Duff

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Duff Page 25

by Kody Keplinger


  cérebro. Virei a página e reli o trecho de novo e de novo. Estava tentando

  entender o m otivo de aquelas palavras m e incom odarem tanto quando fui

  interrom pida pelo som da cam painha.

  — Graças a Deus — m urm urei, aliviada de ter um a razão para fechar o

  livro. Pulei da cam a e corri escada abaixo. — Estou indo! — gritei. — Só um

  segundo!

  Abri a porta da frente esperando encontrar Toby, que avisara que ia passar

  na m inha casa. Mas o hom em na varanda era um ruivo gorducho na casa dos

  cinquenta. Definitivam ente, não era m eu nam orado. Ele usava um uniform e

  verde surrado e um chapéu que não servia direito. O nom e na etiqueta de seu

  casaco dizia JIMMY. Ele segurava um buquê de flores na m ão direita e tinha

  um a prancheta em baixo do braço.

  — Srta. Bianca Piper? — perguntou.

  — Hum … sim .

  Seus olhos estrábicos se ilum inaram em um sorriso.

  — Assine aqui, por favor — disse ele, entregando-m e a prancheta e um a

  caneta. — Parabéns.

  — Ahn… obrigada — falei, devolvendo-lhe a prancheta.

  Ele m e entregou o buquê, e eu vi que era feito de rosas verm elhas de

  verdade, e m e entregou um envelope branco que tirou de seu bolso de trás.

  — Isto é para você tam bém — disse ele. — Você é um a garota de sorte.

  Não é sem pre que faço um a entrega com o esta para alguém da sua idade. — Ele

  sorriu. — Am or de j uventude.

  Am or de j uventude? Meu Deus, precisei lutar contra a vontade de corrigi-lo.

  Queria fazer um longo discurso para explicar que os adolescentes não se

  apaixonam . Mas ele ainda estava falando.

  — Seu nam orado realm ente deve ser um cara e tanto. Poucos garotos são

  tão atenciosos nessa idade.

  Dei um a olhada nas rosas e disse:

  — Você provavelm ente está certo.

  Será que Toby ainda estava tentando m e anim ar? Nossa, ele era tão legal!

  Que horror que eu não m erecesse a delicadeza dele.

  Depois de agradecer ao entregador, fechei a porta. Eu m e sentia culpada

  por achar que m inha situação era um triângulo am oroso. Éram os som ente Toby

  e eu; Wesley deslizava pelos cantos, bem longe de nós… ou era assim que

  deveria ser. Era assim que Toby m erecia que fosse.

  Coloquei o buquê sobre a m esa da cozinha e abri o envelope esperando

  encontrar um a carta idiota, m as com as palavras perfeitas do m eu nam orado

  sem defeitos. Era o tipo de coisa sobre a qual eu norm alm ente faria piada, porém

  dessa vez ia dar um a folga a Toby. Ele realm ente tinha talento com as palavras.

  Um a qualidade que seria útil quando se tornasse um político fam oso.

  Mas a caligrafia na carta era a m esm a do bilhete que estava na m inha

  m ochila. E havia m uito m ais para absorver.

  Bianca,

  Já que você continua fugindo de mim na escola e, se eu me lembro

  bem, o som da minha voz lhe provoca pensamentos suicidas, decidi que

  uma carta pode ser a melhor forma de dizer como me sinto. Apenas me

  escute.

  Não vou negar que você estava certa. Tudo o que você disse na outra

  noite estava correto. Mas meu medo de ficar sozinho não é a razão pela

  qual estou correndo atrás de você. Eu sei como você é cética, e você

  provavelmente vai se sair com uma resposta engraçadinha quando ler

  isto, mas continuo procurando você porque realmente acho que estou

  me apaixonando.

  Você é a primeira garota que me viu como sou. Você é a única garota

  que chamou minha atenção para as coisas que faço de errado. Você me

  pôs no meu lugar, mas, ao mesmo tempo, me entende melhor do que

  qualquer um jamais entendeu. Você é a única pessoa corajosa o

  suficiente para me criticar. Talvez a única pessoa que se aproximou de

  mim o suficiente para encontrar meus defeitos — e, obviamente, achou

  muitos.

  Liguei para os meus pais. Eles vêm para casa neste fim de semana

  para falar com Amy e comigo. Eu estava com medo de fazer isso no

  começo, mas você me inspirou. Sem você, nunca poderia ter feito.

  Penso em você muito mais do que qualquer homem que tem respeito

  próprio gostaria de admitir, e estou com um ciúme insano do Tucker —

  algo que nunca pensei que diria. Seguir em frente depois de você é

  impossível. Nenhuma outra garota pode me manter na linha como você.

