am assos com Jake no fundo de um cinem a um encontro.
Eu não considerava.
Mas por quê? Por que Toby ia querer sair comigo? Eu era um a Duff. Duffs
não têm encontros. Não os verdadeiros. E ainda assim ali estava Toby, contra
todas as probabilidades. Talvez ele fosse um hom em m elhor do que a m aioria.
Exatam ente com o eu sem pre im aginara nos m eus sonhos de garota estúpida,
infantil e com um . Ele não era vazio. Não era orgulhoso. Não era convencido
nem vaidoso. Um perfeito cavalheiro.
— Isso é bom — disse ele. — Nesse caso… — Eu podia dizer que ele estava
nervoso. Seu rosto estava enrubescendo, e ele olhava fixam ente para os sapatos e
brincava com os óculos. — Sexta-feira? Você gostaria de sair com igo na sexta-
feira à noite?
— Eu gostaria…
Então o inevitável aconteceu. Pensei no im becil. No babaca. No pegador. Na
única pessoa que poderia estragar esse m om ento. Sim , eu tinha um a queda por
Toby Tucker. Com o não poderia ter? Ele era doce, e charm oso, e esperto… Mas
m eus sentim entos por Wesley iam m uito além disso. Eu saí da paixonite da
piscina de bolinhas direto para o profundo oceano das em oções, infestado de
tubarões. E, se você m e perdoar a m etáfora dram ática, eu era um a péssim a
nadadora.
Mas Casey tinha m e dito para seguir em frente, e ali estava Toby, m e
j ogando um a boia e se oferecendo para m e salvar do afogam ento. Eu seria
estúpida se não aceitasse. Só Deus sabia quanto tem po poderia levar antes de
outro resgate aparecer.
E, puxa, Toby era adorável.
— Eu gostaria m uito — respondi, esperando que m inha pausa não o tivesse
assustado dem ais.
— Ótim o. — Ele soou aliviado. — Pego você às sete na sexta-feira.
— Legal.
Nós nos separam os no refeitório, e acho que eu saltitei — sim , saltitei, com o
um a criancinha — até a m esa do alm oço, m eu m au hum or tinha sido totalm ente
esquecido.
E ele perm aneceu esquecido.
Pelo resto daquela sem ana, não pensei em com o não devia estar pensando
em Wesley. Não pensei em Wesley, de m odo algum . Nenhum a vez. Meu cérebro
estava m uito cheio de pensam entos do tipo Que roupa devo vestir? , e devo
arrumar meu cabelo? Todas as coisas com as quais nunca tinha m e preocupado.
Olha, que coisa surreal!
Mas aquelas eram as coisas em que Casey e Jessica eram experts, então
elas vieram com igo para casa na sexta-feira à tarde, ansiosas para m e
transform ar em um a Barbie gigante. Se eu não estivesse tão nervosa por causa
do encontro, teria ficado horrorizada por ver m inhas convicções fem inistas sendo
atacadas por todo aquele em bonecam ento e pela anim ação delas.
As m eninas m e obrigaram a experim entar, tipo, vinte produções diferentes
(odiei todas) antes de se decidirem por um a. Dei piruetas em um a saia preta na
altura do j oelho e num a blusa turquesa, que revelava o suficiente para que se
adivinhasse a curva dos m eus seios pequenos. Depois elas passaram o resto do
tem po usando um a chapinha no m eu cabelo cacheado. Levou duas horas — e, a
propósito, não estou exagerando — para alisá-lo com pletam ente.
Já eram 18h50 quando m inhas am igas m e posicionaram na frente do
espelho para exam inar o trabalho delas.
— Perfeita — anunciou Casey.
— Fofa! — concordou Jessica.
— Está vendo, B — disse Casey. — Toda aquela bobagem de Duff é
ridícula. Você está supergostosa agora.
— Que… ahn, que negócio de Duff é esse? — perguntou Jessica.
— Não é nada — falei.
— B acha que ela é a feia do grupo.
— O quê? — gritou Jessica. — Bianca, você realm ente acha isso?
— É bobagem .
— Ela acha — disse Casey. — Ela m e disse.
— Mas você não é, Bianca! — insistiu Jessica. — Com o pôde pensar isso?
— Jessica, não se preocupe com isso — falei. — Não é nada…
— Eu sei — disse Casey. — Não é um a coisa estúpida? Ela não é gostosa,
Jess?
— Ela é supergostosa.
— Viu, B. Você é supergostosa.
