segredo. Mas eu sabia que era o m elhor a fazer. Sabia que, se não fosse em bora
agora, não iria nunca. Sabia, porém não queria ir. Não queria sentir o que estava
sentindo. E realmente não queria que Casey — ou qualquer pessoa, aliás —
soubesse disso.
— Alô? Bianca?
Que pena que eu nunca conseguia o que desej ava...
— Oi, Casey, desculpe por acordar você, m as será que poderia m e fazer um
favor enorm e? Por favor.
— B, você está bem ? — perguntou ela, j á sem a sonolência. — O que
houve? Qual é o problem a?
— Será que você pode pegar a chave do carro da sua m ãe e vir m e buscar?
Eu preciso m uito de um a carona pra casa.
— Pra casa? — Ela parecia confusa. Não era um a boa coisa, quando
com binada com m edo. Meu Deus, um dia eu ia deixar a coitada com úlcera. —
Quer dizer que você não está em casa? Não dorm iu em casa na noite passada?
— Fique tranquila, Casey. Estou bem — falei.
— Não ouse m e dizer pra ficar tranquila, Bianca! — disparou ela. — Você
vem agindo de um j eito m uito estranho há sem anas e m e ignorou totalm ente
todas as vezes que tentei falar com você. Agora m e liga a essa hora da m anhã
pra pedir que eu busque você, e eu é que preciso ficar tranquila? Que m erda,
onde foi que você se m eteu?
Essa era a parte que eu tem ia, então respirei profundam ente antes de
responder à sua pergunta.
— Estou na casa de Wesley … Sabe, a casa enorm e na…
— Sei — disse Casey. — A casa de Wesley Rush? Sei onde é.
Ela estava curiosa, m as tentou esconder isso sob sua raiva. Seus dotes
teatrais não eram m elhores do que os m eus.
— Certo, estarei aí em dez m inutos. — E desligou.
Desliguei o celular e guardei-o na m ochila.
Dez m inutos. Só dez m inutinhos.
Suspirei e m e apoiei na sacada. Dali, a entediante Ham ilton parecia um a
assustadora cidade fantasm a. As ruas estavam vazias àquela hora da m anhã
(nunca estavam realm ente cheias, para ser sincera), e todas as loj as de telhado
cinzento estavam fechadas. O céu escuro e pesado que cobria tudo com o um
m anto som brio não aj udava em nada.
Escuro e som brio. Que coisa, não é m esm o?
— Você pode não estar ciente disso, m as os hum anos tendem a dorm ir aos
sábados.
Voltei-m e e dei de cara com Wesley parado na entrada da sacada,
esfregando os olhos sonolentos com um sorrisinho. Apesar do vento frio, não
estava usando nada além da cueca preta. Merda, que corpo incrível ele tinha…
m as eu não podia pensar nisso. Precisava acabar com tudo.
— Precisam os conversar. — Tentei achar algo para olhar além do corpo
sexy e sem inu dele. Meus pés pareceram a m elhor opção.
— Hum — disse Wesley, passando a m ão pelos cachos bagunçados. —
Sabe, m eu pai diz que essas são as palavras m ais assustadoras que um a m ulher
pode dizer. Ele defende que nada de bom com eça com “precisam os conversar”.
Você está m e deixando m eio preocupado, Duff.
— É m elhor entrar.
— Isso não é prom issor.
Segui-o para o quarto, retorcendo as m ãos descontroladam ente (m ãos
suadas são tão atraentes!). Ele se j ogou na cam a e aguardou que eu fizesse o
m esm o, m as fiquei de pé. Não podia ficar m uito confortável. Casey estaria ali
para m e pegar em m ais ou m enos oito m inutos e m eio — eu estava contando —,
e aquilo precisava ser breve e suave.
Ou só breve. Nada ali m e parecia suave.
Ansiosa, cocei a nuca.
— Escuta — falei. — Você é um grande cara, e agradeço por tudo o que fez
por m im .
Por que aquilo soava com o um rom pim ento? Não era necessário estar de
fato nam orando alguém para poder rom per?
— Mesm o? — perguntou Wesley. — Desde quando? Você nunca se referiu a
m im com o nada m elhor do que um babaca. Eu sabia que você acabaria gostando
de m im … m as algo m e diz que deveria ficar desconfiado.
— Mas — continuei, ignorando-o quanto podia — não posso m ais fazer isso.
Acho que precisam os parar de, ahn… dorm ir j untos.
