Duff
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cérebro. Virei a página e reli o trecho de novo e de novo. Estava tentando
entender o m otivo de aquelas palavras m e incom odarem tanto quando fui
interrom pida pelo som da cam painha.
— Graças a Deus — m urm urei, aliviada de ter um a razão para fechar o
livro. Pulei da cam a e corri escada abaixo. — Estou indo! — gritei. — Só um
segundo!
Abri a porta da frente esperando encontrar Toby, que avisara que ia passar
na m inha casa. Mas o hom em na varanda era um ruivo gorducho na casa dos
cinquenta. Definitivam ente, não era m eu nam orado. Ele usava um uniform e
verde surrado e um chapéu que não servia direito. O nom e na etiqueta de seu
casaco dizia JIMMY. Ele segurava um buquê de flores na m ão direita e tinha
um a prancheta em baixo do braço.
— Srta. Bianca Piper? — perguntou.
— Hum … sim .
Seus olhos estrábicos se ilum inaram em um sorriso.
— Assine aqui, por favor — disse ele, entregando-m e a prancheta e um a
caneta. — Parabéns.
— Ahn… obrigada — falei, devolvendo-lhe a prancheta.
Ele m e entregou o buquê, e eu vi que era feito de rosas verm elhas de
verdade, e m e entregou um envelope branco que tirou de seu bolso de trás.
— Isto é para você tam bém — disse ele. — Você é um a garota de sorte.
Não é sem pre que faço um a entrega com o esta para alguém da sua idade. — Ele
sorriu. — Am or de j uventude.
Am or de j uventude? Meu Deus, precisei lutar contra a vontade de corrigi-lo.
Queria fazer um longo discurso para explicar que os adolescentes não se
apaixonam . Mas ele ainda estava falando.
— Seu nam orado realm ente deve ser um cara e tanto. Poucos garotos são
tão atenciosos nessa idade.
Dei um a olhada nas rosas e disse:
— Você provavelm ente está certo.
Será que Toby ainda estava tentando m e anim ar? Nossa, ele era tão legal!
Que horror que eu não m erecesse a delicadeza dele.
Depois de agradecer ao entregador, fechei a porta. Eu m e sentia culpada
por achar que m inha situação era um triângulo am oroso. Éram os som ente Toby
e eu; Wesley deslizava pelos cantos, bem longe de nós… ou era assim que
deveria ser. Era assim que Toby m erecia que fosse.
Coloquei o buquê sobre a m esa da cozinha e abri o envelope esperando
encontrar um a carta idiota, m as com as palavras perfeitas do m eu nam orado
sem defeitos. Era o tipo de coisa sobre a qual eu norm alm ente faria piada, porém
dessa vez ia dar um a folga a Toby. Ele realm ente tinha talento com as palavras.
Um a qualidade que seria útil quando se tornasse um político fam oso.
Mas a caligrafia na carta era a m esm a do bilhete que estava na m inha
m ochila. E havia m uito m ais para absorver.
Bianca,
Já que você continua fugindo de mim na escola e, se eu me lembro
bem, o som da minha voz lhe provoca pensamentos suicidas, decidi que
uma carta pode ser a melhor forma de dizer como me sinto. Apenas me
escute.
Não vou negar que você estava certa. Tudo o que você disse na outra
noite estava correto. Mas meu medo de ficar sozinho não é a razão pela
qual estou correndo atrás de você. Eu sei como você é cética, e você
provavelmente vai se sair com uma resposta engraçadinha quando ler
isto, mas continuo procurando você porque realmente acho que estou
me apaixonando.
Você é a primeira garota que me viu como sou. Você é a única garota
que chamou minha atenção para as coisas que faço de errado. Você me
pôs no meu lugar, mas, ao mesmo tempo, me entende melhor do que
qualquer um jamais entendeu. Você é a única pessoa corajosa o
suficiente para me criticar. Talvez a única pessoa que se aproximou de
mim o suficiente para encontrar meus defeitos — e, obviamente, achou
muitos.
Liguei para os meus pais. Eles vêm para casa neste fim de semana
para falar com Amy e comigo. Eu estava com medo de fazer isso no
começo, mas você me inspirou. Sem você, nunca poderia ter feito.
Penso em você muito mais do que qualquer homem que tem respeito
próprio gostaria de admitir, e estou com um ciúme insano do Tucker —
algo que nunca pensei que diria. Seguir em frente depois de você é
impossível. Nenhuma outra garota pode me manter na linha como você.