Suspirei.
— Obrigada, m eninas. — Hora de m udar de assunto. — Então, hum , com o
vocês vão pra casa? Não posso levar vocês, j á que Toby vai m e apanhar em dez
m inutos. Seus pais vêm buscá-las?
— Ah, não — disse Jessica. — Não vam os em bora.
— O quê?
— Vam os estar aqui quando você voltar do seu encontro — inform ou Casey.
— Então vam os ter um a superfesta do pij am a pra contar tudo, em hom enagem
ao prim eiro grande encontro da nossa B.
— Siiiiiiim ! — cantarolou Jessica.
Olhei para elas com cara de tonta.
— Vocês não estão falando sério.
— A gente parece estar brincando? — perguntou Casey.
— Mas o que vocês vão fazer enquanto eu estiver fora? Vocês não vão ficar
entediadas ou algo assim ?
— Você tem TV — relem brou Jessica.
— E é tudo de que realm ente precisam os — disse Casey. — Nós j á falam os
com seu pai. Você não tem opção.
A cam painha tocou antes que eu pudesse continuar argum entando, e m inhas
am igas praticam ente m e em purraram escada abaixo. Assim que chegam os à
sala de estar, elas com eçaram a alisar m inha saia e a aj ustar a gola da m inha
blusa, tentando m axim izar a quantidade de decote que eu m ostrava.
— Você vai ter um encontro tão legal… — Casey suspirou feliz, aj eitando o
cabelo atrás da m inha orelha. — Você vai superar o Wesley sem dem ora.
Meu estôm ago se contraiu.
— Shhh… Casey … — sussurou Jessica.
Eu sabia que Casey contara a história toda para ela, m as Jess não tinha feito
nenhum com entário a respeito, o que eu agradecia. Eu realm ente gostaria de
m anter m inha m ente tão longe de Wesley quanto possível.
Eu não falava com Wesley desde a m anhã em que deixara a casa dele. Ele
tinha tentado falar com igo um a ou duas vezes depois da aula de inglês. Eu apenas
o evitava, com eçando a conversar com Jessica ou com Casey e correndo para
fora da sala de aula o m ais rápido possível.
— Ai, m eu Deus, m e desculpe! — disse Casey, m ordendo os lábios. — Eu
não pensei… — Ela pigarreou de um j eito estranho e coçou a cabeça,
bagunçando o cabelo curto.
— Divirta-se! — disse Jessica, dissipando o clim a desagradável. — Mas,
você sabe, não se divirta demais. Meus pais podem não gostar tanto de você se eu
precisar pagar sua fiança na cadeia.
Eu ri. Só Jessica poderia nos salvar desses m om entos constrangedores com
tanta graça e anim ação.
Olhei para Casey e pude ver um a faísca de m edo em seu olhar. Ela queria
que eu seguisse em frente depois de Wesley, porém eu sabia que ela estava
preocupada. Preocupada que eu a deixasse de lado novam ente. Preocupada que
Toby a substituísse.
Mas ela não tinha nada com que se preocupar. Isso era totalm ente diferente
do m eu relacionam ento com Wesley. Eu não estava m ais fugindo. Não d
a
realidade. Não das m inhas am igas. Não de coisa algum a.
Sorri para tranquilizá-la.
— Vai! Vai! — Jessica esganiçou, seu rabo de cavalo loiro balançando
enquanto dava pulinhos excitados.
— Isso! — disse Casey, sorrindo de volta para m im . — Não deixe o garoto
esperando.
Elas m e em purraram até a porta e desapareceram escada acim a em um a
nuvem de risadas e cochichos.
— Loucas — resm unguei, balançando a cabeça e lutando contra um
sorrisinho.
Respirei fundo e abri a porta.
— Ei, Toby.
Ele estava parado na m inha varanda, fofo com o sem pre, em um blazer
azul-m arinho e um a calça cáqui. Ele parecia um Kennedy. Com seu corte de
cabelo tigelinha. Toby m e deu um grande sorriso que deixou à m ostra todos os
seus dentes de m arfim .
— Oi — respondeu ele, adiantando-se para ficar bem na m inha frente. Ele
tinha esperado por m im apoiado no batente. — Foi m al. Decidi esperar. Ouvi
risadinhas.
— Ah. — Olhei por cim a do om bro. — Sim . Desculpa por aquilo.
— Uau. Você está linda, Bianca!
— Não, não estou — falei, totalm ente envergonhada. Nenhum cara, a não
ser m eu pai, j am ais tinha dito um a coisa assim para m im .
