Luis de Camoes Collected Poetical Works

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Luis de Camoes Collected Poetical Works Page 33

by Luis de Camoes


  And you, my Tagian Nymphs, who have create 4

  in me new purpose with new genius firing;

  if’t was my joy whilere to celebrate

  your founts and stream my humble song inspiring;

  Oh! lend me here a noble strain elate,

  a style grandiloquent that flows untiring;

  so shall Apollo for your waves ordain ye

  in name and fame ne’er envy Hippokrene.

  5

  Dai-me uma fúria grande e sonorosa,

  E não de agreste avena ou frauta ruda,

  Mas de tuba canora e belicosa,

  Que o peito acende e a cor ao gesto muda;

  Dai-me igual canto aos feitos da famosa

  Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;

  Que se espalhe e se cante no universo,

  Se tão sublime preço cabe em verso.

  Grant me sonorous accents, fire-abounding, 5

  now serves ne peasant’s pipe, ne rustick reed;

  but blast of trumpet, long and loud resounding,

  that ‘flameth heart and hue to fiery deed:

  Grant me high strains to suit their Gestes astounding,

  your Sons, who aided Mars in martial need;

  that o’er the world be sung the glorious song,

  if theme so lofty may to verse belong.

  6

  E vós, ó bem nascida segurança

  Da Lusitana antígua liberdade,

  E não menos certíssima esperança

  De aumento da pequena Cristandade;

  Vós, ó novo temor da Maura lança,

  Maravilha fatal da nossa idade,

  Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,

  Para do mundo a Deus dar parte grande;

  And Thou! O goodly omen’d trust, all-dear 6

  to Lusitania’s olden liberty,

  whereon assured esperance we rear

  enforced to see our frail Christianity:

  Thou, O new terror to the Moorish spear,

  the fated marvel of our century,

  to govern worlds of men by God so given,

  that the world’s best be given to God and Heaven:

  7

  Vós, tenro e novo ramo florescente

  De uma árvore de Cristo mais amada

  Que nenhuma nascida no Ocidente,

  Cesárea ou Cristianíssima chamada;

  (Vede-o no vosso escudo, que presente

  Vos amostra a vitória já passada,

  Na qual vos deu por armas, e deixou

  As que Ele para si na Cruz tomou)

  Thou young, thou tender, ever-flourishing bough, 7

  true scion of tree by CHRIST beloved more,

  than aught that Occident did ever know,

  “Caesarian” or “Most Christian” styled before:

  Look on thy ‘scutcheon, and behold it show

  the present Vict’ory long past ages bore;

  Arms which He gave and made thine own to be

  by Him assumed on the fatal tree:

  8

  Vós, poderoso Rei, cujo alto Império

  O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;

  Vê-o também no meio do Hemisfério,

  E quando desce o deixa derradeiro;

  Vós, que esperamos jugo e vitupério

  Do torpe Ismaelita cavaleiro,

  Do Turco oriental, e do Gentio,

  Que inda bebe o licor do santo rio;

  Thou, mighty Sovran! o’er whose lofty reign 8

  the rising Sun rains earliest smile of light;

  sees it from middle firmamental plain;

  and sights it sinking on the breast of Night:

  Thou, whom we hope to hail the blight, the bane

  of the dishonour’d Ishmaelitish knight;

  and Orient Turk, and Gentoo-misbeliever

  that drinks the liquor of the Sacred River:

  9

  Inclinai por um pouco a majestade,

  Que nesse tenro gesto vos contemplo,

  Que já se mostra qual na inteira idade,

  Quando subindo ireis ao eterno templo;

  Os olhos da real benignidade

  Ponde no chão: vereis um novo exemplo

  De amor dos pátrios feitos valerosos,

  Em versos divulgado numerosos.

  Incline awhile, I pray, that majesty 9

  which in thy tender years I see thus ample,

  E’en now prefiguring full maturity

  that shall be shrin’d in Fame’s eternal temple:

  Those royal eyne that beam benignity

  bend on low earth: Behold a new ensample

  of hero hearts with patriot pride inflamed,

  in number’d verses manifold proclaimed.

