Duff

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Duff Page 15

by Kody Keplinger


  quase cheio. Precisei parar na últim a fileira e correr — com m inha m ochila de

  quase dez quilos nas costas — na direção da porta dupla. Claro que, quando

  cheguei ao corredor principal, estava sem fôlego. Meu Deus, pensei, enquanto

  arrastava m inha bunda gorda para a aula de espanhol. Não é de estranhar que eu

  seja uma Duff. É deprimente como estou fora de forma.

  Bem , pelo m enos os corredores estavam praticam ente vazios. O que

  significava que ninguém tinha testem unhado m inha chegada patética.

  — Ei, aonde você foi ontem ? — perguntou Jessica quando m e j oguei na

  carteira, alguns segundos antes de o sinal tocar. — Você não estava no alm oço

  nem na aula de inglês. Casey e eu ficam os m eio preocupadas.

  — Saí da escola m ais cedo.

  — Achei que nós três faríam os algo para com em orar o Dia dos Nam orados

  em que estam os todas solteiras.

  — É m eio irônico, não acha? — Suspirei e balancei a cabeça, tentando não

  olhar para os grandes olhos m agoados dela. Merda, ela estava fazendo m e sentir

  culpada! E eu sabia que iria pagar, de algum a form a, por desligar na cara de

  Casey na noite passada. — Desculpa, Jessica. Tive um problem a ontem . Te conto

  depois da aula, tá bom ?

  Antes que ela pudesse dizer algum a coisa, a sra. Rom ali lim pou a garganta e

  gritou:

  — Silencio! Buenos días, amigos. Hoj e vam os com eçar a conj ugar no

  presente progressivo, e quero avisar desde agora que é bem difícil.

  E era m esm o. A sra. Rom ali passou um exercício que nos m anteve

  ocupados até o final da aula. Quando o sinal tocou, eu estava m esm o com eçando

  a questionar m eu gosto pelas aulas de espanhol, e não era a única.

  — Ainda dá pra m udar de m atéria este sem estre? — perguntou Angela a

  Jessica e a m im quando saíam os da sala.

  — Não, o prazo acabou há um m ês — respondi.

  — Droga.

  — Tchau, Bianca! — gritou Jessica enquanto elas corriam para a aula de

  quím ica. — Vej o você no alm oço!

  Acenei e com ecei a seguir pelo outro corredor. Hoj e, entretanto, estava de

  fato anim ada para a aula de organização política avançada. Toby Tucker tinha

  pedido para eu sentar perto dele. Não seria m ais a garota solitária no fundo da

  sala. Nunca pensara que isso ia m udar ou que ficaria tão feliz quando

  acontecesse. O que dizer? O isolam ento autoim posto estava finalm ente

  com eçando a m e incom odar.

  Mas Toby não estava lá. O lugar dele estava cem por cento vazio quando

  entrei na sala (pelo m enos dessa vez eu tinha chegado bem cedo, com o o sr.

  Chaucer gostava), e m eu coração apertou um pouco… quer dizer, m uito. Pelo

  m enos não precisei sentar sozinha. Jeanine praticam ente m e arrastou para a

  frente da sala, talvez perdida sem Toby para m antê-la interessada. Ela devia ter

  ficado desapontada porque eu não era tão boa para fazer com entários políticos

  sarcásticos quanto seu com panheiro habitual. Tudo o que podia oferecer eram

  algum as afirm ações irônicas sobre a funcionalidade do sistem a j udiciário. Meu

  Deus, com o eu sentia falta de Toby !

  E o sr. Chaucer, tam bém . Ele pareceu entediado com sua própria aula sem

  interrupções e, m eio desanim ado, dispensou a turm a quando o sinal tocou,

  fazendo bico com o um a criança pequena.

  E ainda dizem que professores não têm alunos favoritos.

  Fiquei aliviada de sair daquela sala de aula, que parecia fria sem os

  com entários esclarecedores de Toby, até chegar ao refeitório.

  A m esa de alm oço não estava exatam ente calorosa e acolhedora naquela

  tarde. Casey ficou fazendo cara feia para m im durante o alm oço inteiro,

  obviam ente irritada por eu ter desligado na cara dela na noite anterior. Mas

  aparentem ente não o bastante para deixar de se encontrar com igo e Jessica

  depois da aula para ouvir m inhas desculpas.

  Eu havia prom etido que explicaria tudo depois da aula. Claro que isso quis

  dizer que, no segundo em que o últim o sinal tocou, elas m e arrastaram para um

  banheiro vazio e com eçaram a dizer coisas com o “Conta tudo!” e “Fala logo!”,

  antes que eu pudesse respirar um a m ísera vez.