— É claro que está — disse ele. — Por que eu m entiria?
— Não sei. — Ah, uau, eu era um a tonta. Por que não podia sim plesm ente
aceitar um elogio? E se eu o afugentasse antes m esm o de com eçarm os o
encontro? Nossa, isso seria um a droga. Lim pei a garganta e tentei fingir que não
estava secretam ente com vontade de m e estapear.
— Então, estam os prontos pra ir? — perguntou Toby.
— Sim .
Saí de casa e fechei a porta atrás de m im . Toby pegou m eu braço e m e
conduziu pela calçada até seu Taurus prateado. Ele até abriu a porta do
passageiro para m im , com o os m eninos fazem naqueles film es antigos. Muito
educado. Eu não podia deixar de pensar, de novo, por que no m undo um cara
com o ele estaria interessado em m im . Ele enfiou a chave na ignição e se virou
para m e dar outro sorriso. O sorriso dele era, definitivam ente, seu m elhor
atributo. Então sorri de volta, sentindo pequenas borboletas voando dentro do m eu
estôm ago.
— Espero que você estej a com fom e — disse ele.
— Fam inta — m enti, sabendo que estava nervosa dem ais para com er.
Na hora em que saím os do Giovanni’s, um pequeno restaurante italiano em Oak
Hill, eu j á estava um pouquinho m ais à vontade. Meus nervos estavam se
assentando, e até havia conseguido com er um a tigela pequena de espaguete ao
m olho sugo. Estávam os rindo e conversando, e eu estava m e divertindo tanto que
não queria que o encontro acabasse quando Toby pagou a conta. Para a m inha
sorte, pois ele se sentia da m esm a m aneira.
— Sabe — disse ele enquanto os sininhos da porta ressoaram atrás de nós. —
São apenas nove e m eia. Eu não tenho de levar você pra casa ainda… a m enos
que você queira ir, e nesse caso, tudo bem , claro.
— Não — falei. — Não estou com pressa de voltar pra casa. Mas o que
você quer fazer?
— Bem , podem os cam inhar — sugeriu Toby. Ele gesticulou para a calçada
que corria ao lado da rua m ovim entada. — Não é m uito em polgante, m as
podem os olhar as vitrines, ou conversar, ou…
Eu sorri para ele.
— Andar parece divertido.
— Que ótim o.
Ele m e deu o braço, e com eçam os a cam inhar pela calçada bem ilum inada.
Passam os por algum as loj as pequenas antes de um de nós falar. Graças a Deus,
Toby abriu a boca prim eiro porque, em bora eu não estivesse m ais tão nervosa
quanto antes, não tinha a m enor ideia do que poderia dizer para não soar com o
um a com pleta idiota.
— Bem , j á que você sabe tudo sobre m inha situação na faculdade, quero
saber sobre a sua. Você j á se candidatou para algum lugar? — perguntou ele.
— Sim . Já m e candidatei a duas, m ais ou m enos, m as ainda não escolhi.
Acho que estou m eio que procrastinando.
— Você sabe em que quer se graduar?
— Provavelm ente em j ornalism o — falei. — Mas… não sei. Sem pre quis
ser repórter do New York Times. Então m e candidatei a algum as universidades em
Manhattan.
— A Grande Maçã — disse ele, concordando. — Am biciosa.
— Sim , bem , m e im agino term inando com o aquela garota em O diabo veste
Prada — falei. — Um a perdedora trabalhando em algum a revista de m oda
estúpida quando tudo o que eu realm ente quero fazer é escrever sobre eventos
m undiais ou entrevistar congressistas revolucionários… com o você será.
Ele m e lançou um olhar.
— Ah, você não seria um a perdedora.
— Que sej a. — Eu ri. — Você consegue m e im aginar escrevendo sobre
m oda? Um setor no qual um a pessoa que usa tam anho 40 é considerada gorda?
De j eito nenhum . Eu acabaria m e suicidando.
— Algo m e diz que você seria boa em qualquer coisa que tentasse —
arriscou ele.
— Algo m e diz que você está m e baj ulando um pouquinho, Toby.
Ele deu de om bros.
— Talvez, m as não dem ais. Você é bem boa, Bianca. Você fala de um j eito
sincero, não parece tem er ser você m esm a, e é dem ocrata. Para m im , isso torna
você incrível.
Então eu corei. Alguém pode m e j ulgar?
— Obrigada, Toby.
