na realidade, vivíam os de um j eito m uito parecido.
Cham ar Vikki de vadia ou vagabunda era o m esm o que cham ar alguém de
Duff. Era um a coisa ofensiva de dizer e m agoava profundam ente. Era um desses
rótulos que se alim entavam dos m edos secretos que todas as m eninas têm de
tem pos em tem pos. Vadia, puta, puritana, cabeça de vento. Era tudo a m esm a
coisa. Toda garota j á foi definida por esses adj etivos sexistas em algum a etapa da
vida.
Então, talvez, todas as garotas se sintam com o um a Duff?
— Meu Deus, estou m uito, m uito atrasada — disse Vikki no instante em que o
sinal tocou. — Preciso ir.
Acom panhei Vikki com o olhar enquanto ela apanhava a bolsa e recolhia
seus livros, im aginando o que devia estar se passando em sua cabeça. Será que
toda essa situação havia feito com que ela se desse conta das consequências de
suas escolhas?
Nossas escolhas.
— Nos vem os por aí, Bianca — disse ela enquanto se dirigia para a porta.
— Tchau! — falei. Então, sem pensar, disse: — E, Vikki… Sinto m uito. É
um a droga o que as pessoas dizem sobre você. Lem bre-se de que o que elas
dizem não im porta. — Novam ente, pensei em Wesley e no que ele m e falara no
quarto dele. — As pessoas que se referem a você com nom es idiotas só estão
tentando se sentir m elhor. Elas tam bém estão confusas. Você não está sozinha.
Vikki m e encarou, parecendo surpresa:
— Obrigada — disse ela. Ela abriu a boca com o se estivesse prestes a dizer
algo m ais, porém fechou novam ente. Sem dizer m ais nada, deixou o banheiro.
Até onde eu sabia, Vikki provavelm ente sairia com um novo cara esta noite.
Talvez não tivesse aprendido nada com a experiência. Ou talvez ela fosse m udar
seu com portam ento de um a vez por todas — ou ao m enos, quem sabe, ser um
pouco m ais cautelosa. É provável que eu nunca descubra. A escolha era dela. A
vida era dela. E não era m eu papel j ulgá-la.
Nunca foi m eu papel j ulgar.
Estava descendo pelo corredor, cinco m inutos atrasada para m inha aula de
inglês, quando decidi que j am ais cham aria novam ente Vikki — ou qualquer outra
pessoa — de vadia.
Porque ela é igual a m im .
Igual a todo m undo.
Isso era algo que todas tínham os em com um . Vadias ou putas, pudicas ou
Duffs.
Eu era um a Duff. E isso era um a coisa boa. Porque qualquer pessoa que não
se sente com o um a Duff de vez em quando não deve ter am igos. Todas as
garotas se sentem pouco atraentes às vezes. Por que dem orou tanto tem po para
que eu m e desse conta disso? Por que passei tanto tem po estressada por causa de
um a palavrinha? Eu deveria m e orgulhar de ser um a Duff. E m e orgulhar de ter
am igas fantásticas, porque, na cabeça delas, elas eram minhas Duffs.
— Bianca! — A sra. Perkins m e cum prim entou quando entrei na sala de
aula e sentei em m inha carteira. — Antes tarde do que nunca.
— Acho que sim — respondi. — Desculpa por ter dem orado tanto.
Quando cheguei em casa naquela tarde, estava cansada dem ais até m esm o para
subir a escada. Sim plesm ente desabei no sofá, e o sono m e venceu rapidinho.
Tinha esquecido com o era bom tirar um a soneca no m eio do dia. Quer dizer, os
europeus acertaram em cheio com seu conceito de sesta. Nós, am ericanos,
devíam os considerar dar um a dorm idinha no m eio de um dia cheio de
com prom issos porque é m uito revigorante, principalm ente depois de um tão
cheio de em oções com o o que eu tinha acabado de experim entar.
Eram quase sete da noite quando acordei, o que lim itava bastante o tem po
que eu tinha para m e arrum ar para o encontro. Meu cabelo, que parecia um
m onte de feno depois do cochilo, ia levar quase um a hora de dedicação para
ficar aceitável. Que ótim o.
Desde que tinha com eçado a sair com Toby, eu vinha prestando m ais
atenção na m inha aparência. Não que ele se im portasse com esse tipo de coisa.
