inha m ãe estão com petindo pelo m eu am or agora. No com eço foi m eio
que irritante, m as decidi m e aproveitar disso e m e divertir. — Ela cruzou as
pernas e j ogou seu cabelo escuro para trás. — Espero que o próxim o presente
sej a um Prada.
Todas riram .
— Não ganhei nada legal quando m eus pais se divorciaram — disse Casey.
— Meu pai realm ente não se im portava se eu o am ava m ais, eu acho.
— Isso é triste, Case — m urm urou Jessica.
— Ah, na verdade não. — Casey deu de om bros e com eçou a m exer em
sua unha pintada de esm alte laranj a. — Meu pai é um im becil. Fiquei feliz
quando m inha m ãe o chutou de casa. Ela chora m uito m enos agora, e quando
m inha m ãe está m ais feliz, o m undo está m ais feliz. Claro, não tem os m ais tanto
dinheiro, m as m eu pai não gastava m uito com a gente, de qualquer form a. Ele se
ofereceu pra com prar um carro pra m inha m ãe, que ela não queria, m as é só
um a dem onstração de sua natureza boa.
— Divórcios são deprim entes. — Jessica suspirou. — Eu ficaria arrasada se
os m eus pais se separassem . Você não ficaria, Bianca?
Senti um calor correr pelo m eu rosto, entretanto Casey estava m udando de
assunto, então fingi não ter ouvido a pergunta de Jessica.
— Ei, Vikki, o que aconteceu na noite do Baile de Boas-Vindas? Você nunca
nos contou com o acabou.
Jeanine deu um a risadinha consciente.
— Você ainda não contou pra elas, Vikki?
Vikki revirou os olhos e enrolou um a m echa de seus cabelos loiros cacheados
em volta de seu dedo com unhas perfeitas.
— Ai, m eu Deus. Tudo bem , então o Clint está totalm ente sem falar com igo,
e Ross…
Os ruídos e vozes do refeitório encobriram a voz dela, e a m inha m ente
fugiu dali. Por m ais que eu quisesse parar de pensar em Jake, não podia m e
obrigar a ficar interessada nos problem as de Vikki com os garotos. Em qualquer
outro dia, eu acharia até um pouco divertido sua história, com o se fosse m inha
própria novela pessoal, m as, naquele m om ento, aquele dram alhão parecia tão
vago e desim portante. Tão insípido. Tão indulgente. Tão vazio...
Eu não podia evitar m e sentir um pouco culpada por pensar nisso. Aquilo m e
deixou tão autoabsorta quanto ela. Então, tentei ouvir com m eia dedicação as
reclam ações de Vikki McPhee.
Até que algo que ela disse capturou m inha atenção com pleta.
— … m as eu realm ente fiquei com Wesley um pouquinho m ais tarde.
— Wesley ? — perguntei.
Vikki olhou para m im , orgulhosa do que ela enxergava com o um a conquista.
Será que ela não sabia que m ais de dois terços das garotas da escola tinham
conquistado a m esm a coisa? Incluindo eu… m as, é claro, Vikki não sabia daquela
parte.
— Sim — disse ela. — Depois da briga com Clint, saí com Wesley no
estacionam ento. Nós ficam os no carro dele por um tem po, m as a m inha m ãe
ligou, então precisei ir pra casa antes de fazer qualquer coisa. Um a droga, né?
— Claro.
Meus olhos se m overam pelo refeitório, buscando por poucos segundos até
localizar a parte de trás da cabeça de cachos castanhos centím etros m ais alto que
todos os outros ao seu redor. Estava sentado com um grupo de am igos — a
m aioria garotas, naturalm ente — em um a m esa com prida e retangular do outro
lado do salão. Usava um a cam iseta preta apertada que, apesar de não ser
realm ente apropriada para as tem peraturas frias do com eço de fevereiro,
m ostrava seus braços perfeitam ente m usculosos. Braços que tinham se
enroscado em volta de m im … braços que tinham aj udado a apagar o m eu
estresse…
— Eu j á contei a vocês que m eu irm ão está vindo pra cidade? — perguntou
Jessica. — Ele e a noiva vêm fazer um a visita esta sem ana.