Ninguém mais me faz QUERER me envergonhar escrevendo cartas
idiotas como esta.
Só você.
Mas sei que estou certo também. Sei que você está apaixonada por
mim, apesar de estar namorando Tucker. Você pode mentir para si
mesma se quiser, mas a realidade vai alcançá-la. Vou esperar por você
até que isso aconteça… você goste disso ou não.
Com amor,
Wesley
P.S.: Eu sei que você deve estar revirando os olhos agora, mas não ligo.
Honestamente, sempre achei isso meio excitante.
Fiquei olhando para a carta por um longo tem po, entendendo, enfim , por que
Am y tinha m e agradecido. Wesley estava tentando aj eitar as coisas… por m inha
causa. Por causa do que eu dissera. Eu tinha, na verdade, conseguido penetrar
naquela cabeça m aluca dele. Isso foi absolutam ente chocante para m im .
Levou um segundo para as outras surpresas m e pegarem . Palavras com o
amor e única pularam da página na m inha direção. Era a m inha prim eira carta
de am or — não que algum a vez eu tivesse desej ado receber algum a, m as ainda
assim … — e nem m esm o era do m eu nam orado. O cara errado a havia enviado
para m im . O cara errado m e queria. Wesley era o cara errado.
Ou será que ele era exatam ente o cara certo?
Eu estava tão consum ida por m eus pensam entos que dei um pulo quando o
telefone tocou e deslizei pelo chão da cozinha na tentativa de atendê-lo.
— Alô?
— Oi, Bianca — disse Toby.
Meu coração se acelerou, e a vergonha correu por m inhas veias. A carta de
Wesley queim ava os dedos da m inha m ão, m as consegui parecer calm a quando
disse:
— Ei, Toby. Você j á está vindo?
— Não — suspirou ele. — Papai tem algum as tarefas para m im , então não
posso ir agora à tarde. Sinto m uito, de verdade.
— Tudo bem . — Eu não devia ter sentido alívio, m as senti. Se Toby viesse,
eu precisaria esconder as flores, acabaria m e enredando em um a rede de
m entiras, e todos sabem os que droga de m entirosa eu sou. — Não se preocupe.
— Obrigado por ser tão com preensiva. Mas queria passar um tem pinho com
você. Nós não conseguim os passar m uito tem po j untos na escola. — Ele fez um a
pausa. — Você tem planos para am anhã à noite?
— Não.
— Então quer sair com igo? Um a banda vai tocar no Nest, e eu pensei que
poderíam os ir. É claro que suas am igas podem vir tam bém . O que você acha?
— Parece ótim o. — Olha só, eu conseguia lidar com pequenas m entiras
com o aquela. Odiava m úsica ao vivo e desprezava o Nest, m as fingir que estava
adorando tudo faria Toby feliz, e Casey ficaria anim ada por tam bém ser
convidada. Então, por que não? Mentiras leves eram fáceis, m as qualquer coisa
m aior e eu estaria ferrada.
— Legal — disse Toby. — Então eu busco você às oito.
— Certo. Tchau, Toby.
— Até am anhã, Bianca.
Desliguei o telefone, m as m eus pés se recusaram a se m over. A carta ainda
queim ava m inha pele, e eu m e peguei olhando para as palavras tentadoras. Por
que essa coisa toda não podia ser m ais fácil? Por que Wesley tinha de aparecer e
m e fazer questionar tudo? Senti com o se estivesse traindo Toby a cada frase que
lia. Com o se o estivesse enganando.
Mas agora sabia que, cada vez que beij asse Toby, estaria m agoando Wesley.
— AHHHHH! — Com um grito que explodiu no m eu peito e, no cam inho,
enfiou as garras em m eus pulm ões, transform ei a carta em um a bolinha e a
atirei no outro lado da sala com a m aior força que consegui j untar. Ela se m oveu
devagar pelo ar antes de bater delicadam ente no papel de parede floral e pousar
no chão.
Finalm ente, com a garganta doendo, afundei no chão, enfiei o rosto nas
m ãos e — adm ito — chorei. Chorei de frustração e confusão, m as em grande
parte por m im m esm a, por estar nessa situação, com o a garotinha egoísta que eu
era.
