Duff

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Duff Page 20

by Kody Keplinger


  agora está subitam ente apai…

  Olhei feio para ela.

  — Você subitam ente gosta de Wesley — disse Casey.

  — O que você quer dizer? — perguntei.

  — Não sei. — Ela suspirou. — É só… Que eu sinto com o se você tivesse

  escondido tanta coisa de m im ! Tudo m udou tão rápido pra você. Estou m esm o

  m e sentindo no escuro neste m om ento.

  Mais culpa. Ótim o. Ela estava m esm o pesando a m ão hoj e, m as acho que

  eu m erecia.

  — Não m udou tanta coisa — garanti. — Ainda tenho um a queda por Toby …

  Não que isso im porte. Som os apenas am igos. Ele m e abraçou ontem porque foi

  aceito na universidade que queria e estava m uito feliz. Gostaria que tivesse sido

  m ais que isso, m as não foi. E a história com Wesley apenas… é ridícula. Acabou.

  Podem os fingir que nunca aconteceu. É o que quero, aliás.

  — E quanto a seus pais? O divórcio, você nem falou m ais disso depois do

  Dia dos Nam orados.

  — Está tudo correndo bem — m enti. — O divórcio ainda está em processo.

  Meus pais estão bem .

  Ela m e lançou um olhar cético e voltou a prestar atenção no trânsito. Sabia

  que eu estava m entindo, m as não forçou a barra. Finalm ente, depois de um bom

  tem po, falou de novo. Por sorte, m udou de assunto.

  — Certo. E onde está seu carro?

  — Na escola — respondi. — A bateria arriou.

  — Que saco! Acho que vai precisar pedir ao seu pai pra consertar isso.

  — É — resm unguei. Se eu conseguir fazer com que ele fique sóbrio por mais

  de dez segundos.

  Houve um longo silêncio. Depois de alguns m inutos, decidi engolir o resto de

  orgulho que m e sobrava.

  — Desculpa por ter cham ado você de grossa ontem .

  — É pra pedir desculpas m esm o. Tam bém m e cham ou de líder de torcida

  patricinha e esnobe.

  — Desculpa. Você ainda está chateada com igo?

  — Estou — respondeu ela. — Quer dizer, não tanto quanto estava ontem ,

  m as… doeu m esm o, Bianca. Jessica e eu estam os tão preocupadas com você, e

  você m al fala com a gente agora. Perguntei tantas vezes se queria sair, e você

  m e dispensou com pletam ente. E depois vi você conversando com Toby na hora

  em que devia estar conversando com igo e… fiquei m eio com ciúm e. Não de um

  j eito esquisito, m as… supostam ente sou sua m elhor am iga, sabe? E agora está

  m e preocupando m esm o que você tenha com eçado a ir pra cam a com Wesley

  em vez de apenas conversar com igo.

  — Desculpa — balbuciei.

  — Pare de dizer isso. Não fique só pedindo desculpas — disse ela. —

  Desculpas não m udam o futuro. Da próxim a vez, pense em m im . E em Jess

  tam bém . Precisam os de você, B. E trate de se lem brar que estam os aqui pra

  você, que gostam os de você… por algum m otivo inexplicável.

  Esbocei um pequeno sorriso.

  — Vou lem brar.

  — Apenas não m e abandone de novo, tá? — As palavras saíram em um tom

  baixinho. — Mesm o tendo Jess, estava m e sentindo realm ente solitária sem

  você… e não tinha m ais ninguém legal pra m e dar carona. Você sabe a droga

  que é ter Vikki com o m otorista? Ela quase atropelou um pobre coitado de bicicleta

  outro dia. Te contei?

  Ficam os passeando de carro por Ham ilton durante um tem po, só gastando

  gasolina e recuperando o tem po perdido. Casey estava encantada com um

  j ogador de basquete. Eu estava com notas altas em inglês. Nada m uito íntim o.

  Casey sabia do m eu segredo agora — ou de parte dele — e não estava m ais com

  raiva de m im … pelo m enos não com tanta raiva. Ela m e garantiu que eu ia

  precisar m e hum ilhar m uito até que ficássem os totalm ente bem de novo.

  Ficam os rodando até que a m ãe dela ligou, às dez, querendo saber onde

  estava a picape, e Casey precisou m e levar para casa.

  — Você vai contar isso a Jessica? — perguntou baixinho quando entrou na

  m inha rua. — Sobre Wesley ?

  — Não sei. — Respirei profundam ente e decidi que guardar segredos não

  era um a boa ideia. Só tinha dado errado até aquele m om ento.