Os olhos preocupados de Casey im ediatam ente se viraram para m im e se
arregalaram quando percebeu que eu estava de pé.
— Aonde você vai, B?
Todas à m esa olharam para m im na hora, e eu tentei parecer convincente.
— Acabei de m e lem brar — falei. — Preciso ir falar com Wesley sobre
nosso proj eto de inglês. — Que se dane o plano de evitá-lo. Eu tinha um a ideia
m elhor e m ais útil.
— Vocês não term inaram aquilo no sábado? — perguntou Jessica.
— Nós com eçam os o proj eto, m as não term inam os o relatório.
— Porque vocês estavam m uito ocupados ficando — provocou Casey,
piscando para m im .
Não pareça culpada. Não pareça culpada.
— Ficando? — Vikki levantou um a sobrancelha para m im .
— Você não ouviu? — riu Jessica, sorrindo de m aneira natural para m im . —
Bianca está desesperadam ente apaixonada por Wesley.
Fingi um barulho de engasgar, e todas riram .
— Sim , claro — falei, deixando nítido que m inha voz estava cheia de
irritação e noj o. — Eu não o suporto. Meu Deus, eu perdi tanto o respeito pela
sra. Perkins desde que ela m e fez trabalhar com ele!
— Eu ficaria em êxtase se fosse você — disse Vikki, soando um pouco
am arga.
Jeanine e Angela balançaram a cabeça em concordância.
— Que sej a. — Eu estava m e sentindo um pouco nervosa. — Preciso falar
com ele pra term inar isso. Vej o vocês todas m ais tarde, certo?
— Certo — disse Jessica, acenando anim adam ente.
Andei apressada através do refeitório cheio, sem parar até estar a cinco
passos da m esa de We
sley, na qual o único outro ocupante m asculino era
Harrison Carly le. Então fiz um a pausa de um segundo, subitam ente m eio
hesitante.
Um a das garotas, um a loira m agricela com os lábios de Angelina Jolie,
estava reclam ando de suas férias horrorosas em Miam i, e Wesley estava ouvindo
com a atenção arrebatada — obviam ente tentando convencê-la de sua sim patia.
O noj o apagou m inha insegurança, e lim pei a garganta bem alto, conseguindo a
atenção do grupo inteiro.
A loira estava agitada e brava, m as foquei Wesley, que olhou para m im
casualm ente, com o faria com qualquer outra garota. Eu ergui o nariz e disse:
— Preciso falar com você sobre nosso trabalho de inglês.
— Isso é necessário? — perguntou Wesley com um suspiro.
— Sim — respondi. — Agora m esm o. Não vou ser reprovada nessa tarefa
estúpida por causa da sua preguiça.
Ele revirou os olhos e ficou de pé.
— Desculpem -m e, senhoras — disse ele às garotas atingidas pela tragédia.
— Vej o vocês am anhã. Vocês guardam um lugar pra m im ?
— Claro que guardam os! — um a ruiva pequenina esgoelou.
Enquanto Wesley e eu nos afastávam os, ouvi a bocuda sibilar:
— Deus, aquela garota é um a vaca!
Quando estávam os no corredor, Wesley perguntou:
— Qual o problem a, Duff? Eu não lhe enviei um e-m ail com o trabalho
ontem à noite, exatam ente com o você exigiu? E aonde precisam ente estam os
indo? À biblioteca?
— Só cale a boca e venha com igo. — Eu o conduzi pelo saguão através das
salas de aula de inglês.
Não pergunte onde foi que eu tive essa ideia, porque não poderia contar,
m as eu sabia com precisão aonde estávam os indo, e tinha certeza de que isso
poderia m e tornar oficialm ente um a vagabunda. Mas, quando chegam os à porta
do arm ário vazio do zelador, não sentia nenhum a vergonha… ainda não, pelo
m enos.
