Luis de Camoes Collected Poetical Works
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And you, my Tagian Nymphs, who have create 4
in me new purpose with new genius firing;
if’t was my joy whilere to celebrate
your founts and stream my humble song inspiring;
Oh! lend me here a noble strain elate,
a style grandiloquent that flows untiring;
so shall Apollo for your waves ordain ye
in name and fame ne’er envy Hippokrene.
5
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
Grant me sonorous accents, fire-abounding, 5
now serves ne peasant’s pipe, ne rustick reed;
but blast of trumpet, long and loud resounding,
that ‘flameth heart and hue to fiery deed:
Grant me high strains to suit their Gestes astounding,
your Sons, who aided Mars in martial need;
that o’er the world be sung the glorious song,
if theme so lofty may to verse belong.
6
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antígua liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade;
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Para do mundo a Deus dar parte grande;
And Thou! O goodly omen’d trust, all-dear 6
to Lusitania’s olden liberty,
whereon assured esperance we rear
enforced to see our frail Christianity:
Thou, O new terror to the Moorish spear,
the fated marvel of our century,
to govern worlds of men by God so given,
that the world’s best be given to God and Heaven:
7
Vós, tenro e novo ramo florescente
De uma árvore de Cristo mais amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada;
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas, e deixou
As que Ele para si na Cruz tomou)
Thou young, thou tender, ever-flourishing bough, 7
true scion of tree by CHRIST beloved more,
than aught that Occident did ever know,
“Caesarian” or “Most Christian” styled before:
Look on thy ‘scutcheon, and behold it show
the present Vict’ory long past ages bore;
Arms which He gave and made thine own to be
by Him assumed on the fatal tree:
8
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E quando desce o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do torpe Ismaelita cavaleiro,
Do Turco oriental, e do Gentio,
Que inda bebe o licor do santo rio;
Thou, mighty Sovran! o’er whose lofty reign 8
the rising Sun rains earliest smile of light;
sees it from middle firmamental plain;
and sights it sinking on the breast of Night:
Thou, whom we hope to hail the blight, the bane
of the dishonour’d Ishmaelitish knight;
and Orient Turk, and Gentoo-misbeliever
that drinks the liquor of the Sacred River:
9
Inclinai por um pouco a majestade,
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valerosos,
Em versos divulgado numerosos.
Incline awhile, I pray, that majesty 9
which in thy tender years I see thus ample,
E’en now prefiguring full maturity
that shall be shrin’d in Fame’s eternal temple:
Those royal eyne that beam benignity
bend on low earth: Behold a new ensample
of hero hearts with patriot pride inflamed,
in number’d verses manifold proclaimed.
10
Vereis amor da pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quase eterno:
Que não é prémio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de til gente.
Thou shalt see Love of Land that ne’er shall own 10
lust of vile lucre; soaring towards th’ Eternal
For’t is no light ambition to be known
th’ acclaimed herald of my nest paternal.
Hear; thou shalt see the great names greater grown
of Vavasors who hail thee Lord Supernal:
So shalt thou judge which were the higher station,
King of the world or Lord of such a nation.
11
Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
Fantásticas, fingidas, mentirosas,
Louvar os vossos, como nas estranhas
Musas, de engrandecer-se desejosas:
As verdadeiras vossas são tamanhas,
Que excedem as sonhadas, fabulosas;
Que excedem Rodamonte, e o vão Rugeiro,
E Orlando, inda que fora verdadeiro,
Hark; for with vauntings vain thou shalt not view 11
phantastical, fictitious, lying deed
of lieges lauded, as strange Muses do,
seeking their fond and foolish pride to feed:
Thine acts so forceful are, told simply true,
all fabled, dreamy feats they far exceed;
exceeding Rodomont, and Ruggiero vain,
and Roland haply born of Poet’s brain.
12
Por estes vos darei um Nuno fero,
Que fez ao Rei o ao Reino tal serviço,
Um Egas, e um D. Fuas, que de Homero
A cítara para eles só cobiço.
Pois pelos doze Pares dar-vos quero
Os doze de Inglaterra, e o seu Magriço;
Dou-vos também aquele ilustre Gama,
Que para si de Eneias toma a fama.
For these I give thee a Nuno, fierce in fight, 12
who for his King and Country freely bled;
an Egas and a Fuas; fain I might
for them my lay with harp Homeric wed!
For the twelve peerless Peers again I cite
the Twelve of England by Magrigo led:
Nay, more, I give thee Gama’s noble name,
who for himself claims all Aeneas’ fame.