  — Olha, pode contar pra ela. Conte tudo, se quiser. Mas não quero falar

  sobre isso. Só quero tentar esquecer, se conseguir.

  — Entendo — disse Casey. — Acho que ela deveria saber. Quer dizer, é

  nossa m elhor am iga… m as vou dizer a ela que você está saindo dessa. Por que é

  isso que está fazendo, né?

  — É — m urm urei.

  Não consegui deixar de ficar ansiosa quando ela parou na entrada da m inha

  casa. Olhei para a porta de carvalho, para as j anelas cerradas que davam para a

  sala de estar e para nosso quintal, sim ples, lim po, com cerca de m adeira. Nunca

  tinha m e dado conta de que aquilo era um a m áscara por trás da qual vivia m inha

  fam ília.

  Então pensei no m eu pai.

  — Vej o você na segunda-feira — falei, desviando o olhar para que ela não

  visse a preocupação no m eu rosto.

  Em seguida, deslizei para fora da picape e com ecei a andar na direção da

  m inha casa.

  capítulo 20

  Estava parada na entrada quando m e dei conta de que estava sem a chave.

  Wesley tinha m e levado em bora de casa tão depressa na noite anterior que não

  consegui agarrar a bolsa. Então acabei tendo de bater na porta da fren-te,

  esperando que m eu pai estivesse acordado para m e deixar entrar.

  Assustada, preocupada, lem brando de tudo.

  Dei um passo para trás quando a m açaneta girou e a porta se abriu. Ali

  estava m eu pai, com olhos verm elhos e olheiras profundas por trás dos óculos.

  Estava extrem am ente pálido, com o se tivesse passado m al, e dava para ver sua

  m ão trem endo na m açaneta.

  — Bianca.

  Ele não estava com cheiro de uísque.

  Soltei um suspiro que não tinha percebido que estava segurando.

  — Oi, pai. Hã, deixei as chaves em casa na noite passada, então…

  Papai cam inhou lentam ente na m inha direção, com o se tem esse que eu

  saísse correndo. Depois m e abraçou, m e puxou contra o peito e m ergulhou o

  rosto no m eu cabelo. Ficam os ali j untos por um bom tem po, e quando ele

  finalm ente falou, percebi que as palavras saíam entre soluços.

  — Sinto tanto, tanto!

  — Eu sei — m urm urei, o rosto na cam isa dele.

  E estava chorando tam bém .

  Meu pai e eu conversam os m ais nesse dia do que havíam os conversado em

  dezessete anos. Não que não tivéssem os sido próxim os antes. Só que nenhum de

  nós dois é m uito falante. Não com partilhávam os pensam entos ou sentim entos

  nem fazíam os todas essas coisas que dizem ser im portantes naqueles anúncios de

  utilidade pública que passam no Nickelodeon. Quando j antávam os j untos, sem pre

  estávam os na frente da TV e sem chance de um de nós interrom per o program a

  com algum papo sem sentido. Era só nosso j eito.

  Mas, nesse dia, conversam os.

  Conversam os sobre o trabalho dele.

  Conversam os sobre m inhas notas.

  Conversam os sobre m inha m ãe.

  — Ela não vai m esm o voltar, né? — Meu pai tirou os óculos e esfregou o


  rosto com as duas m ãos. Estávam os sentados no sofá. Dessa vez, a televisão

  estava desligada. As únicas vozes que preenchiam a sala eram as nossas. Era um

  bom tipo de m eio-silêncio, em bora um pouco assustador ao m esm o tem po.

  — Não, pai — falei coraj osam ente, apertando a m ão dele. — Não vai. Aqui

  não é m ais o lugar certo pra ela.

  Ele assentiu.

  — Eu sei. Já sabia há algum tem po que ela não estava feliz… talvez até

  antes dela. Eu só queria…

  — Que ela m udasse de ideia? — sugeri. — Acho que a m am ãe tam bém .

  Por isso é que ficou indo e voltando, sabe? Não queria encarar a verdade. Não

  queria adm itir que quisesse o… — fiz um a pausa antes da próxim a palavra —

  divórcio.

  Divórcio era tão definitivo! Mais do que um a briga. Mais do que um a

  separação ou um a longa série de discussões. Queria dizer que o casam ento deles

  — a vida j untos — tinha m esm o term inado.

  — Bem — suspirou m eu pai, apertando m inha m ão tam bém —, acho que

  estávam os os dois fugindo de form as diferentes.

  — O que você quer dizer com isso?

  Meu pai balançou a cabeça.