  Ninguém mais me faz QUERER me envergonhar escrevendo cartas

  idiotas como esta.

  Só você.

  Mas sei que estou certo também. Sei que você está apaixonada por

  mim, apesar de estar namorando Tucker. Você pode mentir para si

  mesma se quiser, mas a realidade vai alcançá-la. Vou esperar por você

  até que isso aconteça… você goste disso ou não.

  Com amor,

  Wesley

  P.S.: Eu sei que você deve estar revirando os olhos agora, mas não ligo.

  Honestamente, sempre achei isso meio excitante.

  Fiquei olhando para a carta por um longo tem po, entendendo, enfim , por que

  Am y tinha m e agradecido. Wesley estava tentando aj eitar as coisas… por m inha

  causa. Por causa do que eu dissera. Eu tinha, na verdade, conseguido penetrar

  naquela cabeça m aluca dele. Isso foi absolutam ente chocante para m im .

  Levou um segundo para as outras surpresas m e pegarem . Palavras com o

  amor e única pularam da página na m inha direção. Era a m inha prim eira carta

  de am or — não que algum a vez eu tivesse desej ado receber algum a, m as ainda

  assim … — e nem m esm o era do m eu nam orado. O cara errado a havia enviado

  para m im . O cara errado m e queria. Wesley era o cara errado.

  Ou será que ele era exatam ente o cara certo?

  Eu estava tão consum ida por m eus pensam entos que dei um pulo quando o

  telefone tocou e deslizei pelo chão da cozinha na tentativa de atendê-lo.

  — Alô?

  — Oi, Bianca — disse Toby.

  Meu coração se acelerou, e a vergonha correu por m inhas veias. A carta de

  Wesley queim ava os dedos da m inha m ão, m as consegui parecer calm a quando

  disse:

  — Ei, Toby. Você j á está vindo?

  — Não — suspirou ele. — Papai tem algum as tarefas para m im , então não

  posso ir agora à tarde. Sinto m uito, de verdade.

  — Tudo bem . — Eu não devia ter sentido alívio, m as senti. Se Toby viesse,

  eu precisaria esconder as flores, acabaria m e enredando em um a rede de

  m entiras, e todos sabem os que droga de m entirosa eu sou. — Não se preocupe.

  — Obrigado por ser tão com preensiva. Mas queria passar um tem pinho com

  você. Nós não conseguim os passar m uito tem po j untos na escola. — Ele fez um a

  pausa. — Você tem planos para am anhã à noite?

  — Não.

  — Então quer sair com igo? Um a banda vai tocar no Nest, e eu pensei que

  poderíam os ir. É claro que suas am igas podem vir tam bém . O que você acha?

  — Parece ótim o. — Olha só, eu conseguia lidar com pequenas m entiras

  com o aquela. Odiava m úsica ao vivo e desprezava o Nest, m as fingir que estava

  adorando tudo faria Toby feliz, e Casey ficaria anim ada por tam bém ser

  convidada. Então, por que não? Mentiras leves eram fáceis, m as qualquer coisa


  m aior e eu estaria ferrada.

  — Legal — disse Toby. — Então eu busco você às oito.

  — Certo. Tchau, Toby.

  — Até am anhã, Bianca.

  Desliguei o telefone, m as m eus pés se recusaram a se m over. A carta ainda

  queim ava m inha pele, e eu m e peguei olhando para as palavras tentadoras. Por

  que essa coisa toda não podia ser m ais fácil? Por que Wesley tinha de aparecer e

  m e fazer questionar tudo? Senti com o se estivesse traindo Toby a cada frase que

  lia. Com o se o estivesse enganando.

  Mas agora sabia que, cada vez que beij asse Toby, estaria m agoando Wesley.

  — AHHHHH! — Com um grito que explodiu no m eu peito e, no cam inho,

  enfiou as garras em m eus pulm ões, transform ei a carta em um a bolinha e a

  atirei no outro lado da sala com a m aior força que consegui j untar. Ela se m oveu

  devagar pelo ar antes de bater delicadam ente no papel de parede floral e pousar

  no chão.

  Finalm ente, com a garganta doendo, afundei no chão, enfiei o rosto nas

  m ãos e — adm ito — chorei. Chorei de frustração e confusão, m as em grande

  parte por m im m esm a, por estar nessa situação, com o a garotinha egoísta que eu

  era.

