Duff
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pensávam os que j á tínham os visto de tudo, para Jessica o m undo ainda era um a
enorm e novidade. Um m undo novo em folha. Sem pre cheio de alegrias. Ela era
o nosso sol, e Casey e eu, sem ela, estávam os im ersas na escuridão.
Eu estava m e perguntando quantos dias m ais Jake pretendia ficar na cidade
quando Casey se virou para m im , aparentem ente decidida a usar o j eans skinny
roxo. (Fico feliz por ela gostar, porque acho aquela calça horrível.)
— Sabe, B, você está lidando com essa história do Jake m uito m elhor do que
eu esperava — disse ela.
— Obrigada… acho.
— É que eu im aginei que, com Jake voltando a Ham ilton com a noiva, você
ia pirar. Eu esperava ligações aos prantos durante a m adrugada e alguns bons e
velhos ataques histéricos. Em vez disso, você está agindo norm alm ente… ou,
você sabe, o m ais norm al que Bianca Piper pode ser.
— Eu retiro m eus agradecim entos.
— Sério m esm o. — Casey cruzou o quarto e se sentou ao m eu lado. — Está
tudo bem com você? Você quase não tem reclam ado de nada, o que é um pouco
perturbador, j á que vive reclam ando de tudo.
— Eu não sou assim ! — protestei.
— Se você diz...
Revirei os olhos.
— Para sua inform ação, encontrei um j eito de m anter m inha cabeça
afastada desse assunto. O que nunca vai funcionar se você continuar falando
sobre isso, Casey. — Dei um a cutucadinha nela com o cotovelo. — Estou
com eçando a achar que você quer m e ver chorar.
— Isso ao m enos provaria que você não está contendo seus sentim entos.
— Casey … — rosnei.
— Eu não estou brincando, B — disse ela. — Esse cara acabou com você no
prim eiro ano. Você chorava, soluçava e tinha ataques de pânico só de pensar no
que ele fez, e eu sei que o m ais difícil é que tivem os de m anter tudo escondido da
Jess. Só acho que precisam os arranj ar um a form a de lidar com isso, porque não
quero ver você passar pela m esm a tristeza novam ente.
— Casey, eu estou ótim a! — garanti com a voz firm e. — Encontrei um a
m aneira ótim a de aliviar o estresse, certo?
— E qual é?
Ai, m erda...
— Qual é o quê?
Casey franziu as sobrancelhas.
— Dã, sua form a de aliviar o estresse! O que você tem feito?
— Ah… um a coisa ou outra.
— Você está m alhando? — perguntou ela. — Não se sinta envergonhada se
estiver. Minha m ãe m alha quando está brava. Ela diz que aj uda a canalizar as
energias negativas, m as não tenho a m enor ideia do que isso significa. Então, é
isso que está fazendo? Malhando?
— Acredito que podem os dizer que sim , é m ais ou m enos isso.
Droga, m eu rosto estava pegando fogo. Eu m e virei, exam inando os pelos do
m eu braço.
— Musculação, é?
— A-hã.
Com o um m ilagre, Casey não pareceu notar m eu em baraço.
— Legal… Sabe, essa calça é um pouco m aior do que as que eu
norm alm ente com pro. Talvez pudéssem os m alhar j untas. Vai ser divertido.
— Não, acho que não. — Antes que ela pudesse dizer algum a coisa ou notar
a cor do m eu rosto, m e levantei e disse: — Preciso escovar os dentes. Depois
disso, estou pronta pra sair. Certo? — falei, e saí correndo do quarto.
Quando voltei, fui obrigada a inventar novas m entiras.
— Quer dorm ir na m inha casa hoj e? — perguntou Casey, arrum ando seu
cabelo curto em frente ao espelho. — Minha m ãe vai na despedida de solteira de
um a colega de trabalho, ou sej a, a casa vai estar vazia. Podem os assistir a uns
film es com o Jam es McAvoy, se você quiser. Jess vai se arrepender de ter
perdido isso, m as…
— Hoj e não, Casey.
— Ué, por que não? — Ela pareceu m agoada.
A verdade era que eu tinha com binado de encontrar Wesley às onze da
noite, o que não podia lhe contar, obviam ente. Mas tam bém não podia m entir
para ela. Quer dizer, m inhas m entiras eram sem pre péssim as. Decidi utilizar a
habilidade que estava desenvolvendo nos últim os dias: om itir inform ações.
— Eu tenho planos.
— Pra depois que sairm os do Nest?