Toby era o tipo de cara que provavelm ente diria que eu estava bonita vestida
com o um palhaço — peruca nas cores do arco-íris e tal. Mas sentia essa
constante necessidade de im pressioná-lo. Alisei m eu cabelo e o prendi em um
rabo de cavalo, coloquei um par de brincos de pressão prateados (sou covarde
dem ais para furar m inhas orelhas) e vesti a blusa que Casey m e dera de presente
no m eu aniversário de dezessete anos. Era um a blusa de seda branca com
estam pa em tons prateados, j usta, o que fazia m eus seios parecer m aiores.
Eram quase oito da noite quando desci a escada usando m inhas sandálias de
salto alto, arriscando m inha segurança para ficar um pouquinho m ais alta. Tom ei
cuidado para não olhar para a cozinha enquanto passava pela porta, porque m eu
pai, obviam ente pensando que as rosas eram presente de Toby, tinha colocado o
buquê em um vaso antigo no centro da m esa de j antar na noite passada. Fora
um a gentileza, m as olhar para as rosas verm elhas só trazia de volta m inhas
dúvidas irritantes. Então segui direto para a sala de estar e m e j oguei no sofá para
esperar Toby, prom etendo a m im m esm a que encontraria a solução para as
m inhas confusões rom ânticas naquele fim de sem ana.
Por falta de algo m elhor para fazer, peguei o guia da program ação da TV
que estava sobre a m esa de centro e com ecei a ver a program ação dos próxim os
dias. Um post-it preso entre duas páginas cham ou m inha atenção, e eu abri o guia
naquelas páginas. Papai tinha sublinhado o aviso da m aratona de Caras & Caretas
no dom ingo seguinte, usando aquele pequeno pedaço de papel com o m arcador
de página. Sorri e puxei um a caneta que estava na m inha bolsa para rabiscar
“Deixe a pipoca com igo!” no post-it. Papai veria isso assim que chegasse em
casa da sua reunião.
No instante em que pus a revista sobre a m esa, a cam painha tocou. Eu m e
levantei o m ais rápido que pude, tem endo cair, e tropecei pelo cam inho em
direção à porta, esperando ser saudada com um grande sorriso de Toby, que eu
absolutam ente não m erecia. O sorriso branco e brilhante que se abriu bem na
m inha frente, porém , pertencia a alguém totalm ente diferente.
— Mãe? — Eu m eio que engasguei dizendo essa palavra, soando com o um a
personagem de novela m exicana que acaba de descobrir que sua gêm ea
m alvada ainda está viva. Envergonhada, lim pei a garganta e perguntei: — O que
você está fazendo aqui? Pensei que estivesse no Tennessee.
— Eu estava, m as decidi fazer um a visita, é claro — respondeu m inha m ãe,
apalpando seu penteado de estrela de cinem a. Seu cabelo loiro platinado estava
preso em um coque, e ela usava um vestido verm elho e preto até os j oelhos. Um
visual que era m arca registrada da m inha m ãe.
— Mas são sete horas de carro até aqui! — falei.
— Acredite, eu sei. — Ela suspirou, fazendo um dram inha. — Sete horas e
m eia se o trânsito estiver ruim . Então… você vai m e convidar para entrar ou
não? — Eu podia dizer pela form a com o as m ãos dela apertavam a alça da bolsa
que ela estava nervosa por estar de volta.
— Ah, claro
! — respondi, abrindo espaço. — Entre, desculpa. Mas, olha só,
papai não está aqui.
— Ah, eu sei. — Mam ãe estava correndo os olhos pela sala de estar de um a
form a que m e fez sentir ansiosa por ela. Encarou a poltrona e o sofá que
costum avam ser dela, com o se estivesse se perguntando se tinha o direito de se
sentar ali ou não. — Ele tem reunião do AA às sextas-feiras à noite. Ele m e
contou.
— Vocês andaram conversando? — Isso era novidade para m im . Até onde
eu sabia, eles estavam evitando qualquer contato desde a últim a reaparição de
m inha m ãe.
— Nós nos falam os por telefone duas vezes. — Ela parou de olhar para a
sala e voltou os olhos para m im , o que pareceu pesar em m eus om bros. —
Bianca, m eu am or… — A voz dela soou suave e triste. Dolorosa de se ouvir. —
Por que você não m e contou que ele voltou a beber?
Mudei de posição, tentando escapar do olhar dela.
— Eu não sei… — m urm urei. — Acho que apenas esperava que tudo fosse
se resolver naturalm ente. Eu não queria preocupá-la nem nada assim .
— Eu entendo, m as, Bianca, isso é um problem a m uito grave — disse ela.