  — Sua m ãe usou um Mustang. Eu usei um a garrafa de uísque. — Ele ergueu

  a m ão e reaj ustou os óculos, um hábito inconsciente: ele sem pre fazia isso

  quando estava explicando algum a coisa. — Fiquei tão devastado com o que sua

  m ãe fez com igo que esqueci com o beber é ruim . Esqueci de olhar para o lado

  bom .

  — Pai — falei —, acho que não tem lado bom em um divórcio. É um a coisa

  bem ruim de qualquer ângulo.

  Ele concordou.

  — Talvez sej a verdade, m as há um m onte de lados bons na m inha vida.

  Tenho um trabalho de que gosto, um a casa boa em um a vizinhança tranquila e

  um a filha m aravilhosa.

  Revirei os olhos.

  — Ai, m eu Deus… — resm unguei — Você não vai ficar todo m eloso

  com igo. Vai?

  — Desculpe — disse ele, sorrindo. — Mas é verdade. Muita gente faria

  qualquer coisa para ter a m inha vida, m as eu nem pensei nisso. Não dei valor a

  nada, nem a você. Sinto tanto, tanto por isso, Abelhinha!

  Eu queria desviar o olhar quando vi as lágrim as brilhando no canto dos olhos

  dele, m as m e forcei a m e concentrar só nele. Tinha tentado desviar da verdade

  por tem po dem ais.

  Ele pediu desculpa m uitas vezes por tudo o que tinha acontecido nas últim as

  sem anas. Prom eteu que voltaria para os encontros sem anais dos Alcoólicos

  Anônim os, que voltaria a ficar sóbrio, que ligaria para o padrinho novam ente. E

  em seguida, j untos, derram am os todas as garrafas de uísque e de cervej a dentro

  da pia. Nós dois estávam os ansiosos para com eçar do zero.

  — Sua cabeça não está doendo? — perguntou ele um m ilhão de vezes nesse

  dia.

  — Não, estou bem — disse a ele todas as vezes.

  Ele sem pre balançava a cabeça e m urm urava m ais desculpas por ter batido

  em m im . Por ter dito aquilo tudo. Depois m e abraçava.

  Sério, um m ilhão de vezes nesse dia.

  Perto da m eia-noite, m e j untei a ele no seu ritual noturno de apagar as luzes.

  — Abelhinha — disse ele quando a cozinha ficou escura —, quero que

  agradeça ao seu am igo da próxim a vez que o vir.

  — Meu am igo?

  — Sim . O rapaz que estava com você na noite passada. Com o é o nom e

  dele?

  — Wesley — resm unguei.

  — Certo — disse m eu pai. — Bem , eu m ereci aquilo. Ele foi coraj oso

  fazendo o que fez. Não sei o que está havendo entre vocês dois, m as fico feliz que

  tenha um am igo que está disposto a defender você. Diga a ele que sou m uito

  grato.

  — Claro. — Virei de costas e subi a escada até m eu quarto, rezando para

  que não acontecesse em breve.

  — Mas, Bianca…? — Ele fez um a careta e esfregou o queixo. — Da

  próxim a vez, diga a ele que fique à vontade para escrever um a carta m e

  xingando prim eiro. Esse m enino tem a m ão pesada.

  Sorri, m esm o sem querer.

  — Não vai haver um a próxim a vez — eu lhe disse, dando os últim os passos

  e entrando no m eu quarto.

  Meu pai e m inha m ãe estavam enfrentando a realidade, abandonando suas

  distrações. Agora era m inha vez, e aquilo significava deixar Wesley.

  Infelizm ente, não havia encontros sem anais, padrinhos ou program a de doze

  passos para o m eu vício.

  capítulo 21

  Eu tinha quase certeza de que Wesley não se aproxim aria de m im na escola. Por

  que faria isso? Ele não sentiria m inha falta… m esm o que eu quisesse, quisesse de

  verdade que ele sentisse. Ele não estava perdendo nada. Tinha m uitas garotas

  para pôr em m eu lugar, prontas e ansiosas para preencher quaisquer brechas que

  eu pudesse ter deixado em sua agenda. Então, não havia necessidade de um

  plano para m e esquivar dele na segunda-feira de m anhã.

  Acontece que eu nem m esm o queria vê-lo. Se precisasse olhar para ele dia

  após dia, j am ais conseguiria esquecê-lo. Jam ais conseguiria seguir em frente.

  Para essa situação, eu realm ente precisava de um plano, e j á tinha um bem

  alinhavado.

  Passo 1: ficar distraída no corredor para o caso de ele passar por m im .