  10

  Vereis amor da pátria, não movido

  De prémio vil, mas alto e quase eterno:

  Que não é prémio vil ser conhecido

  Por um pregão do ninho meu paterno.

  Ouvi: vereis o nome engrandecido

  Daqueles de quem sois senhor superno,

  E julgareis qual é mais excelente,

  Se ser do mundo Rei, se de til gente.

  Thou shalt see Love of Land that ne’er shall own 10

  lust of vile lucre; soaring towards th’ Eternal

  For’t is no light ambition to be known

  th’ acclaimed herald of my nest paternal.

  Hear; thou shalt see the great names greater grown

  of Vavasors who hail thee Lord Supernal:

  So shalt thou judge which were the higher station,

  King of the world or Lord of such a nation.

  11

  Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,

  Fantásticas, fingidas, mentirosas,

  Louvar os vossos, como nas estranhas

  Musas, de engrandecer-se desejosas:

  As verdadeiras vossas são tamanhas,

  Que excedem as sonhadas, fabulosas;

  Que excedem Rodamonte, e o vão Rugeiro,

  E Orlando, inda que fora verdadeiro,

  Hark; for with vauntings vain thou shalt not view 11

  phantastical, fictitious, lying deed

  of lieges lauded, as strange Muses do,

  seeking their fond and foolish pride to feed:

  Thine acts so forceful are, told simply true,

  all fabled, dreamy feats they far exceed;

  exceeding Rodomont, and Ruggiero vain,

  and Roland haply born of Poet’s brain.

  12

  Por estes vos darei um Nuno fero,

  Que fez ao Rei o ao Reino tal serviço,

  Um Egas, e um D. Fuas, que de Homero

  A cítara para eles só cobiço.

  Pois pelos doze Pares dar-vos quero

  Os doze de Inglaterra, e o seu Magriço;

  Dou-vos também aquele ilustre Gama,

  Que para si de Eneias toma a fama.

  For these I give thee a Nuno, fierce in fight, 12

  who for his King and Country freely bled;

  an Egas and a Fuas; fain I might

  for them my lay with harp Homeric wed!

  For the twelve peerless Peers again I cite

  the Twelve of England by Magrigo led:

  Nay, more, I give thee Gama’s noble name,

  who for himself claims all Aeneas’ fame.

  13

  Pois se a troco de Carlos, Rei de França,

  Ou de César, quereis igual memória,

  Vede o primeiro Afonso, cuja lança

  Escura faz qualquer estranha glória;

  E aquele que a seu Reino a segurança

  Deixou com a grande e próspera vitória;

  Outro Joane, invicto cavaleiro,

  O quarto e quinto Afonsos, e o terceiro.

  And if in change for royal Charles of France, 13

  or rivalling Caesar’s mem’ories thou wouldst trow,

  the first Afonso see, whose conque’ring lance

  lays highest boast of stranger glories low:

&nb
sp; See him who left his realm th’ inheritance

  fair Safety, born of wars that crusht the foe:

  That other John, a knight no fear deter’d,

  the fourth and fifth Afonso, and the third.

  14

  Nem deixarão meus versos esquecidos

  Aqueles que nos Reinos lá da Aurora

  Fizeram, só por armas tão subidos,

  Vossa bandeira sempre vencedora:

  Um Pacheco fortíssimo, e os temidos

  Almeidas, por quem sempre o Tejo chora;

  Albuquerque terríbil, Castro forte,

  E outros em quem poder não teve a morte.

  Nor shall they silent in my song remain, 14

  they who in regions there where Dawns arise,

  by Acts of Arms such glories toil’d to gain,

  where thine unvanquisht flag for ever flies,

  Pacheco, brave of braves; th’ Almeidas twain,

  whom Tagus mourns with ever-weeping eyes;

  dread Albuquerque, Castro stark and brave,

  with more, the victors of the very grave.

  15

  E enquanto eu estes canto, e a vós não posso,

  Sublime Rei, que não me atrevo a tanto,

  Tomai as rédeas vós do Reino vosso:

  Dareis matéria a nunca ouvido canto.