— Isso m esm o, desculpe.
Casey deu as costas ao espelho e m e encarou por um longo m om ento.
Finalm ente, ela disse:
— Você tem estado m uito ocupada recentem ente. Você por acaso não quer
m ais sair com igo?
— Eu estou saindo com você hoj e, não? — retruquei.
— Sim , eu sei, m as… sei lá. — Ela voltou a olhar o próprio reflexo no
espelho. — Esquece. Vam os m udar de assunto.
Meu Deus, eu odiava ter que enganar Casey. Especialm ente quando ela
claram ente sabia que alguma coisa estava errada, m esm o que não tivesse
descoberto o quê. Eu tinha decidido que faria tudo ao m eu alcance para m anter
em segredo m eu relacionam ento com Wesley.
Wesley, é claro, tinha um a capacidade incrível de agir com o se nada
estivesse acontecendo. Em público, nós nos tratávam os da m esm a m aneira
sarcástica e indiferente de sem pre. Eu o insultava, encarava-o com desprezo e
falava m al dele aos sussurros quando o via agir com o um porco (não que
houvesse algum a atuação nisso). Ninguém podia im aginar que éram os tão
diferentes quando estávam os sozinhos. Ninguém podia im aginar que eu contava
os m inutos para poder encontrar Wesley na frente de sua casa.
Ninguém , exceto Joe.
— Você gosta dele — provocou o bartender enquanto Wesley, que tinha
acabado de bater boca com igo m ais um a vez, ia para a pista de dança com um
risinho nos lábios. — E estou com eçando a acreditar que ele gosta de você
tam bém . Existe algo acontecendo entre vocês.
— Você ficou louco! — esbravej ei, bebericando m inha Coca Light.
— Quantas vezes vou ter de repetir, Bianca? Você é um a péssim a m entirosa.
— Eu não encostaria nesse babaca nem com um bastão de três m etros. — A
m inha voz parecia carregar a quantidade suficiente de desprezo? — Você acha
que sou m esm o tão idiota, Joe? Ele é arrogante e dorm e com qualquer coisa que
se m ova. Na m aior parte do tem po, quero arrancar os olhos dele com m inhas
próprias unhas. Com o poderia gostar dele? Ele é um babaca.
— Garotas adoram os babacas. É por isso que estou solteiro. Eu sou m uito
legal.
— Ou m uito cabeludo — falei. Tom ei um últim o gole da m inha Coca-Cola e
deslizei m eu copo para o outro lado do balcão. — Raspe essa barba de Moisés e
talvez você tenha m ais sorte. As m ulheres não estão interessadas em beij ar o
tapete da sala, se é que você m e entende.
— Você está tentando fugir da nossa conversa — retrucou Joe. — Isso
apenas prova o seu envolvim ento com o sr. Babaca.
— Cala a boca, Joe. Só cala a boca.
— Isso quer dizer que estou certo?
— Não — respondi. — Você só está m e perturbando m uito.
Tudo bem , eu definitivam ente precisava arrum ar um j eito de não aparecer
no Nest por algum as sem anas… talvez para sempre.
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p; capítulo 12
— É sua vez, Duff. — Wesley se apoiou no taco de bilhar com um sorriso
triunfante no rosto.
— Você não ganhou ainda — falei, revirando os olhos.
— Mas estou quase lá.
Eu o ignorei e concentrei toda a m inha atenção em um a das duas bolas que
restavam na m esa. Naquele m om ento, eu realm ente desej ava que tivéssem os
m antido nosso padrão de visitas e ido direto para o quarto, ignorando qualquer
outra atividade. Mas naquela noite, quando estávam os subindo a escada, Wesley
m encionou que tinha um a m esa de bilhar. Por algum a razão, isso despertou em
m im um a vontade adorm ecida de com petir. Eu sim plesm ente m al podia esperar
para esfregar m inha vitória na cara dele e apagar seu sorriso arrogante.
Só que com eçava a m e arrepender da decisão de desafiá-lo para um
em bate, pois estava ficando cada vez m ais perceptível que ele tinha um real
talento para a coisa. Eu não era um a j ogadora ruim , m as ele estava prestes a
acabar com igo. Não havia nada que eu pudesse fazer para im pedir isso.
— Ei, calm a aí — sussurrou ele, seus lábios tocando gentilm ente m eus
ouvidos quando passou por trás de m im . As m ãos de Wesley encostaram no m eu
quadril, os dedos subiram por dentro da blusa até a altura de m inha cintura. —
Concentre-se, Duff. Você está concentrada?