Agarrei a m açaneta e percebi que os olhos de Wesley se estreitaram ,
suspeitando. Escancarei a porta, conferi que não havia ninguém observando e fiz
um gesto para que ele entrasse. Wesley entrou no pequeno arm ário e eu o segui,
fechando a porta furtivam ente atrás de nós.
— Algo m e diz que isto não diz respeito ao livro A letra escarlate —
com entou Wesley, e m esm o no escuro eu sabia que ele estava sorrindo.
— Fica quieto.
Dessa vez ele m e encontrou na m etade do cam inho. As m ãos dele se
enroscaram no m eu cabelo, e as m inhas grudaram em seus antebraços. Nos
beij am os violentam ente, e m inhas costas se chocaram contra a parede. Ouvi um
esfregão — ou talvez um a vassoura — cair, m as m eu cérebro m al registrou o
som enquanto um a das m ãos de Wesley se m ovia até m eu quadril, m e
aproxim ando dele. Ele era tão m ais alto que eu que precisava inclinar m inha
cabeça para trás quase com pletam ente para encontrar seu beij o. Seus lábios
com prim iram os m eus com força, e eu deixei m inhas m ãos explorarem seus
bíceps.
O cheiro do perfum e dele, m ais do que o ar estagnado do arm ário,
preencheu m eus sentidos.
Nós lutam os no escuro por um tem po antes de eu sentir sua m ão
insistentem ente levantando a bainha da m inha cam iseta. Engasgando, eu m e
afastei do beij o e agarrei seu punho.
— Não… não agora.
— Então quando? — perguntou Wesley em m eu ouvido, ainda m e
prendendo à parede. Ele nem m esm o soava zonzo.
Eu, por outro lado, lutava para retom ar o fôlego.
— Mais tarde.
— Sej a m ais específica.
Eu m e contorci para fora de seus braços e m e m ovi para a porta, quase
tropeçando no que m e pareceu ser um balde. Levantei um a das m ãos para alisar
m eu cabelo bagunçado e cheguei até a m açaneta da porta.
— Hoj e à noite. Estarei na sua casa por volta das sete horas. Certo?
Antes de ele poder responder, m e esgueirei para fora do arm ário e corri
pelo corredor, esperando que m eu andar não denunciasse m inha vergonha.
capítulo 10
Não achei que o sinal do fim das aulas fosse tocar algum dia. A aula de cálculo
foi excruciantem ente longa e chata, e a de inglês foi de acabar com os nervos.
Eu m e peguei olhando para Wesley do outro lado da sala diversas vezes, ansiosa
para sentir os efeitos entorpecentes de seus braços, m ãos e lábios novam ente.
Só rezava para m inhas am igas não perceberem . Jessica, é claro, acreditaria
em m im se eu lhe dissesse que ela estava im aginando coisas; Casey, por outro
lado… bem , por sorte Casey estava absorta dem ais na lição de gram ática da sra.
Perkins — ah, sim , até parece! — para olhar para m im . Ela provavelm ente m e
interrogaria por horas e adivinharia tudo o que havia acontecido, enxergando
bem através das m inhas negativas. Eu realm ente precisava cair fora daquela
aula antes de ser descoberta.
No entanto, quando o sinal finalm ente tocou, não tive pressa algum a de sair
da escola.
Jessica passou pelo refeitório com seu rabo de cavalo loiro balançando atrás
dela.
— Mal posso esperar para vê-lo!
— Já entendem os, Jess — disse Casey. — Você am a seu irm ão m ais velho.
É fofo, de verdade, m as você disse isso hoj e… vinte vezes? Trinta, talvez?
Jessica corou.
— Bem , não posso esperar.
— Claro que você não pode. — Casey sorriu para ela. — Tenho certeza de
que ele ficará feliz de ver você tam bém , m as talvez você devesse se acalm ar só
um pouquinho. — Ela parou no m eio do refeitório e olhou para m im por cim a do
om bro. — Você vem , B?
— Não — falei, m e agachando e m exendo nos cadarços dos m eus sapatos.
— Eu preciso… am arrar isto. Vocês vão indo, m eninas. Não se atrasem por
m im .