— Você agora entende isso, espero. Se acontecer de novo, não guarde para si
m esm a. Você precisa m e contar. Está m e entendendo?
Concordei com a cabeça.
— Bom . — Ela suspirou, aparentando estar aliviada. — De qualquer form a,
esse não é o m otivo pelo qual estou aqui.
— Por que você está aqui?
— Porque seu pai m e contou outra coisa… — provocou ela. — Algo sobre
um garoto cham ado Toby Tucker.
— Você dirigiu sete horas e m eia por que eu tenho um encontro?
— Tenho outras razões para estar em Ham ilton — disse ela —, m as acredito
que essa sej a a m ais im portante. Então é verdade? Meu bebê tem um nam orado?
— Ahhh… é, tenho — falei, dando de om bros. — Acho que sim .
— Bem , conte-m e m ais sobre ele. — Minha m ãe estava em polgada,
finalm ente decidindo se sentar no sofá. — Com o ele é?
— Ele é legal — respondi. — Com o está o vovô?
Ela sem icerrou os olhos, parecendo suspeitar de m im .
— Ele está bem . O que há de errado? Você está tom ando a pílula, né?
— Meu Deus, m ãe, é claro! — gem i. — Isso não está em discussão.
— Obrigada, Senhor. Sou m uito j ovem para ser avó.
Nem brinque com isso, pensei, lem brando de Vikki.
— Então, qual é o problem a? — pressionou m am ãe. — Vim para casa
porque soube que você tinha um encontro, e eu queria ter um m om ento-especial-
m am ãe-e-filhinha. Mas se você está com problem as, tam bém posso lhe dar
sábios conselhos m aternos. Posso encarar m últiplas tarefas, entende? Assim o
tem po da viagem não é desperdiçado.
— Obrigada — resm unguei.
— Meu am or, é tudo brincadeira. O que há de errado? Qual o problem a
com o garoto?
— Nenhum . Ele é absolutam ente perfeito. Inteligente, divertido, o cara certo
para m im . O problem a é que tem outro m enino e… — balancei a cabeça — ele
é um babaca. E eu sou um a idiota. Só preciso de um tem po para repensar as
coisas. Isso é tudo.
— Bem … — disse m inha m ãe enquanto se levantava. — Só se lem bre de
fazer o que te faz feliz, certo? Não m inta para você m esm a porque acha que
determ inada escolha é m ais segura ou fácil. As coisas realm ente não funcionam
assim … Acho que eu j á disse isso a você.
Sim , m am ãe j á tinha dito algo parecido.
Eu estava correndo em círculos havia tanto tem po que não tinha m ais ideia
do que realm ente queria.
— Bem , e há outra coisa — continuou m inha m ãe. — Eu lhe trouxe um
presentinho para o encontro. Espero que isso a console enquanto você faz sua
escolha.
Assisti, com um m isto de horror e curiosidade, ela puxar um a caixa rosa e
am arela de sua bolsa de m ão. Qualquer obj eto que estivesse dentro de um a
em balagem nessas cores não seria boa coisa.
— O que é? — perguntei enquanto ela colocava a caixa em m inha m ão
aberta.
— Abra e descubra, sua bobinha.
Suspirando, peguei a caixa horrível em m inhas m ãos e puxei a fita que
fechava a tam pa. Dentro havia um a pequena corrente de m etal claro com um
pingente no form ato da letra B. Muito parecido com esses que as garotas m ais
novinhas usam com o se fossem esquecer seu nom e ou algum a coisa assim .
Mam ãe esticou o braço e tirou a corrente da caixa.
— Pensei em você quando a vi — disse ela.
— Obrigada, m ãe.
Ela colocou sua bolsa de lado e levantou, postando-se atrás de m im . Passou
m eu cabelo para o lado e prendeu a corrente em volta do m eu pescoço.
— Vai soar um pouco brega, então tente não revirar os olhos para o que vou
dizer, certo? Mas talvez essa correntinha possa aj udá-la a se lem brar de quem
você realm ente é no m eio dessa tem pestade de dúvidas. — Ela colocou m eu
cabelo de volta em seu devido lugar. — Perfeito — disse. — Você está linda, m eu
am or.
— Muito obrigada — falei, dessa vez com sinceridade. Ver m inha m ãe de
novo fez com que m e desse conta de quanto eu realm ente a am ava e sentia sua
falta.