Pensei em Cathy Earnshaw, a heroína m im ada e egoísta de O morro dos
ventos uivantes, e m e lem brei da passagem que estava lendo antes que a
cam painha tocasse. Mas as palavras vieram a m im um pouquinho diferentes do
que estavam no livro.
Meu amor por Toby é como a folhagem dos bosques. O tempo vai mudá-
lo, tenho plena certeza, como o inverno muda as árvores; meu amor por
Wesley se assemelha às rochas eternas do solo — uma fonte de pouco
deleite, visível mas necessária.
Balancei a cabeça para a frente e para trás febrilm ente. Gostar, eu m e
corrigi. Meu gostar de Wesley é blá-blá-blá. Enxuguei m eus olhos e fiquei de pé,
tentando acalm ar m inha respiração entrecortada. Então m e virei e voltei lá para
cim a.
De repente, eu queria saber com o o livro term inava.
capítulo 26
Depois de passar a noite inteira acordada lendo — e tam bém dobrando as m inhas
roupas pelo m enos dez vezes —, descobri que O m orro dos ventos uivantes não
tem um final feliz. Por causa de Cathy, estúpida, m im ada e egoísta (sei que não
tenho m uito m érito para j ulgar, m as ainda assim ), tudo acaba de form a triste. As
escolhas de Cathy arruínam a vida das pessoas com as quais ela m ais se im porta.
Tudo porque ela escolhe propriedade em vez de paixão. Cabeça em vez de
coração. Linton em vez de Heathcliff.
Toby em vez de Wesley.
Isso, decidi enquanto arrastava m eu corpo exausto para a escola na m anhã
seguinte, não era um bom presságio. Norm alm ente eu não dava a m ínim a para
esse tipo de superstição ou bobagens com o sinais do destino, m as as sim ilaridades
entre as situações que eu e a personagem Cathy Earnshaw estávam os
enfrentando eram im possíveis de ignorar. Não conseguia parar de m e perguntar
se o livro não estava tentando m e m andar um recadinho.
Sabia que estava interpretando as entrelinhas m uito m ais do que seria
recom endável, porém a falta de sono som ada ao estresse de tudo o que eu vinha
encarando fez m inha m ente viaj ar para alguns lugares interessantes.
Interessantes, m as não produtivos.
Passei o dia todo com o um zum bi, no entanto durante a aula de cálculo algo
m e fez despertar de repente.
— Você j á soube sobre Vikki McPhee?
— Que ela engravidou? Sim , m e contaram hoj e de m anhã.
Minha cabeça se afastou de todos os problem as que eu tentava resolver de
m aneira não m uito inspirada. Havia duas garotas sentadas lado a lado, um a
fileira à m inha frente. Reconheci um a delas, que fazia parte da equipe de líderes
de torcida.
— Meu Deus, que vagabunda! — com entou a líder de torcida. — Não tem
nem com o saber quem é o pai. Ela dorm e com todo m undo.
Detesto adm itir, m as m inha prim eira reação ao ouvir aqueles com entários
foi um m edo extrem am ente egoísta. Pensei em Wesley. Tudo bem que ele
tivesse rej eitado Vikki no corredor alguns dias antes, m as e se algum a coisa
tivesse m udado? E se aquela carta tivesse sido um a brincadeira? Um a espécie de
truque para m exer com a m inha cabeça? E se ele e Vikki realm ente tivessem …
Eu m e obriguei a não pensar nisso. Wesley era m uito cuidadoso. Ele sem pre
usava cam isinha. Além do m ais, era com o a garota tinha dito — Vikki dorm ia
com todo m undo. As chances de Wesley ser o verdadeiro pai eram
pouquíssim as. E eu não tinha sequer o direito de m e im portar com isso. Wesley
não era m eu nam orado. Mesm o que tivesse declarado seu am or por m im em
um a carta. Eu ainda esta-va com Toby, e o que Wesley decidisse fazer não era
problem a m eu.
Meu segundo pensam ento foi sobre Vikki. Dezessete anos, quase form ada no
ensino m édio e, se os rum ores fossem verdadeiros, grávida. Que pesadelo. O pior
era que todo m undo sabia. Ouvi os m urm úrios sobre o assunto no corredor
quando finalm ente saí da aula de cálculo. Em um a escola do tam anho da
Ham ilton, não dem orava m uito para qualquer fofoca se espalhar. A suposta
situação de Vikki McPhee estava na cabeça de todo m undo.
Até m esm o na m inha.