— Não há nada pelo que m e agradecer.
Uau. Toby era perfeito ou o quê? Fofo, educado, engraçado… e ele gostava
de m im , por algum a razão desconhecida. Era com o se tivéssem os sido feitos um
para o outro. Com o se ele tivesse a peça do quebra-cabeça que se encaixava na
m inha. Será que eu poderia ser m ais sortuda?
Um a brisa fria de m arço estava soprando, e com ecei a m e arrepender de
ter deixado Casey e Jessica m e vestirem . Elas nunca tinham sido sensíveis às
estações quando o assunto era roupa. Minhas pernas nuas estavam congelando
(elas não tinham m e deixado usar m eia-calça), e o tecido fino da m inha blusa
definitivam ente não m e protegia do vento. Trem i e cruzei os braços em torno de
m im m esm a em um esforço para m e aquecer.
— Ah, tom e — disse Toby. Ele tirou o blazer, bem com o dizem que os
garotos deveriam fazer, e o segurou para que eu o vestisse. — Você deveria ter
m e dito que estava com frio.
— Estou bem .
— Não sej a boba. — Ele m e aj udou a vestir as m angas. — Honestam ente,
eu preferiria não nam orar um picolé.
Namorar? Quero dizer, este era um encontro, m as estávam os namorando
agora? Eu nunca tinha nam orado ninguém , então não estava realm ente certa. De
qualquer form a, ouvi-lo dizer aquilo m e deixou m uito feliz… e estranham ente
nervosa ao m esm o tem po.
Toby m e virou de frente para ele e arrum ou o blazer em volta de m eu
pescoço e dos m eus om bros.
— Obrigada — m urm urei.
Estávam os na frente de um a velha loj a de antiguidades. Suas vitrines
estavam ilum inadas pelas l
uzes de lum inárias extravagantes e antiquadas, com o
aquelas da sala do m eu avô. O brilho se espalhava pelo rosto anguloso de Toby,
fazendo a arm ação de seus óculos reluzir e destacando seus olhos am endoados…
que estavam fixos em m im .
Seus dedos ainda estavam pousados na gola do blazer. Então sua m ão
deslizou do m eu om bro para m eu m axilar. Seu polegar passou pelo m eu rosto,
indo e vindo, vez após vez. Ele se inclinou em m inha direção vagarosam ente, m e
dando tem po suficiente para im pedi-lo se eu quisesse. Sim , até parece! Com o se
eu sonhasse em fazer um a coisa dessas...
E ele m e beij ou. Não foi um beij o ousado, m as tam bém não foi só um
selinho. Foi um beij o de verdade. Gentil e doce e longo. O tipo de beij o que eu
queria com partilhar com Toby Tucker desde que tinha quinze anos, e foi
exatam ente o que sem pre im aginei que seria. Os lábios dele eram m acios e
quentes, e o j eito com o eles se m overam contra os m eus fez as borboletas na
m inha barriga esvoaçarem furiosas.
Certo. Eu sei, eu sei. Acho um pavor quando casais de nam orados ficam se
agarrando em público, m as nossa. Eu estava distraída dem ais para m e im portar
com quem quer que estivesse nos observando. Então, sim , eu pus m inhas
convicções de lado por um segundo e j oguei m eus braços em volta do pescoço
dele. Quero dizer, eu podia voltar para m inha cruzada contra am assos em público
pela m anhã.
Eu m e esgueirei para dentro de casa às onze naquela noite e encontrei papai
esperando por m im no sofá. Ele sorriu e colocou a TV no m udo.
— Ei, Abelhinha.
— Oi, papai. — Fechei e tranquei a porta da frente. — Com o foi sua reunião
do AA?
— Estranha — adm itiu papai. — É estranho estar de volta… m as vou m e
acostum ar. E você? Com o foi seu encontro?
— Incrível. — Suspirei. Meu Deus, eu não conseguia parar de sorrir. Papai
provavelm ente ia pensar que eu tinha passado por um a lobotom ia ou algo assim .
— Isso é bom — disse papai. — Me diga novam ente, com quem foi que
você saiu? Desculpe. Não consigo m e lem brar do nom e dele.
— Toby Tucker.
— Tucker? — repetiu papai. — Você está falando do filho de Chaz Tucker?
Ah, isso é ótim o, Abelhinha. Chaz é um bom hom em . Ele é o diretor de
tecnologia de um a em presa no centro e sem pre vem à loj a. Fam ília m aravilhosa.
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