  Comecem a sentir o peso grosso

  (Que pelo mundo todo faça espanto)

  De exércitos e feitos singulares,

  De África as terras, e do Oriente os marços,

  But, singing these, of thee I may not sing, 15

  O King sublime! such theme I fain must fear.

  Take of thy reign the reins, so shall my King

  create a poesy new to mortal ear:

  E’en now the mighty burthen hear I ring

  (and speed its terrors over all the sphere!)

  of sing’ular prowess, War’s own prodigies,

  in Africk regions and on Orient seas.

  16

  Em vós os olhos tem o Mouro frio,

  Em quem vê seu exício afigurado;

  Só com vos ver o bárbaro Gentio

  Mostra o pescoço ao jugo já inclinado;

  Tethys todo o cerúleo senhorio

  Tem para vós por dote aparelhado;

  Que afeiçoada ao gesto belo e tenro,

  Deseja de comprar-vos para genro.

  Casteth on thee the Moor eyne cold with fright, 16

  in whom his coming doom he views designed:

  The barb’rous Gentoo, sole to see thy sight

  yields to thy yoke the neck e’en now inclined;

  Tethys, of azure seas the sovran right,

  her realm, in dowry hath to thee resigned;

  and, by thy noble tender beauty won,

  would bribe and buy thee to become her son.

  17

  Em vós se vêm da olímpica morada

  Dos dois avós as almas cá famosas,

  Uma na paz angélica dourada,

  Outra pelas batalhas sanguinosas;

  Em vós esperam ver-se renovada

  Sua memória e obras valerosas;

  E lá vos tem lugar, no fim da idade,

  No templo da suprema Eternidade.

  In thee from high Olympick halls behold 17

  themselves, thy grandsires’ sprites;

  far-famed pair; this clad in Peacetide’s angel-robe of gold,

  that crimson-hued with paint of battle-glare:

  By thee they hope to see their tale twice told,

  their lofty memo’ries live again; and there,

  when Time thy years shall end, for thee they ‘sign

  a seat where soareth Fame’s eternal shrine.

  18

  Mas enquanto este tempo passa lento

  De regerdes os povos, que o desejam,

  Dai vós favor ao novo atrevimento,

  Para que estes meus versos vossos sejam;

  E vereis ir cortando o salso argento

  Os vossos Argonautas, por que vejam

  Que são vistos de vós no mar irado,

  E costumai-vos já a ser invocado.

  But, sithence antient Time slow minutes by 18

  ere ruled the Peoples who desire such boon;

  bend on my novel rashness favouring eye,

  that these my verses may become thine own:

  So shalt thou see thine Argonauts o’erfly

  you salty argent, when they see it shown

  thou seest their labours on the raging sea:

  Learn even now invok’d of man to be.

  19

  Já no largo Oceano navegavam,

  As inquietas ondas apartando;

  Os ventos brandamente respiravam,

  Das naus as velas côncavas inchando;

  Da branca escuma os mares se mostravam

  Cobertos, onde as proas vão cortando

  As marítimas águas consagradas,

  Que do gado de Próteo são cortadas

  They walked the water’s vasty breadth of blue, 19

  parting the restless billows on their way;

  fair favouring breezes breathed soft and true,

  the bellying canvas bulging in their play:

  The seas were sprent with foam of creamy hue,

  flashing where’er the Prows wide open lay

  the sacred spaces of that ocean-plain

  where Proteus’ cattle cleave his own domain:

  20

  Quando os Deuses no Olimpo luminoso,

  Onde o governo está da humana gente,

  Se ajuntam em concílio glorioso

  Sobre as cousas futuras do Oriente.

  Pisando o cristalino Céu formoso,

  Vêm pela Via-Láctea juntamente,

  Convocados da parte do Tonante,

  Pelo neto gentil do velho Atlante.

  When they who hold Olympick luminous height, 20

  the Gods and Governors of our human race,

  convened in glorious conclave, all unite

  the coming course of Eastern things to trace:

  Treading the glassy dome of lovely light,

  along the Milky Way conjoint they pace,

  gather’d together at the Thunderer’s hest,

  and by old Atlas’ gentle grandson prest.

