Luis de Camoes Collected Poetical Works

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Luis de Camoes Collected Poetical Works Page 32

by Luis de Camoes


  E assi todos alegres e triumphantes,

  Se tornam d’onde foram presos antes.

  “Ei-lo cá por engano outra vez preso,

  Está na escura e vil estrebaria,

  Carregado de ferros, de tal peso,

  Que de hum logar mover-se não podia.

  Vê-lo de generoso fogo acceso,

  Que o páo ensanguentado sacudia,

  Com que ao soberbo Mouro a morte dera,

  Que em sua honrada barba a mão pozera?

  “Mas vê como os infidos Agarenos,

  Per mandado lhe dão do Rei descrido

  Tanto açoute por isto, que em pequenos

  Lhe fazem sobre as costas o vestido,

  Sem que ao forte Varão vozes, nem menos

  Ouvissem dar um intimo gemido:

  Já vai a Portugal despedaçado

  O vestido a pedir ser resgatado.

  “But past the perils of this imminent chance, 6

  See how he snatcheth while to durance led

  From grasp of Moorish foe the beamy lance,

  And lays with single lunge its lancer dead.

  Then with strong arm the weapon swung askance,

  He saves his friends the while his foes have fled:

  Thus all triumphant wend his men their way

  Whither their lot was sad captivity.

  “Lo! here is he by snare once more beset, 7

  And in the darkness of vile stable lain,

  Loaded with iron fetters of such weight,

  From off the floor he mote not rise again.

  But see the heart with gen’erous fire irate,

  Tear up the stake that showed a bloody stain,

  And brain the haughty Moor who had not fear’d

  Foul hand to fasten on his honoured beard?

  “Yet further see you faithless Hagarene, 8

  By the commandment of his Inf’idel King,

  Visit the daring deed with scourge so keen

  That strips from ribs his robes with stripes that sting.

  Yet the brave Baron scorns one word, nor e’en

  An ‘Ah!’ a murmur, may his tortures wring:

  To Portugale the ragged vesture goes

  Wherewith to raise a ransom for the foes.

  “Olha cabo de Aguer aqui tomado

  Per culpa dos soldados de soccorro:

  Vês o grande Carvalho ali cercado

  De imigos, como touro em duro corro?

  De trinta Mouros mortos rodeado,

  Revolvendo o montante, diz: ‘Pois morro,

  Celebrem mortos minha morte escura,

  E façam-me de mortos sepultura.’

  “Ambas pernas quebradas, que passando

  Hum tiro, espedaçado lh’as havia;

  Dos giolhos, e braços se ajudando,

  Com nunca visto esforço e valentia:

  Em torno pelo campo retirando,

  Vai a Agarena, dura companhia,

  Que com dardos e settas, que tiravam,

  De longe dar-lhe a morte procuravam.”

  Canto X.

  “Com taes obras e feitos excellentes

  De valor nunca visto, nem cuidado,

  Alcançareis aquellas preeminentes

  Excellencias, que o ceo tem reservado

  Para vós outros, entre quantas gentes

  O Sol aquenta, e cerca o humor salgado:

  Que em pouco se acham poucas repartidas,

  E em nenhuma nação junctas e unidas.

  “Behold you Aguer Headland tane, and lost 9

  By fault of tardy succouring soldiery:

  And see’st thou great Carvalho ‘mid the host

  Hostile, like baited bull the ring o’erfly?

  Hear him ‘mid thirty Moorish corpses boast

  Whirling his broadsword, crying:—’ Since I die

  Let dead atone for this mine obscure doom,

  These carrion deadlings form my fittest tomb!’

  “See how when both his legs a passing ball 10

  In pieces dasht and shanks from trunk had mown;

  On arms and knees he doth his best to crawl

  And fight with force and valour never known:

  Round and about the field evanish all

  Hagar’s hard children who no pity own;

  And with their shafts and javelins far they deal,

  The death they dare not by a nearer steel.”

  Canto X. (after Stanza 73).