Casey m e deu um olhar de quem entendia, antes de acenar com a cabeça e
de em purrar Jessica para a frente. Ela com eçou um a nova conversa para distrair
Jessica da m inha desculpa lam entável.
— Então, conte-m e sobre essa noiva. Com o ela é? Bonita? Burra com o um
saco de batatas? Quero detalhes.
Esperei no refeitório uns bons vinte m inutos, sem querer m e arriscar a
encontrar com ele no estacionam ento. Com o é engraçado que, m enos de sete
horas antes, eu estivesse evitando um cara com pletam ente diferente… um que
agora eu estava desesperada para ver. Tão doentio e estranho com o poderia ser,
eu m al podia esperar para voltar ao quarto de Wesley. De volta a m inha própria
ilha e refúgio particular. De volta ao m eu m undo de fuga. Mas prim eiro
precisava esperar até que Jake Gaither dirigisse para fora do estacionam ento.
Quando fiquei segura de que ele tinha ido em bora, deixei a escola, puxando
m eu casaco com força em volta de m im . O vento de fevereiro batia no m eu
rosto enquanto andava pelo estacionam ento vazio, e a visão do m eu carro sem
aquecedor não m e trouxe nenhum conforto. Deslizei pelo banco do m otorista,
trem endo com o louca, e dei partida no m otor. O cam inho de volta pareceu levar
horas, em bora a escola ficasse a apenas quatro quilôm etros da
m inha casa.
Com ecei a im aginar se poderia ir à casa de Wesley algum as horas m ais
cedo quando entrei na garagem e m e lem brei do m eu pai. Ah, que ótim o. O
carro dele estava na garagem , m as ele não devia ter chegado em casa do
trabalho ainda.
— Droga! — gem i, socando o volante e pulando com o um a idiota quando a
buzina tocou. — Droga! Droga!
Fui tom ada pela culpa. Com o pude esquecer de m eu pai? O pobrezinho,
solitário, isolado-em -seu-quarto? Fiquei preocupada ao pensar que ele pudesse
ainda estar em seu quarto quando deixei o carro e cam inhei com dificuldade pela
frente de casa. Se ele ainda estivesse lá, será que eu teria de pôr a porta abaixo?
E então… fazer o quê? Gritar com ele? Chorar com ele? Dizer a ele que m am ãe
não o m erecia? Qual seria a resposta certa?
Mas papai estava sentado no sofá quando entrei, com um a tigela de pipocas
no colo. Hesitei na porta, incerta sobre que diabos estava acontecendo. Ele
parecia… normal. Não parecia que tinha chorado, ou bebido, ou qualquer coisa
assim . Só parecia com m eu pai, com seus óculos de lentes grossas e seu cabelo
averm elhado e bagunçado. Do m esm o j eito que eu o via em qualquer outro dia
da sem ana.
— Ei, Abelhinha — disse ele, olhando para m im . — Quer um pouco de
pipoca? Tem um film e do Clint Eastwood...
— Hum … não, obrigada. — Olhei em volta da sala. Sem vidros quebrados.
Sem garrafas de cervej a. Com o se ele não tivesse bebido naquele dia, de form a
algum a. Pensei se realm ente era o que parecia. Se a recaída havia acabado. Será
que recaídas funcionavam desse j eito? Não tinha a m enor ideia. Mas eu não
podia aj udar se duvidasse dele. — Papai, você está bem ?
— Ah, estou bem — disse ele. — Acordei tarde hoj e, então liguei para o
trabalho e disse que estava doente. Não tirei nenhum dos m eus dias de férias,
então não é nada de m ais.
Espiei a cozinha. O envelope ainda estava sobre a m esa. Intocado.
Ele devia ter seguido m eu olhar, ou adivinhado, porque disse, com um
encolher de om bros:
— Ah, esses papéis estúpidos! Sabe, eles m e colocaram em um a cilada. Eu
finalm ente pensei nisso e entendi que é tudo um engano. O advogado da sua m ãe
se aproveitou do fato de que, dessa vez, ela foi um pouco m ais longe do que de
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