  Passo 2: ficar ocupada na aula de inglês e nunca olhar para o lado dele na

  sala.

  Passo 3: acelerar ao sair do estacionam ento à tarde para não cruzar com

  ele.

  Papai tornou o passo três possível ao consertar m eu carro no dom ingo, então

  eu tinha certeza de que podia continuar a não ver Wesley. Em questão de

  sem anas, poderia colocar nossa relação — ou a falta dela — fora da m inha

  m ente. Se não, bem , nós nos form aríam os em m aio, e eu nunca m ais teria que

  olhar para aquele sorrisinho convencido na vida.

  Aquela era a teoria, de qualquer form a.

  Mas, no m om ento em que o últim o sinal tocou na segunda-feira, eu soube

  que m eu plano era um a porcaria. Não olhar para Wesley não era

  necessariam ente o m esm o que não pensar em Wesley. Na verdade, passei a

  m aior parte do dia pensando em não olhar para ele. Mas, então, acabei pensando

  em todas as razões pelas quais não devia pensar nele. Aquilo não tinha fim ! Era

  de enlouquecer! Nada parecia m e distrair.

  Até a tarde de terça-feira.

  Eu estava a cam inho do alm oço depois de um a aula longa e insuportável de

  organização política avançada quando aconteceu um a coisa que m e deu

  exatam ente a distração da qual eu precisava. Algo inacreditável e chocante. Algo

  incrível dem ais.

  Toby cruzou com igo no corredor.

  — Ei — cum prim entou ele.

  — Oi. — Fiz o m eu m elhor para soar pelo m enos m eio contente. — O que

  está rolando, Garoto de Harvard?

  Toby deu um sorriso e olhou para baixo, trocando os pés.

  — Nada — disse ele. — Só tentando decidir sobre o que escrever para a

  redação dissertativa. O sr. Chaucer não foi m uito específico. Sobre o que você vai

  escrever?

  — Não tenho certeza — adm iti. — Estou pensando em falar sobre or />
  casam ento gay.

  — Apoiando ou se opondo?

  — Ah, definitivam ente apoiando. Quer dizer, o governo não tem direito de

  definir quem pode e quem não pode declarar seu am or pelo outro publicam ente.

  — Com o você é rom ântica! — zom bou Toby.

  Eu ri.

  — Dificilm ente. Não sou nem um pouco rom ântica, m as é pura lógica.

  Negar aos hom ossexuais o direito ao casam ento infringe a liberdade e a

  igualdade deles. É com pletam ente errado.

  — É exatam ente o que penso — concordou Toby. — Parece que tem os

  m uito em com um .

  — Acho que tem os.

  Andam os por alguns segundos em silêncio antes de ele perguntar:

  — Então, você tem algum plano para o baile?

  — Não — falei. — Eu não vou. Por que pagar duzentas pratas em um

  vestido, trinta em um ingresso, quarenta no cabelo e na m aquiagem e m ais um

  tanto para j antar, quando tudo o que você pode com er é um a salada sem m olho

  porque tem que evitar parecer um cupcake em seu vestido bufante? Isso é m eio

  ridículo.

  — Entendo — disse Toby. — Isso é um a pena… Eu estava m e perguntando

  se você iria com igo.

  Certo, eu não tinha previsto aquilo. De j eito nenhum . Nunca. Toby Tucker, o

  garoto por quem eu tinha tido um a queda por anos, queria m e cham ar para o

  baile? Ai, m eu Deus. Ai, meu Deus! E eu tinha desprezado com pletam ente a

  instituição dos bailes do ensino m édio com o um a otária sabe-tudo. Praticam ente

  tinha rej eitado o convite de Toby, sem qualquer intenção. Ah, droga. Eu era um a

  idiota. Um a completa idiota . E agora eu estava sem palavras. O que tinha

  acabado de dizer? Precisava pedir desculpas ou retirar o que tinha dito, ou…

  — Mas tudo bem se você se sente assim — disse Toby. — Sem pre achei que

  o baile era um rito de passagem sem sentido, então tem os a m esm a opinião.

  — Hum , sim — com entei, parecendo um a idiota.

  Ah, alguém me dê um tiro agora!

  — Mas — pressionou Toby — você se opõe a encontros norm ais? Aqueles

  sem vestidos bufantes e saladas horrendas?

  — Não. Eu não tenho problem a com encontros.

  Minha cabeça estava girando. Toby tinha m e cham ado para sair. Era um

  encontro! Eu não tinha tido um encontro de verdade desde… Na verdade, eu

  nunca tinha tido um encontro de verdade. A m enos que você considere uns

 

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