  “With sim’ilar labours, Gestes so great, so new 1

  Of valour never viewed, nor reached by thought,

  To Honour shall ye rise so high, so true,

  To excellences Heaven’s will hath wrought

  ‘Mid worlds of men for you and only you,

  While Phoebus warms what salty billows moat:

  Rare boons be these which rarely doled we find

  To man, and only in you men conjoin’d.

  “Religião, a primeira, sublimada,

  De pio e sancto zêlo revestida;

  Ao culto divinal sómente dada,

  E em seu serviço e obras embebida.

  Nesta, a gente no Elyseo campo nada,

  Se mostrou sempre tal em morte e vida,

  Que pode pretender a primazia

  Da illustre e religiosa monarchia.

  “Lealdada he segunda, que engrandece,

  Sobre todas, o nobre peito humano;

  Com a qual similhante ser parece

  Ao coro celestial e soberano.

  Nesta per todo o mundo se conhece

  Por tão illustre o povo lusitano,

  Que jámais a seu Deus, e Rei jurado,

  A fé devida e publica ha negado.

  “Fortaleza vem logo, que os auctores

  Tanto do antiguo Luso magnificam,

  Que os vossos Portuguezes com maiores

  Obras, ser verdadeira certificam:

  Dando materia a novos escriptores,

  Com feitos, que em memória eterna ficam;

  E vencendo do mundo os mais subidos,

  Sem nunca de mais poucos ser vencidos.

  “Religion first, the Truths sublime reveal’d 2

  In earthly garb of pious holy Zeal;

  Fain to Divine Obedience self to yield

  And all imbibed with its works of weal.

  Thus men fare swimming to th’ Elysian field;

  And thus in Life and Death shall ever deal

  Mortals, who strain to win the princely prize

  Which high religious Monarchy affies.

  “Loyalty second, that makes great and grand 3

  Above all others, hearts of noble strain;

  Whereby a certain likeness mortals fand

  To Choirs immortal in the Heav’enly Reign.

  For this be known o’er farthest sea and land

  The passing merits of the Lusitan;

  Ne’er to his Maker nor sworn King forsworn,

  Nor holds such publick Faith to public scorn.

  “Valour next cometh, which of yore did greet, 4

  In olden Lusus, men who sang and wrote;

  And which your Portingalls with greater feat

  Certify veridic withouten doubt:

  Affording novel theme to modern writ,

  With their high exploits of memorious note;

  And, vanquishing o’er the world the most renown’d,

  By fewer vanquisht they shall ne’er be found.

  “Conquista será a quarta, que no império

  Portuguez só reside com possança:

  Pois no sublime e no infimo hemispherio

  As quarto partes só do mundo alcança:

  E as quatro nações delias por mysterio

  Com que conquista, e tem certa esperança,

  Que Christãos, Mouros, Turcos, e Gentios,

  Junctarão n’huma lei seus senhorios.

  “Descobrimento he quinta, que bem certo

  A gente Lusitana só se deve;

  Pois tendo Norte a Sur já descoberto,

  Adonde o dia he grande, e ado
nde breve:

  E por caminho desusado, incerto,

  De Ponente a Levante, inda se atreve

  Cercar o mundo em torno per direito:

  Feito despois, nem antes, nunca feito.

  “Deixo de referir a piedade

  Do peito Portuguez, e cortezia,

  Temperança, fé, zêlo e caridade,

  Com outras muitas, que contar podia.

  Pois a segundo o ponto da verdade,

  E regras da moral philosophia,

  Não pode conservar-se huma virtude,

  Sem que das outras todas se arme, e ajude.

  “Conquest shall prove the fourth, which in the power 5

  Of only Portugale full-forced resideth;

  Since in the higher Hemisphere and lower

  O’er Earth’s four quarters she alone abideth:

  The four great Nations only serve to show her

  What high mysterious Hope her conquests guideth;

  That Christian, Moorman, Turk, and Gentile all,

  Joined in single law shall feel her thrall.

  “Discov’ery comes the fifth, which of a truth 6

  To none save Lusus’ children doth belong;

  Who have explored all from North to South

  Where suns be short-lived and where days be long.

  Now by uncertain ways, unused, uncouth,

  From Ponent Levantward, in daring strong,

  She wends to circle Earth by shortest tract:

  A feat which never was till now a fact.