13
Pois se a troco de Carlos, Rei de França,
Ou de César, quereis igual memória,
Vede o primeiro Afonso, cuja lança
Escura faz qualquer estranha glória;
E aquele que a seu Reino a segurança
Deixou com a grande e próspera vitória;
Outro Joane, invicto cavaleiro,
O quarto e quinto Afonsos, e o terceiro.
And if in change for royal Charles of France, 13
or rivalling Caesar’s mem’ories thou wouldst trow,
the first Afonso see, whose conque’ring lance
lays highest boast of stranger glories low:
&nb
sp; See him who left his realm th’ inheritance
fair Safety, born of wars that crusht the foe:
That other John, a knight no fear deter’d,
the fourth and fifth Afonso, and the third.
14
Nem deixarão meus versos esquecidos
Aqueles que nos Reinos lá da Aurora
Fizeram, só por armas tão subidos,
Vossa bandeira sempre vencedora:
Um Pacheco fortíssimo, e os temidos
Almeidas, por quem sempre o Tejo chora;
Albuquerque terríbil, Castro forte,
E outros em quem poder não teve a morte.
Nor shall they silent in my song remain, 14
they who in regions there where Dawns arise,
by Acts of Arms such glories toil’d to gain,
where thine unvanquisht flag for ever flies,
Pacheco, brave of braves; th’ Almeidas twain,
whom Tagus mourns with ever-weeping eyes;
dread Albuquerque, Castro stark and brave,
with more, the victors of the very grave.
15
E enquanto eu estes canto, e a vós não posso,
Sublime Rei, que não me atrevo a tanto,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Comecem a sentir o peso grosso
(Que pelo mundo todo faça espanto)
De exércitos e feitos singulares,
De África as terras, e do Oriente os marços,
But, singing these, of thee I may not sing, 15
O King sublime! such theme I fain must fear.
Take of thy reign the reins, so shall my King
create a poesy new to mortal ear:
E’en now the mighty burthen hear I ring
(and speed its terrors over all the sphere!)
of sing’ular prowess, War’s own prodigies,
in Africk regions and on Orient seas.
16
Em vós os olhos tem o Mouro frio,
Em quem vê seu exício afigurado;
Só com vos ver o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo já inclinado;
Tethys todo o cerúleo senhorio
Tem para vós por dote aparelhado;
Que afeiçoada ao gesto belo e tenro,
Deseja de comprar-vos para genro.
Casteth on thee the Moor eyne cold with fright, 16
in whom his coming doom he views designed:
The barb’rous Gentoo, sole to see thy sight
yields to thy yoke the neck e’en now inclined;
Tethys, of azure seas the sovran right,
her realm, in dowry hath to thee resigned;
and, by thy noble tender beauty won,
would bribe and buy thee to become her son.
17
Em vós se vêm da olímpica morada
Dos dois avós as almas cá famosas,
Uma na paz angélica dourada,
Outra pelas batalhas sanguinosas;
Em vós esperam ver-se renovada
Sua memória e obras valerosas;
E lá vos tem lugar, no fim da idade,
No templo da suprema Eternidade.
In thee from high Olympick halls behold 17
themselves, thy grandsires’ sprites;
far-famed pair; this clad in Peacetide’s angel-robe of gold,
that crimson-hued with paint of battle-glare:
By thee they hope to see their tale twice told,
their lofty memo’ries live again; and there,
when Time thy years shall end, for thee they ‘sign
a seat where soareth Fame’s eternal shrine.
18
Mas enquanto este tempo passa lento
De regerdes os povos, que o desejam,
Dai vós favor ao novo atrevimento,
Para que estes meus versos vossos sejam;
E vereis ir cortando o salso argento
Os vossos Argonautas, por que vejam
Que são vistos de vós no mar irado,
E costumai-vos já a ser invocado.
But, sithence antient Time slow minutes by 18
ere ruled the Peoples who desire such boon;
bend on my novel rashness favouring eye,
that these my verses may become thine own:
So shalt thou see thine Argonauts o’erfly
you salty argent, when they see it shown
thou seest their labours on the raging sea:
Learn even now invok’d of man to be.
19
Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,
Que do gado de Próteo são cortadas
They walked the water’s vasty breadth of blue, 19
parting the restless billows on their way;
fair favouring breezes breathed soft and true,
the bellying canvas bulging in their play:
The seas were sprent with foam of creamy hue,
flashing where’er the Prows wide open lay
the sacred spaces of that ocean-plain
where Proteus’ cattle cleave his own domain:
20
Quando os Deuses no Olimpo luminoso,
Onde o governo está da humana gente,
Se ajuntam em concílio glorioso
Sobre as cousas futuras do Oriente.
