Duff

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by Kody Keplinger


  na realidade, vivíam os de um j eito m uito parecido.

  Cham ar Vikki de vadia ou vagabunda era o m esm o que cham ar alguém de

  Duff. Era um a coisa ofensiva de dizer e m agoava profundam ente. Era um desses

  rótulos que se alim entavam dos m edos secretos que todas as m eninas têm de

  tem pos em tem pos. Vadia, puta, puritana, cabeça de vento. Era tudo a m esm a

  coisa. Toda garota j á foi definida por esses adj etivos sexistas em algum a etapa da

  vida.

  Então, talvez, todas as garotas se sintam com o um a Duff?

  — Meu Deus, estou m uito, m uito atrasada — disse Vikki no instante em que o

  sinal tocou. — Preciso ir.

  Acom panhei Vikki com o olhar enquanto ela apanhava a bolsa e recolhia

  seus livros, im aginando o que devia estar se passando em sua cabeça. Será que

  toda essa situação havia feito com que ela se desse conta das consequências de

  suas escolhas?

  Nossas escolhas.

  — Nos vem os por aí, Bianca — disse ela enquanto se dirigia para a porta.

  — Tchau! — falei. Então, sem pensar, disse: — E, Vikki… Sinto m uito. É

  um a droga o que as pessoas dizem sobre você. Lem bre-se de que o que elas

  dizem não im porta. — Novam ente, pensei em Wesley e no que ele m e falara no

  quarto dele. — As pessoas que se referem a você com nom es idiotas só estão

  tentando se sentir m elhor. Elas tam bém estão confusas. Você não está sozinha.

  Vikki m e encarou, parecendo surpresa:

  — Obrigada — disse ela. Ela abriu a boca com o se estivesse prestes a dizer

  algo m ais, porém fechou novam ente. Sem dizer m ais nada, deixou o banheiro.

  Até onde eu sabia, Vikki provavelm ente sairia com um novo cara esta noite.

  Talvez não tivesse aprendido nada com a experiência. Ou talvez ela fosse m udar

  seu com portam ento de um a vez por todas — ou ao m enos, quem sabe, ser um

  pouco m ais cautelosa. É provável que eu nunca descubra. A escolha era dela. A

  vida era dela. E não era m eu papel j ulgá-la.

  Nunca foi m eu papel j ulgar.

  Estava descendo pelo corredor, cinco m inutos atrasada para m inha aula de

  inglês, quando decidi que j am ais cham aria novam ente Vikki — ou qualquer outra

  pessoa — de vadia.

  Porque ela é igual a m im .

  Igual a todo m undo.

  Isso era algo que todas tínham os em com um . Vadias ou putas, pudicas ou

  Duffs.

  Eu era um a Duff. E isso era um a coisa boa. Porque qualquer pessoa que não

  se sente com o um a Duff de vez em quando não deve ter am igos. Todas as

  garotas se sentem pouco atraentes às vezes. Por que dem orou tanto tem po para

  que eu m e desse conta disso? Por que passei tanto tem po estressada por causa de

  um a palavrinha? Eu deveria m e orgulhar de ser um a Duff. E m e orgulhar de ter

  am igas fantásticas, porque, na cabeça delas, elas eram minhas Duffs.

  — Bianca! — A sra. Perkins m e cum prim entou quando entrei na sala de

  aula e sentei em m inha carteira. — Antes tarde do que nunca.

  — Acho que sim — respondi. — Desculpa por ter dem orado tanto.

  Quando cheguei em casa naquela tarde, estava cansada dem ais até m esm o para

  subir a escada. Sim plesm ente desabei no sofá, e o sono m e venceu rapidinho.

  Tinha esquecido com o era bom tirar um a soneca no m eio do dia. Quer dizer, os

  europeus acertaram em cheio com seu conceito de sesta. Nós, am ericanos,

  devíam os considerar dar um a dorm idinha no m eio de um dia cheio de

  com prom issos porque é m uito revigorante, principalm ente depois de um tão

  cheio de em oções com o o que eu tinha acabado de experim entar.

  Eram quase sete da noite quando acordei, o que lim itava bastante o tem po

  que eu tinha para m e arrum ar para o encontro. Meu cabelo, que parecia um

  m onte de feno depois do cochilo, ia levar quase um a hora de dedicação para

  ficar aceitável. Que ótim o.

  Desde que tinha com eçado a sair com Toby, eu vinha prestando m ais

  atenção na m inha aparência. Não que ele se im portasse com esse tipo de coisa.