  Gem i e deslizei pela parede de concreto frio até um a posição sentada.

  Abracei m eus j oelhos e disse:

  — O.k., o.k. Minha m ãe apareceu ontem à tarde.

  — Ela voltou da viagem ? — perguntou Jessica.

  — Não exatam ente. Ela só veio pra conversar com igo. Ela e m eu pai estão

  se divorciando.

  Jessica tam pou a boca com a m ão, chocada, e Casey aj oelhou-se do m eu

  lado, pegando m inha m ão.

  — Você está bem , B? — perguntou, desistindo da raiva que sentia.

  — Estou bem — respondi. Eu sabia que elas ficariam m ais chateadas com

  aquilo do que eu. Casey, cuj os pais haviam atravessado um divórcio longo e

  am argo, e Jessica, que não conseguia im aginar nada m ais triste e perturbador.

  — Foi por isso que você não deu notícia no Dia dos Nam orados, ontem à

  noite? — perguntou Jessica.

  — Foi — respondi. — Desculpem . Eu só… não estava com m uita vontade

  de com em orar.

  — Você devia ter ligado — disse Casey. — Ou ter m e contado algum a coisa

  pelo telefone, ontem à noite. Eu teria escutado, você sabe.

  — Sei. Mas estou bem m esm o. Era só um a questão de tem po. Já faz algum

  tem po que espero isso. — Dei de om bros. — E, sinceram ente, não m e chateia

  m uito. Quer dizer, vocês sabem que m inha m ãe não esteve m uito presente esses

  últim os anos, então não vai m udar tanto assim . Mas ela só está aqui por alguns

  dias, e é por isso que preciso ir agora. — Levantei.

  — Pra onde você vai? — perguntou Casey.

  — Disse a m inha m ãe que veríam os um film e j untas hoj e. — Peguei m inha

  m ochila e dei um a olhada no m eu reflexo no espelho. — Desculpem . Sei que

  vocês querem conversar m ais sobre isso, m as m inha m ãe vai em bora no final da

  sem ana, então…

  — Tem certeza de que está bem ? — perguntou Casey, cética.

  Hesitei, com a m ão levantada para afastar algum as m echas castanho-

  averm elhadas do rosto. Poderia ter contado a elas ali. Poderia ter contado sobre

  m eu pai, sobre as garrafas de cervej a e com o eu estava confusa. Eram m inhas

  m elhores am igas, afinal. Se preocupavam com igo.

  Mas se eu entregasse m eu pai, o que aconteceria? E se isso se espalhasse? O

  que pensariam dele? Não conseguia lidar com isso. Mesm o a ideia das m inhas

  m elhores am igas j ulgando-o m e deixava desconfortável. Afinal, era m eu pai. E

  aquilo não era im portante. Ele estava atravessando um a fase difícil. Não havia

  nada com que se preocupar.

  — Absoluta — falei, virando as costas para o espelho com um sorriso

  forçado. — Mas preciso ir. Não quero deixar m inha m ãe esperando.

  — Divirta-se — m urm urou Jessica, os olhos ingênuos ainda arregalados pelo

  choque. Talvez eu devesse ter dado a notícia a ela com m ais cuidado.

  Estava na porta do banheiro quando Casey cham ou:

  — Ei, B, espera aí!

  — O que foi?

  — Vam os fazer
algum a coisa no fim de sem ana — sugeriu ela. — Pra

  com pensar por não term os feito nada no Dia dos Nam orados. Podíam os ir todas

  ao Nest. Um a Noite das Garotas vai ser divertido. Podem os até com prar sorvete

  pra você.

  — Claro. Ligo depois, m as preciso m esm o ir.

  Com um aceno, corri para fora do banheiro. Era verdade que eu queria ver

  um film e com m inha m ãe, m as não era esse o m otivo da m inha pressa. Eu tinha

  algo a fazer antes.

  Assim que cheguei ao carro, peguei o celular, sem perder tem po. Liguei

  para aquele núm ero fam iliar e esperei a voz m asculina profissional atender.

  — Você ligou para Tech Plus. Aqui quem fala é Ricky. Com o posso aj udar?

  Queria falar com m eu pai. Ter certeza de que ele estava bem e lhe dizer que

  íam os superar aquilo. Sabe, apenas dar um apoio. Eu sabia que ele precisava.

  Depois da noite que tivera, sabia que ele devia estar tendo um péssim o dia de

  trabalho. Além disso, j á que eu estava lidando com as novidades tão bem , podia

  pelo m enos aj udá-lo a passar por aquele m om ento.

  — Boa tarde, Ricky — falei. — Será que o sr. Piper pode atender?

  — Não, sinto m uito. O sr. Piper não veio trabalhar hoj e.