Então, quando saí da cabine do banheiro alguns m inutos antes da aula de
inglês e encontrei Vikki apoiada na pia passando seu batom cor-de-rosa escuro,
precisei fazer certo esforço para desviar os olhos.
Precisava dizer alguma coisa. Tudo bem , não éram os próxim as nem nada
assim , porém alm oçávam os j untas todos os dias.
— Olá — m urm urei.
— Oi! — respondeu ela, ainda passando batom .
Abri a torneira e encarei m eu próprio reflexo no espelho, tentando ao
m áxim o não dar um a espiada na barriga dela. De quantos m eses Vikki estaria?
Seus pais j á haviam percebido?
— Não é verdade. Você sabe, não sabe?
— O quê?
Vikki fechou o batom e o j ogou dentro da bolsa. Ela estava m e encarando
através do espelho, e agora eu percebia que seus olhos estavam averm elhados.
— Eu não estou grávida — disse ela. — Quer dizer, pensei que estivesse,
m as o teste que fiz há dois dias deu negativo. Alguém deve ter m e ouvido contar
a história toda para Jeanine e Angela e… enfim , esqueça. Não estou grávida.
— Ah… Nossa. Ei, isso é bom . — Eu sei, essa não era a coisa certa a dizer,
m as fui pega totalm ente de surpresa.
Vikki assentiu e deu um a aj eitada em seus cachos loiro-averm elhados.
— Confesso que fiquei aliviada. Não saberia com o contar para m eus pais. E
o cara j am ais teria dado um bom pai tam bém .
— Quem é?
Foi um a pergunta totalm ente egoísta.
— Ah, um cara… Eric.
Obrigada, meu Deus, pensei. Um segundo depois, m e senti totalm ente
culpada. Não era hora para estar pensando em m im .
— Ele é só um otário que faz parte de um a fraternidade, e adora transar
com garotas que ainda estão no ensino m édio. — Vikki baixou os olhos, e não
&n
bsp; pude m ais encará-la através do espelho. — E eu nem m e im portei com isso na
hora. Apenas deixei que ele m e usasse, nunca pensei… m esm o quando a
cam isinha estourou… — ela se interrom peu, balançando a cabeça. — De
qualquer form a, fico feliz que tenha dado negativo.
— Claro.
— É assustador, sabe? — disse Vikki. — Eu quase enlouqueci esperando o
resultado. Sim plesm ente não conseguia acreditar que estava naquela situação,
entende?
— Entendo, sim — respondi, sem achar tão surpreendente. Era Vikki, afinal
de contas. Ela j á não vinha m eio que se arriscando há anos a acabar com um
problem a desse tipo? Dorm indo com pessoas de quem ela nem sequer gostava
sem pensar nas consequências?
Exatamente como eu fiz…
Tudo bem , não foram pessoas. Wesley foi o único. E, de certa form a, eu
gostava dele… agora que não dorm íam os m ais j untos. Isso era… bem , não sei do
que cham ar essa situação. Não é sorte. Talvez coincidência? De qualquer form a,
eu era esperta o bastante para saber que essas coisas não aconteciam com tanta
frequência.
Mas eu tinha ignorado as consequências. E, de repente, percebi que Vikki e
eu poderíam os facilm ente trocar de papel. Eu poderia ter sido a garota sobre a
qual todos falavam . Poderia estar apavorada por achar que estava grávida. Ou
pior. Estava tom ando pílula, e Wesley e eu sem pre usam os cam isinha, m as às
vezes essas coisas sim plesm ente falham . Poderiam facilm ente ter falhado
conosco. E eu aqui, j ulgando Vikki por um a situação que poderia acontecer com
qualquer pessoa, até com igo. Sou m esm o um a hipócrita.
Você não é uma vadia. A im agem veio de relance, Wesley naquela noite em
seu quarto, dizendo para m im exatam ente quem eu era. Me m ostrando que o
resto do m undo estava tão confuso quanto eu. Que eu não era um a vadia e que
não estava sozinha.
Eu não conhecia Vikki tão bem . Não sabia com o era sua vida em casa e
nada sobre sua vida particular, exceto seu conhecido envolvim ento com diversos
garotos. E ali, naquele banheiro, ouvindo-a m e contar sua história, não conseguia
parar de m e perguntar se ela tam bém não estava tentando fugir de algum a coisa.
Eu a tinha j ulgado, achando que ela era um a vadia por todo esse tem po, quando,