É. Definitivam ente parecia um rom pim ento. Tudo o que eu precisava fazer
era j ogar no bolo um “Não é você, sou eu”, e ficaria perfeito.
— Por quê? — Ele não parecia m agoado. Apenas surpreso.
Fiquei m eio chateada por ele não parecer m agoado.
— Porque isso não está m ais funcionando pra m im — falei, repetindo as
frases feitas que ouvira em film es. Eram clássicos por algum m otivo, afinal. —
Apenas não acho que isso sej a — fiz um gesto entre m im e ele — do m eu, hã…
do nosso interesse.
Wesley estreitou os olhos e m e encarou.
— Bianca, isso tem algo a ver com o que aconteceu ontem à noite? —
perguntou, sério. — Se for isso, quero que saiba que você não precisa se
preocupar com …
— Não é isso.
— O que é, então? Isso não faz sentido.
Olhei para os m eus tênis. As pontas de borracha estavam com eçando a
soltar, m as o verm elho-vivo do All Star não tinha desbotado nem um pouco.
Vermelho-vivo.
— Sou com o Hester — m urm urei, m ais para m im m esm a do que para
Wesley.
— O quê?
Ergui os olhos para ele, surpresa que tivesse m e ouvido. — Sou com o… —
balancei a cabeça. — Nada. Acabou. Eu acabei.
— Bianca…
Duas buzinadas rápidas lá na frente m e salvaram .
— Eu… eu preciso ir.
Estava tão concentrada em sair logo daquela casa que não ouvi as palavras
que Wesley gritou para m im . A voz dele sim plesm ente desapareceu a distância,
onde eu esperava deixá-lo para sem pre.
capítulo 19
Casey deu partida no m otor quando subi na picape velha da m ãe dela. A srta.
Waller (anteriorm ente, sra. Blithe; ela recuperara o nom e de solteira depois do
divórcio) poderia ter um carro m uito m elhor. Quando era casada com o pai de
Casey, tinham m uito dinheiro. O sr. Blithe se oferecera para lhe com prar um
carro bacana, m as ela recusou. Adorava a velha picape, que tinha com prado no
ensino m édio. A filha, por outro lado, desprezava-a. Particularm ente porque era o
único carro que dirigia de vez em quando.
Casey, definitivam ente, não teria recusado a oferta de um carro chique do
pai. Infelizm ente, o sr. Blithe perdera qualquer generosidade que um dia teve
depois da consum ação do divórcio.
Ela estava olhando através do para-brisa para a quase-m ansão quando
prendi m eu cinto de segurança. Estava usando um pij am a rosa decorado com
sapinhos verdes sob o casaco, e o cabelo curto estava arrepiado e bagunçado. Ao
contrário de m im , Casey podia fazer um a aparência desleixada parecer graciosa
e sexy. E nem precisava se esforçar.
— Oi — falei.
Ela olhou para m im . Os olhos dela varreram m eu rosto — j á buscando por
sinais evidentes de encrenca —, e sua testa se enrugou. Depois de um curto duelo
de olhares, ela se voltou para a frente e passou a m archa, lutando um pouco com
&n
bsp; o câm bio.
— O.k. — disse ela quando nos afastam os da entrada da casa. — O que está
acontecendo? E não m e diga que está tudo bem , porque m e arrastei para fora da
cam a às sete da m anhã e sou capaz de estrangular você se não m e der um a
resposta de verdade.
— Ah, claro, porque am eaças sem pre m e fazem falar.
— Não venha com essas besteiras! — resm ungou Casey. — Você está
apenas evitando o assunto, o que tem feito sem pre. Isso pode funcionar com Jess,
m as você j á devia estar cansada de saber que não vai desviar nem um pouquinho
a m inha atenção. Agora se explique. Com ece com o m otivo pelo qual eu acabei
de pegar você na casa de Wesley.
— Porque eu dorm i lá.
— É, eu tinha m eio que entendido isso sozinha.
Mordi o lábio, sem ter m uita certeza de por que ainda estava escondendo a
verdade. Quer dizer, não conseguiria esconder isso dela por m uito m ais tem po.
Ela j untaria as peças em breve, então por que não contar de um a vez? Agora
que, de qualquer j eito, Wesley e eu não estávam os m ais j untos. Será que m entir
— ou, pelo m enos, esconder — tinha se tornado instintivo? Depois de todas essas
sem anas de segredos, será que eu criara um hábito?