  Fiquei ali parada, tonta por um instante, sabendo o que aquilo queria dizer.

  Mas afastei as preocupações que m e davam um aperto no coração. Ele devia

  estar apenas de ressaca após um a noite ruim . Talvez aquilo fosse m ais do que

  suficiente para lem brá-lo por que ele havia parado de beber, em prim eiro lugar.

  Ele estaria bem am anhã.

  Eu esperava que estivesse.

  — Obrigada, m esm o assim — falei. — Tenha um bom dia.

  Desliguei e digitei outro núm ero. Dessa vez, um a m ulher com voz clara e

  anim ada atendeu:

  — Alô?

  — Oi, m ãe. — Forcei-m e a parecer pelo m enos m eio anim ada. Se soasse

  alegre dem ais, ela saberia que havia algo acontecendo. Afinal, eu não era do tipo

  j ovial. — Ainda quer assistir a um film e hoj e à noite?

  — Ah, oi, Bianca! — exclam ou m inha m ãe. — Sim , parece ótim o. Escute,

  querida, você falou com o seu pai hoj e? Ele está bem ? Estava tão arrasado ontem

  à noite, e estava chorando quando fui em bora. — Pelo j eito com o ela falava,

  pude entender que não tinha ideia de que ele tivera um a recaída e voltara a

  beber. Se soubesse, a voz dela estaria m uito m ais tensa e cheia de preocupação.

  Talvez até à beira do pânico. Mas m inha m ãe parecia calm a. Apenas levem ente

  preocupada. O fato dela estar tão cega realm ente m e preocupou. Quer dizer, ele

  tinha parado de beber há quase dezoito anos, m as m esm o assim ... Isso devia ter

  passado pela cabeça dela.

  Mas não seria eu que lhe daria essa notícia.

  — Ele está bem . Acabei de falar com ele. Vai chegar tarde hoj e do

  trabalho, então um film e vai funcionar bem pra m im .

  — Ah, certo, fico feliz de ouvir isso — disse m inha m ãe. — O que você quer

  assistir? Nem sei o que está passando.

  — Nem eu, m as acho que um a com édia seria bom .

  capítulo 16

  Meu pai não estava m elhor no dia seguinte.

  Nem no outro.

  Voltou ao trabalho no fim da sem ana, m as eu tinha certeza de que não era a

  única a notar as ressacas que levava consigo. Agora, parecia sem pre haver

  cervej a ou uísque pela casa. Ele sem pre estava desm aiado no sofá ou trancado

  no quarto. E nunca falava disso com igo. Com o se eu não notasse. Eu devia

  ignorar aquilo? Fazer de conta que o problem a não existia?

  Queria dizer algum a coisa. Queria lhe pedir para parar. Dizer que ele estava

  com etendo um erro enorm e. Mas com o? Com o é que um a garota de dezessete

  anos convence o pai de que sabe o que é m elhor para ele? Se eu tentasse fazê-lo

  parar, ele podia ficar na defensiva. Podia im aginar que eu o havia abandonado

  tam bém . Podia ficar com raiva de m im .

  Com o m eu pai tinha parado de beber antes do m eu nascim ento, eu, de fato,

  não sabia m uita coisa sobre o processo de desintoxicação. Sabia que ele teve um

  padrinho. Um suj eito alto e calvo de Oak Hill para quem m inha m ãe sem pre

  m andava cartões de Natal quando eu era criança. Meu pai não falava m ais dele,

  e eu tinha certeza de que, m esm o que tentasse, não conseguiria encontrar seu

  telefone. E, ainda que conseguisse, o que dizer? Com o esse negócio de padrinho

  funcionava?

  Eu m e sentia im potente e inútil, e, m ais do que qualquer coisa,

  envergonhada. Sabia que, com m inha m ãe longe, cabia a m im fazer um a

  tentativa. Só não tinha ideia de por onde com eçar.

  Então, nas sem anas que se seguiram à viagem da m inha m ãe para o

  Tennessee, passei a m aior parte do tem po evitando m eu pai. Nunca vira papai

  bêbado e, por isso, não sabia o que esperar. Tudo o que eu tinha para m e basear

  eram os trechos de conversa que ouvia quando criança. Papai tinha sido um cara

  nervoso. Com um tem peram ento difícil. Não conseguia im aginar isso vindo do

  m eu pai, nem queria passar a conseguir em um futuro próxim o. Então eu ficava

  no m eu quarto, e ele ficava no dele.

  Ficava tentando m e convencer de que tudo ia passar. Enquanto isso,

  guardava o pequeno segredo dele com igo. Felizm ente, m inha m ãe era crédula o

  suficiente para acreditar em m im , toda vez que eu dizia no telefone que tudo

  estava bem , apesar do m eu pouco talento para o palco.