  Toby era o tipo de cara que provavelm ente diria que eu estava bonita vestida

  com o um palhaço — peruca nas cores do arco-íris e tal. Mas sentia essa

  constante necessidade de im pressioná-lo. Alisei m eu cabelo e o prendi em um

  rabo de cavalo, coloquei um par de brincos de pressão prateados (sou covarde

  dem ais para furar m inhas orelhas) e vesti a blusa que Casey m e dera de presente

  no m eu aniversário de dezessete anos. Era um a blusa de seda branca com

  estam pa em tons prateados, j usta, o que fazia m eus seios parecer m aiores.

  Eram quase oito da noite quando desci a escada usando m inhas sandálias de

  salto alto, arriscando m inha segurança para ficar um pouquinho m ais alta. Tom ei

  cuidado para não olhar para a cozinha enquanto passava pela porta, porque m eu

  pai, obviam ente pensando que as rosas eram presente de Toby, tinha colocado o

  buquê em um vaso antigo no centro da m esa de j antar na noite passada. Fora

  um a gentileza, m as olhar para as rosas verm elhas só trazia de volta m inhas

  dúvidas irritantes. Então segui direto para a sala de estar e m e j oguei no sofá para

  esperar Toby, prom etendo a m im m esm a que encontraria a solução para as

  m inhas confusões rom ânticas naquele fim de sem ana.

  Por falta de algo m elhor para fazer, peguei o guia da program ação da TV

  que estava sobre a m esa de centro e com ecei a ver a program ação dos próxim os

  dias. Um post-it preso entre duas páginas cham ou m inha atenção, e eu abri o guia

  naquelas páginas. Papai tinha sublinhado o aviso da m aratona de Caras & Caretas

  no dom ingo seguinte, usando aquele pequeno pedaço de papel com o m arcador

  de página. Sorri e puxei um a caneta que estava na m inha bolsa para rabiscar

  “Deixe a pipoca com igo!” no post-it. Papai veria isso assim que chegasse em

  casa da sua reunião.

  No instante em que pus a revista sobre a m esa, a cam painha tocou. Eu m e

  levantei o m ais rápido que pude, tem endo cair, e tropecei pelo cam inho em

  direção à porta, esperando ser saudada com um grande sorriso de Toby, que eu

  absolutam ente não m erecia. O sorriso branco e brilhante que se abriu bem na

  m inha frente, porém , pertencia a alguém totalm ente diferente.

  — Mãe? — Eu m eio que engasguei dizendo essa palavra, soando com o um a

  personagem de novela m exicana que acaba de descobrir que sua gêm ea

  m alvada ainda está viva. Envergonhada, lim pei a garganta e perguntei: — O que

  você está fazendo aqui? Pensei que estivesse no Tennessee.

  — Eu estava, m as decidi fazer um a visita, é claro — respondeu m inha m ãe,

  apalpando seu penteado de estrela de cinem a. Seu cabelo loiro platinado estava

  preso em um coque, e ela usava um vestido verm elho e preto até os j oelhos. Um

  visual que era m arca registrada da m inha m ãe.

  — Mas são sete horas de carro até aqui! — falei.

  — Acredite, eu sei. — Ela suspirou, fazendo um dram inha. — Sete horas e

  m eia se o trânsito estiver ruim . Então… você vai m e convidar para entrar ou

  não? — Eu podia dizer pela form a com o as m ãos dela apertavam a alça da bolsa

  que ela estava nervosa por estar de volta.

  — Ah, claro
! — respondi, abrindo espaço. — Entre, desculpa. Mas, olha só,

  papai não está aqui.

  — Ah, eu sei. — Mam ãe estava correndo os olhos pela sala de estar de um a

  form a que m e fez sentir ansiosa por ela. Encarou a poltrona e o sofá que

  costum avam ser dela, com o se estivesse se perguntando se tinha o direito de se

  sentar ali ou não. — Ele tem reunião do AA às sextas-feiras à noite. Ele m e

  contou.

  — Vocês andaram conversando? — Isso era novidade para m im . Até onde

  eu sabia, eles estavam evitando qualquer contato desde a últim a reaparição de

  m inha m ãe.

  — Nós nos falam os por telefone duas vezes. — Ela parou de olhar para a

  sala e voltou os olhos para m im , o que pareceu pesar em m eus om bros. —

  Bianca, m eu am or… — A voz dela soou suave e triste. Dolorosa de se ouvir. —

  Por que você não m e contou que ele voltou a beber?

  Mudei de posição, tentando escapar do olhar dela.

  — Eu não sei… — m urm urei. — Acho que apenas esperava que tudo fosse

  se resolver naturalm ente. Eu não queria preocupá-la nem nada assim .

  — Eu entendo, m as, Bianca, isso é um problem a m uito grave — disse ela.