  Pensei em Cathy Earnshaw, a heroína m im ada e egoísta de O morro dos

  ventos uivantes, e m e lem brei da passagem que estava lendo antes que a

  cam painha tocasse. Mas as palavras vieram a m im um pouquinho diferentes do

  que estavam no livro.

  Meu amor por Toby é como a folhagem dos bosques. O tempo vai mudá-

  lo, tenho plena certeza, como o inverno muda as árvores; meu amor por

  Wesley se assemelha às rochas eternas do solo — uma fonte de pouco

  deleite, visível mas necessária.

  Balancei a cabeça para a frente e para trás febrilm ente. Gostar, eu m e

  corrigi. Meu gostar de Wesley é blá-blá-blá. Enxuguei m eus olhos e fiquei de pé,

  tentando acalm ar m inha respiração entrecortada. Então m e virei e voltei lá para

  cim a.

  De repente, eu queria saber com o o livro term inava.

  capítulo 26

  Depois de passar a noite inteira acordada lendo — e tam bém dobrando as m inhas

  roupas pelo m enos dez vezes —, descobri que O m orro dos ventos uivantes não

  tem um final feliz. Por causa de Cathy, estúpida, m im ada e egoísta (sei que não

  tenho m uito m érito para j ulgar, m as ainda assim ), tudo acaba de form a triste. As

  escolhas de Cathy arruínam a vida das pessoas com as quais ela m ais se im porta.

  Tudo porque ela escolhe propriedade em vez de paixão. Cabeça em vez de

  coração. Linton em vez de Heathcliff.

  Toby em vez de Wesley.

  Isso, decidi enquanto arrastava m eu corpo exausto para a escola na m anhã

  seguinte, não era um bom presságio. Norm alm ente eu não dava a m ínim a para

  esse tipo de superstição ou bobagens com o sinais do destino, m as as sim ilaridades

  entre as situações que eu e a personagem Cathy Earnshaw estávam os

  enfrentando eram im possíveis de ignorar. Não conseguia parar de m e perguntar

  se o livro não estava tentando m e m andar um recadinho.

  Sabia que estava interpretando as entrelinhas m uito m ais do que seria

  recom endável, porém a falta de sono som ada ao estresse de tudo o que eu vinha

  encarando fez m inha m ente viaj ar para alguns lugares interessantes.

  Interessantes, m as não produtivos.

  Passei o dia todo com o um zum bi, no entanto durante a aula de cálculo algo

  m e fez despertar de repente.

  — Você j á soube sobre Vikki McPhee?

  — Que ela engravidou? Sim , m e contaram hoj e de m anhã.

  Minha cabeça se afastou de todos os problem as que eu tentava resolver de

  m aneira não m uito inspirada. Havia duas garotas sentadas lado a lado, um a

  fileira à m inha frente. Reconheci um a delas, que fazia parte da equipe de líderes

  de torcida.

  — Meu Deus, que vagabunda! — com entou a líder de torcida. — Não tem

  nem com o saber quem é o pai. Ela dorm e com todo m undo.

  Detesto adm itir, m as m inha prim eira reação ao ouvir aqueles com entários

  foi um m edo extrem am ente egoísta. Pensei em Wesley. Tudo bem que ele

  tivesse rej eitado Vikki no corredor alguns dias antes, m as e se algum a coisa

  tivesse m udado? E se aquela carta tivesse sido um a brincadeira? Um a espécie de

  truque para m exer com a m inha cabeça? E se ele e Vikki realm ente tivessem …

  Eu m e obriguei a não pensar nisso. Wesley era m uito cuidadoso. Ele sem pre

  usava cam isinha. Além do m ais, era com o a garota tinha dito — Vikki dorm ia

  com todo m undo. As chances de Wesley ser o verdadeiro pai eram

  pouquíssim as. E eu não tinha sequer o direito de m e im portar com isso. Wesley

  não era m eu nam orado. Mesm o que tivesse declarado seu am or por m im em

  um a carta. Eu ainda esta-va com Toby, e o que Wesley decidisse fazer não era

  problem a m eu.

  Meu segundo pensam ento foi sobre Vikki. Dezessete anos, quase form ada no

  ensino m édio e, se os rum ores fossem verdadeiros, grávida. Que pesadelo. O pior

  era que todo m undo sabia. Ouvi os m urm úrios sobre o assunto no corredor

  quando finalm ente saí da aula de cálculo. Em um a escola do tam anho da

  Ham ilton, não dem orava m uito para qualquer fofoca se espalhar. A suposta

  situação de Vikki McPhee estava na cabeça de todo m undo.

  Até m esm o na m inha.