Pisando o cristalino Céu formoso,
Vêm pela Via-Láctea juntamente,
Convocados da parte do Tonante,
Pelo neto gentil do velho Atlante.
When they who hold Olympick luminous height, 20
the Gods and Governors of our human race,
convened in glorious conclave, all unite
the coming course of Eastern things to trace:
Treading the glassy dome of lovely light,
along the Milky Way conjoint they pace,
gather’d together at the Thunderer’s hest,
and by old Atlas’ gentle grandson prest.
21
Deixam dos sete Céus o regimento,
Que do poder mais alto lhe foi dado,
Alto poder, que só co’o pensamento
Governa o Céu, a Terra, e o Mar irado.
Ali se acharam juntos num momento
Os que habitam o Arcturo congelado,
E os que o Austro tem, e as partes onde
A Aurora nasce, e o claro Sol se esconde.
They leave the reg’iment of the Firmaments seven, 21
to them committed by his high command,
his pow’r sublime whose thoughtful will hath given
Order to skies, and angry seas, and land:
Then instant gather in th’ assize of Heaven
those who are throned on far Arcturus’ strand,
and those that Auster rule, and Orient tides,
where springs Aurora and clear Phoebus hides.
22
Estava o Padre ali sublime e dino,
Que vibra os feros raios de Vulcano,
Num assento de estrelas cristalino,
Com gesto alto, severo e soberano.
Do rosto respirava um ar divino,
Que divino tornara um corpo humano;
Com uma coroa e ceptro rutilante,
De outra pedra mais clara que diamante.
Reposed there the Sire sublime and digne, 22
vibrates whose hand the fierce Vulcanian ray,
on seat of starry splendour crystalline,
grand in his lofty gest of sovran sway:
Respired from his brow such air divine,
that to divine could change dull human clay;
bearing the crown and sceptre rutilant,
of clearer stone than clearest diamant.
r /> 23
Em luzentes assentos, marchetados
De ouro e de perlas, mais abaixo estavam
Os outros Deuses todos assentados,
Como a razão e a ordem concertavam:
Precedem os antíguos mais honrados;
Mais abaixo os menores se assentavam;
Quando Júpiter alto, assim dizendo,
C’um tom de voz começa, grave e horrendo:
On sparkling seats, with marquetry inlaid 23
of gold and pearl-work, sat in lower state
the minor Godheads, marshall’d and array’d,
e’en as demanded reason, rank, and rate:
Highest the seniors of most honour’d grade;
lower adown the lower Deities sate:
When thus high Jove the deathless throng addrest
with awful accents, dealing gravest best: —
24
“Eternos moradores do luzente
Estelífero pólo, e claro assento,
Se do grande valor da forte gente
De Luso não perdeis o pensamento,
Deveis de ter sabido claramente,
Como é dos fados grandes certo intento,
Que por ela se esqueçam os humanos
De Assírios, Persas, Gregos e Romanos.
“Immortal Peoples of the starlit Pole, 24
whose seats adorn this constellated sphere;
if the stout Race of valour-breathing soul
from Lusus springing still to thought be dear,
Your high Intelligences lief unroll
the writ of mighty Fate: her will is clear,
this Deed to cold Oblivion’s shade shall doom
the fame of Persia, ‘Assyria, Greece, and Rome.
25
“Já lhe foi (bem o vistes) concedido
C’um poder tão singelo e tão pequeno,
Tomar ao Mouro forte e guarnecido
Toda a terra, que rega o Tejo ameno:
Pois contra o Castelhano tão temido,
Sempre alcançou favor do Céu sereno.
Assim que sempre, enfim, com fama e glória,
Teve os troféus pendentes da vitória.
“To them’t was erst, and well you wot it, given, 25
albeit a Pow’r so single, simple, small,
to see the doughty Moor from ‘trenchments driven
where gentle Tagus feeds and floods the vale:
Then with the dreadful Spaniard have they striven,
by boon of Heav’n serene ne’er known to fail;
and urged their fortune’s ever-glorious claim
to victor-trophies hung in fane of Fame.
26
“Deixo, Deuses, atrás a fama antiga,
Que coa gente de Rómulo alcançaram,
Quando com Viriato, na inimiga
Guerra romana tanto se afamaram;
Também deixo a memória, que os obriga
A grande nome, quando alevantaram
Um por seu capitão, que peregrino
Fingiu na cerva espírito divino.
“Godheads! I leave that antique fame unsaid, 26