  — Você agora entende isso, espero. Se acontecer de novo, não guarde para si

  m esm a. Você precisa m e contar. Está m e entendendo?

  Concordei com a cabeça.

  — Bom . — Ela suspirou, aparentando estar aliviada. — De qualquer form a,

  esse não é o m otivo pelo qual estou aqui.

  — Por que você está aqui?

  — Porque seu pai m e contou outra coisa… — provocou ela. — Algo sobre

  um garoto cham ado Toby Tucker.

  — Você dirigiu sete horas e m eia por que eu tenho um encontro?

  — Tenho outras razões para estar em Ham ilton — disse ela —, m as acredito

  que essa sej a a m ais im portante. Então é verdade? Meu bebê tem um nam orado?

  — Ahhh… é, tenho — falei, dando de om bros. — Acho que sim .

  — Bem , conte-m e m ais sobre ele. — Minha m ãe estava em polgada,

  finalm ente decidindo se sentar no sofá. — Com o ele é?

  — Ele é legal — respondi. — Com o está o vovô?

  Ela sem icerrou os olhos, parecendo suspeitar de m im .

  — Ele está bem . O que há de errado? Você está tom ando a pílula, né?

  — Meu Deus, m ãe, é claro! — gem i. — Isso não está em discussão.

  — Obrigada, Senhor. Sou m uito j ovem para ser avó.

  Nem brinque com isso, pensei, lem brando de Vikki.

  — Então, qual é o problem a? — pressionou m am ãe. — Vim para casa

  porque soube que você tinha um encontro, e eu queria ter um m om ento-especial-

  m am ãe-e-filhinha. Mas se você está com problem as, tam bém posso lhe dar

  sábios conselhos m aternos. Posso encarar m últiplas tarefas, entende? Assim o

  tem po da viagem não é desperdiçado.

  — Obrigada — resm unguei.

  — Meu am or, é tudo brincadeira. O que há de errado? Qual o problem a

  com o garoto?

  — Nenhum . Ele é absolutam ente perfeito. Inteligente, divertido, o cara certo

  para m im . O problem a é que tem outro m enino e… — balancei a cabeça — ele

  é um babaca. E eu sou um a idiota. Só preciso de um tem po para repensar as

  coisas. Isso é tudo.

  — Bem … — disse m inha m ãe enquanto se levantava. — Só se lem bre de

  fazer o que te faz feliz, certo? Não m inta para você m esm a porque acha que

  determ inada escolha é m ais segura ou fácil. As coisas realm ente não funcionam

  assim … Acho que eu j á disse isso a você.

  Sim , m am ãe j á tinha dito algo parecido.

  Eu estava correndo em círculos havia tanto tem po que não tinha m ais ideia

  do que realm ente queria.

  — Bem , e há outra coisa — continuou m inha m ãe. — Eu lhe trouxe um

  presentinho para o encontro. Espero que isso a console enquanto você faz sua

  escolha.

  Assisti, com um m isto de horror e curiosidade, ela puxar um a caixa rosa e

  am arela de sua bolsa de m ão. Qualquer obj eto que estivesse dentro de um a

  em balagem nessas cores não seria boa coisa.

  — O que é? — perguntei enquanto ela colocava a caixa em m inha m ão

  aberta.

  — Abra e descubra, sua bobinha.

  Suspirando, peguei a caixa horrível em m inhas m ãos e puxei a fita que

  fechava a tam pa. Dentro havia um a pequena corrente de m etal claro com um

  pingente no form ato da letra B. Muito parecido com esses que as garotas m ais

  novinhas usam com o se fossem esquecer seu nom e ou algum a coisa assim .

  Mam ãe esticou o braço e tirou a corrente da caixa.

  — Pensei em você quando a vi — disse ela.

  — Obrigada, m ãe.

  Ela colocou sua bolsa de lado e levantou, postando-se atrás de m im . Passou

  m eu cabelo para o lado e prendeu a corrente em volta do m eu pescoço.

  — Vai soar um pouco brega, então tente não revirar os olhos para o que vou

  dizer, certo? Mas talvez essa correntinha possa aj udá-la a se lem brar de quem

  você realm ente é no m eio dessa tem pestade de dúvidas. — Ela colocou m eu

  cabelo de volta em seu devido lugar. — Perfeito — disse. — Você está linda, m eu

  am or.

  — Muito obrigada — falei, dessa vez com sinceridade. Ver m inha m ãe de

  novo fez com que m e desse conta de quanto eu realm ente a am ava e sentia sua

  falta.