  Então, quando saí da cabine do banheiro alguns m inutos antes da aula de

  inglês e encontrei Vikki apoiada na pia passando seu batom cor-de-rosa escuro,

  precisei fazer certo esforço para desviar os olhos.

  Precisava dizer alguma coisa. Tudo bem , não éram os próxim as nem nada

  assim , porém alm oçávam os j untas todos os dias.

  — Olá — m urm urei.

  — Oi! — respondeu ela, ainda passando batom .

  Abri a torneira e encarei m eu próprio reflexo no espelho, tentando ao

  m áxim o não dar um a espiada na barriga dela. De quantos m eses Vikki estaria?

  Seus pais j á haviam percebido?

  — Não é verdade. Você sabe, não sabe?

  — O quê?

  Vikki fechou o batom e o j ogou dentro da bolsa. Ela estava m e encarando

  através do espelho, e agora eu percebia que seus olhos estavam averm elhados.

  — Eu não estou grávida — disse ela. — Quer dizer, pensei que estivesse,

  m as o teste que fiz há dois dias deu negativo. Alguém deve ter m e ouvido contar

  a história toda para Jeanine e Angela e… enfim , esqueça. Não estou grávida.

  — Ah… Nossa. Ei, isso é bom . — Eu sei, essa não era a coisa certa a dizer,

  m as fui pega totalm ente de surpresa.

  Vikki assentiu e deu um a aj eitada em seus cachos loiro-averm elhados.

  — Confesso que fiquei aliviada. Não saberia com o contar para m eus pais. E

  o cara j am ais teria dado um bom pai tam bém .

  — Quem é?

  Foi um a pergunta totalm ente egoísta.

  — Ah, um cara… Eric.

  Obrigada, meu Deus, pensei. Um segundo depois, m e senti totalm ente

  culpada. Não era hora para estar pensando em m im .

  — Ele é só um otário que faz parte de um a fraternidade, e adora transar

  com garotas que ainda estão no ensino m édio. — Vikki baixou os olhos, e não

&n
bsp; pude m ais encará-la através do espelho. — E eu nem m e im portei com isso na

  hora. Apenas deixei que ele m e usasse, nunca pensei… m esm o quando a

  cam isinha estourou… — ela se interrom peu, balançando a cabeça. — De

  qualquer form a, fico feliz que tenha dado negativo.

  — Claro.

  — É assustador, sabe? — disse Vikki. — Eu quase enlouqueci esperando o

  resultado. Sim plesm ente não conseguia acreditar que estava naquela situação,

  entende?

  — Entendo, sim — respondi, sem achar tão surpreendente. Era Vikki, afinal

  de contas. Ela j á não vinha m eio que se arriscando há anos a acabar com um

  problem a desse tipo? Dorm indo com pessoas de quem ela nem sequer gostava

  sem pensar nas consequências?

  Exatamente como eu fiz…

  Tudo bem , não foram pessoas. Wesley foi o único. E, de certa form a, eu

  gostava dele… agora que não dorm íam os m ais j untos. Isso era… bem , não sei do

  que cham ar essa situação. Não é sorte. Talvez coincidência? De qualquer form a,

  eu era esperta o bastante para saber que essas coisas não aconteciam com tanta

  frequência.

  Mas eu tinha ignorado as consequências. E, de repente, percebi que Vikki e

  eu poderíam os facilm ente trocar de papel. Eu poderia ter sido a garota sobre a

  qual todos falavam . Poderia estar apavorada por achar que estava grávida. Ou

  pior. Estava tom ando pílula, e Wesley e eu sem pre usam os cam isinha, m as às

  vezes essas coisas sim plesm ente falham . Poderiam facilm ente ter falhado

  conosco. E eu aqui, j ulgando Vikki por um a situação que poderia acontecer com

  qualquer pessoa, até com igo. Sou m esm o um a hipócrita.

  Você não é uma vadia. A im agem veio de relance, Wesley naquela noite em

  seu quarto, dizendo para m im exatam ente quem eu era. Me m ostrando que o

  resto do m undo estava tão confuso quanto eu. Que eu não era um a vadia e que

  não estava sozinha.

  Eu não conhecia Vikki tão bem . Não sabia com o era sua vida em casa e

  nada sobre sua vida particular, exceto seu conhecido envolvim ento com diversos

  garotos. E ali, naquele banheiro, ouvindo-a m e contar sua história, não conseguia

  parar de m e perguntar se ela tam bém não estava tentando fugir de algum a coisa.

  Eu a tinha j ulgado, achando que ela era um a vadia por todo esse tem po, quando,

 

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