Ele estava tentando m e distrair. E, droga, estava conseguindo.
Afastei-m e dele, tentando acertá-lo com a parte de trás do taco. Ele, claro,
conseguiu desviar, e eu só consegui acertar a bola branca sobre a m esa,
m andando-a direto para a caçapa.
— Ui, essa foi por pouco! — ironizou Wesley.
— Que droga! — Eu m e virei e olhei para ele com raiva. — Essa não devia
contar!
— Mas conta. — Ele tirou a bola da caçapa e a depositou com cuidado na
ponta da m esa. — Vale tudo no am or e no bilhar.
— Na guerra — eu o corrigi.
— Dá na m esm a. — Wesley j ogou o taco para trás e, m irando em seu alvo,
bateu na bola branca com força e m eio segundo depois a preta, com o núm ero 8,
era enfiada na caçapa. A tacada da vitória.
— Babaca! — resm unguei.
— Não sej a m á perdedora — disse ele, apoiando o taco na parede. — O que
você esperava? Sou m aravilhoso em tudo o que eu faço — Wesley se gabou. —
Mas, ei, você não pode ficar brava com igo por isso. Não podem os escolher a
form a com o Deus nos faz.
— Você é trapaceiro e arrogante. — Deixei de lado m eu taco, que caiu no
chão fazendo barulho. — É m uito pior ser um m au ganhador do que um a m á
perdedora. E você só ganhou porque ficou j ogando suj o e m e atrapalhando
durante o j ogo! Não conseguiu m anter suas m alditas m ãos no taco de bilhar
enquanto eu tentava fazer um a j ogada. Isso é desonesto, e além disso…
Sem aviso, Wesley m e ergueu e m e pôs sobre a m esa. Suas m ãos cobriram
m eus om bros, e um segundo depois eu estava deitada de costas, encarando-o,
enquanto ele sorria. Wesley avançou por cim a da m esa e ali estava ele, com seu
rosto a centím etros do m eu.
— Em cim a da m esa? — falei, estreitando m eus olhos. — Sério m esm o?
— Eu não consigo resistir — disse ele. — Você fica tão sexy quando está
brava com igo, Duff.
Logo de cara fiquei chocada com a afirm ação. Quero dizer, ele tinha usado
sexy e Duff — insinuando que sou gorda e feia — na m esm a frase. A incoerência
soava quase côm ica. Quase.
O que realm ente m e atingiu foi o fato de Wesley ter m e cham ado de sexy.
Nem Jake Gaither tinha feito isso. Wesley foi o prim eiro. A verdade era que estar
com ele fazia com que eu m e sentisse atraente. A m aneira com o ele m e tocava.
A form a com que m e beij ava. Eu podia perceber que seu corpo m e queria. Tudo
bem , tudo bem . Estávam os falando de Wesley. O corpo dele estava sem pre
pronto. Contudo, ainda assim , o que eu estava sentindo não experim entava
havia… Bem , na verdade, nunca tinha experim entado aquilo. Era excitante e
fazia eu m e sentir poderosa.
Mas nada conseguiria apagar a dor que a últim a palavra de sua frase m e
causou. Ele pode ter sido o prim eiro hom em a m e cham ar de sexy, m as tam bém
foi o prim eiro a m e cham ar de Duff. Essa palavra m e acom panhava, m e
perseguia e m e assom brava fazia sem anas. E tudo por culpa dele.
Com o ele conseguia m e achar sexy e Duff ao m esm o tem po?
E um a pergunta m elhor ainda: por que eu m e im portava?
Antes que eu pudesse encontrar boas respostas, Wesley com eçou a m e
beij ar, seus dedos j á abrindo o zíper do m eu short. Nós nos tornam os um
em aranhado de lábios e m ãos e j oelhos, e eu esqueci totalm ente o dilem a que
m artelava m inha cabeça.
Ao m enos por enquanto.
— Vam os lá, Panthers! — gritou Casey j unto com as outras integrantes do
Esquadrão das Magrinhas. Elas pulavam e davam estrelas perto das
arquibancadas.
Ao m eu lado, Jessica sacudia um pom pom azul e laranj a que tinha custado
dois dólares, seu rosto brilhava com em polgação. Jake e Tiffany estavam
ocupados em um j antar com os pais dela, o que significava que eu tinha duas ho-
ras livres para curtir com Jess… Ainda que fossem duas horas em um evento
esportivo estúpido.