  Nesse m om ento, a cam painha tocou e eu soube que era Toby. Ao m e

  aproxim ar da porta, senti m inha m ãe logo atrás de m im , observando tudo.

  Ah, que ótim o.

  — Olá — disse ele. — Uau. Você está linda.

  — É claro que ela está — disse m inha m ãe. — Você esperava algo

  diferente?

  — Mãe! — falei, virando-m e para olhar feio para ela.

  Ela deu de om bros.

  — Olá, Toby — disse ela, acenando. — Sou Gina, a m ãe de Bianca. Tudo

  bem , eu sei que você vai dizer que pareço a irm ã dela. Né?

  Rangi os dentes. Toby riu.

  — Divirtam -se — continuou m inha m ãe, m e beij ando no rosto. — Vou

  aproveitar e guardar algum as de m inhas coisas que ainda estão aqui. Am anhã

  vou dar um a palestra em um asilo em Oak Hill Sunday, por isso vou passar o fim

  de sem ana em um hotel. Vam os alm oçar j untas am anhã, pra que você m e conte

  todos os detalhes da noite.

  Ela m e em purrou para fora da porta e a fechou antes que eu pudesse

  dem onstrar o quanto aquilo tinha m e irritado. Agora estava sozinha com Toby na

  varanda.

  — Sua m ãe é engraçada — disse ele.

  — Ela é louca! — resm unguei.

  — Que papo era aquele? Ela disse que estava indo para um asilo?

  — Ah, m inha m ãe escreveu um livro de autoaj uda. — Dei um a olhada

  rápida na direção da casa e vi a som bra da m inha m ãe passando pela j anela em

  direção ao quarto em que ela costum ava dorm ir, preparada para em pacotar os

  últim os pertences que deixara para trás. Eu não tinha percebido a ironia até

  aquele m om ento. Nos últim os dois m eses, vinha lutando pela m inha própria

  autoestim a enquanto m inha m ãe ensinava a estranhos com o podiam fortalecer a

  deles. Talvez se eu tivesse conversado com ela, não teria dem orado
tanto tem po

  para entender algum as coisas. — Ela fala com pessoas por todo o país,

  ensinando-as a se aceitarem com o são.

  — Parece um trabalho divertido — disse Toby.

  — Talvez.

  Ele sorriu e colocou um braço em volta da m inha cintura, levando-m e em

  direção à calçada.

  Suspirei e delicadam ente deslizei para fora de seus braços enquanto entrava

  no carro.

  capítulo 27

  Casey e Jessica estavam esperando no banco de trás do Taurus. As duas sorriram

  m aliciosam ente no instante em que m e abaixei para sentar no banco da frente.

  — Alguém escolheu um a roupa sexy hoj e — provocou Casey. — Eu te dei

  essa blusa há nove m eses. Esta é a prim eira vez que você usa?

  — Ahhh… é, é sim .

  — Bem , fica ótim a em você — disse ela. — E pelo visto eu sou a Duff dessa

  noite. Muito obrigada, B.

  Ela piscou para m im , e eu não pude evitar dar um enorm e sorriso. Casey

  recentem ente vinha se referindo a ela m esm a com o Duff em nossas conversas.

  No com eço, achei estranho. Quero dizer, a palavra era um insulto. Era algo

  horrível. Mas, após o m om ento de revelação que tive no banheiro com Vikki,

  passei a apreciar o que Casey estava fazendo. A palavra pertencia a nós duas

  agora, e enquanto a m antivéssem os sob controle poderíam os dosar seu efeito

  negativo.

  — É um trabalho bem difícil — provoquei. — Mas, ei! Alguém precisa

  fazê-lo. Eu posso ser a Duff do próxim o fim de sem ana.

  Ela riu.

  — Você por acaso está usando um sutiã com enchim ento? — perguntou

  Jessica, aparentem ente alheia à nossa conversa. — Seus peitos parecem m aiores.

  Houve um longo período de silêncio, e m e dei conta de que estaria m ais

  segura se tivesse ficado com a m inha m ãe.

  Casey explodiu em um a gargalhada enquanto eu escondia o rosto em

  m inhas m ãos, m ortificada. Toby nem piscou. Graças a Deus. Se ele tivesse

  falado algum a coisa, eu com eteria um suicídio dentro do carro. Bateria m inha

  cabeça contra a j anela até que m eu cérebro virasse um a panqueca. Em vez de

  dar um a espiadela disfarçada para m eus peitos, para ver se Jessica estava certa,

  Toby agiu com o se nada tivesse sido dito. Enfiou a chave na ignição e saiu

  dirigindo.

  Nota para mim mesma, pensei. Matar Jessica sem deixar testemunhas.

 

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