  “I pass in silence o’er the Piety 7

  And courteous ways that mark the Lusian breast;

  Temperance, Holy Faith, Zeal, Charity,

  With other gifts as easy to attest.

  For ’tis a not’able point of verity,

  Moral Philosophy’s own rule and hest,

  No single virtue e’er hath Man array’d

  When all the others do not arm and aid.

  8”Mas destas, como base, e fundamento

  Daquellas cinco insignes excellencias,

  Em que ellas tee seu natural assento,

  Ede quem tomam suas dependencias:

  Não quero aqui tractar, que meu intento

  Não he descer a todas minudencias,

  Que geraes são no mundo a muita gente,

  Senão das que em vós se acham tão sómente.

  “Mas não será de todo limpo e puro,

  O curso desigual de vossa historia:

  Tal he a condição do estado escuro

  Da humana vida, frágil, transitória:

  Que mortes, perdições, trabalho duro

  Aguarão grandemente vossa gloria;

  Mas não poderá algum successo, ou fado,

  Derribar-vos deste alto e honroso estado.

  “Tempo virá, que entr’ambos hemispherios

  Descobertos per vós, e conquistados,

  E com batalhas, mortes, captiveiros,

  Os vários povos delles sujeitados:

  De Hespanha os dous grandissimos impérios

  Serão n’hum senhorio só junctados,

  Ficando por metropoli, e senhora,

  A cidade que cá vos manda agora.

  “But these, the first foundation and the base 8

  Of those renowned five transcendencies,

  Whereon they rest and rise by Nature’s grace,

  And whence they borrow fair dependencies.

  Here I neglect; for stoop I not to trace

  That meaner matter which the tendence is

  Of human nature in the gen’eral view: —

  Only I tell what dwells in only you.

  “Natheless expect not to run clear and pure, 9

  The course uneven of your Race’s story:

  Such the condition of our state obscure,

  Of human life-tide fragile, transitory:

  Death and Destruction, travail sore and dure

  Shall mingle water in your wine of glory;

  Yet ne’er shall force of Fortune, nor of Fate

  Degrade your gifts, debase your high estate.

  “Shall dawn the Day o’er either Hemisphere 10

  By you explored, and conquered in fight,

  Where battle, slaughter, prison-doom strike fear

  In all the peoples subject to your might:

  The twain of mightiest empires which is peer

  In Spain beneath one sceptre shall unite;

  Owning for cap’ital, Ladye of the Land,

  The goodly City hither sends your band.

  II

  “Ora, pois, gente illustre, que no mundo

  Deos no grémio catholico conserva,

  Redemidos da pena do Profundo,

  Que para os condemnados se reserva,

  Por vos dotar o que perdeo o immundo

  Lusbel, com sua infame e vil caterva:

  Pois sabeis alcançar a gloria humana,

  Fazei por não perder a soberana.”

  Canto X.

  “D’aqui saindo irá, donde acabada

  Sua vida será na fatal ilha:

  Mas proseguindo a venturosa armada

  A volta de tão grande maravilha;

  Verão a nao Victoria celebrada

  Ir tomar porto juncto de Sevilha,

  Despois de haver cercado o mar profundo,

  Dando huma volta em claro a todo o mundo.”

  FINIS.

  “And now, o’er earth establisht, Race renown’d 11

  Whom God in Cath’olick bosom hath conserved,

  Redeemed from horrid pains of Hell profound,

  For hosts of damned Heathenry reserved;

  Dower’d with the losses of Lusbel immund,

  Lusbel, by vile and vulgar spirits served;

  Since all Earth’s glories ye have learnt to gain,

  ‘Ware lest ye lose the glory sovereign.”

  Canto X. (after Stanza 141).

  “Hence shall he wend his way, and end the light

  Of Life, when landed on that fatal Isle:

  Nor less his vent’urous Fleet shall wing her flight

  Returning homeward from such miracle;

  The far-famed ship ‘Victoria’ men shall sight

  Anchored in safest waters by Sevile,

  When she had girdled Ocean-plain profound

  And circled Earth in one continuous round.”