A verdade era que eu odiava tudo o que exigia espírito de equipe, porque,
obviam ente, não tinha nada disso. Odiava a escola Ham ilton. Odiava as cores
fortes do lugar, a m ascote genérica, e noventa por cento dos alunos. Era por isso
que m al podia esperar para ir em bora para a faculdade.
— Você odeia absolutam ente tudo! — com entou Casey quando m anifestei
m inha falta de vontade de assistir ao j ogo de basquete.
— Isso não é verdade.
— É verdade, sim ! Você odeia tudo. Mas eu am o você. E Jess. E é por isso
que vou pedir, com o sua m elhor am iga, para levá-la ao j ogo.
Quando Jessica m e contou que estava a fim de sair naquela noite, m eu
prim eiro instinto foi o de ir para m inha casa, assistir a uns film es. Mas as
obrigações de Casey com o líder de torcida interferiram em m eus planos. Isso
pode não parecer um grande dilem a — Jessica e eu podíam os ter visto film es
sozinhas —, m as Casey precisava com plicar tudo. Ela tam bém queria ver
Jessica. E queria que a víssem os torcendo no j ogo. Mesm o que fosse contra
m inha vontade.
— Vam os lá, B! — insistiu ela, parecendo irritada. — É só um j ogo.
Ela andava m al-hum orada nos últim os dias. Especialm ente com igo. E eu
realm ente não estava em condições de discutir com ela.
Então, foi assim que acabei presa no j ogo. Foi assim que acabei sentada
naquela arquibancada desconfortável, com m eu tédio atingindo proporções
inim agináveis enquanto os gritos da torcida e os berros das pessoas em volta de
m im contribuíam para a m inha enxaqueca. Que m aravilha.
Eu havia acabado de decidir que ia direto para a casa de Wesley no fim do
j ogo quando Jessica m e cutucou. Por um segundo, pensei que tinha sido sem
querer, que Jess tinha se em polgado dem ais com o pom pom . Foi q
uando senti
que ela agarrou m eu pulso.
— Bianca.
— Que foi? — Eu m e virei, m as ela não estava olhando para m im . Seus
olhos estavam em um grupo de pessoas em um a arquibancada próxim a, abaixo
da nossa.
Três garotas, altas e bonitas — m eninas do prim eiro ano, pensei —, estavam
sentadas um a ao lado da outra. Três rabos de cavalo perfeitos. Três calças j eans
de m arca. E então, pelo corredor, a quarta m enina se aproxim ou. Ela era m enor
e m ais pálida, tinha cabelo preto curto. Claram ente um a caloura. Carregava
diversas garrafas d’água e alguns cachorros-quentes em um ninho form ado por
seus braços. A novata havia acabado de retornar da barraca de lanches.
Observei enquanto a caloura sorridente passava as garrafas e a com ida para
as outras garotas ali sentadas. Assisti enquanto cada um a das m eninas ia pegando
as coisas da m ão da m enor, e tam bém percebi com o nenhum a delas pareceu
agradecer. A m enina de cabelos pretos se acom odou na arquibancada, e
nenhum a das garotas falou com ela, elas só falavam entre si. Vi quando ela
tentou puxar assunto e quando fechou a boca de repente, ao ser interrom pida e
ignorada. Até que, depois de um m om ento, um a das garotas a encarou, falou
algum a coisa rapidam ente e desviou o rosto, olhando de novo para as am igas. A
caloura se levantou e se dirigiu à barraca de lanches, pronta para cum prir novas
ordens.
Quando olhei para Jessica novam ente, seus olhos estavam som brios e…
tristes. Ou, talvez, cheios de raiva. Era difícil dizer por que ela não dem ostrava
nenhum a dessas duas em oções com m uita frequência.
De qualquer form a, eu podia entender o m otivo.
Jessica costum ava ser com o aquela m enina. Foi com o Casey e eu a
conhecem os. Duas veteranas que faziam parte do grupo de torcida de Casey —
honrando o estereótipo, elas eram loiras, m agras e m alvadas — estavam se
gabando por ter um a novata com o sua “criada”. Mais de um a vez, Casey
testem unhou as duas dando ordens e hum ilhando Jess.
— Precisam os fazer algo pra aj udá-la, B — dissera Casey com veem ência.
— Não podem os sim plesm ente deixar essa m enina ser tratada dessa form a.
Casey achava que tinha de salvar todo m undo. Assim com o tinha m e
salvado no parquinho m uitos anos antes. Eu j á estava acostum ada com isso, a