Nesse m om ento, a cam painha tocou e eu soube que era Toby. Ao m e
aproxim ar da porta, senti m inha m ãe logo atrás de m im , observando tudo.
Ah, que ótim o.
— Olá — disse ele. — Uau. Você está linda.
— É claro que ela está — disse m inha m ãe. — Você esperava algo
diferente?
— Mãe! — falei, virando-m e para olhar feio para ela.
Ela deu de om bros.
— Olá, Toby — disse ela, acenando. — Sou Gina, a m ãe de Bianca. Tudo
bem , eu sei que você vai dizer que pareço a irm ã dela. Né?
Rangi os dentes. Toby riu.
— Divirtam -se — continuou m inha m ãe, m e beij ando no rosto. — Vou
aproveitar e guardar algum as de m inhas coisas que ainda estão aqui. Am anhã
vou dar um a palestra em um asilo em Oak Hill Sunday, por isso vou passar o fim
de sem ana em um hotel. Vam os alm oçar j untas am anhã, pra que você m e conte
todos os detalhes da noite.
Ela m e em purrou para fora da porta e a fechou antes que eu pudesse
dem onstrar o quanto aquilo tinha m e irritado. Agora estava sozinha com Toby na
varanda.
— Sua m ãe é engraçada — disse ele.
— Ela é louca! — resm unguei.
— Que papo era aquele? Ela disse que estava indo para um asilo?
— Ah, m inha m ãe escreveu um livro de autoaj uda. — Dei um a olhada
rápida na direção da casa e vi a som bra da m inha m ãe passando pela j anela em
direção ao quarto em que ela costum ava dorm ir, preparada para em pacotar os
últim os pertences que deixara para trás. Eu não tinha percebido a ironia até
aquele m om ento. Nos últim os dois m eses, vinha lutando pela m inha própria
autoestim a enquanto m inha m ãe ensinava a estranhos com o podiam fortalecer a
deles. Talvez se eu tivesse conversado com ela, não teria dem orado
tanto tem po
para entender algum as coisas. — Ela fala com pessoas por todo o país,
ensinando-as a se aceitarem com o são.
— Parece um trabalho divertido — disse Toby.
— Talvez.
Ele sorriu e colocou um braço em volta da m inha cintura, levando-m e em
direção à calçada.
Suspirei e delicadam ente deslizei para fora de seus braços enquanto entrava
no carro.
capítulo 27
Casey e Jessica estavam esperando no banco de trás do Taurus. As duas sorriram
m aliciosam ente no instante em que m e abaixei para sentar no banco da frente.
— Alguém escolheu um a roupa sexy hoj e — provocou Casey. — Eu te dei
essa blusa há nove m eses. Esta é a prim eira vez que você usa?
— Ahhh… é, é sim .
— Bem , fica ótim a em você — disse ela. — E pelo visto eu sou a Duff dessa
noite. Muito obrigada, B.
Ela piscou para m im , e eu não pude evitar dar um enorm e sorriso. Casey
recentem ente vinha se referindo a ela m esm a com o Duff em nossas conversas.
No com eço, achei estranho. Quero dizer, a palavra era um insulto. Era algo
horrível. Mas, após o m om ento de revelação que tive no banheiro com Vikki,
passei a apreciar o que Casey estava fazendo. A palavra pertencia a nós duas
agora, e enquanto a m antivéssem os sob controle poderíam os dosar seu efeito
negativo.
— É um trabalho bem difícil — provoquei. — Mas, ei! Alguém precisa
fazê-lo. Eu posso ser a Duff do próxim o fim de sem ana.
Ela riu.
— Você por acaso está usando um sutiã com enchim ento? — perguntou
Jessica, aparentem ente alheia à nossa conversa. — Seus peitos parecem m aiores.
Houve um longo período de silêncio, e m e dei conta de que estaria m ais
segura se tivesse ficado com a m inha m ãe.
Casey explodiu em um a gargalhada enquanto eu escondia o rosto em
m inhas m ãos, m ortificada. Toby nem piscou. Graças a Deus. Se ele tivesse
falado algum a coisa, eu com eteria um suicídio dentro do carro. Bateria m inha
cabeça contra a j anela até que m eu cérebro virasse um a panqueca. Em vez de
dar um a espiadela disfarçada para m eus peitos, para ver se Jessica estava certa,
Toby agiu com o se nada tivesse sido dito. Enfiou a chave na ignição e saiu
dirigindo.
Nota para mim mesma, pensei. Matar Jessica sem deixar testemunhas.
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