  Sinceram ente, achei que esconder m eus segredos de Casey seria a parte

  m ais difícil. Ela sem pre conseguia ver através de m im , afinal. Prim eiro tentei

  evitá-la, ignorando suas ligações e inventando desculpas quando ela m e cham ava

  para fazer algum a coisa. Acabei não ligando para conversar sobre a Noite das

  Garotas que ela m encionara no banheiro. Tinha certeza de que ela iria m e

  bom bardear de perguntas no instante em que m e flagrasse sozinha e, por isso,

  tentava usar a coitada da Jessica, que não estava entendendo nada, com o escudo

  protetor. Mas, depois de um a sem ana, com ecei a ter a estranha sensação de que

  Casey era quem estava se m antendo afastada de mim.

  Ela passou a m e ligar cada vez m enos.

  Parou de perguntar se eu queria ir ao Nest nos finais de sem ana. Até trocou

  de lugar com Jeanine no alm oço, sentando-se do outro lado da m esa — tão longe

  de m im quanto possível. Um a ou duas vezes eu até a flagrei m e olhando de um

  j eito esquisito.

  Queria saber qual era a droga do problem a dela, porém fiquei com m edo de

  confrontá-la. Sabia que, se falássem os daquilo, eu não seria capaz de continuar

  m entindo a respeito do m eu pai. Não para ela. Mas aquilo era o segredo dele, a

  vergonha dele, não cabia a m im contar. Não deixaria que ninguém , nem m esm o

  Casey, descobrisse.

  Então fui obrigada a deixar rolar por um tem po aquela esquisitice suprem a.

  Foi Wesley quem m e fez atravessar aquelas sem anas. Um a parte de m im

  estava horrorizada com igo, m as o que eu poderia dizer? Precisava daquela fuga

  — daquele atordoam ento — m ais do que nunca, e ele estava a apenas alguns

  m inutos de carro. Um a dose, três ou quatro vezes por sem ana, era tudo de que eu

  preci
sava para m e m anter sã.

  Meu Deus, eu estava agindo com o um a viciada. Talvez m inha sanidade j á

  tivesse m e abandonado.

  — O que você faria sem m im ? — perguntou ele um a noite. Estávam os

  enrolados nos lençóis de cetim em sua cam a gigante. Meu coração ainda estava

  acelerado enquanto eu voltava do êxtase do que acabáram os de fazer, e ele não

  estava aj udando ao deixar os lábios tão perto do m eu ouvido.

  — Viveria um a vida feliz… m uito feliz — m urm urei. — Eu poderia até…

  ser otim ista… se você não estivesse por perto.

  — Mentirosa. — Ele m ordeu o lóbulo da m inha orelha, de brincadeira. —

  Você seria totalm ente infeliz. Adm ita, Duff. Sou o vento sob suas asas.

  Mordi o lábio, m as não consegui conter a risada — bem na hora em que eu

  estava recuperando o fôlego.

  — Você acabou de citar Bette Midler… na cam a. Estou com eçando a

  questionar sua sexualidade, Wesley.

  Wesley m e olhou com um brilho desafiador nos olhos.

  — Ah, é m esm o? — Ele deu um sorriso breve antes de levar a boca de volta

  à m inha orelha e sussurrar: — Am bos sabem os que m inha m asculinidade nunca

  esteve em questão… Acho que você só está m udando de assunto porque sabe que

  é verdade. Sou a luz da sua vida.

  — Você… — Lutei para achar as palavras enquanto Wesley encostava a

  boca na curva do m eu pescoço. A ponta da língua dele desceu pelo m eu om bro e

  fez m eu cérebro ficar todo enevoado. Com o eu podia discutir daquele j eito? —

  Você bem que queria isso. Estou apenas usando você, lem bra?

  A gargalhada dele foi abafada, j unto da m inha pele.

  — Que divertido — disse ele, os lábios ainda roçando m inha clavícula. —

  Porque tenho quase certeza de que seu ex j á saiu da cidade. — Um a das m ãos

  dele deslizou entre m eus j oelhos. — E, no entanto, você ainda está aqui, né? —

  Os dedos dele com eçaram a alisar a parte interna da m inha coxa, dificultando

  m inha busca por um a resposta. Ele pareceu gostar daquilo, porque riu de novo.

  — Acho que você não m e odeia, Duff. Acho que você gosta m uito de m im .

  Contorci-m e incontrolavelm ente enquanto as pontas dos dedos de Wesley

  dançavam na parte interna da m inha perna. Queria tanto discutir, m as ele estava

 

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