  21

  Deixam dos sete Céus o regimento,

  Que do poder mais alto lhe foi dado,

  Alto poder, que só co’o pensamento

  Governa o Céu, a Terra, e o Mar irado.

  Ali se acharam juntos num momento

  Os que habitam o Arcturo congelado,

  E os que o Austro tem, e as partes onde

  A Aurora nasce, e o claro Sol se esconde.

  They leave the reg’iment of the Firmaments seven, 21

  to them committed by his high command,

  his pow’r sublime whose thoughtful will hath given

  Order to skies, and angry seas, and land:

  Then instant gather in th’ assize of Heaven

  those who are throned on far Arcturus’ strand,

  and those that Auster rule, and Orient tides,

  where springs Aurora and clear Phoebus hides.

  22

  Estava o Padre ali sublime e dino,

  Que vibra os feros raios de Vulcano,

  Num assento de estrelas cristalino,

  Com gesto alto, severo e soberano.

  Do rosto respirava um ar divino,

  Que divino tornara um corpo humano;

  Com uma coroa e ceptro rutilante,

  De outra pedra mais clara que diamante.

  Reposed there the Sire sublime and digne, 22

  vibrates whose hand the fierce Vulcanian ray,

  on seat of starry splendour crystalline,

  grand in his lofty gest of sovran sway:

  Respired from his brow such air divine,

  that to divine could change dull human clay;

  bearing the crown and sceptre rutilant,

  of clearer stone than clearest diamant.
r />   23

  Em luzentes assentos, marchetados

  De ouro e de perlas, mais abaixo estavam

  Os outros Deuses todos assentados,

  Como a razão e a ordem concertavam:

  Precedem os antíguos mais honrados;

  Mais abaixo os menores se assentavam;

  Quando Júpiter alto, assim dizendo,

  C’um tom de voz começa, grave e horrendo:

  On sparkling seats, with marquetry inlaid 23

  of gold and pearl-work, sat in lower state

  the minor Godheads, marshall’d and array’d,

  e’en as demanded reason, rank, and rate:

  Highest the seniors of most honour’d grade;

  lower adown the lower Deities sate:

  When thus high Jove the deathless throng addrest

  with awful accents, dealing gravest best: —

  24

  “Eternos moradores do luzente

  Estelífero pólo, e claro assento,

  Se do grande valor da forte gente

  De Luso não perdeis o pensamento,

  Deveis de ter sabido claramente,

  Como é dos fados grandes certo intento,

  Que por ela se esqueçam os humanos

  De Assírios, Persas, Gregos e Romanos.

  “Immortal Peoples of the starlit Pole, 24

  whose seats adorn this constellated sphere;

  if the stout Race of valour-breathing soul

  from Lusus springing still to thought be dear,

  Your high Intelligences lief unroll

  the writ of mighty Fate: her will is clear,

  this Deed to cold Oblivion’s shade shall doom

  the fame of Persia, ‘Assyria, Greece, and Rome.

  25

  “Já lhe foi (bem o vistes) concedido

  C’um poder tão singelo e tão pequeno,

  Tomar ao Mouro forte e guarnecido

  Toda a terra, que rega o Tejo ameno:

  Pois contra o Castelhano tão temido,

  Sempre alcançou favor do Céu sereno.

  Assim que sempre, enfim, com fama e glória,

  Teve os troféus pendentes da vitória.

  “To them’t was erst, and well you wot it, given, 25

  albeit a Pow’r so single, simple, small,

  to see the doughty Moor from ‘trenchments driven

  where gentle Tagus feeds and floods the vale:

  Then with the dreadful Spaniard have they striven,

  by boon of Heav’n serene ne’er known to fail;

  and urged their fortune’s ever-glorious claim

  to victor-trophies hung in fane of Fame.

  26

  “Deixo, Deuses, atrás a fama antiga,

  Que coa gente de Rómulo alcançaram,

  Quando com Viriato, na inimiga

  Guerra romana tanto se afamaram;

  Também deixo a memória, que os obriga

  A grande nome, quando alevantaram

  Um por seu capitão, que peregrino

  Fingiu na cerva espírito divino.

  “Godheads! I leave that antique fame unsaid, 26

 

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