  THE END

  THE LUSIADS: DUAL PORTUGUESE AND ENGLISH TEXT

  Translated by Richard Francis Burton

  In this section, readers can view a stanza by stanza text of The Lusiads, alternating between the original Portuguese and Burton’s English translation.

  CONTENTS

  CANTO PRIMEIRO — CANTO I.

  CANTO SEGUNDO — CANTO II.

  CANTO TERCEIRO — CANTO III.

  CANTO QUARTO — CANTO IV.

  CANTO QUINTO — CANTO V.

  CANTO SEXTO — CANTO VI.

  CANTO SÉTIMO — CANTO VII.

  CANTO OITAVO — CANTO VIII.

  CANTO NONO — CANTO IX.

  CANTO DÉCIMO — CANTO X.

  CANTO PRIMEIRO — CANTO I.

  ARGUMENT OF THE FIRST CANTO.

  THE Portugueze navigate the Eastern Seas: The Gods hold their Council: Bacchus opposeth himself to this navigation: Venus and Mars favour the navigators: They arrive at Mozambique, the Governor whereof attempteth to destroy them: Encounter and first military Action of our People with the Gentiles: They weigh anchor; and, passing Quiloa, they ride in the roadstead of Mombasah.

  ANOTHER ARGUMENT.

  Fazem Concilio os deoses na alta Carte,

  Oppoem-se Baccho á Lusitana gente,

  Favorece-a Venus, e Mavorte,

  E em Mozambique lanca o ferreo dente:

  Depois de aqui mostrar sen braco forte,

  Destruindo, e matando juntamente,

  Torna as partes buscar da roxa Aurora,

  E chegando a Mombaca surge fora.

  1

  As armas e os barões assinalados,

  Que
da ocidental praia Lusitana,

  Por mares nunca de antes navegados,

  Passaram ainda além da Taprobana,

  Em perigos e guerras esforçados,

  Mais do que prometia a força humana,

  E entre gente remota edificaram

  Novo Reino, que tanto sublimaram;

  THE feats of Arms, and famed heroick Host, 1

  from occidental Lusitanian strand,

  who o’er the waters ne’er by seaman crost,

  fared beyond the Taprobane-land,

  forceful in perils and in battle-post,

  with more than promised force of mortal hand;

  and in the regions of a distant race

  rear’d a new throne so haught in Pride of Place

  2

  E também as memórias gloriosas

  Daqueles Reis, que foram dilatando

  A Fé, o Império, e as terras viciosas

  De África e de Ásia andaram devastando;

  E aqueles, que por obras valerosas

  Se vão da lei da morte libertando;

  Cantando espalharei por toda parte,

  Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

  And, eke, the Kings of mem’ory grand and glorious, 2

  who hied them Holy Faith and Reign to spread,

  converting, conquering, and in lands notorious,

  Africk and Asia, devastation made;

  nor less the Lieges who by deeds memorious brake

  from the doom that binds the vulgar dead;

  my song would sound o’er Earth’s extremest part

  were mine the genius, mine the Poet’s art.

  3

  Cessem do sábio Grego e do Troiano

  As navegações grandes que fizeram;

  Cale-se de Alexandro e de Trajano

  A fama das vitórias que tiveram;

  Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

  A quem Neptuno e Marte obedeceram:

  Cesse tudo o que a Musa antígua canta,

  Que outro valor mais alto se alevanta.

  Cease the sage Grecian, and the Man of Troy 3

  to vaunt long Voyage made in bygone day:

  Cease Alexander, Trajan cease to ‘joy

  the fame of victories that have pass’d away:

  The noble Lusian’s stouter breast sing I,

  whom Mars and Neptune dared not disobey:

  Cease all that antique Muse hath sung, for now

  a better Brav’ry rears its bolder brow.

  4

  E vós, Tágides minhas, pois criado

  Tendes em mim um novo engenho ardente,

  Se sempre em verso humilde celebrado

  Foi de mim vosso rio alegremente,

  Dai-me agora um som alto e sublimado,

  Um estilo grandíloquo e corrente,

  Porque de vossas águas, Febo ordene

  Que não tenham inveja às de Hipoerene.

 

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