E se tivesse feito isso, será que não era hora de abandoná-lo?
Casey suspirou e reduziu um pouco a velocidade da picape.
— Conte a verdade, Bianca, porque estou bem confusa neste m om ento.
Confusa e chateada. Da últim a vez que verifiquei, você odiava Wesley Rush. E
odiava m esm o.
— De fato — respondi. — Ainda odeio… de certa form a.
— “De certa form a”? Droga, pare de desviar das perguntas! Olhe, você
vem evitando Jess e a m im há sem anas. Não vem os m ais você, porque não faz
m ais nada conosco. Jess não vai dizer isso, m as está achando seriam ente que
você não gosta m ais de nós. Está chateada, e eu estou irritada porque você nos
abandonou com pletam ente. Está sem pre distraída e pensando em outra coisa. E
fica desviando das perguntas que fazem os! Droga, Bianca, diga algum a coisa…
por favor. — A raiva na voz dela se transform ou em um pedido desesperado.
Casey baixou a voz. — Por favor, m e conte o que está acontecendo com você.
Meu coração doía, e a culpa enroscou-se no m eu peito com o um a j iboia
constritora. Soltei um longo suspiro, percebendo que não podia m ais m entir. Pelo
m enos não sobre isso.
— A gente tem dorm ido j untos.
— Quem ? Você e Wesley ?
— É.
— Desde quando?
— Do fim de j aneiro.
Casey ficou calada por um tem po. Depois, quando conseguiu absorver
aquilo, perguntou:
— Se você o odeia, porque está saindo com ele?
— Porque… isso faz eu m e sentir m elhor. Com todo o problem a dos m eus
pais e Jake aparecendo e tudo… eu apenas precisava m e distrair. Queria fugir de
tudo… sabe, de um j eito não suicida. Ir pra cam a com Wesley apenas parecia
um a boa ideia, na hora. — Fiquei olhando fixo pela j anela, sem querer ver a
expressão no rosto dela. Tinha certeza de que estava decepcionada com igo. Ou,
de um j eito pervertido, até m esm o orgulhosa de m im .
— Então… foi lá pela casa dele que você andou no últim o m ês? —
perguntou ela. — É por isso que tem nos deixado de lado? Pra ficar com Wesley ?
— É — m urm urei. — Toda vez que as coisas ficavam difíceis dem ais, ele
estava bem ali. Dava pra aliviar a tensão sem enlouquecer você e a Jessica.
Parecia um a boa ideia. Aí eu m e viciei… m as tudo se voltou contra m im , e
agora está pior do que nunca.
— Meu Deus, você está grávida?
Trinquei os dentes e m e virei para encará-la.
— Não, Casey, não estou nem um pouco grávida. — Ela estaria m esm o
falando sério? — Caram ba, sei usar cam isinha e tom o anticoncepcionais há
praticam ente três anos, tá legal?
— Está bem , está bem — disse Casey. — Você não está grávida… Graças a
Deus. Mas se não é esse o problem a, com o é que está tudo pior?
— Bom , prim eiro, você está chateada com igo… E eu gosto de Wesley.
— Claro, né, você está indo pra cam a com ele!
— Não, quer dizer… — Balancei a cabeça e voltei a olhar pela j anela. As
casinhas suburbanas de Ham ilton passavam velozm ente por nós, sim ples e
lim pas. Rodeadas por suas inocentes cercas de m adeira. Eu seria capaz de m atar
para ser sim ples e lim pa com o essas casinhas. Em vez disso, m e sentia
com plicada, suj a e contam inada. — Não gosto dele — expliquei. — Ele m e irrita
loucam ente noventa e seis por cento do tem po, e às vezes eu adoraria estrangulá-
lo até a m orte. Mas ao m esm o tem po eu… quero que ele fique alegre. Penso
nele m ais do que deveria e…
— Você o am a.
— Não! — gritei, virando-m e bruscam ente para encará-la — Não, não,
não! Eu não o am o, está bem ? O am or é raro e difícil de encontrar e dem ora
m uitos anos pra brotar. Adolescentes não se apaixonam . Eu não amo Wesley.
— Certo — disse Casey. — Mas sente algo por ele, né?
— É.
Ela m e olhou de relance antes de voltar os olhos para a estrada, com um
m eio sorriso.
— Eu sabia. Quer dizer… todas as piadas que eu fazia sobre isso eram só pra
provocar você, m as sabia que algo aconteceria depois que você o beij ou.
— Cala a boca! — resm unguei. — Que droga.
— Por quê?
— Por que o quê?
— Por que isso seria ruim ? E daí se você sente algo por ele? Não deveria ser
incrível e excitante e deixá-la trêm ula ou algo assim ?
— Não — respondi. — Não é incrível nem excitante. É horrível. É doloroso.
— Mas por quê?
— Porque ele nunca vai gostar de m im ! — Meu Deus, não era óbvio? Será
que ela não conseguia som ar dois e dois? — Ele nunca vai gostar de m im desse
j eito, Casey. Estou perdendo tem po até em pensar que isso sej a possível.
— Por que ele não ia gostar de você? — perguntou ela.
Será que ela faria um m ilhão de perguntas?
— Para!
— Não, estou falando sério, B — pressionou Casey. — Tenho quase certeza
de que você não é capaz de ler m entes ou de ver o futuro, então não entendo
com o sabe que ele nunca vai gostar de você. Por que não?
— Você não gosta m uito de m im agora — j ustifiquei.
— Vou superar — respondeu ela. — Bem , em algum m om ento. Mas, sério,
por que Wesley não pode gostar de você tam bém ?
— Sou um a Duff.
— Com o é? Um a o quê?
— Duff.
— Isso aí é um a palavra, por acaso?
— Designated Ugly Fat Friend, em inglês — suspirei. — A garota do grupo
que não é atraente. Sou eu.
— Que ridículo!
— É m esm o? — Eu m e exaltei. — Será que isso é m esm o ridículo, Casey ?
Olhe pra você. Olhe pra Jessica. Vocês duas parecem ter saído da Teen Vogue.
Não consigo com petir com isso. Então, bem , eu sou a porcaria da Duff.
— Você não é. Quem disse i
sso?
— Wesley.
— Só pode estar brincando!
— Não.
— Antes ou depois de você ir pra cam a com ele?
— Antes.
— Bem , então ele não acredita nisso — disse Casey. — Ele está indo pra
cam a com você, não está? Então deve achá-la atraente.
Fiz um som de desprezo.
— Vej a de quem estam os falando, Casey. Wesley não é particularm ente
exigente quando se trata de sexo. Eu podia parecer um gorila, e ele continuaria a
ir pra cam a com igo sem hesitar. Ele não nam oraria nem sequer um a garota do
Esquadrão das Magrinhas…
— Eu realm ente odeio quando você nos cham a assim .
— … im agine eu. Ele nunca nam oraria um a Duff.
— Sério, Bianca — disse Casey. — Você não é um a Duff. Se algum a de nós
for um a Duff, sou eu.
— Muito engraçado.
— Não estou brincando! — insistiu ela. — Ainda estou com raiva de você,
então por que faria algum esforço pra ser legal? Quer dizer, sou o próprio Pé-
Grande. Estou com 1,85 m etro! A m aioria dos garotos precisa olhar pra cim a pra
ver m eu rosto, e nenhum cara gosta de ser m ais baixo do que a m enina. Pelo
m enos você é graciosa e m ignon. Eu faria qualquer coisa pra ter sua altura… e
pra ter seus olhos. Você tem olhos m uito m ais lindos do que os m eus.
Eu não disse nada. Tinha certeza de que Casey enlouquecera. Com o é que
ela podia ser um a Duff, pelo am or de Deus? Mesm o de pij am a de sapinhos ela
parecia ter acabado de sair do cenário de America’s Next Top Model.
— Se Wesley não conseguir ver com o você é adorável, ele não m erece
você — com pletou ela. — Você apenas precisa seguir em frente. Tirar Wesley
da cabeça.
É, claro. Mas seguir em frente na direção de quem ? Quem iria m e querer?
Mas não podia dizer isso a Casey. Seria com eçar outra discussão idiota, e ainda
nem tínham os acabado a prim eira, então apenas assenti.
— E então… e aquele cara, o Tucker?
Olhei para ela, surpresa.
— Toby ? Que tem ele?
— Você sem pre teve um a queda por ele — lem brou-m e ela. — E vi você
agarrando ele no refeitório ontem …
— Ele m e abraçou — interrom pi. — Isso não é agarrar.
Ela revirou os olhos. Nossa, eu estava m esm o deixando ela irritada.
— Que sej a. A questão é: você estava toda aconchegada em Toby, m as
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